Açucenas colhidas para a Festa de N. S.ª do Livramento
Festa de N.ª S.ª do Livramento – Recolha de açucenas

A Festa de N.ª S.ª do Livramento é um das mais fortes tradições pontassolenses. Realiza-se na Capela de N.ª S.ª do Livramento, situada no sítio do mesmo nome, Lombo das Adegas.
De acordo com a tradição, a Capela é enfeitada com açucenas naturais que abundam nas serras em Outubro, mês desta festa.
A recolha das açucenas, da responsabilidade das raparigas e dos rapazes solteiros, era (e ainda é) realizada nas serras do Loreto, no sítio do Rochão.
De acordo com os mais velhos, o costume era assim: os participantes – à roda de cinquenta a sessenta pessoas - reuniam-se para a partida,  na noite da quinta-feira anterior à festa. À meia-noite caminhavam. A saída era assinalada por uma salva de fogo.
O percurso fazia-se a pé. Para alegrar o grupo, o festeiro oferecia um garrafão de 20 litros de vinho e uma amassadura de pão fresco, distribuindo um pão a cada participante. Nunca faltava um
brinco para animar a caminhada. Assim, a brincar, com cantigas e despiques, o caminho era fácil.
À frente, muitas vezes encaixado no garrafão, ia um pequeno estandarte, ou bandeirinha, de N.ª S.ª do Livramento.
Chegavam às zonas de recolha bem cedinho. Apanhavam braçadas de flores que arrumavam em grandes cestos
barreleiros.
Pouco depois do nascer do sol, iniciavam o regresso, a pé, em fila indiana, com os cestos cheios de flores à cabeça ou às costas. O brinco tocava e todos cantavam.  Formava-se uma procissão vistosa, colorida e animada. Era obrigatório parar no Loreto. Aí faziam uma brincadeira, com muitas cantigas e animação, e formavam a “cobra” , com todos a cantar e a dançar em fila.
Finalmente, era tempo de partir, sempre em fila, em direcção a Santiago onde tinham de estar, sem falta, antes do meio-dia.
No Pico de Santiago, a banda de música estava à espera. Ao meio-dia em ponto, tocava o hino e, simultaneamente, era lançada uma girândola de foguetes.
O percurso entre Santiago e a Capela, com passagem pela Terra-Chã e Piquinho, era feito com acompanhamento musical da banda.
Depois da chegada à Capela, iniciavam-se os enfeites, para que à tardinha o templo estivesse pronto para a Novena dos Solteiros.
Durante alguns anos, a animação e a alegria estiveram ausentes na ida à açucenas. A recolha continuou a ser feita, mas as pessoas, poucas, iam de carro. Na década de 90 foi reposta parte da tradição: o percurso de Santiago até ao Livramento voltou a ser feito a pé, com acompanhamento de um brinco. 
No ano de 2000, a participação da Escola veio trazer mais à
romagem nova vida, animação, alegria e colorido. As lágrimas que vimos nos olhos das pessoas mais velhas são a prova de que esta é uma tradição a preservar! Valeu a pena!

Mas ainda não houve banda em Santiago... Estará lá de certeza no próximo ano! Nós também!

(Depoimentos da Teresa e do David Sebastião, veteranos participantes nestas andanças e outras festanças...)
Como era a ida às açucenas...

Naquele tempo, a ida às açucenas era muito diferente. Juntavam-se rapazes e raparigas, solteiros. Os festeiros da Novena levavam cestos da barrela que eram feitos com vime, que as senhoras costumavam levar para a ribeira quando lavavam roupa.
Na revéspera, à noite, tocava o sino e dava uma salva de fogo para reunir toda a malta. Tudo se juntava no Livramento, onde havia um carvalho (uma grande árvore que foi cortada há muitos anos). Aí o festeiro dava um pão a cada um. Caminhavam às onze horas da noite para chegarem cedo ao Rochão, sítio onde apanhavam as flores. Enchiam os cestos. Iam e vinham a pé. Em todo o caminho cantavam cantigas tradicionais.
No regresso, chegavam aos Canhas ao Pico. Davam três peças de fogo e a música ia esperá-los para chegarem ao meio-dia ao Livramento. Do Piquinho para baixo começavam a cantar e a fazer a “cobra” (fila indiana às voltas). Chegavam ao adro punham as flores, cantavam e bailavam. Os festeiros davam qualquer coisa para comer e beber e depois cada um voltava para a sua casa.
A seguir voltavam à Capela para ajudar a enfeitar, porque já lá estavam os festeiros e algumas pessoas a pôr o alegra-campo, o buxo, a murta e o louro.
As açucenas eram a última coisa a pôr para estarem mais frescas na véspera à noite e no dia da festa. A última quadra que eles cantavam era:

Livramento, Livramento, Livramento
Livramento da minha paixão,
Levo a tua saudade comigo,
Vai gravado no meu coração.

Recolha feita por:
Tânia Jardim – 8.º C
Contado por uma vizinha de cerca de 60 anos
Romagem das Açucenas  - Festa do Livramento
A Tradição
Participante Sarinha  com o cesto barreleiro carregadinho de açucenas
Santiago - Canhas
Notícias sobre a romagem das açucenas
18-10-2000
Curiosidade: a Festa do Livramento nos Jornais da  Ponta do Sol . Leia as notícias!
(1913 - 1916 - 1917 -1918)