Climbing Brazil
Dicas Práticas
Lanin Via Sul

Se você não leu o relato da nossa ascensão no Lanin, então leia-o antes de consultar esta página. Se tiver algo a acrescentar ou corrigir nesta página, escreva para mgrego@oocities.com. Colaborações, críticas e sugestões são bem vindas.

Maurício Grego - São Paulo, Brasil


1 - Quando Ir

Fizemos a escalada no Verão (dezembro), que parece ser a melhor época nessa região. No Inverno, provavelmente, seriam necessários esquis de travessia para a aproximação. Talvez algumas estradas fiquem interditadas por causa da neve. Além disso, o reduzido número de horas de luz por dia acabaria complicando bastante a escalada.


2 - Como Chegar

O ponto de partida é a cidade argentina de Junin de los Andes. Pode-se ir de avião até o aeroporto Chapelco, que fica entre San Martin e Junin. Hsu e eu voamos até Bariloche. De lá, negociamos um táxi para nos levar a Junin por US$ 100. Há ônibus ligando as duas cidades algumas vezes por semana. De Junin, há um microônibus que faz o trajeto até o lago Paimun três vezes por semana.


3 - Informações

Em Junin, procure o CAJA - Clube Andino de Junin de Los Andes. Ou então pergunte para o pessoal da empresa de ônibus que faz o transporte para o lago Paimun (na rodoviária). Em Tromem, ou no lago Huechulafquen, fale com os guardaparques. Em Bariloche, tente o Clube Andino de Bariloche, perto do Centro Cívico.


4 - Equipamento

Material de Camping e Cozinha

  • barraca, estacas para neve
  • sacos-de-dormir, colchonetes infláveis
  • duas panelas de titânio, fogareiro a benzina
  • pratos, colheres, copos, canivete
  • comida desidratada, barras energéticas, bebidas em pó etc.
  • sacos plásticos para coletar neve e embalar equipamentos e alimentos

Roupas (por pessoa)

  • um jogo de underwear (capilene, MTS ou outro)
  • calça e jaqueta de pile (Polartec 300)
  • calça e parka de Goretex
  • polainas de Goretex
  • balaclava, gorro tipo peruano (pile)
  • luvas de pile e Goretex
  • meias de underwear e de poliéster/lã

Material de escalada individual

  • um par de piquetas técnicas
  • cadeirinha de escalada alpina
  • botas duplas, crampons
  • um par de bastões de esqui telescópicos
  • descensores, mosquetões com trava
  • par de ascensores, estribos
  • capacete

Material de escalada coletivo

  • uma corda de 50 m x 10,2 mm
  • 8 parafusos para gelo de titânio
  • 4 costuras expressas
  • 6 mosquetões soltos
  • 2 mosquetões grandes para as paradas
  • 4 fitas de tamanhos variados

Outros Itens

  • Bússola, altímetro-barômetro, mapas
  • Botas de caminhada
  • Protetor solar, protetor labial
  • Óculos para alta montanha
  • kit para consertos de barraca, roupas e colchonete inflável

5 - Cronograma

Nossa ascensão foi retardada em um dia pelo mau tempo. Isso pode acontecer com você também. Sempre é bom levar suprimentos extras para o caso de a excursão se prolongar por algum motivo. No total, ficamos seis dias na montanha. O cronograma que seguimos foi este:

  1. Transporte de Junin ao lago Paimum, num microônibus. Ao chegar, convém registrar-se no posto de guardaparques (nosso registro foi feito por um militar, da Gendarmeria). Depois, caminhamos do lago ao acampamento intermediário, junto a um dos tributários do riacho Rucu Leufu.
  2. Caminhamos do acampamento intermediário ao refúgio do CAJA (Clube Andino de Junin de Los Andes). Largamos as mochilas lá e fizemos um reconhecimento da icefall, um pouco prejudicado pela neve que começou a cair.
  3. Quando a neve parou, subida o glaciar inferior, escalamos o primeiro serac e fixamos corda na parede de gelo.
  4. Ascendemos, com mochila, o glaciar inferior e a icerfall, aproveitando a corda fixada no dia anterior. Acampamos sobre um serac no alto da icefall.
  5. Subida do glaciar superior e do snowcap, até o cume. Acampamos num patamar bem perto do cume.
  6. Descida do cume até Tromem pela via Normal e volta a Junin, de carona.

6 - Ataque Relâmpago

A maior dificuldade que enfrentamos nessa ascensão foi ter que carregar uma mochila pesadíssima, mesmo nas partes mais técnicas. Achamos que isso pode ser evitado com um estratégia de ataque relâmpago. A idéia é caminhar até o refúgio e usá-lo como campo-base. A partir desse lugar, fazer o ataque ao cume e retornar pelo mesmo caminho, carregando apenas uma mochila pequena com itens essenciais. O cronograma ficaria mais ou menos assim:

  1. Caminhar até o acampamento intermediário ou até o refúgio (o que permitiria dispensar a barraca, aliviando o peso da mochila). Montar lá o campo-base.
  2. A partir do refúgio, fazer um reconhecimento na icefall (isso pode ser dispensado se os escaladores forem muito experientes).
  3. No dia do ataque ao cume, acordar no meio da noite e iniciar a escalada com lanternas de testa, chegar ao cume e fazer a descida pelo mesmo caminho. Se necessário, abandonar alguns parafusos para rapel na icefall. Parece-me que a ascensão pode ser mais fácil se houver Lua cheia.

7 - Como encontrar o caminho

A icefall por onde se sobe é visível de longe no lado sul da montanha. Não há muito como se enganar. Em volta dela, há paredões de pedra solta que desencorajam a escalada. Assim, é improvável que você erre o caminho. Procure utilizar a icefall como alvo na caminhada. No lago Huechulafquen (ou no Paimun), pergunte pela trilha que sobe o vale do Rucu Leufu em direção ao Lanin. Siga por essa trilha, marcada com manchas de tinta amarela, até que ela comece a percorrer uma região de pedras soltas (talus). Nesse ponto, a trilha segue rumo nordeste. Desvie para o norte seguindo totens de pedra e pegadas de outros montanhistas.

Siga pelas cristas, procurando o caminho mais fácil em direção ao glaciar inferior, também visível de longe. Esse glaciar parece um campo de neve e fica imediatamente a Leste de uma bela crista com torres rochosas. Em dezembro, esse caminho envolve a travessia de vários campos de neve. O refúgio está a SE da borda inferior do glaciar. É uma casinha com telhados esverdeados.

A partir do refúgio, siga pelas sucessivas manchas de neve, rumo NW, até entrar no glaciar inferior. Suba por ele (N) em direção à icefall. A escalada da icefall depende inteiramente da sua própria habilidade em encontrar caminho no gelo. Procure por rampas que permitam evitar as paredes negativas e as gretas profundas. Passada a icefall, uma rampa fácil leva ao cume.

A descida pela via Normal é bem simples com bom tempo. Use o lago Tromem, visível à distância, como alvo. Os três refúgios existentes na metade da descida também podem ser vistos do cume. Começe descendo rampas de neve no lado NE. Há alguns degraus para superar mas, logo, você estará numa longa canaleta de neve e gelo. Descendo por ela, sucessivos campos de neve levam até as proximidades dos refúgios. Dependendo da consistência da neve, é possível descer glissando, esquiando com as botas (sem esquis) ou em bunda-esqui pelas rampas. A partir de lá, trilhas muito bem demarcadas (há variantes) levam até Tromem.


8 - Via Normal

Se você não tem muita experiência em gelo ou não tem tempo para a ascensão da via Sul, pode subir no Lanin pela via Normal. É uma caminhada fácil que pode ser feita em dois ou três dias. Para isso, siga de ônibus ou outro meio de transporte até Tromem. Os ônibus que vêm de San Martin de Los Andes em direção a Pucon e vice-versa passam por lá. Registre-se no posto de guardaparques e dê uma olhada no quadro com o mapa das trilhas no lado de fora da casa dos guardaparques. Informe-se também sobre os refúgios existentes nesse lado da montanha e pergunte se é possível pernoitar num deles (parece-me que sim).

A idéia básica é subir no primeiro dia até um dos refúgios (existem três) e dormir lá. No dia seguinte, você pode continuar até o cume e voltar ao refúgio. A descida pode ser feita nesse mesmo dia ou no terceiro. Leve bastões de esqui telescópicos, uma picareta clássica, botas duplas, crampons e roupas de alta montanha. Não é necessário levar corda nem materiais de ancoragem. Montanhistas com muita experiência em gelo podem, talvez, dispensar a picareta e levar apenas os bastões de esqui.


9 - Recado Final

Eu não poderia terminar esta página de dicas sem lembrar que montanha é mesmo um lugar perigoso. Rampas de neve de 45º, extremamente fáceis de subir, podem se transformar em corredores de avalanche depois de uma tempestade. No Lanin e em outras montanhas, existem gretas grandes o bastante para engolir uma frota de ônibus inteira. Aqueles seracs suspensos, que parecem tão sólidos, um dia vão desabar. Em outras palavras, não é porque você escala 8º grau no muro artificial da academia de ginástica que está apto a subir o Lanin. É indispensável ter conhecimentos de meteorologia, nutrição esportiva, medicina de montanha; e perfeito domínio das técnicas de escalada específicas do ambiente glaciar.

Se você já tem experiência em gelo, vá em frente. Senão, faça um curso primeiro. Isso vai tornar sua ascensão mais divertida e manter os riscos dentros dos limites aceitáveis. Em Bariloche, há dois bons cursos de gelo. Um acontece no final do ano e é dado pelos irmãos La Cruz, escaladores muito respeitados na Argentina. O outro curso é o do CABA - Centro Andino de Buenos Ayres. Acontece na primeira semana de Janeiro e é muito freqüentado por brasileiros. Se você quiser mais informações sobre esse curso, dê uma olhada no site do meu amigo Hsu. Outra alternativa é contratar um curso na Bolívia, no Inverno. Há ainda, é claro, a opção de aprender a escalar gelo na América do Norte ou na Europa.


Boa Escalada!


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© - O texto e as fotos desta página são da autoria de Maurício Grego. Seus comentários e sugestões são bem vindos. Página atualizada em 19/out/97.