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ATUALIDADES

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O QUE VIRÁ DEPOIS DE CAMP DAVID? UMA PERSPECTIVA ISLÂMICA

Por Dr. Azzam Tamimi

Yasser Arafat e Ehud Barak voltaram de Washington para seus respectivos eleitores  triunfantes e orgulhosos. As conversações em Washington, de cujos detalhes muito pouco se sabe, parece chegaram a um beco sem saída, onde nenhum dos dois queria ser trapaceado. Como num impasse de jogo de xadrez, as conversações foram abandonadas com a promessa, ou até mesmo o compromisso, de ambos os lados retomarem o jogo, ou as negociações, mais adiante no futuro.

O aspecto vitorioso é o resultado da percepção, por ambas as partes, da oposição maciça que existe a qualquer concessão que se faça. Israel simplesmente perderia seu caráter sionista se Jerusalém, unificada e em sua forma ampliada, parasse de ser proclamada sua capital. As circunstâncias pelas quais os israelenses poderiam pensar em abandonar essa reivindicação ainda não foram criadas e portanto eles se sentem confortáveis em não ceder. Por outro lado, a Autoridade Palestina de Yasser Arafat estaria cometendo suicídio se cedesse nos direitos de árabes e muçulmanos palestinos da cidade sagrada.

O presidente Clinton é o único que não se sente triunfante ou vitorioso. Seu mandato na Casa Branca está chegando ao fim e é muito pouco provável que uma outra cúpula possa ser agendada em tempo para se chegar a um "final feliz". Clinton, mais do qualquer um, estava nitidamente ansioso por uma negociação. No entanto, ele apenas pressionou o lado palestino, uma vez que não é segredo para ninguém a sua simpatia pela causa de Israel. Clinton parece que não conseguiu perceber que havia um limite para as concessões de Arafat. Ele poderia ceder tudo que pertence aos palestinos, e isto ele faz com o beneplácito dos governos árabes e muçulmanos que o reconhecem como o único representante legítimo do povo palestino

Não é de admirar que o direito de retorno dos refugiados tenha sido resolvido, ao que tudo indica, através de um entendimento de que Israel permitirá somente a uns poucos milhares retornarem, como parte das "reuniões familiares" promovidas por aqueles que tiveram a permissão para se instalar nas áreas administradas pela Autoridade Palestina. Esta questão não parece que tenha provocado muita discussão em Camp David. Diz-se que os negociadores palestinos já tinham desistido da reivindicação em encontros anteriores com os israelenses. Diferentemente da questão dos refugiados, ninguém, exceto talvez alguém do calibre de um Salahudin Al-Ayoubi, e metido numa missão como a dele, pode alegar que fala em nome do Islam e dos muçulmanos, quando a questão em pauta seja Jerusalém. Clinton parece ter subestimado a importância disso para os muçulmanos do mundo todo. Ele achou que usando de alguma pressão, conseguiria persuadir Arafat a reconhecer, num documento oficial, as reivindicações israelenses em relação a Jerusalém. Arafat ousaria fazer isso?

Alguns analistas israelenses acreditam que a posição de Yasser Arafat não tem nada a ver com patriotismo ou moralidade. Eles insistem em que ele teria assinado uma negociação que contemplasse as propostas Israel-USA, desde que o seu apoio fosse amparado por declarações de certos governos árabes, como a Jordância, Egito e Arábia Saudita, que, se assim o fizessem, ele não estaria solapando os direitos de árabes e muçulmanos à cidade. Em outras palavras, Arafat teria assinado se ele pudesse ter a certeza de que não estaria sozinho nessa responsabilidade. Não é raro no discurso de Arafat, culpar os outros pelos seus próprios desastres.Isto pode explicar porque durante as fracassadas conversações, o presidente Clinton tenha contactado os líderes desses três países árabes, supostamente para pedir-lhes que interviessem e socorressem Camp David II de um colapso iminente. Resta descobrir, quando maiores detalhes estiverem disponíveis ao público, qual a resposta que esses líderes deram e se eles desempenharam algum papel na "intransigência" de Arafat.

Por experiência, sabe-se que a única reserva de Arafat em quaisquer dessas circunstâncias, é o impacto que um passo mais ofensivo que ele possa tomar tenha sobre a sua credibilidade e popularidade.  Conforme a maioria de seus biógrafos concordam, ele é um homem que cuida mais de sua imagem do que do destino do mundo inteiro, sem mencionar o povo que ele supõe representar ou liderar. Portanto, não é de todo descabido concluir-se que  o motivo do fracasso de Camp David II foi   a inabilidade dos participantes em concordar com um formato aceitável, no qual uma transação pudesse ser apresentada a palestinos, árabes e muçulmanos, sem o fracasso de todo o processo de paz e do declínio de Arafat.

Algumas pessoas podem achar inconcebível que Yasser Arafat e seus auxiliares não soubessem que era esperado que eles cedessem nos direitos de árabes e muçulmanos em Jerusalém. Todos os sinais, inclusive os vários estágios do processo de paz desde Oslo, em 1993, apontavam para o fato de que a proposta original da criação da Autoridade Palestina foi prolongar a vida de Israel, garantir sua segurança e abrir as portas de sua diplomacia e de seu comércio para o mundo árabe e muçulmano. Evidentemente, o preco pago por Israel e Estados Unidos para um serviço tão considerável não inclui o reconhecimento do direito de retorno dos palestinos às suas casas e nem o direito a um estado soberano. Mas, acima de tudo, o preco pago unicamente   à Autoridade Palestina, principalmente sob a forma de privilégios pessoais, não contempla o direito de árabes e muçulmanos a Jerusalém.

Sem dúvida, o fracasso de Camp David II foi bom para Barak e Arafat. Basta ver como ambos exploraram o resultado para assegurar uma recepção de herói na chegada em casa. Os resultados do fracasso são  muito melhor para o futuro político de ambos do que para o sucesso desta conjuntura.

Retornando a seus países com a impressão de que não cederam  nos direitos do povo, seus níveis de popularidade subirão e a autoridade ficará consolidada. Logo, no entanto, os dois homens, e todos os que estão à sua volta, retomarão as conversas e, tendo preparado o cenário, conseguirão uma negociação que poderia ser menos chocante para a opinião pública de ambos lados. Mas, quando isto acontecer, e a menos que não haja uma mudança substancial no equilíbrio de poder tanto interna quanto externamente, os israelenses terão o que  pediram.

Contudo, tendo voltado de Washington sem ceder na questão de Jerusalém, Yasser Arafat se deu uma oportunidade de ouro. Sua posição pode ficar mais consolidada   voltando-se para seu povo e transferindo-se para o campo arabo-muçulmano. Há mais de sete anos, Arafat e sua Autoridade Palestina vêm movendo-se ao longo da via de mão única na direção do sionismo. Fazendo assim, sua popularidade declinou, sua legitimidade foi perdida e sua credibilidade corroída. Agora, Yasser Arafat pode, se assim o quiser, levantar-se e proclamar que ele não tem o direito de negociar em nome de dois grupos: o do os refugiados, com relação ao seu direito de retorno, e o dos muçulmanos, com relação ao direito coletivo a Jerusalém.

     
Israel não deve gostar do que ele possa dizer ao longo destas  linhas. A opção de Arafat seria autorizar,e não desautorizar, seu povo a continuar com a resistência armada, uma língua que os israelenses entendem melhor. A experiência da resistência no sul do Líbano provou além da conta que os israelenses podem devolver o que tomaram através de meios ilícitos. Como todos os projetos coloniais, a capacidade de Israel de manter sua existência e segurança está condicionada à sua superioridade militar, ao apoio incondicional que recebe do ocidente e à inação e fraqueza de árabes e muçulmanos.

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