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Capítulo 12 - Lúcio Malfoy |
- Pai – Draco finalmente disse num tom hesitante – Não é exatamente o que você está pensando. O sorriso debochado surgiu no rosto de Lúcio Malfoy, agora Harry já sabia de quem Draco havia puxado aquela expressão irritante de superioridade. - Não me diga que você estava passeando pelos corredores quando viu o Potter e o Black tentando fugir e resolveu fazer a Boa Ação do Dia! – berrou Lúcio e sua voz entrava pelos tímpanos deles e quase os fazia pular para trás – Vamos, Draco! Você tem alguma boa explicação para isso? Se você honrar a família a que pertence e abandoná-los, eu posso até te perdoar... – Lúcio andava friamente de um lado para o outro, sua frieza aumentando a cada palavra – Ser traiçoeiro é uma qualidade que eu prezo muito. Ah Potter, você pode falar por experiência própria, não é? O jeito como Pedro traiu sua família foi extraordinário, merecia até um prêmio, e ele ainda fez vocês acreditarem por treze anos que o culpado havia sido esse aí... – ele apontou com a cabeça para Sirius, que estava completamente sem forças, ainda apoiado nos ombros dos garotos mal se mantendo em pé, Sirius o encarou de cabeça erguida, embora seus olhos revelassem que ele estava tonto. Harry sentiu sua boca fechar e enrugar, a mão estava fechada e pronta para acertar um soco em Lúcio, os olhos verdes se tornaram fendas tomadas pela fúria. O olhar presunçoso de Lúcio, fez a raiva explodir dentro de Harry, ela não podia suportar que falassem de seus pais, como se eles fossem prêmios. - Meus pais enfrentaram Voldemort, eles morreram porque Voldemort sabia que todas as maldades que ele fazia não colocavam medo nos meus pais... – Harry gritava, mas provavelmente aquilo não era o bastante para deixa-lo aliviado – Meus pais nunca se curvaram para Voldemort! - E morreram! – concluiu Lúcio numa voz diabolicamente macia – Realmente Tiago e Lílian foram corajosos, mas de nada os adiantou tanta astúcia! - Pai! – Draco tornou a chamar e a sua voz cortou o ar como se cortasse o fio de ligação entre Harry e Lúcio que se fuzilavam com os olhos – Você não pode fazer isso, eu sou seu filho! Você não pode nos entregar... - Eu já te disse, Draco – respondeu numa voz seca e Lúcio voltou a andar pelo aposento sem olhar para Draco – Passe para o nosso lado, você não tem nenhuma obrigação com eles, você pode se salvar, não há ninguém aqui, podemos fingir que absolutamente nada aconteceu! Harry observava tudo de longe, a expressão de Draco ficava cada vez mais clara, ele olhou para Harry como se pedisse desculpas, Harry viu que ele estava aflito. Draco voltou seu olhar para o pai, e mordeu os lábios como se o que ele fosse dizer lhe causasse dor: - Você me convenceu, pai. Eu não quero ser torturado, eu vou ficar do lado dos Comensais... – Harry sentiu seus olhos arregalarem quando Draco disse essas palavras. “Não é verdade” pensou Harry confuso “O Malfoy vai nos trair, ele jamais quis ser nosso amigo” as palavras de Rony passavam pela cabeça de Harry, todas as vezes que ele tentou avisar e Harry não tinha acreditado, tudo voltava a se encaixar. Harry se perguntava como ele podia ter sido tão idiota a ponto de confiar nele e deixar tudo isso acontecer, Harry podia ver Draco rindo dele e se gabando enquanto contava isso a Crabbe e Goyle. - Eu vou esperar Lord Voldemort chegar, e entregarei eles pessoalmente... – Draco fez uma pausa. Porém enquanto Lúcio o olhava com orgulho, ele segurou Sirius com mais firmeza, Sirius não tinha forças para recuar. Draco retribuiu o olhar com desprezo – Pai, não espere que eu seja tão sujo quanto você! Eu nunca vou ser um traidor, eu nunca vou me comparar a vocês! Eu não quero mais, chega! Todo o orgulho de Lúcio se transformou em repulsa, os olhos negros de Lúcio ficaram vermelhos embaixo, eles se contraíam e dilatavam ameaçadoramente. - Eu pensei que tivesse te ensinado alguma coisa todos esses anos... – murmurou decepcionado – O Potter não está sendo boa influência para você Draco, se eu fosse você, pensaria melhor nas suas atitudes, você pode acabar tendo um fim sangrento igual ao dele! - Pai! – falou Draco novamente quase que suplicando – O que está havendo? Você não é assim, por favor nos deixe sair! - Você me desapontou profundamente – grunhiu Lúcio, o olhar impassível totalmente desprovido de amor, chegava a fazer Harry sentir pena de Draco, que estava pálido e totalmente abatido, mas Harry achou que isso tinha mais a ver com o fato de que ele definitivamente não esperava que Lúcio não se importasse com ele – Será que eu posso saber o motivo pelo qual você preferiu trair o seu pai ao trair Harry Potter? - Eu não traí você, pai! – Draco afirmou com a sua voz trêmula – Você mesmo está se traindo ficando do lado das Trevas, você sabe quando Voldemort vai decidir te sacrificar para ele ficar mais poderoso? Eu não quero que você morra... - Não diga besteiras, moleque! – cuspiu Lúcio furiosamente – Harry Potter irá morrer, quem não for leal ao Lord das Trevas também irá morrer! Não me faça rir com essas teorias de que se eu for bom pelo menos quando morrer eu vou para o céu e não pro inferno... Lord Voldemort é o bruxo mais poderoso de todos os tempos, eu já tinha te ensinado isso... - Esse não é o caminho... – falou Draco, e Harry viu que os olhos acinzentados dele reluziam porque estavam cheios de lágrimas – Pai, você não vai nos deixar ir? - Quanta pretensão, Draco. Acho que eu tenho que te ensinar a respeitar pessoas que têm um nível mágico superior ao seu – Lúcio empunhou a varinha e Harry pode sentir Draco transpirar de medo do seu lado – Só que desta vez você vai receber o castigo que traidores merecem... Cru... Lúcio parou de fazer o feitiço e cambaleou para trás, ele colocou a mão em sua têmpora como se ele tivesse sentido uma pontada de dor, sua respiração ficou ofegante. Draco apenas ergueu as sobrancelhas. Entraram quatro Comensais da Morte, eles estavam rindo e falavam alguma coisa alto, Harry não conseguiu distinguir o que era, no momento ele estava mais preocupado em achar algum jeito de fugir com Draco e Sirius. Avery, Nott, Netwander e Rowseng mudaram repentinamente de sorridentes para inacreditavelmente chocados ao verem Lúcio cuidando de Sirius, o famoso Harry Potter e seu próprio filho, pego na cena do crime, ajudando os inimigos. Lúcio se recompôs rapidamente, ele ainda estava parcialmente zonzo, porém não o suficiente para esquecer da falha dos Comensais: - Quanta honra... – Lúcio dizia sarcasticamente enquanto os outros estavam imóveis – vocês decidiram aparecer? E olha que surpresa, dois garotos tentando roubar o nosso prisioneiro, vocês já imaginaram se eu não estivesse aqui? – a voz de Lúcio foi ficando grossa à medida que ele falava, sua expressão mortalmente perigosa – Lord Voldemort me nomeou como Chefe dos Comensais, eu tenho autoridade para torturá-los! Até que é uma excelente idéia, isso é o que vocês merecem por serem tão distraídos. - Não – protestou Nott – Quando nós saímos não havia ninguém, e nós cumprimos a ordem de ficar a noite inteira vigiando a porta, Lúcio... - Cumpriram até certo ponto, seus idiotas – esbravejou e ao mesmo tempo em que brigava com os quatro, não desgrudava os olhos de Harry e os outros – Até o tonto do Moody sabe que é necessário manter vigilância constante, vocês são muito incompetentes, sempre fazem tudo pela metade! - Esse não é o seu filho Draco? – indagou Nott apreensivo. - Sem perguntas! – ordenou furiosamente – Vocês têm sorte que eu não estou num dia bom, e não tenho tempo para descontar a minha raiva em vocês e ficar me incomodando com esses problemas, desta vez passa mas na próxima eu chamarei o Mestre em pessoa para castiga-los, e ele não é nada piedoso! Agora tranquem os três, e não deixem ninguém sair pela vida de vocês! Não quero saber de perguntas, será que eu fui sério o bastante? Os quatro apenas abaixaram a cabeça enquanto Lúcio Malfoy passou literalmente soltando fogo pelas ventas, porque era possível achar uma faísca pulando de seus olhos negros que já estavam ficando vermelhos. Antes de sair Draco viu que ele colocou a mão novamente sobre sua têmpora, será que a dor havia voltado? Nott não disse uma palavra sequer, sua boca permaneceu cerrada. Ele olhou para Draco, para Sirius extremamente machucado quase que se arrastando e seu olhar recaiu sobre Harry, ele ficou alguns instantes encarando o menino. Para Harry o olhar de Nott não era tão frio quanto o de Voldemort e não tão ameaçador quanto o de Lúcio, muito menos afetuoso quanto o de Dumbledore. Harry não se importava, estava pronto para se defender, mas continuou tudo no mesmo silêncio. Nott girou os calcanhares e saiu do quarto seguido pelos outros três Comensais da Morte que agora pareciam cachorrinhos de orelha abaixada. O barulho da chave trancando a fechadura fez Harry e Draco se entreolharem. Aquela chave dourada estava na mão deles, há poucos minutos atrás, era de tudo que eles precisavam para sair dali, uma simples chave que haviam tomado deles. Normalmente qualquer um na situação deles, estaria aterrorizado pelo fato de saber que eles iriam ficar horas trancados apenas esperando Voldemort chegar, esperando a morte chegar dolorosa e friamente. Porém, Draco não estava preocupado com isso, Voldemort era um grande problema, mas não era esse problema que o estava deixando angustiado, que fazia Draco se sentir a pessoa mais miserável da face da Terra, ele podia agüentar quinze Cruciatos seguidos, mas a total falta de amor que ele tinha sentido de seu pai tinha sido um golpe fatal, tinha acertado seus sentidos, sua capacidade de conseguir pensar. Isso era perceptível ao olhar para a figura simplesmente destruída de Draco, seus olhos cinzas estavam cansados, a única parte do rosto que estava corada era a bochecha por alguns pontos mais vermelhos, e a sua respiração mais puxada e ofegante. Harry cuidou de colocar Sirius sentado no chão, e foi até Draco que ainda estava parado de pé no mesmo lugar em que esteve quando tudo aconteceu. - Malfoy. – Harry chamou desajeitado – Você sabe que o quê você fez foi realmente um grande gesto, eu fiquei surpreso com a sua atitude... - Você não esperava, Potter? – retorquiu Draco com azedume – Você achou que eu iria trair vocês na primeira oportunidade que surgisse ou que eu iria esperar para trair você na hora em que vocês menos esperassem? - Não faça perguntas idiotas tentando ser sarcástico, Malfoy – respondeu Harry no mesmo tom agressivo, embora seus olhos verdes continuassem ligeiramente suaves – Por um momento eu pensei que você fosse desistir de resgatar Sirius e se juntar ao seu pai, dizendo que você tinha feito a armadilha para me pegar. Era bem mais fácil pra você. - E quem disse que eu gosto do que é fácil? – Draco sorriu amigavelmente, mas ainda havia um traço de arrogância em sua fala – Você nunca ouviu dizer que nem tudo que é fácil é certo? Talvez mais um pouco dessas atitudes e eu já posso ser chamado de herói ou São Malfoy, assim como você Potter! - Mais um pouco e eu posso quase te admirar! – brincou Harry, e por um instante tanto quanto mágico e raro Harry e Draco estavam se olhando como verdadeiros amigos, a atmosfera havia mudado também, parecia que os dois eram grandes amigos e que sua amizade os havia tornado praticamente iguais. Naquele instante, os dois tinham o mesmo fio de determinação no olhar, o mesmo sorriso esgotado, no entanto, encorajador, nunca Harry e Draco tinham ficado tão idênticos, como se fossem irmãos, como se fossem duas partes de uma mesma coisa. - Odeio ter que admitir, Potter – disse Draco honestamente – Mas você é um cara legal! – Draco quase riu das próprias palavras, como se tivesse soado engraçado, como se nunca tivesse passado pela cabeça dele dizer isso algum dia – Agora eu sei porque tantas pessoas te idolatram, não é porque você é algo que ninguém pode ser, na realidade é porque você faz coisas que ninguém tem ousadia para fazer. Lutar por seus amigos, pelo bem, não desistir mesmo quando tudo parece difícil e vem alguém te mostrando outro caminho que parece ser tão simples, mas na verdade é um mundo de Trevas! Você é o cara pra vencer tudo isso, Potter! Quando Draco terminou de falar os dois se encaravam duramente, como se um doasse força, esperança e confiança para o outro. Harry estendeu sua mão e Draco prontamente pegou a mão de Harry, num gesto de amizade. Entre eles, passava uma descarga elétrica como fios que estavam dando choques por excesso de energia. - Lembre-se Malfoy: “Nunca desista, sempre há uma maneira de voltar”.Foi fantástico o jeito como você enfrentou seu pai e não deixou se corromper, digamos que você teve uma dessas ações que faz com a gente não seja apenas uma pessoa comum! - Eu quero salvar o meu pai – afirmou Draco absolutamente decidido – Eu não vou deixar Voldemort acabar com a vida dele. - E você vai conseguir – Harry apertou sua mão tão forte que chegou a ser dolorido, mas isso não importava – E todos nós também vamos conseguir sair daqui e acabar com a Quarta Maldição Imperdoável! Pode escrever isso, Malfoy! Draco soltou do aperto de mão de Harry, e sentou contra a parede, apoiando seus cotovelos em suas pernas cumpridas. Draco passou a mão pelo seu cabelo loiro prateado, tentando abaixar inutilmente alguns fios rebeldes. - Eu não tenho dúvidas disso... – respondeu após segundos de reflexão. ** ** Tathy jogou a Capa da Invisibilidade longe, ela estava alucinada pela ira. O feitiço que Harry tinha feito já havia passado e finalmente as duas conseguiam se mexer. - Eu juro que não vou deixar Voldemort matar Harry... – Tathy disse rispidamente, enquanto seu rosto se contorcia de raiva -... eu mesma farei isso com minhas próprias mãos! Como ele pode ser tão insuportavelmente estúpido? Gina se levantou e jogou suas mãos contra a parede e murmurou: - Isso é uma droga! Harry e Draco foram pegos, isto significa que a partir de agora nós estamos realmente ferradas. - Se o Harry não tivesse nos prendido aqui, nós quatro poderíamos nocautear Lúcio sem problemas – reclamou Tathy indignada – Mas o Harry acha que ele pode vencer tudo sozinho só porque ele tem aquela cicatriz! Às vezes ele é tão teimoso. Isso me irrita... - O que vamos fazer agora? – indagou Gina aflita – Além do Sirius ter sido capturado perder o Harry já é ruim o suficiente pra gente estar sem o Draco que é o único que conhece a Mansão! – Tathy olhou para Gina, a expressão das duas começava a se tornar igualmente desesperada. - Se eu te disser que quando Voldemort chegar coisas piores virão, isso te deixaria feliz pela nossa situação atual? – falou Tathy com amargura. - Não! – disse Gina com a voz moderada e desta vez chutou a parede com força – Vai ser o fim dos dois, Harry irá morrer, a Maldição vai se cumprir e o Mundo Mágico vai acabar em trevas que durarão para sempre – no meio da angústia de Gina surgiu uma ponta de esperança, ela fitou Tathy seriamente – Nós não podemos deixar isso acontecer. - E não vai. Enquanto eu estiver com isso – Tathy mostrou a metade do talismã que estava presa em seu pescoço – Eles vão ter que abrir meus dedinhos frios para arrancar isso de mim! - Se tudo der errado... – Gina segurou o talismã, uma onda de calor invadiu seu corpo. Uma energia poderosa entrou pelos poros de sua pele e se expandia por cada tecido do seu corpo – Eu prometo que não deixarei a Maldição se cumprir, se Harry morrer, eu enfrentarei Voldemort por ele,por Draco e por Sirius e nunca vou deixar que ele ressuscite novamente! Eu juro nem que isso custe a minha vida! - Isso não vai acontecer! – exclamou Tathy revoltada – Harry queria nos poupar por isso ele nos deixou aqui. Eu não preciso ser poupada, eu não tenho medo de enfrentar todos os Comensais da Morte juntos, eu vou traze-los de volta agora! – afirmou decidida. - Espere! – Gina apertou o punho de Tathy – Você está louca? Isso é suicídio, a gente precisa fazer alguma coisa inteligente e não ficar se arriscando. Coragem só irá servir para nos matar mais rápido, nós não precisamos morrer nesse momento. - Eu prefiro ficar com a coragem assassina do que assistir Voldemort estraçalhar os dois em pedacinhos, matar Sirius e depois vir atrás da gente pegar o talismã. Harry nos poupou de morrer junto com ele, mas isso não diminui a dor e nem faz com que eles estejam salvos. Essas últimas palavras ecoaram pela cabeça de Gina. E de repente aquele ponto mínimo de esperança no meio da escuridão dos pensamentos dela se tornou um grande clarão que iluminou sua mente, surgia uma luz. - Nós ainda não fomos pegas, enquanto eles não nos acharem, nem nos prenderem, nós podemos fazer alguma coisa – falou decidida – Nós fomos poupadas, isso pode trazer Harry, Draco e Sirius de volta. - O que exatamente você quer dizer? – perguntou Tathy desconfiadamente. - Que agora está em nossas mãos, nós fomos salvas pela atitude de Harry. Se a gente tivesse ido provavelmente estaríamos presas. Na verdade, o que a gente poderia fazer para impedir Lúcio Malfoy de nos trancar junto com eles? - Eu poderia dar um chute no meio das pernas dele... garanto que ele ficaria indefeso por algum tempo – Tathy viu que Gina não teve a reação que ela esperava – Continue. - Nós precisamos de um plano para libertar os três, temos que fazer isso antes que Voldemort chegue, porque com Harry preso ele deve estar a caminho. - Você tem razão – Tathy sorriu aparentemente mais confiante – E quando eles estiverem salvos, em vez de arrancar a cabeça do Harry eu vou encher ele de beijinhos! Francamente, ele merece por ter nos deixado aqui feito idiotas! - Certo – Gina retribuiu o sorriso – Foi por uma boa intenção! ** ** - Você deve ter ficado puto quando a Gina voltou para não me deixar sozinho! – disse Draco maliciosamente – Eu posso até ver seu rosto ficando vermelho, e você dizendo para ela que não era normal ficar correndo por corredores escuros ao mesmo tempo em que se têm todos os Comensais buscando fugitivos pela casa e tudo isso só para encontrar um Malfoy, que se alguém fizesse idéia do que ela estava fazendo ninguém acreditaria, enfim as mesmas ameaças de sempre. - Eu tentei dizer a ela para não ir atrás de um Malfoy totalmente convencido e que além de tudo era extremamente perigoso... mas acho que ela não me ouviu – respondeu Harry – Mas não precisa me olhar desse jeito porque eu não fiz isso querendo impedir você e a Gina de ficarem juntos. - Não? – perguntou Draco num tom suspeito – Você não é contra o nosso namoro? - Não – disse Harry sinceramente – Mas não posso dizer o mesmo do Rony, ele quase tem um ataque do coração só de pensar que você pode e a Gina podem estar... sei lá, se agarrando pelos corredores. Talvez esta hipótese não seja tão trágica para ele quanto à de que ela possa querer levar você num jantar da família e apresenta-lo oficialmente como namorado dela. - O Weasley não é o tipo de cara que esquece fácil as coisas do passado – Draco deu de ombros – Todas aquelas provocações nos intervalos das aulas e as piadinhas, ele não devia dar tanta importância para isso. - Definitivamente o Rony não sabe perdoar as pessoas com muita facilidade. Muito menos quando o assunto é os Malfoys, ele não é o cara mais dócil do mundo – argumentou Harry – Mas você deve levar em consideração que isso é briga entre duas famílias e que dura a muito, muito tempo! Seu pai nunca foi um anjinho com o Sr. Weasley, isso deixa marcas. - A velha história de sempre – bocejou Draco com tédio – Nós crescemos aprendendo a odiar o que o outro faz, e apenas por isso nós simplesmente nos odiamos sem motivo algum. E fazemos coisas sem sentido para prejudicar um ao outro, só por causa de toda essa confusão um Malfoy nunca poderá se apaixonar por uma Weasley, é proibido e de novo aquele blá, blá, blá chato que eu tenho me lembrado toda vez que eu tento me aproximar da Gina. - Para você estar tão irritado ela deve ter te dito alguma coisa – concluiu Harry e olhou atentamente para Draco – O que aconteceu no quarto do seu pai? Vocês não pareciam estar muito contentes quando voltaram de lá. - Então estamos quites, Potter – retrucou numa voz áspera – Parece que você não está tendo resultado nenhum com a Tathy. - Como você sabe sobre isso? – disse Harry pasmo, mas como a resposta era óbvia, ele corrigiu – Também não interessa, e não tente mudar de assunto, Malfoy. Ela deve ter feito alguma coisa que te deixou sem ação, alguma coisa má – especulava Harry, e depois de um minuto de reflexão ele acrescentou – Ela disse que você é apenas o segundo menino mais bonito de Hogwarts, porque eu sou o primeiro? - Como você consegue fazer tudo isso soar tão engraçado, Potter? – replicou Draco mau-humorado – Eu não devia estar te contando essas coisas, mas eu ontem eu estava dizendo pra ela que eu não sou mais aquele cara arrogante que gosta de perturbar as pessoas que são mais fracas que eu... bom, e que o meu lado maléfico já desapareceu, por isso ela podia confiar em mim. - Você não acha que são requisitos demais para ela esquecer só porque você está falando? Um Malfoy pedindo a confiança de alguém é desconfiável! – explicou Harry sarcasticamente. - Você quer me ouvir ou fazer eu me matar de arrependimento antes de terminar de te contar tudo? Francamente Potter quando eu era seu inimigo você era mais gentil! – disse Draco exasperado. - Era brincadeira – Harry estava com uma expressão divertida no rosto – No entanto você deve ter feito algo incrivelmente idiota – ao ver a expressão zangada de Draco ele acrescentou – Mas todos nós cometemos erros, eu estou aqui para te apoiar, você sabe. Então diga logo o que foi porque eu não agüento mais de curiosidade. - Eu peguei na cintura dela e disse que ela era encantadora e não era como a maioria das meninas que gostam de mim só pelo dinheiro ou porque eu sou loiro, e ela simplesmente me soltou e disse com frieza que não gostava de mim – Draco jogou os braços para o lado, como se ele próprio não entendesse o que ele havia acabado de narrar. Harry abriu a boca, mas não emitiu som algum, depois ele ficou com uma expressão divertida encarando Draco que estava com uma tromba gigante: - Anote isso – falou pausadamente – Da próxima vez que tiver Gina em seus braços beije-a. Nunca mais diga besteiras! - Será que você poderia falar alguma coisa que eu não saiba! – reclamou – E pare de ficar agindo como se o meu sofrimento fosse engraçado só porque eu fui um imbecil com ela! - Não se preocupe, Malfoy – tranqüilizou Harry ainda com o mesmo tom de voz – Eu já disse a Gina que ela devia acreditar em você. Na Passagem Secreta, lembra? Vocês tiveram uma discussão e ela ficou realmente triste, mas eu disse a ela que por alguma razão você estava diferente. Isso é estranho pra todos nós, mas a gente sabe que você mudou de verdade. - Valeu, Potter. Sinceramente cada vez eu te entendo menos! Há tanto tempo atrás a gente se odiava e você foi capaz de fazer uma coisa legal por mim! - Não me agradeça, eu não sei onde eu estava com a cabeça quando eu fiz aquilo – comentou e Draco olhou desanimado para o chão – Também não precisa ser tão dramático, é óbvio que ela gosta de você, você sabe disso faz tempo! - Eu mereço o desprezo dela – disse Draco como se fosse o homem mais miserável do mundo. Quando ele olhou para Harry seus olhos acinzentados estavam finos como dois riscos em seu rosto – Eu fui um imbecil, eu a tratei mal naquela maldita passagem e disse que nunca iria dar certo e que era melhor que ela ficasse a quilômetros de distância do que bancar a menina meiga comigo. Draco mordeu o lábio como se essas lembranças lhe causassem dor, não a dor de alguém lhe dando um soco, mas uma dor que queimava dentro dele, uma dor que ele não podia arrancar e que incomodava muito. - Eu nunca fui legal com ela, nem quando ela me deu a oportunidade. Por quê ela iria querer ficar comigo? - Pela mesma razão que Romeu e Julieta ficaram juntos e enfrentaram a imensa família deles os jogando contra a parede, enfiando o dedo na cara deles e dizendo que aquilo era um terrível erro – falou Harry firmemente – Ela ama você, Malfoy. - Você não está sendo nem um pouco animador com esse papo de enfrentar as nossas famílias. Mas eu gostei da parte em que você disse que ela me ama – refletiu Draco – Você está começando a me convencer... - Não confunda as coisas, eu não estou aqui para te incentivar a nada – disse Harry tirando o corpo fora e desta vez ele não pareceu tão energético – Até porque se Rony souber que eu disse aquelas coisas para Gina e agora estou dizendo isso pra você, ele vai pegar minha cabeça para usar como balaço nos jogos de quadribol perto da casa dele. - Obrigado pela moral diante das situações difíceis – replicou Draco e continuou num tom pensativo – Eu preciso fazer com que ela tenha certeza que gosta de mim, sem dúvidas. - Hei, já vou te avisando que o Rony não terá dúvidas em querer quebrar a sua cara quando ele souber que você e a Gina estão namorando – avisou – Aliás, ele vai ficar em dúvida se acerta seu nariz ou o seu queixo primeiro. - Enfrentar o Rony vai ser moleza se eu sobreviver a Voldemort! – e adicionou irritado – E eu não sei porque ele reclama tanto, seria pior se a Gina escolhesse ficar com Neville Longbottom, por exemplo. - Você devia tentar entender o lado de Rony – disse Harry imparcialmente – O que você faria se ele estivesse dando em cima da sua irmã mais nova? - Eu diria a ele para esquecer essa idéia maluca e que ficasse o mais longe possível dela, antes que a minha paciência acabasse e eu reduzisse ele a uma mancha de gordura no chão sem que ele tivesse tempo de perceber da onde tinha vindo o feitiço – disse Draco com vigor. - Basicamente foi o que o Rony disse que iria fazer com você, mas com outras palavras. - Acho que eu entendo o Weasley – consentiu Draco e ele franziu as sobrancelhas como se tudo soasse bastante estranho – Ninguém quer perder a irmã para o primeiro crápula que aparece, principalmente quando se trata de famílias rivais. Mas ele vai ter que entender que eu não sou exatamente o Malfoy cafajeste que ele pensa que eu sou. - Isso vai ser muito frustrante para ele – lamentou Harry – Um dos nomes que ele ressaltava quando estava te xingando é que você era um completo idiota e um grande cafajeste, sem falar no cretino imbecil... - Não precisa entrar em detalhes – Draco interrompeu, mas não possuía vestígios de que ele havia levado a sério o que Harry tinha acabado de dizer – O quê você me diz, Potter? - Eu não quero que você se influencie por mim, nem passa pela minha cabeça querer sacanear o Rony... – começou Harry seriamente – Mas se eu fosse você não ficaria parado nem mais um minuto perdendo a chance de conquistar a Gina. Draco retribuiu com um olhar agradecido, e ficou desviando uma trilha de formigas que estava subindo pela parede. Depois de alguns instantes ele olha para Harry com um sorriso malicioso saindo pelo canto da boca. - O que foi? – perguntou Harry intrigado. - Eu nunca deixaria a minha irmã namorar o Weasley porque além do senso de humor negro que ele tem, as sardas dele são muito acentuadas – disse Draco – Isso é irônico. ** ** Lúcio empurrou alucinadamente a primeira porta que ele viu a sua frente, entrou num quarto de hóspedes, a sua visão estava girando as imagens se misturavam em círculos confusos e o chão rodava abaixo de seus pés. Ele oscilou mais uma vez, sua íris parecia que abria e fechava, por isso a sua visão apagava e voltava, como uma lâmpada que está prestes a queimar. Ele sentia que estava começando a delirar, como seu último ato de lucidez ele desabou sobre uma cama. Lúcio não saberia dizer qual quarto era aquele, haviam tantos. Ele mal estava ciente de que ele podia estar em algum lugar verdadeiramente real, foi quando tudo ficou repentinamente negro. Num raio súbito seus pensamentos voltaram, Lúcio tinha forças para se apoiar em seus cotovelos e levantar. Seus olhos ardiam como se há muito tempo ele não os tivesse aberto, a luz machucava sua visão. Ele tentou calcular quanto tempo havia se passado entre seu desmaio e agora, talvez longas horas que passaram como se fossem poucos minutos, ou poucos minutos que se passarão como se fossem longas horas. Ao constatar isso, Lúcio percebeu que estava realmente perturbado, ele olhou a sua volta. Aquele quarto não era familiar para ele, não parecia parte da casa que ele mandaria construir. “Lúcio, você está ficando velho” ele disse a si mesmo e balançou a cabeça “Você apenas não prestou atenção no quarto que havia entrado e agora tudo é esquisito”. No entanto aquela sensação não passava, se tornava cada vez mais forte, como se ele tivesse mais certeza de que ali definitivamente era um lugar muito sombrio ao invés de ser seu lar durante tantos anos. Lúcio sentiu que precisava sair dali antes que a sensação se tornasse uma convicção, porque ele estava praticamente certo de que aquele quarto era desconhecido. Ele girou a maçaneta, através daquela porta veio um corredor gigante cheio de várias outras portas, todas iguais, que pareciam se estender infinitamente. Ele ficou imóvel, sem saber que direção tomar, então desta vez um clarão tomou conta de sua mente, foi muito mais rápido do que quando ele havia desmaiado, antes ele conseguiu manter o autocontrole até cair na cama, agora ele mal se deu conta de que estava embarcando em suas lembranças e que não podia resistir a sua mente. Lúcio Malfoy o viu caminhando ferozmente por um corredor semelhante ao que ele estava, ele parecia descontrolado, enraivecido, ele abriu a porta e PAM! Ali estavam Harry, Sirius e Draco. Ele queria ficar feliz por ter visto seu filho, mas não conseguiu. Um ódio cresceu dentro dele, como se já não importasse o domínio físico e psíquico que ele tinha sobre si mesmo, de repente ele se tornou irônico, cruel. Depois as cenas passaram como uma fita que está sendo adiantada, em flashs rápidos, ele se viu zombar de seu próprio filho, e estender a varinha. “Não!” gritou uma voz que vinha de dentro dele, ele não queria machucar seu filho. Por fim, entraram quatro homens, Lúcio sentiu repulsa pelo modo como eles andavam, agiam e falavam... Em seguida notou que esses homens misteriosos eram seus amigos, e que ele tinha aprisionado seu filho num quarto e simplesmente virado as costas. O Malfoy respirou fundo até sua garganta doer, parecia que tinham lhe cortado o ar enquanto ele voltava para o tempo real. “Eu preciso salvar o meu filho” foram as únicas coisas que ele pensou. Lúcio estava decidido e não havia nada que iria impedi-lo de libertar Draco, nem se o Lord Voldemort aparatasse na sua frente, nem se o Ministro da Magia quisesse falar com ele. Lúcio sabia estranhamente que jamais tinha estado naquela Mansão antes, ele estava absolutamente certo disso, porém ele sabia qual o caminho que devia seguir para libertar Draco ou... “O banheiro é na terceira porta” a resposta veio como se ele já conhecesse o lugar como a palma da sua mão. Ele abriu a porta e realmente tinha um banheiro. “Aqui é um closet”, TRAC! Armários vazios esperando para serem repletos de roupas. “E se eu virar aqui, sairei no primeiro andar. Draco está no primeiro quarto, eu tenho que atravessar o corredor para chegar até lá”. Lúcio não sabia de onde as respostas surgiam em sua cabeça, ele simplesmente não precisava pensar. Elas só apareciam, como uma coisa automática que já estava programada em seu cérebro. Suas botas pretas davam longos passos e a capa preta se arrastava pelo chão, ele começou a sentir um profundo remorso. Um filho era tudo que ele queria, desde que conheceu Narcisa. Nas tardes em Hogwarts enquanto ele namorava Narcisa, ele sonhava com um filho deles. Draco era seu orgulho, um menino ambicioso, corajoso e disposto a lutar para alcançar seus objetivos. Lúcio duvidava que alguma coisa fosse impossível para seu filho, porque sempre que ele desejava corria atrás de seus sonhos. Era a qualidade que ele mais admirava. Lúcio se lembrou das partidas de quadribol que jogou com Draco quando ele tinha apenas 7 anos e estava aprendendo para que servia cada bola, Draco era muito impaciente queria aprender tudo de uma só vez. Quando Draco ganhou sua primeira vassoura e ainda não sabia montar, ele passou uma tarde inteira incansavelmente tentando voar. Lembrou quando levava Draco para passear nas lojas e o garoto ficava mexendo nos objetos mágicos e fazendo mil perguntas. Um dia que foi muito engraçado foi quando Lúcio havia avisado para Draco não tocar em nada, e o menino bisbilhotou uma mão de urso que estava empalhada e jogada sobre a mesa, a mão agarrou firmemente o garoto, e ficou presa ao corpo de Draco como se fosse a mão verdadeira do garoto, Draco chorava desesperadamente. Não tinha sido nada grave, um feitiço de pequeno porte reverteu a situação, mas o susto que Draco levara! Lúcio amava tanto seu filho que não tinha como descrever, tentar demonstrar. Ele nunca seria capaz de maltrata-lo e tranca-lo esperando que Voldemort desse um fim nele, a morte de um traidor. Ele não iria permitir, a lealdade dele ia até um ponto: Draco. Nott e Avery estavam vigiando a porta, Lúcio estava visivelmente preocupado, mas ele não poderia aparecer assim para os Comensais. Ele fez um esforço para mudar seu olhar soturno em ameaçador, as batidas da bota no chão ficaram mais precisas e fortes e a capa esvoaçava perigosamente. - Saiam daqui! – ordenou bruscamente – Vocês já foram incompetentes o bastante para que eu tenha que me irritar mais! - Mas... – Nott hesitou. - Me deixem sozinho com os três, eu estava pensando num castigo extremamente doloroso para dar a eles... parece que eu já sei qual será – explicou Lúcio Malfoy e com um olhar desconfiado Nott e Avery começaram a se afastar do quarto. Poucos passos adiante, a voz falou de novo “Peça a chave dourada”. - Hã... A chave dourada – falou e Nott jogou a pequena chave com o cabo torto. Lúcio a pegou no ar. Quando ele entrou Harry e Draco estavam sentados um em cada lado de Sirius, como se quisessem protegê-lo. Ambos apenas levantaram os olhos sem erguer a cabeça, parecendo dez vezes mais pálidos, com olheiras fundas envolta dos olhos. Lúcio teve a impressão de que eles estavam mais zangados do que ele conseguiu imaginar a algum tempo atrás. “Vamos” Lúcio pensou hesitante “Eu não fiz uma coisa tão grave assim, estão me olhando com essa cara feia só porque eu não quis ajuda-los?”. Lúcio não disse nada. Sirius Black percebeu a presença dele muito tempo depois, ele esteve a maioria do tempo com a cabeça voltada para o chão, como se ele estivesse com vontade de vomitar, os cabelos escuros caíam sobre seus olhos. Sirius lembrava muito aquela noite em que Harry estava no terceiro ano, e ainda pensava que ele era o culpado pela morte de seus pais, a aparência era muito semelhante. Os olhos tinham um brilho distante em sua órbita. - O que você veio fazer aqui, Malfoy? – perguntou desafiadoramente, embora sua voz estivesse rouca. - Eu sei que não sou confiável para vocês – ele disse seriamente – mas eu vim liberta-los. - E o quê você quer em troca, pai? – replicou Draco furiosamente – Já pensou numa proposta melhor para nos fazer? Você quer a nossa alma? - Vejo que a minha reputação está pior do que eu pensava – lamentou, porém seu tom era calmo – O que eu quero em troca é que vocês vivam, ou vocês preferem ficar e serem mortos por Voldemort enquanto ele dá frias gargalhadas? Harry, Draco e Sirius se entreolharam perplexos. O que estava acontecendo? Aquilo era inacreditável, impossível. Nem em seus sonhos mais malucos Lúcio Malfoy teria oferecido ajuda a eles, algumas horas atrás o mesmo Lúcio estava atirando ofensas aos três e rindo sarcasticamente do destino de seu próprio filho, Harry tinha quase certeza de que Lúcio tinha uma pedra fria e pontuda no lugar do coração. - Que truque é esse, pai? – disse Draco um pouco vacilante – Desista, nós não somos idiotas para cair nele! Com um gesto impaciente Lúcio fez com que Draco parasse de falar, ele aproximou seu rosto fino de Harry, tão perto o suficiente para encostar o nariz dele no nariz de Harry. O garoto arregalou os olhos espantado, ele não esperava que Lúcio tivesse essa reação, Harry teve um leve impulso para se afastar dos olhos cinzentos e tenebrosos do homem que o estava analisando, mas não o fez. Permaneceu determinado enfrentando Lúcio, sentindo a respiração que era estranhamente serena. Lúcio observou os olhos verdes de Harry, o cabelo preto espetado que caía sobre a testa e escondia a cicatriz em forma de raio, o rosto daquele garoto de quinze anos não lhe era totalmente desconhecido. Os olhos verdes tinham vida, um brilho diferente e uma ousadia misturada com certa frieza fora do comum... - Tiago Potter! – Lúcio sibilou e depois sua respiração se tornou mais oscilante. Harry conseguia ver no fundo dos olhos do pai de Draco algo que ele nunca tinha visto antes. Harry viu humanidade reluzindo na íris nublada de Lúcio, o quão extraordinariamente inacreditável aquilo era Harry não saberia dizer. - Eu não sou Tiago – esclareceu o garoto enquanto os olhos atentos de Lúcio o fitavam, no entanto Harry não ficava atrás com a expressão de alguém que estava absolutamente chocado – Esse era o meu pai. Meu nome é Harry Potter. O peso do nome de Harry sacudiu as lembranças de Lúcio e o fez voltar à tona. - Claro – ele concordou prontamente – Tiago já está morto, mas você tem muitos motivos para se orgulhar de seu pai. Harry ficou pasmo. A referência a seus pais por parte de Lúcio deveria no mínimo ser irônica. Mas não foi, Harry estava esperando um sorriso debochado, uma palavra sequer que zombasse da inocência de seus pais para atirar ofensas na cara de Lúcio, para revidar com todo o seu ódio tudo que o pai de Draco havia ajudado Voldemort conspirar e que o fez perder seus pais, sem ao menos crescer o suficiente para lembrar do rosto deles. No entanto, para a decepção de Harry nada disso aconteceu. Ele olhou desesperadamente para Sirius e Draco, ambos boquiabertos e um pouco aterrorizados. Definitivamente nenhum dos três estava entendendo o que estava acontecendo. Por segundos eles se entreolharam aturdidos tentando achar alguma explicação. O homem de capa longa, botas pontudas e um cabelo loiro que escorria até seus ombros certamente não era Lúcio Malfoy, era impossível que fosse totalmente diferente do Comensal que um dia foi o braço direito de Voldemort. - Vamos – disse Lúcio decidido olhando de um modo geral – Não podemos demorar muito ou eles vão desconfiar. Draco, Harry e Almofadinhas não sabiam o que pensar, estavam petrificados. O Malfoy bufou impacientemente e com um gesto sacou a varinha de seu bolso: - Black, você não está em condições de se mover. Mas podemos dar um jeito nisso. Quando Lúcio ameaçou fazer algum feitiço Sirius o interrompeu bruscamente: - Não toque em mim! – avisou num tom perigoso – Sinceramente você acha que eu acredito que você quer bancar o bom amigo com a gente. - Black, Black, Black – recitou o Malfoy como se estivesse cantando uma canção – Sempre desconfiado, só porque eu fui da Sonserina isso não significa que eu vá ser trapaceiro para o resto da vida. Somente uma vez, confie em mim e eu garanto que vocês não vão se arrepender. - Há muito tempo você deixou de ser alguém de confiança, Malfoy – Almofadinhas rangeu seus dentes amarelados – Você desapontou muita gente... - Escutem, eu não sei o que houve comigo – Lúcio estava ligeiramente aflito mas sua voz continuava moderada – Eu não sei porque eu fiz aquelas coisas, mas se vocês me derem uma chance eu posso tentar explicar... - NÃO! – Harry berrou, ele não suportava mais Lúcio tentando se justificar exatamente como Pedro Pettigrew tinha feito quando foi descoberto. A cena era humilhante e desnecessária – Você foi o servo mais cruel de Voldemort, você sempre quis me ver morto – Harry cuspia essas palavras – Você quer saber por quê se uniu a Voldemort e torturou os trouxas? Por prazer, porque você se divertia quando eles imploravam pelas suas vidas, e é o que você quer fazer com a gente. Você quer que a gente implore. - Não, não é nada disso – insistiu Lúcio e virou-se para Draco lentamente – Filho, você acredita em mim, não é? Draco piscou, a palidez se acentuando, a boca seca e gotas de suor escorrendo pelo rosto. - Pai – ele disse com a voz trêmula – Eu me lembro que um dia eu fiquei triste porque você teve uma reunião no final de semana e não pode brincar comigo, então quando você chegou me disse que era não gostava dessas reuniões porque elas eram chatas só que mesmo assim você não podia faltar. E disse que não era para eu ficar triste, porque você me amava muito e eu era a pessoa mais importante da sua vida. E você esteve mentindo esse tempo todo, eu confiei em você pai, até que você nos trancou aqui. - Draco, você sabe que eu daria a minha vida por você – afirmou – E é o que eu estou fazendo agora, eles vão me matar quando souberem que eu libertei três prisioneiros, entre eles o menino mais procurado pelo Lord das Trevas, o seu amigo Potter. - E como nós vamos saber que as suas intenções são realmente essas? – indagou Harry. - Okay, talvez esse visual preto de supervilão não esteja ajudando a convencer vocês – ele apontou a varinha para si – Vestimenta! – e a capa preta sumiu e no lugar apareceu uma calça e uma bata azul marinha – Eu não tenho como provar a vocês posso contar apenas com que vocês acreditem no que eu estou dizendo. Vamos lá, desde quando vocês são tão cabeça dura? Pensem um pouco, o que eu estaria fazendo aqui sem nenhum outro Comensal por perto, se não fosse para tira-los desse quarto? Ouve um silêncio audível. Fazia lógica o que Lúcio Malfoy havia acabado de dizer apesar de que vindo da boca dele isso soava totalmente estranho. - Tudo bem, Lúcio – disse Sirius – Nos tire daqui, mas se você fizer que não tenha avisado para nos prejudicar, eu juro que volto até do inferno para te fazer pagar por isso. Um sorriso fraco iluminou o rosto de Lúcio, Harry nunca o tinha visto sorrir antes. - Certo – disse rapidamente – Primeiro eu vou fazer um feitiço para que você, Black possa nos acompanhar sem fazer muito esforço. Ele apontou a varinha: - Mobilicorpus! – Sirius flutuou verticalmente acima do chão, parecia que haviam fios invisíveis que sustentavam o corpo dele – Sigam-me. Lúcio saiu na frente seguido por Draco, Sirius e Harry que vinham mais atrás. - Você tem certeza que a gente deve segui-lo? – murmurou Harry para Almofadinhas. - De qualquer forma nós não teríamos outra chance de sairmos vivos daquele quarto. - Você tem razão. Eu posso estar enganado, mas até aqui eu acho que ele não mentiu sobre querer nos salvar. - E ficamos devendo essa para o Malfoy! – exclamou Sirius com satisfação – Eu acho que o passado está voltando e o velho Lúcio também! - O que você quer dizer... – perguntou Harry, porém ele não chegou a terminar, porque no mesmo instante Draco olhou fixamente para Harry e disse hesitante: - Não podemos esquecer de Gina e Tathy, não é mesmo? - Não – confirmou – Vamos leva-las com a gente desta vez. Draco indicou onde estava a passagem secreta e Lúcio entrou. - Gina, cuidado! – gritou Tathy cujos olhos ficaram arregalados – Atrás de você! Gina se virou e praticamente deu um pulo ao ver Lúcio Malfoy diante delas. Gina foi se afastando em direção a parede, as duas garotas com a varinha em punho. - Nós somos mulheres, mas estamos em duas – desafiou Tathy – Portanto você está em desvantagem! Logo após Draco, Harry e um Sirius flutuante chegaram. Gina e tathy quase caíram no choro. - Draco! Harry! Sirius! – falou Gina e correu ao encontro deles, mas parou subitamente quando deu com Lúcio no meio do caminho e voltou um pouco amedrontada – Vocês estão bem? Harry confirmou com a cabeça. - O que você venho fazer aqui? – disse Tathy impetuosamente se dirigindo a Lúcio – Nós não vamos nos entregar nem que haja sangue aqui! Harry se adiantou e abaixou a varinha dela. - Obrigado por querer nos proteger com tanta vontade, mas acho que não vai ser necessário haver derramamento de sangue. - O quê? – ela perguntou desnorteada. - Eu os libertei – disse Lúcio brevemente – Vocês precisam ficar num lugar seguro antes que Voldemort chegue, eu irei leva-los. - Harry! – disse Gina brandamente como se quisesse faze-lo voltar a razão – Você está louco? Que brincadeira sem graça é essa? - Calma – tranqüilizou Harry – Nós temos que acreditar nele, é a nossa única saída. - Só se for a saída diretamente para a morte! – ao ver a expressão aborrecida de Draco, Gina acrescentou – Desculpe, mas você sempre soube que o seu pai é um patife! - Srta. Weasley eu sei que você não vai com a minha cara, mas essa não é a hora para você ficar com o orgulho ferido e não aceitar a minha ajuda – falou Lúcio Malfoy calmamente. - O Senhor que nunca gostou da minha família! Sempre armando um jeito de nos prejudicar! – ela parou quando percebeu que a sua voz estava se exaltando. - Eu sei que o meu pai nunca foi um cara legal com vocês, na verdade ele foi um cretino ordinário – Draco pegou nas mãos dela – Mas, por favor, deixe ele nos salvar, eu sei que ele está falando sério. Gina franziu a testa, ela estava considerando a pergunta. - Vocês prometem que têm plena consciência do que estão fazendo? - Eu garanto a você que todos vamos ficar em segurança. - Ótimo – concluiu Lúcio – Temos que nos apressar. Por aqui. Lúcio os levou por um caminho deserto até uma escada que descia ao subsolo da Mansão. As paredes eram estreitas e a passagem escura, os degraus não ficavam à vista era preciso ser atento para não tropeçar e cair. Eles desceram as escadas e a ponta da varinha de Lúcio iluminou uma porta feita de ferro, ele a puxou e com um rangido estridente a porta deu acesso a um pequeno porão. O aposento tinha forma de um quadrado e os móveis estavam dispostos assim: um sofá de couro preto, um tapete redondo no centro, uma lareira, uma mesa e cadeiras no canto. Na extremidade oposta da entrada havia outra porta, também feita de ferro. Lúcio acendeu a lareira magicamente e as velas flutuantes iluminaram o porão. - Agora prestem atenção – ele recomendou – Esta outra porta dá nos jardins da Mansão. Vocês têm que ir embora, este lugar é muito arriscado principalmente com a presença de Voldemort. O talismã serve como uma espécie de imã que o atraí para vocês, é só uma questão de tempo até eles encurralarem os cinco e aí vocês terão sérios problemas. Acreditem, eu sei com quem vocês estão lidando, vão embora enquanto podem. - E você, pai? Você vai ficar bem? – Draco disse com a voz rouca, seus olhos estavam híbridos como se não houvesse órbita neles – Você disse que eles te matam se descobrem que foi você que nos libertou, como eu posso saber que nada de mal vai te acontecer? - Eu sei me cuidar sozinho, filho – Lúcio olhou confiante – Não se preocupe comigo, se preocupe com você e os seus amigos. - Você promete que vai me encontrar vivo lá fora nem que seja para puxar a minha orelha e dizer que eu podia ter me saído melhor? - Claro – ele garantiu ainda olhando firmemente para o filho que retribuía reciprocamente – Eu estarei lá esperando por você. - Mas Sr. Malfoy – Harry chamou – Nós não podemos ir sem antes buscar a Espada... - Esqueça, Potter – Lúcio o ignorou – Fujam enquanto ninguém deu pela falta de vocês e... – ele tirou as varinhas de Draco, Harry e Almofadinhas e as entregou – Eu quase estava me esquecendo... Tomem! Vocês vão precisar! E Lúcio inclinou seu rosto de um modo que somente Draco conseguia vê-lo: - E quanto à Srta. Weasley – ele sussurrou – ela é uma moça muito bonita, mas você deve tomar cuidado para evitar que ela fique nervosa. Lúcio deu uma piscadela e Draco sorriu, depois a porta se fechou atrás deles. ** ** Hermione saiu correndo atrás de Rony, ela não podia deixar que as coisas entre eles ficassem desse jeito, quando ela saiu do Caldeirão Furado Rony já tinha desaparecido no meio da multidão. Mione foi apressadamente até a casa de Lupin, e viu quando os cabelos vermelhos flamejantes de Rony entraram seguido de uma forte batida da porta, ela se adiantou ainda mais. - Rony! – chamou ao pé da escada enquanto garoto já estava na metade – Você tem que me ouvir, você não pode simplesmente virar as costas e sair como se eu tivesse feito a pior coisa do mundo! Rony parou e olhou com repulsa para Hermione. - Você realmente não faz idéia do que você está fazendo, não é? – e continuou a subir as escadas o mais rápido que podia deixando a garota sozinha. - Rony! – Hermione disse num tom agudo – Não é culpa minha! Eu estou confusa, agora se você quer dar um de estúpido e fingir que você é a única vítima nessa história, O PROBLEMA NÃO É MEU! Hermione parou de falar envergonhada ao ver que Lupin os estava esperando no segundo andar, e olhava serenamente embora intrigado para os dois que estavam com expressões enfurecidas estampadas em seus rostos. - Bom dia! – disse Remo cuidadosamente – Vocês estavam brigando? - Não, foi apenas uma discussão boba – disse Hermione aborrecida lançando um olhar de esguelha para Rony. - Tenho novas notícias – anunciou – Dumbledore falou comigo esta manhã, o Conselho se reunirá numa floresta que fica perto da Mansão Malfoy, todas as providências já estão sendo tomadas, Dumbledore colocou feitiços de camuflagem no acampamento que foi montado e toda vez que alguém que possua a Marca Negra tentar se aproximar vai sentir a sensação de que Voldemort o está chamando e precisará voltar rapidamente. - É o mesmo processo que foi usado na Copa Mundial de Quadribol no ano passado? – perguntou Hermione prestativa. - Basicamente sim – respondeu Lupin e sua testa se enrugou levemente revelando uma ponta de preocupação – No entanto, Alvo também me falou sobre algumas suspeitas que não são nada boas para Harry e nem para todos nós. - Eu sabia! – exclamou Rony como se já soubesse que Aluado iria falar isso inevitavelmente – O que aconteceu de errado? Eu disse para a Gina que era arriscado demais, mamãe vai me matar... - O que foi, professor? – disse Hermione urgentemente – É algo grave? Diz logo, você está nos deixando angustiados... - Dumbledore está convocando o Conselho a se reunir perto da Mansão, porque ele tem duas grandes suspeitas – os olhares de Rony e Mione estavam vidrados nele – A primeira é que Voldemort esteja indo para a Mansão, o cuidado sobre Harry terá que ser redobrado, os planos de Voldemort terão que ser impedidos até a última conseqüência. E a segunda – Lupin respirou fundo e os garotos puderam notar o esforço que Remo fez para dizer estas palavras – Sirius não tem se comunicado com o Conselho há um tempo considerável, Dumbledore acha que ele foi capturado e está impossibilitado de dar notícias. Os segundos se alongaram silenciosamente, ninguém sabia o que dizer. A notícia foi como uma rasteira inesperada e traiçoeira. Sirius era um amigo extremamente querido por todos e uma pessoa que tinha importância inestimável, tanto quanto para Lupin e talvez mais ainda para Harry. Sirius era a família de Harry. Eles não podiam perder alguém assim, não como se fosse fácil e ignora-se o fato de que isso era completamente covarde. - Mas é só uma suspeita, não é? – Rony perguntou na esperança de haver a possibilidade de Sirius estar salvo – Ele pode simplesmente ter decidido não se comunicar com Dumbledore porque não tinha nada de interessante para contar ou sei lá... - Como eu disse, Rony – Lupin soou mais exausto do que o normal – São apenas suspeitas, mas não devemos nos enganar... Hermione e Rony abaixaram a cabeça tristemente. - Eu conheço o Almofadinhas, ele não vai deixar que acabem com ele tão facilmente! Ah! Mas não vai mesmo... – encorajou Remo – Ele é esperto, sabe se virar sozinho... - Meu Deus! – murmurou Hermione de repente. Um pensamento desabou na cabeça dela com a força de uma enxurrada de água fria. - Harry vai ficar sabendo que Sirius foi capturado, eu conheço o Harry ele vai tentar salvar o seu padrinho e vai se meter em mais confusão... – ela disse inconsolável. A mão trêmula de Hermione revirava o bolso do casaco dela, ela tirou o rastreador. Com a habilidade de quem já tem muita prática ela apertou o botão do pequeno besouro aparentemente indefeso. - O que é isso? – indagou Lupin curioso. - É um rastreador que a Tathy fez para mim e para o Rony, com ele nós podemos saber exatamente em que lugar da Mansão os quatro estão – explicou. No mapa da Mansão Malfoy os quatro pontinhos intitulados como: Gina, Tathy, Harry e Draco estavam no porão. - Infelizmente nós não conseguimos ver se tem mais pessoas com eles – disse Hermione pensativa – Mas provavelmente não usariam o porão para prendê-los, eu acho que eles estão sãos e salvos. - Porém não temos a mesma certeza em relação a Sirius – afirmou Lupin seriamente – Vocês devem arrumar as suas malas, estamos partindo hoje mesmo. ** ** Quando Remo Lupin e os dois melhores amigos de Harry chegaram no acampamento tiveram uma sensação que nascia lá de dentro deles, que quase não podia ser percebida de tão distante que ela vinha, a sensação de que as coisas iriam finalmente melhorar. A presença de Dumbledore era como se uma mão amiga agarra-se firmemente a sua mão e lhe desse segurança. Além disso, o que mais Hermione e Rony queriam era ter a chance de ficar perto de Harry, e por que melhor do que um acampamento a uma pequena distância a sua frente. A Mansão era visível, isso também contribuía para a sensação de tranqüilidade, como se poder assisti-la também pudesse garantir que eles podiam controlar o que acontecia lá dentro. Os dois sabiam que isso era bobagem, mas não importava se os fazia sentir melhor. Haviam cinco barracas, uma que ficava na parte central e era a maior de todas. Era nessa barraca que o Conselho fazia as reuniões e decidia as medidas mais importantes. Na parte posterior à barraca principal estava uma biblioteca, cheia daqueles livros que certamente estariam na seção proibida de Hogwarts por exigirem um nível extraordinariamente avançado na magia. Os homens ficaram divididos em duas barracas que ficaram ao lado oeste, e as mulheres como eram em menor número ficaram com somente uma barraca do lado leste. As barracas eram num tom de verde queimado, livre de qualquer suspeita, perfeitamente trouxas na parte de fora. A visão das barracas deu a Rony uma súbita lembrança da noite em que ele, Harry e Hermione passearam no camping usado para sediar a Copa. Porém essa viagem foi interrompida por Alvo Dumbledore que se aproximava sorridente. - Olá – cumprimentou – Sejam bem-vindos! Você chegou na hora certa, Remo. Acabamos de receber uma mensagem de Sirius, ele conseguiu escapar e está com os quatro num bom esconderijo. Também está ciente da vinda de Voldemort, ele sabe que eles têm que se apressar. Hermione ficou radiante, assim como Rony e Lupin que depois da notícia se sentiram bem mais aliviados. - Ai! Eu não acredito! – ela disse dançando e num tom um pouco histérico – Que bom que eles estão bem! - É, mais ainda temos muito trabalho pela frente – disse o diretor gentilmente fazendo um gesto para eles o acompanharem – Fiquem à vontade, se instalem para que possamos colocar a mão na massa o mais depressa possível, tenho certeza que a ajuda de vocês será indispensável. Várias pessoas diferentes transitavam entre as barracas, gigantes, alguns funcionários do ministério, bruxos jovens e alguns com mais experiência, porém todos tinham o mesmo objetivo e determinação no olhar, e andavam com passos apressados sempre dispostos a cumprir o que Dumbledore lhes coordenava. - Professor, onde está Hagrid? – disse Hermione sentindo falta do amigo. - Eu achei melhor que ele ficasse tomando conta de Hogwarts, o castelo é um lugar poderoso para ficar abandonado, e como ele é o Guardião das Chaves e terras da escola naturalmente não teria objeções em ficar fazendo esse favor para mim – os olhos de Dumbledore por trás dos óculos de meia-lua encararam os meninos – Mas vocês não estão sentindo falta de outro professor? - Claro – respondeu Rony estupefato espichando a cabeça para os lados tentando encontra-lo – Onde está o prof° Snape com seus cabelos oleosos e seu péssimo humor? Dumbledore sorriu como se tivesse achado os comentários de Rony desnecessários, embora divertidos. - Severo não pode vir – explicou – A Marca Negra no braço dele continua ardendo, isso poderia revelar a nossa posição a Voldemort, porque essa marca é uma ligação entre ele e seus antigos aliados. - Ele não faz falta nenhuma – sussurrou Hermione para Rony, num tom rancoroso. - Bem, e aqui nos separamos. Remo, suponho que você não terá dificuldades em achar uma barraca para dormir é só ir para o lado oeste e você encontrará o alojamento dos homens, e eu vou levar a Srta. Granger para o alojamento das mulheres. - Nos vemos mais tarde, Alvo – Lupin se despediu e ele e Rony se adiantaram para o lado deles do acampamento. ** ** A tarde se arrastou e depois dela veio a noite. O céu estava iluminado pelas várias estrelas que o enfeitavam, como se tivessem sido colocadas cuidadosamente por alguém. A Lua era apenas um risco prateado que fazia papel de coadjuvante com os outros astros que dividiam o céu esta noite com ela. Após o jantar, algumas pessoas se reuniam para sentar em troncos que serviam de bancos para conversar. Os troncos eram modificados magicamente, o assento ficava em um declive feito milimetricamente, e era estofado. Tão confortável quanto sentar no sofá de casa, concluiu Hermione. E lá elas permaneciam por horas contando histórias antigas, grandes façanhas que a maioria não acreditava e riam muito, Hermione e Rony saíram com a barriga doendo de tanto rir. Mas agora todos já haviam ido dormir, o acampamento ficou sombriamente silencioso, não se ouviam mais vozes e nenhum barulho sequer. Rony estava se debatendo em sua cama, ele virava para um lado e a posição parecia incômoda ele virava para o outro e sentia que uma pontinha de qualquer coisa o cutucava, e assim passou um bom tempo tentando dormir sem resultado nenhum. Quando ele percebeu que não iria adiantar nada ficar se esforçando para dormir, porque na verdade ele não estava com sono, ele levantou vestiu suas roupas que estavam jogadas em cima da mala e decidiu andar pelo acampamento, como todos estavam dormindo ele poderia pensar melhor sozinho sem ninguém para atrapalhar que ficasse fazendo perguntas. Ele pegou sua varinha embaixo do travesseiro e olhou para ela apertando seus dedos firmemente, pronto agora estava seguro. Rony foi caminhando e dando leves chutes nos galhos espalhados pelo chão ou nas folhas que caíam casualmente das árvores, o céu estava realmente muito bonito parecia encantado, isso era mais um incentivo para deixa-lo acordado. Ele foi indo em direção à barraca principal. Quando ele estava se aproximando viu um vulto sentado nos troncos de madeira onde mais cedo eles haviam se reunido para conversar, não era muito grande, tinha longos cabelos ondulados que refletiam a luz prateada da Lua, as mãos apoiavam a cabeça, quem quer que fosse estava muito pensativa. Sim, Rony tinha certeza de que era uma menina. Ele foi chegando perto dela tomando cuidado para não produzir nenhum ruído. Quem será que além dele estava acordada àquela hora tão pensativa? Era Hermione. Rony foi até ela e sentou ao seu lado, Hermione ergueu a cabeça ligeiramente surpresa: - O quê... O quê você está fazendo aqui? – balbuciou. - Eu estive pensando melhor... eu acho que a gente deve conversar – ele disse envergonhado. - Você resolveu me ouvir? Você percebeu que você não tem nada a perder me ouvindo e que depois pode afirmar que não acredita em uma palavra do que eu digo, e sair sem olhar pra mim? – ela replicou aborrecida. - Eu sei que eu não fiz a coisa certa, mas é tão irritante ouvir você falar desse Krum como se ele fosse o cara mais perfeito! – Rony se defendeu – Eu não sei o que fazer, eu gosto dele, mas eu sei que ele não é o cara certo pra você, Hermione! - Não? – ela disse num tom baixo, ela estava fitando Rony ansiosamente – E quem é? - Você é a única pessoa que pode saber disso, mas não fique brincando com as pessoas que gostam de você, um dia elas cansam de esperar pacientemente e tudo isso acaba se virando contra você, eu não quero que isso te faça sofrer – disse carinhosamente, havia alguma coisa no modo de falar de Rony que revelava que ele próprio já tinha se machucado muito com essas atitudes de Hermione. - Você sabe que eu não sei lidar com meninos – ela disse e seus olhos cor-de-mel pareciam espelhos que reproduziam cada ponto brilhante do céu – Como eu podia saber que você queria ficar comigo se nem você sabia disso direito? - Como eu podia dizer para todo mundo que eu sempre fui apaixonado por você justo no momento em que eu te perdia para o Krum? – Rony respondeu infeliz. Hermione sentiu que ela estava olhando para Rony de um jeito estúpido, de menina boba e apaixonada, felizmente a escuridão da noite pudesse esconder o rosto dele. Hermione conseguia ver apenas os olhos de Rony, suas pupilas estavam dilatadas, o olhar dele era mortal, como se pudesse derrubar todas as paredes envolta de Hermione, assim ela ficava totalmente exposta e indefesa. - Rony, nada é tão fácil assim. Por favor, me deixe sozinha. Rony olhou perplexamente para Hermione, ela estava tão sóbria do que estava dizendo que o deixou assustado, foi como sufocar as esperanças que ele tinha de ficar com ela. - Se você quer assim... – resmungou Rony e se levantou. “Se ela realmente gosta de mim como pode pedir para que eu vá embora e simplesmente me deixar ir?” Pensou. - Hei! – Hermione chamou – Espere, volte eu não quero que você vá, fique aqui comigo. Rony virou e olhou estranhamente para ela embora intimamente ele estivesse vibrando. Hermione deitou a cabeça no ombro dele, enquanto Rony um pouco desengonçado passava a mão pelo cabelo dela. - Eu sei que não deveríamos estar aqui – ela disse com uma nota de culpa – Parecemos criminosos se encontrando na calada da noite. - Nós não marcamos um encontro, e quando eu vim pra cá eu não sabia que você já estava aqui. - Não? – indagou levemente desapontada. - Como eu poderia adivinhar? E além do mais não estamos infringindo as normas e nem fazendo algo tão horrível? – Rony disse exasperadamente. - Eu sou uma pessoa muito ruim, eu estou enganando alguém, isso não é justo. Rony segurou o queixo delicado de Hermione e a fez olhar para ele. - Justo? – ele repetiu tão perto dela que ela sentiu um frio congelar repentinamente seu estômago e se espalhar por todo o seu corpo e sentiu em questão de segundos o frio ir embora e um calor explodir dentro de seu peito e corar levemente as maças de seu rosto – Não é justo o que você está fazendo comigo... As palavras de Rony literalmente ecoaram no ar, Hermione ainda podia ouvi-lo sussurrando em seu ouvido. A Lua deixava sua chuva de prata banhar os dois, Rony estava tão perto de hermione que se quisesse poderia se ver nos olhos dela, porém ele queria ver além disso, ele queria olhar para dentro dela para conhecer os sentimentos da garota mais especial para ele, talvez assim ele pudesse induzi-la a beija-lo naquele momento. Hermione sentiu a respiração fraca de Rony se aproximar cada vez mais até desaparecer completamente se misturando aos lábios quentes dela. Rony acariciou o rosto de Hermione, quase fazendo-a se atirar nos braços dele e esquecer de tudo, da ética, da sua consciência. - Eu não posso! – arfou Hermione afastando os braços de Rony – Eu tenho que ir. Não, é melhor você ir, seu alojamento fica mais longe daqui – ela disse perturbada. - Hermione! – ele a fez parar de falar, a garota o observava atentamente – Eu vou respeitar o seu tempo e a sua decisão. Eu não faço a mínima idéia do que você está esperando, mas quando passar não esqueça de me avisar okay? Hermione mordeu o lábio e balançou a cabeça positivamente. Rony não parecia zangado, pelo contrário ele estava sendo muito compreensivo, e isso fazia com que Hermione quisesse lançar o Avada Kedavra nela mesma. - Boa noite – ele beijou a testa da garota e foi caminhando até sumir da vista dela, deixando Hermione sozinha com seus pensamentos. ** ** - Eu realmente não entendo por quê Lúcio Malfoy nos ajudou – interrogou Gina atônita – Quero dizer, ele era praticamente o segundo vilão da história? - Na verdade – a voz rouca de Sirius soou tenebrosa – A vida de Lúcio Malfoy parece ter se partido, e então ficamos com duas partes distintas da vida dele. A do Lúcio Comensal da Morte que todos nós conhecemos, e outra que ficou esquecida no passado que nem mesmo você, Draco, já ouviu falar. Os quatro olhavam intrigados para Sirius, não era preciso dizer uma palavra para saber que eles estavam ansiosos para ouvir a história. - Eu acho que já está na hora de você saber, Draco – o olhar de Sirius ficou negro como um beco sem saída – Mas seja forte, porque um passado desses pode confundir até o bruxo mais sábio. Draco sentiu suas sobrancelhas se enrugarem como se ele tivesse acabado de levar uma chicotada nas costas. ** ** |