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PRUDÊNCIA
Embora não seja um assunto novo, acho interessante pensarmos um pouco sobre a incapacidade que temos, cada dia mais, de absorver todas as mensagens que nos chegam e, pior, de absorver todos os conteúdos que nos chegam. Não consigo ler todos os livros, ver todos os filmes, ir a todas as exposições, brincar com meus filhos ou cumprir metas de trabalho e de rendimento que eu gostaria. Apesar de existirem milhões de máquinas trabalhando todo o tempo para mim, não tenho tempo rigorosamente para nada. A rigor, o homem moderno deveria ter mais tempo, mais lazer e, por conseguinte, ser menos estressado. Mas não acontece isso e não acontece por um conjunto de fatores, alguns identificados sozinhos e outros que são, na verdade, a fusão ou a composição de fatores solos. Estamos lendo diariamente que cada vez um maior número de empresas estão se especializando em cadastrar milhões e milhões de pessoas, pois esse cadastro tem valor inestimável para outras empresas que, na mesma Internet, vão até o consumidor oferecer (e vender) seus produtos. Em outras situações vemos jovens enriquecendo do dia para a noite na web porque tiveram uma “excelente idéia” e trabalharam direito nela. E existem também os que chegam a largar seus empregos estáveis, achando que a Internet é uma mina de ouro certa, e quebrando a cara, perdendo tudo. Existem centenas de teorias e explicações e cho que temos de refletir sobre todas elas, pois ainda estamos engatinhando na informática e, praticamente “no útero” no e-comerce. Talvez todos estejam certos, talvez todos estejam errados. Não é isso o que mais importa agora. O importante é que a internet é muito nova, é recém nascida e muitas coisas ainda terão, de uma maneira ou de outra, que “se acomodar”, encontrar caminhos mais sólidos. Estamos, eu sempre repito isto, tratando de um outro universo, “uma outra dimensão”, esse universo virtual, mas, por outro lado, por ser produzido por homens “do lado de cá”, esse universo repete vícios, sortes, azares, ética e falta dela, da mesma forma que a “vida como ela é”. Não acredito que continue assim indefinidamente. Acredito que o mundo virtual e o “não virtual” vão chegar a um ponto de encontro, vão deixar de ser universos distintos e darão origem a uma espécie de nova raça. Essa nova raça, muito possivelmente trabalhará com uma nova comunidade virtual, uma nova dimensão, da mesma forma que hoje trabalhamos com o “nosso” mundo virtual e assim indefinidamente, até o sol se apagar. Creio, portanto, que é importante procurar ler e ouvir tudo sobre o assunto e agir com prudência, nem desacreditando, nem largando tudo, em troca dessa “califórnia” virtual. È verdadeiro, não existem mais dúvidas, mas a velha pitada de prudência ainda cai bem.
Geraldo Iglesias Março 2000 |
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