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POLÍCIA NO FORMIGUEIRO
Claro que o problema é nacional, mas não vou tão longe, vou me ater ao nosso Rio de Janeiro. Acredito que já exista um clamor público por segurança razoavelmente forte, pelo menos o bastante para que as autoridades (governador e prefeitos) façam e pensem sobre o assunto. É justo registrar que não se pode acabar com o estado de anarquia, de banditismo que vive a cidade do Rio de Janeiro de uma hora para a outra. Evidentemente, uma série de medidas deve ser tomada em conjunto e os resultados vão aparecer paulatinamente. Acredito que um endurecimento nas corregedorias, uma investigação mais apurada nos crimes cometidos por policiais, principalmente no que se refere a corrupção, suborno, etc., providências para melhor armamento aos profissionais em serviço, verificação de níveis salariais e todas as demais medidas que as autoridades competentes devem saber muito melhor do eu. Hoje em dia, vejo um policiamento mais ostensivo nas ruas, blitze em grande quantidade, revista da população, etc. e acredito que tudo isso contribua para inibir e diminuir os índices de criminalidade. Entretanto, os pequenos e os grandes assaltos continuam. Os assassinatos idem. Os desordeiros continuam atuando firmemente e, enfim, os bandidos continuam atuando nas ruas indiscriminadamente. Sabe-se que o tráfego de drogas é o motor de arranque de toda a máfia que aí temos. E sabemos quem comanda, onde estão aquartelados esses “generais”: estão nos morros (alguns exercem esse comando de dentro das penitenciárias). Sem querer ser simplista demais, só um pouquinho, fico me perguntando porquê a polícia não sobe o morro, invade a favela e prende os traficantes. Eles têm nome, são conhecidos. Por que fogem? Coloque-se então grupos policiais fixos (ou mutantes para não se contaminarem) nos morros. Não seria mais eficaz, encurralar o traficante, o mandante do assalto, do roubo, do crime de uma maneira geral para prende-lo, mata-lo se for preciso, onde sabe-se perfeitamente ele se encontra do que esperar-se encontra-lo dentro de um ônibus? A Polícia não tem poder de fogo para entrar numa favela e combater em igualdade bélica o traficante? Bem, aí estamos tratando de uma situação de guerra e para a guerra está pronto o Exército. Se não é guerra e, alegam, não é caso para o Exército, muito bem: então que a polícia entre, tome todos os locais suspeitos (ou conhecidos) e prenda (ou mate) quem alavanca o crime cá embaixo no asfalto. Visão simplista? Talvez. Mas que visão se propõe então. Educar cada criança desfavorecida que nasce hoje para diminuir a criminalidade daqui a duas ou três gerações? Parece-me mais prudente a simplicidade de fazer as duas coisas ao mesmo tempo: eduque-se os que nascem hoje, dê-se condições dignas aos inocentes desfavorecidos e extermine-se (de uma maneira ou de outra) os assassinos, assaltantes, estupradores, e tudo o mais de ruim que anda por aí. As ações sociais não se podem diluir na permissividade da criminalidade sob pena de perderem todo seu valor. O grupo de policiais que está fazendo uma blitz pode abandonar essa atividade, dirigir-se a uma penitenciária onde está detido o marginal X e tomar as medidas cabíveis para que ele pare de atuar, mesmo lá de dentro. Cinqüenta ou cem policiais dentro de cada favela, atuando para valer, debilitarão muito mais o crime organizado do que dezenas de blitze pela cidade (embora estas também sejam fundamentais). Na verdade estamos esperando a formiga sair do formigueiro, mesmo sabendo onde estão os formigueiros e que formigas lá estão. Não podemos tapar o sol com a peneira. A população vê o policiamento ostensivo, mas a criminalidade não cede, ou se o faz é em níveis débeis. Temos que caçar os marginais nos morros como eles nos caçam no asfalto. Ou nada feito.
Geraldo Iglesias Julho 2000 |
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