A MÍDIA, O HOMEM E O MEIO


Recebo muitas correspondências no Tecnologias 2000, alguns discordando das opiniões ali expostas, mas a grande maioria gosta do que encontra e quer participar.
A maior parte dos e-mails recebidos vem de estudantes de nível universitário querendo mais e mais informações sobre a mídia de uma maneira geral, da influência da mesma sobre as pessoas.
Dia desses, respondi a uma estudante que, na minha opinião, existe uma grande confusão e exagero sobre essa tão falada exposição do homem aos “bombardeios da mídia”, tratando a mesma como corruptora da capacidade analítica do ser humano. Segundo o Aurélio, mídia é: “Designação dos meios de comunicação social como jornais, revistas, cinema, rádio, etc.”
Entendemos então que a mídia existe desde que o homem habita a terra, já que através de sinais e, posteriormente, da oralidade, ele se comunica. Logo o homem se agrupou, logo criou formas de sociedade e logo necessitou da “comunicação social”.
Respondi ainda a minha correspondente que não via como viveríamos sem a mídia, cairíamos num total descontrole, sem sabermos o que fazer ou para onde ir. Já imaginaram não possuirmos jornais para ler, televisões, rádios e cinemas? Todos esses meios, bem como os computadores, a Internet, etc. atual como bússolas para que saibamos o que está acontecendo, quem é quem, o porquê de determinados fatos ocorrerem, etc.
A população mundialmente cresce de maneira avassaladora, as fronteiras continuam se alterando, as guerras são cada vez mais precisas, a  quantidade de informação, de cultura, de lazer é cada vez maior, para um número maior e mais diversificado de pessoas. Não possuímos tempo no nosso cotidiano para absorver tudo o que é produzido.
A mídia mostra, divulga, faz análises, propaganda, deturpa às vezes, induz em outras. Aí é que talvez as pessoas se percam e façam a confusão sobre mídia boa e mídia má. Algo como colesterol bom e mau, ansiedade boa e má.
Não existe nenhuma dúvida de que a mídia nos induz a achar isso ou aquilo, a comprar este ou aquele produto, a votar neste ou naquele candidato. Ninguém questiona também que as grandes empresas que detém o poder, os monopólios de comunicação de massas, têm grande poder de indução e que, na grande maioria das vezes, utiliza esse poder em proveito próprio ou de grupos a eles associados, numa monopolização absurdos. Mas o que fazer então? Acabar com nossos meios de comunicação? Recusarmo-nos a assistir a Rede Globo ou acharmos que, de antemão, tudo o que ela e suas outras empresas dizem é errado, é falso, é para servir ao “imperialismo americano”?
Qualquer pessoa com um mínimo de capacidade de avaliar fatos e coisas percebe que não é nada disso.O problema não é este ou aquele grupo empresarial. Nosso grande problema, creio, é a incapacidade que nosso povo, induzido basicamente por nossos intelectuais tem para pensar. Ora, não podemos querer tapar o sol com a peneira e achar que vamos mudar o mundo, que vamos plantar a “honestidade” dentro de cada homem até porque nem sempre podemos tratar como desonesto aquilo que nos influencia. O que é importante é que tenhamos a capacidade de discernir, de avaliar o que é bom do que é ruim, o que presta do que não presta, o falso do verdadeiro. Temos que saber o que desejamos para nós e para a nossa sociedade e para isso, não precisamos “acabar com mídia” e sim estarmos atentos, possuirmos a capacidade de criticar, de ser um espectador crítico das mensagens que recebemos seja pelos jornais, pela Tv ou pela Internet. Não importa o meio. Importa a mensagem e, mais ainda, nossa capacidade de avaliação. Desnecessário dizer que um povo sem educação não poderá jamais ser crítico. Um povo induzido a determinadas ditaduras, como somos hoje em dia (infelizmente ainda) pelo comunismo renomeado de socialismo têm menores possibilidades de perceber o que é ou não ruim para suas vidas.
Nossos intelectuais não crêem em Deus e acham que também não devemos crer. Acham que ser gay é mais do que uma opção, é um ato de bravura, que devemos todos ou ser também ou, no mínimo, apoiar, fazer passeatas, brigar pelos casamentos homossexuais, etc.
Eu digo sempre que posso gostar das músicas de Chico Buarque, acha-lo um excelente compositor, mas não necessito ir a Cuba ou acreditar, como ele prega, que aquilo lá é uma beleza.
Posso ouvir um discurso de Roberto Campos e um do companheiro Stédile, mas preciso ter claro o que desejo para o meu país.
Posso gostar mais de navegar na Internet usando um Netscape ao invés de um Explorer, agora, usar o Netscape para protestar contra a monopolização da Microsoft, ainda que o Explorer seja melhor e o Bill Gates seja arquimilionário por seus méritos, portanto, porque ele merece, usar o pior para “remar contra a mídia”, isso é para os atrofiados mentais.
A mídia não melhora nem piora ninguém. Ela é necessária, é boa, portanto. Cabe a cada um ser atento, exercitar sua capacidade de pensar, de refletir sobre o que é dito, o que é proposto, manifestar-se favoravelmente ou contra cada informação que chega. Criticar. Pensar. Perceber que tudo o que nos circunda é passível de avaliação, de crítica construtiva, de desacordo, de retórica, de discussão.
Jesus Cristo usou a mídia do seu tempo. Stálin também. Betinho idem. Hitler e Gandhi também. Marx, Lênin através da mídia quase destruíram o mundo. O comunismo mata mais que o nazismo. A capitalismo torna uns muito ricos e outros muito pobres. Tudo pode acontecer, podemos seguir aqueles que nos convém, mas temos que pensar, que avaliar com clareza, com amor, com severidade.

Geraldo Iglesias
Agosto de 2000

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