MÍDIA COMO PRODUTORA DE DESEJOS




A "mídia é produtora de desejos"? Na verdade,
acredito que o desejo é tão antigo quanto o homem e, aliás, muitíssimo saudável. O desejo impulsiona o homem, para o saber, para o bem estar, para as coisas que tornam sua vida melhor e é isso que promove o desenvolvimento da espécie. Daí o estudo, a cultura, as pesquisas e descobertas, a melhoria da qualidade de vida, aumento da vida média do ser humano, etc.
Por seu lado, a mídia também sempre existiu. Sempre digo que Jesus Cristo ou São Francisco  ou o faraó Queóps também fizeram mídia e é graças a isso
(eles e suas mídias) que os conhecemos, os estudamos, etc.
O que ocorre é que antes era uma mídia apenas oral, depois escrita à mão(por milhares de anos), posteriormente impressa, etc.
Os meios de difusão da mídia cresceram e se sofisticaram, assim como a população do planeta.
Hoje, o mundo é globalizado, o que acontece no Japão você  assiste aqui, ao vivo e a cores.
A indústria e o comércio cresceram proporcionalmente a tudo o mais.
O que se questiona é o "bombardeio da mídia, tornando-nos consumidores em potencial". E é verdade. As empresas e o comércio precisam da mídia para alavancarem seus negócios e a população, claro, como consumidora, é o alvo dessa mídia.
Todos gostamos de consumir. A experiência de não
consumismo, de comunismo, foi uma derrocada no mundo inteiro. O comunismo foi a grande tragédia que o mundo viu  neste século. Milhões de pessoas
morreram sob os sistemas comunistas (muito mais do que sob o nazismo, por exemplo).
Tudo é bom e mau. Tem o colesterol bom e o colesterol mau. A ansiedade boa (que nos move, nos impulsiona) e a ansiedade ruim (que  nos incapacita de realizar. Acredito que o mesmo se aplique ao consumo. É bom que a mídia nos mostre o que existe de bom, o que podemos ter, o quanto é prazeroso consumir. Torna-se problema quando recebemos uma série de impulsos para consumir e não estamos “formados” o bastante para compreender que os instrumentos para esse consumo são o estudo e o trabalho à exaustão. Esse é o problema. Se v. tem um menino, como exemplificam sempre, que mora no morro, ao lado de um ponto de venda de drogas e ele deseja um tênis que viu na TV e não pode ter e, para isso, prefere traficar a estudar e trabalhar, prefere assaltar e matar para consumir o que a mídia mostrou, aí a questão muda de figura. O problema deixa de ser a mídia e sim, o tráfego de drogas não reprimido, os criminosos impunes, a falta de educação e orientação da família do jovem (que deveria estar na escola e quando possível também trabalhando), etc. Aí a questão é social, é de educação do povo, cidadania, ética.
O crime sempre existiu, O desejo de consumir sempre existiu (proporcional ao que cada geração teve  como objeto de consumo) e o desejo, como disse é o motor da humanidade.
Portanto, a mídia como produtora de desejos é um bem e não um mal como nossos patrulheiros ideológicos de plantão tentam mostrar.
É preciso sim, educarmos o povo para que cada um seja um espectador crítico da mídia e, de resto, de tudo à sua volta e aprenda a avaliar o que é bom ou
não, o que é possível ou não.
É isso.

Geraldo Iglesias
Setembro de 2000

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