De Corrientes ao Passo de La Pátria

Pelo  final de maio e início de junho de 1865 a coluna de Estigarribia havia capturado algumas vilas e povoados  no Rio Grande do Sul próximos a fronteira. A primeira cidade em cair em suas mãos após pequena resistência foi  São Borja. Tudo levava a crer  que as tropas de López avançariam sem grande oposição.

No entanto, desde a partida das tropas paraguais de sua pátria até as primeiras conquistas as coisas já haviam começado a mudar no campo de batalha.

No dia 22 defevereiro,  Montevideo havia caído em poder das tropas brasileiras e coloradas, estas ultimas sob comando do General Venâncio Flores.  A capital uruguaia era de importância estratégica ímpar, não só por ser a cidade mais importante do país, mas também por sua localização na entrada do Rio da Prata. Suprimentos e homens rapidamente poderiam alcançar Corrientes e as áreas próximas às invadidas pelo exército paraguaio.  El Supremo, no entanto, não desejava parar sua invasão e suas tropas se internaram ainda mais em terrotório inimigo.

Almirante Barroso - Arquivos da Marinha Brasileira.

Dia 11 de junho, a Marinha Imperial obteve uma incontestável  vitória contra as forças navais de López  em Riachuelo no rio Paraná. A coluna de Estigarribia agora tinha sua retaguarda ameaçada. Ainda assim, se tivesse agido rapidamente teria conseguido cruzar o rio e voltar para Corrientes onde poderia contar com o apoio de outras forças de seu país. No entanto, o oficial paraguaio seguiu em frente e em 5 de agosto suas tropas tomaram Uruguaiana.

Ainda no mês de  agosto, dia 17, a coluna do major Pedro Duarte, que ainda se mantinha em Corrientes,foi derrotada na Batalha de Yatay pela vanguarda do exército aliado. Mesmo desorganizado e em processo de estruturação, o exército da aliança que bateu Duarte  contava com 8.390 homens ( 4.500 argentinos, 2.440 uruguaios e 1.450 brasileiros) , enquanto os guaranis somavam apenas 2.700. Muito embora a maior parte dos homens de Duarte  conseguissem escapar cruzando o rio para seu país, muitos foram mortos ou capturados. Os aliados contaram 83 mortos e 257 feridos.

Em meados de setembro, Estigarribia encontrava-se cercado em Uruguaiana por 17.000 homens e sem nenhuma possibilidade de receber reforços. Sem suprimentos, sua situação era desesperadora. Ainda em setembro, ele se entrega juntamente com 5.200 dos melhores soldados e oficais do exército paraguaio.  O próprio D. Pedro II presidiu a  cerimônia de rendição.

Levaria ainda muitos meses de preparativos para que os aliados tivessem condições logísticas de investir contra a outra margem do Paraná.

O pouco que se sabia sobre o terreno na margem paraguaia era que se tratava de solo pantanoso durante muitos meses do ano. Levar um grande exército para lá significava imensos problemas logísticos e de mobilidade. Os aliados contavam com a vantagem de poderem contar com a Marinha Imperial para apoiar o avanço, mas mesmo aí teriam dificuldades. Os navios apresentavam calado superior ao adequado para navegarem pelo rio sem problemas. Na realidade, os navios da marinha brasileira haviam sido projetados para operações em alto-mar.

No margem oposta ao ponto de  início da travessia os paraguaios haviam construido um ponto forte chamado Itapirú. Os aliados teriam que tomar aquela posição para tornar garantirem que a operação de transporte de tropas não fosse ameaçada.

Enquanto realizavam os preparativos cruzarem o rio, os aliados eram obrigados a manter grupos de soldados prontos para responderem às incurssões que pequenos destacamentos paraguaios faziam, principalmente a noite, no lado argentino do rio, com o intuito de desgastar o moral aliada. Essas ações foram  realizadas com frequencia  entre setembro de 1865 e março do ano seguinte. Somente em março de 1866 os planos para a invasão do paraguai ficaram prontos.  Os aliados iriam realizar um pequeno desembarque ao norte de Itapirú e tomar aquela posição pela retaguarda. Após isso, mais tropas seriam enviadas ao território inimigo. A frota aliada iria fazer fogo sobre Itapirú em apoio a primeira travessia.

Itapiru apos sua tomada pelos aliados

No dia 16 de abril, o general  Manuel Luís Osório, comandante do I Corpo do exército Imperial, estabelece um perímetro de defesa do lado paraguaio do Paraná com 15.000 soldados e oficiais.  Ele encontro fraca oposição dos paraguaios e não tardou a rumar para Itapirú.

Enquanto isso, Itapirú se encontrava sob fogo dos navios aliados. Os Paraguaios lançaram tudo que tinha contra a frota inimiga: canoas, pequenos barcos e até mesmo navios capturados dos argentinos quando da invasão de Corrientes . Tentaram se aproveitar da limitada mobilidade dos vasos aliados. Conseguiram infligir alguns danos e baixas à frota. Contudo, não podiam suplantar o maior poder de fogo  e o melhor equipamento dos navios da Aliança e tiveram que recuar.

Talvez a luta mais feroz do dia tenha acontecido pelo controle de alguns pequenos banco de areia localizados em pontos estratégicos ao longo do rio. Em um deles, que se localizava de fronte Itapirú,  se deu um renhido combate entre tropas brasileiras e paraguaias.  O tenente-coronel Antonio Cabrita foi escolhido para liderar um destacamento que ocuparia o banco de areia.  Assim que desembarcaram, eles receberam fogo dos canhões posicionados em Itapirú.  Os paraguaios também enviaram pequenos grupos de homens para desalojar Cabrita e seus soldados.  Após luta corpo a corpo e com o apoio da frota que impediu que barcos com tropas inimigas se aproximassem do banco, Cabrita conseguiu manter a posição. Ele teria pouco tempo para comemorar. Na noite daquele mesmo dia, um dos últimos tiros de canhão lançados de Itapiru matou-o juntamente com seu ajudante de ordens.

Ambos os lados sofreram perdas consideráveis. Somente na luta pelo banco de areia, o exército brasileiro sofreu 57 baixas fatais e ainda teve102 homens feridos e 3 desaparecidos.  As baixas paraguaias segundo documento do exército brasileiro foram de 600. Talvez exista algum exagero neste último número. Não obstante a luta foi feroz por aquele ponto do rio.

No dia 18 de abril Mitre se encontrava em solo inimigo juntamente com um exército de 60.000 homens.

No dia seguinte  os  paraguaios evacuam Itapiru.

Estero Bellaco