A formação académica de Dylan
Por Daniel Bacchieri
Em cinco de Junho de 1959, um franzino fanhoso chamado Robert Zimmerman, de 18 anos, recebia o diploma de segundo grau na pequena cidade de Hibbing, em Minnesota, meio-oeste dos Estados Unidos. Daí a algum tempo ele começaria a usar o nome de Bob Dylan. Nascido em 24 de Maio de 1941, em Duluth (MN), Robert Allen Zimmerman mudou-se aos seis anos de idade para Hibbing, onde passou a infância e adolescência, até ingressar na Faculdade de Artes da Universidade de Minnesota, em Minneapolis.
Precocemente influenciado pelo folk e pelo blues que tocavam nas rádios, Dylan, no auge dos seus 10 anos de vida, garimpava nas lojas de Hibbing por singles de Hank Williams, John Lee Hooker e Chuck Berry. O seu interesse pela música e o desejo em se tornar guitarrista e cantor logo foi colocado em prática. Bandas como The Golden Chords, The Shadow Blasters, e Elston Gunn & The Rock Boppers fazem parte da carreira estudantil do futuro ícone pop.
A meteórica fase universitária em Minneapolis foi marcada por performances em bares ao redor do campus. Uma viagem a Denver, no Colorado, serviu para definir o futuro profissional e vocacional do cantor e gaitista. Após o encontro com o bluesman Jesse Fuller, Bob Dylan amadureceu a ideia de largar tudo e lutar por um espaço como músico e compositor. Em Janeiro de 1961 Dylan desembarcava na boémia de Greenwich Village, em Nova Iorque. Passados dois meses já abria shows para o mestre do blues John Lee Hooker. No fim do segundo semestre do mesmo ano era o mais novo contratado da editora Columbia A&R.
O seu primeiro álbum saiu em Março de 1962, mas o impacto na cena folk veio com The Freewheelin' Bob Dylan, lançado no ano seguinte. A clássica canção Blowin' In The Wind acabou por ser regravada pelo trio Peter, Paul and Mary, e tornou-se num dos hits do Verão de 1963 nos Estados Unidos. Entretanto, a canção servia de trilha para o início do namoro de Dylan com a cantora Joan Baez, para quem o músico abria os shows naquela temporada. A conquista do grande público estava cada vez mais próxima. O presente dado aos The Byrds, que tinham a canção "Mr. Tambourine Man" na abertura do álbum de estreia, e o sucesso de Like A Rolling Stone (Highway 61 Revisited, 65), era o que faltava para colocar o nome de Bob Dylan como referência cultural dos anos 60.
Com o êxito artístico e comercial garantido, Dylan partiu para novos desafios. A legião de fãs, seduzida pelo apelo folk e acústico dos trabalhos do compositor, demorou a encaixar o golpe quando o músico aderiu ao rock and roll eléctrico. Entra então em cena a banda The Hawks, mais tarde conhecida simplesmente como The Band. Em tournê pela Inglaterra, em 1966, Dylan chegou a ser apelidado como "Judas" pelos mais radicais, defensores do banquinho, harmónica e viola. No mesmo ano, um grave acidente de mota acabaria por refletir-se pesadamente na carreira de Bob Dylan.
O country e o folk retornariam ao primeiro plano dos trabalhos do compositor, recluso nos arredores de Woodstock, no estado de Nova Iorque, juntamente com a The Band. A viragem para os anos 70 incluiu também obras noutros campos artísticos. O músico lança seu primeiro e único romance ("Tarantula"), em 1970, além de compor a trilha sonora e actuar no filme PAT GARRETT E BILLY THE KID (73), de Sam Peckinpah. As críticas positivas retornaram com força após a produção de Blood On The Tracks (1975), promovido numa tournê que incluía nomes como Joan Baez, Joni Mitchell e o poeta beatnik Allen Ginsberg. O disco seguinte, Desire (1976), seria o último sucesso mundial de Dylan nos vinte anos seguintes, puxado pela canção-protesto Hurricane, utilizada anos mais tarde na longa-metragem The Hurricane (1999) protagonizada por Denzel Washington, sobre o pugilista norte-americano supostamente preso "por engano".
Seguindo a escrita da maioria dos grandes nomes da música dos anos 60 e 70, Bob Dylan enfrentou um período de vacas magras durante a década de 80. E de muita oração. Ao anunciar que se tinha convertido a causas cristãs, Dylan lançou uma série de discos com temática religiosa. A ressurreição pop veio no fim da década seguinte. Time Out of Mind (97) chegou a estar entre os dez mais vendidos nas tabelas norte-americanas e recebeu três prémios Grammy. Em 2000, veio o Oscar. A canção "Things Have Changed", incluída no filme “Wonder Boys” (Prodígios) de Curtis Hanson, proporcionou a Dylan o prémio máximo da indústria cinematográfica. O mais recente álbum, Love and Theft (2001), é considerado pela crítica especializada o melhor trabalho de Bob Dylan desde o setentista Blood On The Tracks.
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Notas:
* Um dos primeiros poemas escritos por Bob Dylan foi dedicado à mãe. Bob tinha então 10 anos de idade;
* A adopção do sobrenome Dylan é uma homenagem ao poeta Dylan Thomas, considerado um dos maiores nomes do século XX em língua inglesa. O artista, nascido em 1914 no País de Gales, teve uma vida muito curta – morreu aos 39 anos, vítima do alcoolismo;
* Vários artistas brasileiros já regravaram canções de Bob Dylan. “Knocking on Heaven's Door” e “Hurricane”, por exemplo, foram transformadas pelo paraibano Zé Ramalho em BATENDO NA PORTA DO CÉU e FREVOADOR. Caetano Veloso incluiu “Jokerman” no álbum CIRCULADÔ VIVO, e criou uma versão para “It's All Over Now, Baby Blue”, chamada “Negro Amor”, já gravada por Gal Costa. “Hurricane” já foi cantada como “Furacão” por Cida Moreira. E um dos maiores sucessos da banda Skank foi retirado da década de 60. A música “Tanto” é uma adaptação de “I Want You”, clássico de Bob Dylan de 1966;
* Dylan sofreu um grave acidente de moto em Julho de 1966.
* No início da carreira, chegou a utilizar o codinome de 'Elston Gunn';
* Durante sua curta carreira académica na Universidade de Minnesota, recebeu uma série de críticas dos professores, como: "O aluno recusou-se a observar um coelho morrer na aula de Ciências" e "Tem a mania de ler Kant em vez do livro exigido pela cadeira"
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