Stefan Zweig e Elisabeth: o mistério que teima em retornar!
Dr. Silvio Saidemberg .........................14 de Abril, 1999
Examinei uma coleção de artigos de jornais da época em que Stefan Zweig e Elisabeth (Lotte) faleceram. Suicídio havia sido imputado a ambos, mas, discrepâncias nos relatos surgiram. A data do suicídio é tida como sendo 23 de fevereiro de 1942, isto é, há 57 anos. Levantam uma interrogação sobre as circunstâncias e razões de um suposto suicídio os seguintes indícios:
(Veja também as fotos e cópias de documentos no fim do texto.)
Primeiro indício; A carta de despedida ("Declaracão") tem grafado assim em português ( única palavra em português e ainda por cima incorreta) o seu título (epígrafe), o texto que segue é em alemão. A palavra alemã Deklaration teria o mesmo poder de chamar atenção para a carta. Porque não uma palavra final de despedida em português se Zweig desejava ser cortês usando uma palavra não alemã neste texto?
Segundo indício: A carta que teria sido escrita de próprio punho contem duas palavras suprimidas, aparenta haver sido composta sem uma revisão meticulosa, o que não seria de se esperar de um grande escritor, que deveria saber que a sua morte teria uma grande repercussão no mundo em geral e em particular sobre a comunidade judaica. A sua última peça literária, a carta de despedida sendo tão breve, como se nenhuma explicação maior fosse necessária para quem era lido e admirado e respeitado, para quem se considerava com uma missão espiritual. No mínimo, isto levanta grandes dúvidas e perplexidade.
Terceiro indício: Nenhuma menção é feita ao "pacto de morte" com sua esposa, nenhuma menção é feita à morte dela. A declaração é sempre na primeira pessoa do singular. Por que? E por que o minucioso escritor deixa este ponto de interrogação?
Quarto indício: Aparentemente, passíveis de serem interpretadas como contendo uma despedida, cartas teriam sido escritas, datadas, envelopadas e seladas no dia anterior ao suicídio, haveria alguma razão para o adiamento do ato? Qual?
Quinto indício: Por que Stefan Zweig teria começado a sua carta de despedida por: "Antes de deixar a vida por minha própria vontade...?" Por que tal ênfase em livrar outras pessoas da responsabilidade de sua decisão, se as únicas duas pessoas intimamente envolvidas neste episódio seriam ele e a própria esposa, ambos participando das conseqüências dessa decisão? Por que este assunto em primeiro lugar?
Sexto indício: Porque não havia nenhuma referência à vontade da esposa? Ela teria alguma razão pessoal própria para acompanhá-lo naquele gesto? Quais seriam as possíveis razões de Lotte? Se houvesse alguma; uma doença na época incurável, por exemplo; mais um motivo para se mencionar o fato em uma comunicação derradeira.
Sétimo indício: Por que Stefan Zweig teria dito em sua carta: "... seriam necessários esforços imensos para reconstruir a minha própria vida..."? ; como autor consagrado com traduções em vários idiomas, apesar de haver tido seus bens furtados na Europa Continental, possuiria condições adequadas para sobreviver no Brasil, onde era respeitado e aclamado como um dos maiores escritores da primeira metade deste século.
Oitavo indício: Em continuação à frase anterior "... e minha energia está esgotada pelos longos anos de peregrinação como um sem pátria..." No mínimo é curioso que o autor tenha usado a expressão "sem pátria", sendo um homem cosmopolita, aclamado mundialmente, havendo tido facilidade de visto e de obtenção de cidadania que dificilmente outro refugiado do nazi-facismo teria, por maior que fosse o seu amor à sua terra natal, Áustria,... e em realidade redigira um livro aclamado no novo país em relação ao qual é muito apreciativo: "Brasil, país do futuro" (além do mais era portador da cidadania britânica, nação que lutava contra o Eixo). Por que justificar o seu gesto suicida, expondo uma razão "de falta de nação"?; um homem que acreditava que o bem maior neste mundo era o ser humanitário e defensor das liberdades individuais e da dignidade humana. Estaria ele sob pressão? Quem o estaria pressionando?
Nono indício: Foram recolhidos textos de um cesto de papéis descartados; qual o conteúdo dos mesmos? Um dos papéis rasgados conteria os nomes de "Hitler e Goebbels e Fuehrer"... e o que mais? Por que a investigação não foi melhor divulgada? A quem interessaria que ela não fosse divulgada?
Décimo indício: Na tradução da carta de despedida distribuída à imprensa foram suprimidos dois períodos do texto original. "Desejo que vocês possam ver ainda a aurora que virá depois desta longa noite. Eu, impaciente demais, vou antes disso". ( Estaria Zweig referindo-se à sua esperança na derrota do nazismo.) Por que até neste último documento, há necessidade de metáfora, e metáfora em um rascunho, já que o documento aparenta não haver sido revisado? E agora, qual a razão de se censurar esta última e reduzida peça literária? Quem o fez? A quem interessaria a supressão? Por que????
Décimo primeiro indício: Cartas foram enviadas por Stefan Zweig a várias personalidades da época, para a ex-esposa, cunhado e amigos, cartas que foram interpretadas como se tratando de uma despedida com agradecimentos, houve alguma delas mais esclarecedora? Quem a recebeu?
Décimo segundo indício: : Fala-se pela imprensa na época e posteriormente, em diferentes substâncias que teriam sido usadas no ato suicida: Formicida injetado (???), Veronal (???), um forte veneno que teriam trazido da Europa (???), alguma "coisa" que fora ingerida misturada a "água mineral Salutaris"; o quê? Afinal de contas o que foi constatado?, quais as evidências? Onde estão elas registradas com rigor? Por que não foi divulgada declaração oficial esclarecendo com precisão o assunto? E mesmo que fosse identificado o tóxico, o que ou quem os levou ao ato suicida?
Décimo terceiro indício: O presidente Getúlio Vargas ordenou que a autópsia do casal fosse feita, de acordo com o noticiário da época. Quais as conclusões da autópsia? Na época, concluiu-se que tal autópsia não fora realmente feita. O que teria impedido que ela fosse feita? Por que este assunto não foi melhor esclarecido? A quem interessaria que a autópsia não fosse feita?
Décimo quarto indício: Por que realmente não foi Stefan Zweig enterrado em cemitério israelita? Por que a decisão foi tomada de enterrá-lo em Petrópolis? Quem tomou essa decisão? A quem interessaria que Stefan Zweig fosse enterrado em Petrópolis e até que ponto os registros da época realmente esclarecem? ( sabendo-se haver Stefan Zweig escrito textos religiosos; por exemplo: "O candelabro enterrado" e "Jeremias"; sabendo-se que Lotte era neta de rabino; para que não houvesse enterro de acordo com os preceitos religiosos judaicos, a única razão lógica possível é que Stefan e Lotte tivessem deixado um documento declarando que dispensariam a cerimônia religiosa e o enterro no cemitério israelita. Houve este documento? Se houve, por que jamais foi divulgado? )
Décimo quinto indício: Em artigo publicado no Correio do Povo de Porto Alegre em 1º de maio de 1942, , Respeito A Zweig, Rubem Braga nota a facilidade que um detrator de Stefan Zweig encontra em fazer apologia do Nazismo, prestando por escrito falso testemunho sobre o casal Zweig. A quem interessaria achincalhar publicamente Stefan e Elisabeth, depois de mortos?
Décimo sexto indício: Após a tragédia, nota-se que foram distribuídas três fotos do casal para a imprensa. É curioso que a disposição dos corpos é diferente em uma das fotos, é intrigante também que a pulseira do pulso esquerdo de Elisabeth tenha desaparecido na foto "diferente" onde o casal encontra-se lado a lado no leito de morte, de forma muito menos estética que no caso das fotos semelhantes, onde Lotte jaz como que aninhada sobre Stefan. As fotos semelhantes trazem: "A posição em que foram encontrados os corpos sem vida do autor de "Brasil, país do futuro" e sua companheira" e "O casal Zweig tal como foi encontrado em seu leito de morte". A foto "diferente" traz: "Como foram encontrados os corpos de Stefan Zweig e sua esposa"; ainda nesta foto, a mão esquerda de Lotte pairando acima da mão direita de Stefan sugere rigidez cadavérica em Lotte e que essa posição com altíssima probabilidade tenha sido resultado de manipulação dos corpos. Por que a posição dos corpos encontra-se alterada nessa foto "diferente"? Para onde foi a pulseira de Elisabeth? Outras tomadas com o casal na mesma posição registrada na foto diferente foram bastante divulgadas.
Décimo sétimo indício: Em sua biografia de Stefan Zweig, Donald Prater menciona que "de acordo com algumas fontes" o casal teria recebido algumas cartas anônimas os ameaçando alguns dias antes do suicídio. Onde estão essas cartas? Eles teriam comunicado este fato às autoridades? Quais as providências tomadas?
Décimo oitavo indício: Donald Prater também menciona que um jornal brasileiro fez acusações fúteis à Stefan Zweig. ( "Supostamente, Stefan não escreveria uma biografia de "Santos Dumont", de acordo com o detrator, para não entrar em conflito com a idéia dos americanos de que os irmãos Wright possuiriam a primazia"). Zweig teria ficado muito perturbado com esta acusação maldosa. O dia 15 de fevereiro, o domingo anterior ao domingo de sua declaração final, Zweig despendeu o dia elaborando resposta para o tal jornal, com o auxílio de Claúdio de Souza que o teria vertido para o português. A resposta nunca chegou ao jornal? Por que? Onde ela foi parar?
Décimo nono indício: Por que Stefan estaria vestido com roupas de sair? (bermudas e camisa de mangas curtas (de cor cáqui) e gravata preta) Sendo que Lotte foi encontrada vestida por camisola, qual a razão de trajes para diferentes ocasiões neste casal? Teria ela "matado-se" depois de Stefan? As substâncias usadas em um e no outro "suicídio" seriam diferentes? (ele usado Veronal e ela Formicida?) (06.Santos)
Vigésimo indício: Levando-se em conta que Stefan Zweig poderia manter algum contato com pessoas, até na noite de 21 de fevereiro, quando o plano de "suicídio" já andava bem encaminhado, por que Stefan não alertou alguém sobre a possibilidade de estar sob ameaça de uma maneira mais clara?(à noite do dia 22, domingo, teria sido visto na companhia de Lotte em confeitaria, no centro de Petrópolis?). Temeria ele por outras pessoas? Teria ele feito algum acordo com quem o pudesse estar pressionando? Ou teria Stefan querido deixar pistas de um mistério dificultando a sua decifração?
Vigésimo primeiro indício: Por que Lotte teria feito compras de mercado na véspera do projetado "suicídio" na manhã de 21 de fevereiro, em quantias de víveres acima do usual?
Vigésimo segundo indício: até mesmo a disposição quanto aos haveres do casal ficou bastante organizada, nem o cachorrinho Plucky (Bluchy?) ficou esquecido; isto só ocorreria se a morte planejada incluísse ambos.
Vigésimo terceiro indício: O declarante é o Sr. Sady Ferreira Barbosa; no certificado registrado de óbito, o primeiro nome de Zweig encontra-se ligeiramente alterado (Stephan e não Stefan); branco, escritor por profissão, consta estado civil casado, ser "filho legítimo" e último endereço: Rua Gonçalves Dias, 34. Local do óbito: Petrópolis. data:23 de fevereiro de 1942, às 12 horas e trinta minutos. O atestado de óbito, em que se baseia, teria sido assinado pelo Dr. Mário M. Pinheiro, médico. A causa mortis: ingestão de substância tóxica- suicídio (não há especificação sobre o produto tóxico). Por que a informação é tão suscinta e incompleta? Não teria havido ninguém mais, entre todos os conhecidos e íntimos de Stefan Zweig, que poderia ter-se apresentado para completar os dados? Teria havido algum impedimento que bloqueou a iniciativa desses amigos?
Pontos relevantes: Por que tem sido tabu absoluto reabrir-se uma discussão sobre os fatos e as dúvidas? Por uma dessas ironias da vida, a solicitação de cidadania brasileira de 23 de novembro de 1940 foi aprovada em sessão póstuma, um triste contraste com a desburocratizada concessão do registro de óbito.
Conclusão: A morte de Stefan Zweig e Elisabeth deixou o mundo da época em perplexidade, aventou-se largamente, então, que Stefan e Lotte haviam decidido-se pelo suicídio por acreditarem no fundo que a vitória do nazi-facismo era inevitável. A quem interessaria tal idéia? O fato de haver uma preocupação de Stefan em deixar seus assuntos em ordem, incluindo-se material inédito, e até haver deixado seus lápis apontados, contradiz a idéia de futilidade em se tentar fazer qualquer coisa, foi um batalhador até o fim. Os vinte e três indícios de discrepância de fatos precisam ser respondidos com inequívoca precisão. Muitas pessoas de grande dignidade acreditam que "o suicídio" foi conseqüência de sentimentos de tristeza que o casal haveria tido ao receber notícias da Áustria, sobre o destino de todos aqueles e de alguns daqueles que viviam sob a opressão da tirania. Crê-se também que Zweig por sua coerência e consistência pacifista contrário a todos os tipos de violência, não poderia aceitar viver em um mundo onde a maldade reinava e a guerra parecia sempre inevitável. Há aqueles que valorizam, como único indício importante, que Stefan tinha uma natureza sensível, "simpatizante" com o suicídio como um meio de autônoma e efetivamente controlar o destino da vida. Há aqueles que vêm os últimos anos de vida de Stefan Zweig como extremamente cansativos e frustrantes, na sua dedicada luta para ajudar com seus parcos recursos os refugiados da opressão (ainda, dias antes de sua morte estava muito interessado em criar uma publicação para ajudar e orientar as vítimas em exílio). Vivera mal acomodado, sem um lugar provido para o seu trabalho e reflexão; infelizmente, sempre visceralmente atacado por membros da "Quinta Coluna" pelo mundo afora, que questionavam o seu direito de viver e de pensar.
Naqueles tempos, suicídios semelhantes ao do marechal Erwin Rommel foram arranjados para dar uma impressão crível de realidade indiscutível e só posteriormente, novas versões sugeriram fortemente, indução ao suicídio (foi divulgado que teria tido um acidente vascular cerebral e para seu funeral grandioso às expensas do Estado, contou-se com uma coroa de flores enviada por Hitler) . O que realmente aconteceu com Stefan Zweig e Elisabeth? O mistério permanecerá para sempre ou poderá ser desvendado? O que impede que ele seja? Onde agora encontram-se, os dois de qualquer forma sabem que os culpados pela sua angústia e pela felicidade em dela se livrar, através do ato "suicida", só poderão ser confrontados pela justiça não terrena. Mas, paira uma podridão no ar denso da terra, a podridão que exala da impunidade e do conceito covarde de que existe o "direito à impunidade", o que deverá continuar a ameaçar a vida de milhões de seres humanos de todas as raças e credos sem exceção. A humanidade deseja o crime esclarecido! "Não existe crime perfeito, somente crime mal investigado."
Silvio Saidemberg ( médico, psiquiatra, psicoterapeuta, professor de psiquiatria, Fellow em Psiquiatria da Infância e da Adolescência pela Universidade de Rochester, NY, radicado em Campinas, São Paulo)
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Biografia resumida:
Romancista, biógrafo, ensaísta, novelista e historiador. Stefan Zweig nasceu em Viena (Áustria), no dia 28 de novembro de 1881, segundo filho de Moritz Zweig e Ida Brettaner Zweig; falecendo pois aos 60 anos, em pleno vigor de sua prodigiosa intelectualidade, em 23 de fevereiro de 1942. Desde cedo mostrou vocação para as letras, para uma carreira artística. Formado em Línguas e Literatura Neolatinas, Filosofia e Germanística. Terminados os estudos entregou-se às inclinações literárias. Concebeu seu primeiro livro aos 19 anos: um livro de poemas Silberne Seiten.Aos 23 anos, já tinha publicado uma coletânea de versos, um volume de novelas, uma tradução de uma seleção de versos de Verlaine e obtido o prêmio de poesia Bauernfeld. Foi tradutor de Romain Roland de quem foi amigo. Tradutor de André Suarés;
Escrevera "Viagens", um livro sobre as suas viagens através do mundo . "Primeiras experiências" foi uma publicação de várias novelas que logo foram traduzidas em diversos idiomas.
O seu primeiro trabalho como dramaturgo foi: "Tersite", representada com sucesso em numerosos teatros alemães e austríacos. Produziu também uma outra peça, "O comediante metamorfoseado", também bastante apreciado. Após, "A Rainha do Mar", drama bem aceito pelo público e pelos diretores de teatro.
Foi fundador da Biblioteca "Mundi", onde fez editar as obras primas de todas as literaturas. Foi colaborador de muitos jornais e revistas.
Em 1915, começava a escrever o drama bíblico "Jeremias", um apelo pacifista, apresentado pela primeira vez em Zurich durante a 1ª grande guerra, em Viena foi depois muito apreciada. Escreveu "24 horas na vida de uma mulher" primeira obra sua traduzida para o francês.
Em 1936 coletou impressões sobre o Brasil que veio a colocar para edição em livro, no primeiro semestre de 1941. Em 1941, primeiro semestre, termina também durante estada nos Estados Unidos seu livro sobre Américo Vespucio. Neste ano também trabalha em sua autobiografia. Desde 1919, até a década de 30, Zweig habitou em Salzburg, onde viveu e morreu Mozart. Juntamente com Friderike, sua primeira mulher e tradutora de numerosas obras francesas e inglesas, era muito acolhedor e visitado por artistas e escritores. Casou-se com Friderike Von Winternitz em dezembro de 1919, tendo duas enteadas. Ambas enteadas casadas à época de sua morte. Casou-se em 6 de setembro de 1939 com Elisabeth Charlotte Altmann, sua segunda esposa (nascida em 1908). Em 23 de novembro de 1940 junto com sua segunda esposa procurou o Instituto de Identificação no Rio, com o intento de fixar residência no Brasil. Depois de uma temporada nos EUA, retorna na 2ª metade de Agosto de 1941 ao Rio e em 17 de setembro muda-se para Petrópolis. Na época em que morreu era o autor mais lido do mundo.
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CONFERÊNCIA NA USP:
Discussão sobre os dados: (Resumo de alguns pontos discutidos no auditório do Diretório Acadêmico XI de Agosto da faculdade de direito da USP em 06 de abril de 1999; reunião de debates com os professores Dr. Jacob Pinheiro Goldberg, Dr. Sagrado Lamir David e Dr. Silvio Saidemberg)- Palestra: "A Morte de Stefan Zweig"
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Comentários extraídos da apresentação feita pelo Prof. Dr. Silvio Saidemberg:
Sabemos várias coisas sobre a morte de Stefan Zweig, sabemos por exemplo que o consenso mais fácil é o de se chegar à idéia que de fato ele e Elisabeth Zweig teriam tomado uma decisão conjunta e planejado suicídio, alguma coisa que já estaria sendo preparada meses antes, devido a frustrações, cansaço, não conformismo com a guerra e com a falta de perspectiva em encontrar ajustamento no novo país. Pensamentos que começam a se definir em 17 de fevereiro, uma terça feira, com a confirmação da queda de Cingapura, com o Luto no Império Britânico e apreensão geral para os que não desejavam a vitória do nazismo.
Cláudio de Souza, apesar de se afirmar não simpatizante do nazismo, permanece como uma figura enigmática nesta história. Leopold Stern não se defendeu imediatamente da má tradução da "Declaração", que teria saído nos jornais, por não se sentir à vontade para fazê-lo ( por que???, teria algum receio de retaliação? Quem o poderia ameaçar? ).
A comunidade judaica não foi mais incisiva em relação ao absurdo enterro laico ( o que deveria ter sido expressamente solicitado por Stefan e Elisabeth, não por autoridades, ou por alguém do mundo das letras), porque ele certamente foi imposto. Quem o impôs?
Porque o rabino teve de implorar para que pelo menos houvesse uma singela cerimônia fúnebre religiosa? Por quem e porque foi decidido que a autópsia não deveria ser feita? É interessante que Stefan Zweig fica mais propenso em tomar a decisão fatídica após sua estadia no Rio, na casa de Cláudio de Souza (16 de fevereiro, havendo retornado para Petrópolis no dia 17).
Cláudio de Souza telefonou na tarde em que se constata a morte de Stefan e de Elisabeth Zweig e posteriormente, toma as providências oficiais para o enterro, telefonando para o gabinete do presidente da república e para o ministro do exército o general Francisco Pinto ( no dia 23 de fevereiro, 1942, às 15 horas, Cláudio de Souza telefonara para convidar Stefan para um passeio e fora informado pelo caseiro Antônio que o casal dormia ). ( Em suas memórias, Getúlio Vargas não menciona o caso Zweig em qualquer um daqueles dias ou semanas de fevereiro-março de 1942, mas, pela imprensa constou que ordens muito especiais teriam sido dadas por ele e que ele inclusive estaria em Petrópolis, no entanto, nessas edições não consta fotografia que incluisse o presidente da república). (Getúlio em seu diário confirma estar trabalhando na residência de verão do governo federal- o palácio Rio Negro em Petrópolis, em 23 e 24 de fevereiro de 1942; cinco dias depois, dia 28, teria havido ordens de se reforçar a guarda do palácio, em função da "movimentação de elementos nazistas"). É interessante também que não chegasse a carta resposta ao jornal que publicara acusação a Zweig e que Cláudio de Souza não confirmasse haver despendido o 15 de fevereiro de 1942, traduzindo a tal resposta do francês para o português, assunto confidenciado por Stefan a Ernst Feder.
Certamente, é uma idéia importante esta de Cláudio de Souza, que Stefan teria se matado por preocupações com perdas econômicas e por acreditar na "vitória avassaladora" do Eixo. Mero palpite que soa como conhecimento profundo dos fatos, ou teria Cláudio de Souza informação sobre fatos que ninguém protestou saber de antemão, nem ele próprio. Se sabia, porque não ajudou Stefan Zweig que corria perigo de morte? Naturalmente, até os que mais temiam que a vitória do nazismo pudesse ocorrer, teriam uma posição discreta em relação a uma declaração pública a este respeito, que poderia ser usada como peça de propaganda política para o derrotismo.
É muito interessante que no acidente da perda dos dois períodos finais da carta de despedida de Stefan Zweig tenha-se novamente como envolvido o Sr. Cláudio de Souza, que protestou inocência. Talvez, somente meras coincidências, talvez tenha havido uma distorção no registro de informações dessa época, que deixou o escritor Cláudio de Souza nessa posição de embaraço.
Não dá para inferir muito, certamente, Stefan comunicou através das diversas cartas de despedida o seu adeus, mesmo que não esclarecesse a natureza de sua "partida". Mas, qual a causa desse desespero, que convenceu sua esposa em lhe dar razão e de não impedir seu gesto e sim de fielmente segui-lo??? Stefan Zweig tinha planos de trabalho bem definidos,até dias antes, que abandonou subitamente. E qual a pressa em partir se nenhuma ameaça real e mais imediata havia??? ou havia? Teria mesmo havido cartas ameaçadoras? ( Um pouco de história: A partir do início de março e até julho de 1942, estabeleceu-se uma situação de conflito entre Filinto Müller, o chefe de polícia do governo federal e o chanceler Oswaldo Aranha, o condutor da política externa do Brasil. O conflito tinha a ver com a idéia de que o chefe de polícia estaria não empenhado nas ocorrências relativas à ação de agentes da "Gestapo" no Brasil. Filinto Müller foi exonerado em julho de 1942 e em 22 de Agosto o Brasil declara guerra ao Eixo. Estas informações de natureza mais circunstancial servem para exemplificar os problemas da época)
Muitas pessoas dignas ficaram inconformadas pelo modo como este assunto foi tratado, Stefan Zweig não era um simples exilado, tendo que tudo aceitar nessa desditosa condição e completamente a mercê da vontade de políticas imigratórias. Era Zweig um sábio humanitário que tinha o privilégio de ser amado, respeitado e reconhecido. Algo que lhe acontecesse não passaria despercebido e sim, teria uma repercussão imediata sobre todos que com ele se relacionassem, mesmo que indiretamente, através de seus livros, entrevistas e palestras. Sabe-se que foi considerado uma grande ameaça mundial, para aqueles que não acreditavam em atitudes libertárias e preferiam o caminho da opressão e da tirania. Queriam, naturalmente, Stefan desistindo da vida para eliminar-se de vez a esperança de uma humanidade com direitos humanos e liberdade. A paz precisava ser vista como acomodação e covardia. Mesmo amigos de Zweig não conseguiram afastar a idéia de fragilidade e de falta de coragem neste duplo "suicídio".
A mensagem espiritual de Stefan Zweig empalideceu-se diante do poder do mais cruel e da banalização do mal. Com as discrepâncias existentes, não se pode excluir indução ao suicídio, e certamente, qualquer tentativa de exclusão desta possibilidade deve ser acompanhada por provas e por um arrazoamento mais sofisticado do que "ele tinha um temperamento melancólico e teria pensado sobre esta possibilidade algumas vezes, no passado ", por exemplo: quando sensibilizado com a tragédia de freqüentes suicídios, assassinatos e até de linchamentos de seus amigos. Ou, "claro que foi um simples suicídio, ele deixou cartas de despedida" (onde, infelizmente, ele apenas se despedia, com um certo alívio por estar deixando alguma coisa ruim para trás: ataques pela imprensa? Ameaças por cartas anônimas? Ameaças feitas mais pessoalmente?)
Bibliografia.
01- Bona, Dominique- Stefan Zweig, Uma bibliografia. Tradução do francês de Carlos Nougué e João Domenech Oneto. 374 páginas. Editora Record 1999.
02- Hilton, Stanley- Oswaldo Aranha, uma Biografia. Editora Objetiva - Rio de Janeiro, 1994.
03- Jorge, Fernando - Getúlio Vargas e o seu tempo. Editora D. A. Queiroz, em dois volumes (1º vol. 490 pag., 2º vol. 692 pag.) 1987.
04- Mathias, Herculano Gomes- Getúlio Vargas, Biografia.(121 pag.)Editora Tecnoprint Ltda, 1983.
05- Prater, Donald- Stefan Zweig, Biografia. Tradução do francês de Regina Grisse de Agostino. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1991.
06- Santos, Joaquim Eloy dos- Artigos (2) publicados em dezembro (21 e 28) de 1993- Professor do Instituto Histórico de Petrópolis, no jornal Tribuna de Petrópolis. Conversa telefônica com o professor em 31 de março de 1999.
07- Recortes da imprensa da época.1940;1941;1942;1943;1944;1945.
08-Vargas, Getúlio- Diário (2 volumes); FGV, Editora Siciliano, 1995.
COMENTÁRIO COMPLEMENTAR: É MUITO ESTRANHO QUE TENDO-SE INCLUSIVE A BARREIRA DO IDIOMA, JÁ QUE OS DOCUMENTOS ENCONTRAVAM-SE EM ALEMÃO OU EM FRANCÊS, DECISÕES TÃO SEGURAS TENHAM SIDO TOMADAS E RAPIDAMENTE, A RESPEITO DE EXCLUIR-SE INVESTIGAÇÃO E AUTÓPSIA. AINDA MAIS NAQUELES TEMPOS.
'THE DESERT FOX'
Death Claims Hitler's Best-Known General
GERMANY, OCT. 14, 1944: Field Marshal Erwin Rommel was forced to commit suicide. His son, Manfred Rommel, was 15.
It was quite obvious to my father that Germany couldn't win the war. He intended [after the Allied landings in Normandy] to surrender his army [and] try to come to some arrangement with the West. But he was badly wounded on July 17 when British fighter planes attacked his staff car. And then three days later, there was the attempt to kill Hitler.
My father came home to convalesce, and from the very beginning the Gestapo was in front of our house. On Oct. 14, two generals [came] to the house [and] asked to speak to my father alone. My father came upstairs and said to my mother: "I will be dead in 20 minutes. They told me I participated in the plot. They told me that they would give me the chance to die from poison. If I take the poison, the usual measures will not be taken against the family. This is the best arrangement I can get." He was really calm and self-controlled.
My mother was very shocked, and my father left her saying almost nothing. He looked at me for maybe half a minute but said nothing. He shook my hand.
Of course the doctors knew that he had died from poison, but they testified that he died from a stroke. There was a large state funeral in Ulm. There was [even] a wreath from Hitler.
Newsweek International, March 15, 1999
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Comentários extraídos do discurso do Prof. Dr. Sagrado Lamir David (toxicologista e professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Juiz de Fora): "Não se pode dispensar o indispensável: não se justifica o se ignorar qualquer indício no caso Stefan Zweig; a começar pela falta de uma autópsia e da falta de uma abertura de inquérito", "A lei brasileira de 1941 previa em casos de suicídio a obrigatoriedade de ambas", "quando Getúlio Vargas faleceu, em 1954, autópsia foi realizada". Ainda seria possível realizar-se estudo pericial com os restos mortais mesmo após 57 anos. A hipótese de que haveria interesse ou responsabilidade de alguém na morte do casal, ela só poderia ser excluída mediante rigoroso inquérito, misteriosamente, não ocorrido.
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Comentários extraídos do discurso do Prof. Dr. Jacob Pinheiro Goldberg (Ph.D. em Psicologia, advogado, assistente social; professor convidado de instituições universitárias nacionais e estrangeiras, entre elas a University College London Medical School) : "Ninguém agenda a própria morte; o suicídio permanece como um ato impulsivo, a menos que não se trate bem daquilo que se conceba como sendo suicídio." Cita muitas idéias de Zweig que mostram a sua responsabilidade com a própria vida e com suas atuações respeitosas à vida dos outros. A morte de Zweig é emblemática; diariamente ocorrem crimes que permanecem não solucionados, principalmente, quando se trata da população mais humilde que perde um ente querido vítima da violência. No entanto, a pesquisa séria sobre Stefan e Lotte nos remete à questão referente aos fatos que são sistematicamente alterados para se acobertar ocorrências históricas. O poder que se deriva dessas falsificações é exatamente o mesmo que permite violações de direitos humanos básicos seguirem impunes no Brasil e no mundo. A averiguação pode não resultar em benefícios mais diretos para o casal Zweig ou para as pessoas de sua época; mas, é um ponto fundamental relacionado ao esclarecimento essencial de transgressões graves que redundam em mais vítimas todos os dias. De toda maneira a investigação visa resgatar a memória e a verdade devidas ao casal Zweig.
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Fotos derradeiras de Stefan Zweig e Elisabeth Charlotte Zweig, abaixo:
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Fig. 1: Fotografia publicada pelo jornal "O Dia" de Petrópolis em 7 de março de 1999: "O caso Zweig, 57 anos depois" por Franco Simoni.
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Fig. 2: Compare a foto acima, divulgada posteriormente, com a foto abaixo:
Fig. 3: NA SEGUNDA FOTO, OBSERVE EM LOTTE O PULSO ESQUERDO SEM PULSEIRA; OBSERVE TAMBÉM A MÃO ESQUERDA DE LOTTE PAIRANDO ACIMA DO CORPO DE STEFAN: RIGIDEZ PÓS MORTE NESTA POSIÇÃO INDICA: CORPO TERIA SIDO MANIPULADO, POSIÇÃO ALTERADA.
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Fig. 4: O CASAL NA POSIÇÃO MUITO DIVULGADA; "A POSIÇÃO OFICIAL"? CONSTATAÇÃO DE MANIPULAÇÃO DOS CORPOS!!!
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Fig. 5: A Carta Final em alemão ao lado da Primeira Tradução divulgada:
Fig. 6: DECLARAÇÃO TRADUZIDA DO FRANCÊS PARA O PORTUGUÊS POR CLÁUDIO DE SOUZA EM 23 DE FEVEREIRO DE 1942, COM SUPRESSÃO DOS DOIS PERÍODOS FINAIS. (TRADUÇÃO DO ALEMÃO PARA O FRANCÊS TERIA SIDO REALIZADA POR LEOPOLD STERN, QUE AFIRMOU TÊ-LA FEITO SEM SUPRESSÕES)
Fig. 7: A PRIMEIRA TRADUÇÃO AMPLIADA PARA MELHOR VISUALIZAÇÃO, DOIS PERÍODOS FINAIS FORAM SUPRIMIDOS.
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Fig. 8: Certificado Registrado de Óbito de Stefan Zweig; bastante incompleto. -------------------------------------------------------------------------- Fig. 9: Alusão encontrada entre papéis: "Inimigo Número 1" do Terceiro Reich. -------------------------------------------------------------------------- Fig. 10 -------------------------------------------------------------------------- Fig. 11 -------------------------------------------------------------------------- Fig. 12: Foto de 26 de março de 1999, a Placa (dos amigos austríacos), na entrada do jardim da casa onde moraram Stefan e Elisabeth, à rua Gonçalves Dias, n.º 34; Bairro Valparaíso, Petrópolis, RJ -------------------------------------------------------------------------- Fig. 13: A sepultura em Petrópolis, onde encontram-se os restos mortais de Stefan e Lotte. -------------------------------------------------------------------------- Fig. 14: 20 DE NOVEMBRO DE 1998 - CARTA DO PROFESSOR DR. JACOB PINHEIRO GOLDBERG REQUERENDO PROVIDÊNCIAS INVESTIGATIVAS;
COMENTÁRIOS ADICIONAIS PELO PROFESSOR DR. JACOB P. GOLDBERG;"O FATOR REALMENTE RELEVANTE NESTA HISTÓRIA É A BUSCA DA VERDADE, A IDÉIA BÁSICA É TORNAR A VIOLÊNCIA E O DESRESPEITO À DIGNIDADE HUMANA EM OCORRÊNCIAS MENOS PROVÁVEIS." "COM ESTE OBJETIVO A MORTE DE ZWEIG PERMANECE COMO UM FATO EMBLEMÁTICO". "A JUSTIÇA PODERÁ CONSIDERAR O CASO PASSÍVEL DE SER EXAMINADO COMO UM CRIME DE GENOCÍDIO; DE ACORDO COM A LEI INTERNACIONAL CRIMES DE GENOCÍDIO NÃO PRESCREVEM": O DR. SILVIO SAIDEMBERG FINALIZANDO: "O ASSUNTO PERMANECE EM DEBATE, TALVEZ HAJA INFORMAÇÃO COMPLEMENTAR QUE POSSA DIRIMIR AS DÚVIDAS LEVANTADAS PELA PRESSA EM SE ENCERRAR O CASO EM 1942. PERMANECEREMOS POR ENQUANTO SEM A SOLUÇÃO DO MISTÉRIO E COM INDÍCIOS POR TODOS OS LADOS". "AOS QUE TÊM CERTEZAS ABSOLUTAS, BASTA A ELES REVELAREM AS PROVAS QUE RESPONDAM ÀS QUESTÕES LEVANTADAS". ===========================================================================
http://www.oocities.org/Paris/Maison/4504/pics.htm
Se tiver informações ou questões sobre outros detalhes referentes ao caso Stefan Zweig e Elisabeth Charlotte Zweig; escreva para o e-mail abaixo:
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