Uma pista importantíssima que nos conduz à solução do mistério ( indício número 9 ):
Por: Dr. Silvio Saidemberg
No cesto de papéis: referência à reportagem publicada em “O Globo”, Rio, 24 de fevereiro de 1942 ("Correio do Povo" de Porto Alegre): ... "Entre as páginas de um original atirado fora, Zweig abordava a vida miserável dos judeus dentro da Alemanha, escravizados, torturados e submetidos aos processos de selvageria mais condenáveis, e afirmava não desconhecer a atenção que lhe dispensavam em Berchtesgaden, onde era considerado o mais perigoso inimigo intelectual do nazismo". “Entretanto, dizia ele, Thomaz e Heinrich Mann são de maior valor do que eu”.
COMENTÁRIOS: No cesto de papéis descartados de Stefan Zweig teria sido encontrado um documento que fala de seus sentimentos sobre a barbárie na Europa, perseguições raciais, escravização etc. Ele seria considerado o inimigo intelectual número 1 do Terceiro Reich. Significando, com uma probabilidade próxima a 100%, que teria sido informado diretamente sobre este fato; de outra forma se fosse o mero palpite de alguém, ele se referiria ao autor da declaração e provavelmente apontaria o exagero dessa avaliação. Berchtesgaden nada mais era que o local onde Hitler tinha a sua casa de montanha. (
Um kilômetro acima de Berchtesgaden, um advogado de Hamburgo construiu uma casa no estilo da Bavaria chamada por Haus Wachenfeld (Casa de Observação do Campo). Ele alugou a casa para Hitler em 1925. Quando Hitler finalmente comprou a propriedade, ela foi apresentada em cartões postais como "O pequeno chalé do Chanceler do povo". O arquiteto Delgado foi chamado para reconstruir e ampliar a casa que foi então chamada por "o palácio da montanha" ou 'Berghof'. )Neste documento, a palavra "Berchtesgaden" é usada metaforicamente no lugar de Hitler e de seus associados. Se Stefan não desconhecia a atenção a ele dispensada por Berchtesgaden é porque de alguma maneira, teria sido informado da opinião sobre ele mantida pela cúpula nazista . De outra forma, ele que era tão meticuloso e preciso teria dito tratar-se de uma opinião de algum amigo, de jornalista, de outra pessoa, ou até, de sombria figura que se escondera atrás do anonimato para atacá-lo. Afinal de contas, nem se considerava o mais importante dos intelectuais exilados, pelo menos é o que deixa transparecer ao escrever que Thomas Mann e Heinrich Mann eram de mais valor que ele próprio, estranhando a "deferência" de ser pelo nazismo considerado o mais perigoso intelectual judeu. Aparentemente, não houve nenhuma declaração oficial e pública do governo nazista sobre Stefan Zweig, nem se cogitou que a cabeça de Zweig estaria a prêmio, caso contrário, a imprensa fatalmente comentaria. E no caso de haver uma caçada mais oficial e sistematizada e divulgada, ficaria patente a participação e a responsabilidade mais direta do nazismo na morte de Stefan Zweig. Seria como admitir-se publicamente que "o pacifismo" era a maior ameaça contra "o regime de força", o que certamente, não estaria no melhor interesse político do último.
Conclusão:Stefan Zweig estaria recebendo ameaças pessoais. Presumivelmente, este documento sobre Berchtesgaden escrito nos seus últimos dias de vida, não foi eliminado anteriormente, (na 6ª feira, dia 20 de fevereiro, quando outros documentos foram por ele descartados e queimados) porque Stefan Zweig contemplou alguma outra opção. Diante da impossibilidade de mudar a marcha dos acontecimentos, deixou como ato final este documento no cesto de papéis descartados, junto com outros trabalhos inéditos. Em 23 de fevereiro de 1942, a morte de Stefan Zweig foi uma importante peça de propaganda favorável à extrema direita, num momento em que, por recomendação da Terceira Conferência Consultiva dos Chanceleres das Repúblicas Americanas, o Brasil havia acabado de romper relações diplomáticas com o "Eixo" (28 de janeiro de 1942). 57 anos após a tragédia, finalmente, caminha-se para a solução do crime.
Questões razoáveis:
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Fig. 1:Berchtesgaden Correio do Povo, Porto Alegre, 24 de fevereiro de 1942: Berchtesgaden- Importante Pista!
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Fig. 2: Comentários sobre outro trecho encontrado no cesto de papéis descartados
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