Filhos
de BG
Pedro B. Guimarães
Horácio Guimarães
Afonso Guimarães
Netos
Alphonsus de Guimaraens
(sobrinho)
José Guimarães Alves
Armelim Bernardo Guimarães
Bisnetos
Alphonsus de Guimaraens Filho (sobrinho)
Mª Ap. Guimarães A.
Palma [Mariah]
Isabel Teresa
Guimarães Alves
Lívia Alves Guimarães
Rúbio Gama Alves
Trinetos
Maria Fernanda Alves
Guimarães
André Nigri
João Bernardo Guimarães
Juliana Rennó Bernardo Guimarães
Marcelo Guimarães
Parentesco dos Guimarães
com os Guimaraens
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Depoimento de
descendente
André Nigri (1968),
trineto
Não
me recordo com exatidão a primeira vez que ouvi falar de Bernardo Guimarães,
mas me lembro como ficava orgulhoso e um pouco acanhado por ter como
antepassado um escritor de prestígio. Esse sentimento de vaidade familiar
inflava quando na escola nos era recomendada a leitura de um de seus livros.
Tive o privilégio de ser neto de Roberto Albino Alves - estranhamente meu
avô retirara o Guimarães do nome, em sua carteira de estudante o sobrenome
famoso consta. Privilégio porque dono de uma imensa cultura humanista
refletida em sua biblioteca
que fui conhecendo aos poucos, já que ele era muito cioso de seus
alfarrábios. Hoje os livros estão comigo. Meu avô cultivava com zelo a
memória de seu avô Bernardo Guimarães. Há várias edições de um mesmo
romance dele na biblioteca e uma rara primeira edição de Folhas de Outono,
pela Garnier. Este livro era um totem na estante e só o tive em mãos nos
últimos anos de vida do meu avô, que àquela altura já me confiara boa
parte da biblioteca na certeza de que ela continuaria na família. O vô
Roberto era um sujeito bastante irreverente e crítico. Suas leituras de
preferência eram de romances e poesia do século 19, principalmente
brasileiros e portugueses. Entre esses últimos, seus eleitos eram Eça,
Camilo e Bocage. Dos brasileiros, o gosto recaía sobre Machado, Alencar e
Júlio Ribeiro, na prosa, e Castro Alves, Varela, Bilac e Alphonsus
Guimaraens, na poesia. A Bernardo Guimarães ele reservava um espaço especial
no qual se misturavam a filiação sangüínea e a admiração intelectual.
Meu avô, assim como eu, preferia o Bernardo poeta ao romancista. Como se sabe
a veia lírica do autor data de sua juventude, tendo a prosa como obra de
maturidade. Meu avô sem dúvida tinha o temperamento do Bernardo jovem: um
pessimista incorrigível alagado de muito humor e sarcasmo. Os poemas
satíricos, fesceninos e bestialógicos falavam-lhe muito mais à alma que as
histórias bucólicas com paisagens rurais. Sabia longos versos de cor e ele
próprio praticava suas quadras, deixadas em dezenas de cadernos de diário.
Essas quadras sabiam ao conteúdo lírico-pornográfico, muitas vezes,
lembrando as extraordinárias passagens de Elixir do Pajé e A Origem do
Mênstruo. Naturalmente, ele nunca mostrou esses pecadilhos a ninguém, mas
talvez adivinhasse que um dia alguém as leria, como fiz recentemente. Essa
sua admiração pelo avô escritor veio à luz de forma acentuada depois de
sua morte. De posse de seu acervo, comecei a examinar mais de cem cadernos,
entre diários e toda sorte de anotações. Descobri então um grande caderno
pautado, de capa preta, comecei a folheá-lo e ler as letras miúdas,
impecáveis, escritas a bico de pena como ele gostava. Em mais de cem páginas
ali estava uma biografia de Bernardo Guimarães pelo seu neto. Para
escrevê-la ele se valeu de livros, recortes de jornais e, claro, das
histórias da família, sobretudo da amada vó Teresa, a viúva de Bernardo,
que o criou. Como existem, até onde eu saiba, apenas duas biografias do
romancista, contista, poeta, jornalista e professor Bernardo Guimarães, e
ainda assim muito incompletas, esse material do meu avô me parece da maior
importância.
São Paulo, 20 de janeiro de 2005
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