1898(8/5) Nascimento de Alojzije Stepinac em Brezani (perto de Krasic), numa família de latifundiários croatas.
1916 Stepinac é conscripto no exército austro-húngaro.
1919 Criação do Reino dos Sérvios, Croatas e Eslovenos (Jugoslávia a partir de 1929).
1924 Stepinac decide tornar-se padre. É enviado para Roma para estudar.
1924-1931 Mussolini está no poder durante toda a permanência de Stepinac em Roma. Em 1929, é assinada uma Concordata entre o Estado fascista italiano e o Vaticano.
1930(26/10) Stepinac é ordenado sacerdote. Regressará à Jugoslávia em 1931.
1931 É publicada a encíclica papal "Quadragesimo Anno", onde se defende que a forma corporativa do Estado é a ideal, expressando portanto assim o apoio do Vaticano às teorias corporativistas de Mussolini(1).
1932 Funda-se em Itália a Organização Croata Ustacha. O seu líder é Ante Pavelic, um terrorista condenado à morte pela justiça jugoslava.
1933(6) Após Hitler ter subido ao poder com a ajuda do Partido Social Católico alemão, é assinada uma Concordata entre a Alemanha e o Vaticano. O negociador pelo Vaticano é Eugenio Pacelli, que se tornará Papa em 1939 com o título de Pio 12.
1934(28/5) Stepinac é nomeado bispo de Nikopsis e Arcebispo-ajudante de Zagreb. É o mais jovem bispo em todo o mundo.(2)
1934(9/10) Atentado em Marselha em que são assassinados o rei Alexandre de Jugoslávia e o ministro francês Louis Barthou. Ante Pavelic será acusado da organização deste crime, e consequentemente condenado à morte pela República francesa. Os assassinos refugiar-se-ão em Itália.
1934(10/11) Stepinac assina um manifesto político com outros intelectuais croatas nacionalistas.
1935(9/8) Stepinac escreve uma carta ao núncio papal defendendo-se de acusações de ser abertamente separatista.
1937(7/12) Após a morte do Arcebispo de Zagreb, Stepinac sucede-lhe no cargo.
1938(12/3) A Áustria é incorporada na Alemanha.
1939(16/4) A Itália anexa a Albânia.
1940(5/9) Na Roménia, é instaurado o regime fascista e pró-alemão de Antonescu.
1940(28/10) A Itália invade a Grécia.
1940(20/11) A Hungria adere ao Pacto do Eixo (Alemanha-Itália-Japão).
1941(1/3) A Bulgária adere ao Pacto do Eixo.
1941(25/3) A Jugoslávia assina um tratado com as forças do Eixo.
1941(27/3) O governo jugoslavo é derrubado por militares que se opõem à política pró-nazi do regente.
1941(6/4) A Alemanha invade a Jugoslávia com o apoio de tropas italianas e húngaras, e usando bases em todos os países vizinhos à excepção da Grécia.
1941-1945 A Jugoslávia permanecerá sob ocupação alemã a Norte, e italiana a Sul. Os massacres perpetrados pelo estado-fantoche croata de Ante Pavelic traduzir-se-ão na morte de 600 000 sérvios, 30 000 judeus, e 26 000 ciganos(12). Estas mortes são resultado, em parte, dos combates empreendidos contra as guerrilhas comunistas e monárquicas pelos exércitos ocupantes e pelos ustachi, mas na sua maioria têm lugar em campos de concentração (como Jasenovac) ou em massacres de retaliação contra civis apoiantes dos partisans comunistas.
1941(10/4) Stepinac apresenta as suas felicitações ao general Kvaternik, que acaba de proclamar -com a aprovação expressa do líder do conservadorismo croata, Vladimir Macek(4)- o Estado Croata Independente(3). Os jornais de Zagreb intimam todos os sérvios (católicos ortodoxos) a abandonar a cidade "nas próximas 12 horas". Avisa-se que quem esconder sérvios "será abatido"(4).
1941(13/4) Ante Pavelic chega a Zagreb. Estabelecimento do regime ustachi.
1941(14/4) Stepinac abençoa Pavelic.
O arcebispo Stepinac cumprimentando Pavelic por ocasião do
quarto
aniversário da implantação do
estado croata independente.
Note-se que Stepinac ostenta uma insígnia ustacha.
1941(15/4) Pavelic assume a direcção do Estado Independente da Croácia. A Croácia fora independente apenas na Idade Média, tendo permanecido desde aí geralmente sob dominação húngara. O último rei croata morrera em batalha em 1097.
1941(4) Macek, líder do Partido Camponês Católico (conservadores croatas com um programa separatista) pede aos croatas para apoiarem a Croácia fascista e "obedecerem a todas as suas leis".
1941(28/4) Numa carta pastoral, Stepinac convida o clero croata a apoiar a ditadura ustachi, e a cumprir os seus "deveres para com o Estado croata independente"(4). Recomenda um "Te Deum" para agradecer a "Deus" pelo estabelecimento do estado croata fascista, e visita Pavelic pessoalmente para o abençoar(3).
1941(Páscoa) Stepinac anuncia solenemente o novo estado croata "independente" na catedral de Zagreb.
1941(Páscoa) O governo croata publica uma lei legalizando as conversões forçadas ao catolicismo romano. Deve notar-se que o estado croata foi organizado no modelo do regime nazi. Contudo, o princípio unificador não era aqui racial, mas sim religioso. Aos não-católicos era permitida a escolha entre a morte e a conversão ao catolicismo romano. Stepinac aceitou estas conversões adentro da I.C.A.R..
1941(5) Stepinac é nomeado membro do parlamento croata (3).
1941(15/5) Stepinac escreve uma circular a todas as paróquias croatas apelando a que estas aceitem as conversões forçadas à fé católica romana(4).
1941(18/5) Ante Pavelic, ex-terrorista e agora Presidente da Croácia, é recebido por Pio 12.
1941(2/6) Milovan Zanitch (ministro do Interior) declara: "esta terra é para nós e para mais ninguém. Não há meios que não usaremos para fazer este país verdadeiramente nosso, e limpá-lo de todos os sérvios ortodoxos"(4).
1941(15/6) Pavelic consegue que o seu estado-fantoche seja admitido no Pacto do Eixo. As pretensões de Mussolini a anexar a Dalmácia ficam frustradas, pois Hitler intercede a favor de Pavelic. Na mesma ocasião, Pavelic afirma que se ocupará do "problema judaico" de "forma radical e segundo a ordem alemã".
1941(28/6) Visita oficial de todos os bispos croatas a Pavelic, conduzida por Stepinac. As vítimas mortais dos crimes dos ustacha são já, nesta altura, muito numerosas(3).
1941(10/7) Glaise Von Hosternau, enviado especial da Alemanha nazi a Zagreb, fala horrorizado do "tratamento absolutamente desumano inflingido aos sérvios que vivem na Croácia" e confessa-se "embaraçado" perante "a fúria cega e sangrenta dos ustacha"(6).
À direita de Stepinac, o gauleiter Von Kasche e o ministro
ustachi Mile Budak
(ambos serão enforcados depois da
guerra); à sua esquerda, um general alemão.
1941(13/7) Mile Budak (ministro da Educação ustacha) declara que "o movimento ustachi é baseado na religião".
1941(16/7) Stepinac escreve ao ministro da Justiça especificando as condições necessárias para que uma conversão seja aceite pela sua Igreja: que os conversos não vivam em união livre, que o não façam por interesse, e que não sejam membros da intelligentzia ortodoxa(3).
1941(22/7) Mile Budak -ministro da Educação e católico devotado- declara: "para as minorias, temos três milhões de balas"; "mataremos uma parte dos sérvios, deportaremos outra, e os restantes serão convertidos ao catolicismo [romano]"(3).
1941(17-20/11) Conferência episcopal, presidida por Stepinac. Nos documentos finais, assinados pelo arcebispo, homenageia-se o governo ustacha, reclama-se que as conversões à fé católica romana sejam efectuadas apenas por sacerdotes, e pede-se a libertação dos judeus convertidos ao catolicismo, mas apenas destes(3). O princípio de que se efectuem conversões forçadas não é criticado.
1941(26/11) Ante Pavelic agradece aos sacerdotes da I.C.A.R. croata por haverem "inculcado os nossos primeiros soldados do Estado Independente da Croácia com um espírito íntegro, de alta moralidade e respeito por Deus, bem assim como com o destemor e a coragem necessários para enfrentar o inimigo externo e interno" (5). (Pavelic era católico e confessava-se regularmente).
1942(20/1) Stepinac anuncia numa carta aos padres da sua paróquia que foi nomeado capelão militar do Exército Croata Ustacha. Muitos sacerdotes católicos fizeram efectivamente parte da administração (cerca de 700(6)), e vários participaram em atrocidades(4). Nomeadamente, um padre fransciscano (Miroslav Filipovic) chegou a ser comandante do campo de Jasenovac(6). Este padre nunca foi excomungado pelo Vaticano. Outros altos dignitários da I.C.A.R. colaboraram entusiasticamente com o fascismo croata. Entre estes, o mais notório foi o arcebispo de Saravejo Ivan Saric, ustachi desde 1934, que foi ao ponto de dedicar poemas a Pavelic e escreveu, argumentando em seu favor, que "a luta contra o demónio não pode ser conduzida de uma maneira nobre"(7).
O Vaticano não reconheceu oficialmente a indepência croata, mas apenas por temor da reacção dos Aliados. Porém, enviou um representante (Ramiro Marcone), ao qual a imprensa croata se referiu sempre como sendo "o legado papal"(9)(10).
1943(5) Stepinac escreve a Maglione (secretário de Pio 12): "[o governo ustacha] é contra o aborto...uma ideia de médicos judeus e ortodoxos...proibiu as publicações pornográficas, que eram também dirigidas sobretudo por judeus e ortodoxos... é encarniçadamente anti-comunista, e promulgou decretos contra a blasfémia. Quer educar cristãmente os soldados, introduziu a educação religiosa nos liceus, e aumentou os ordenados dos padres. Eminência, se os croatas reagiram violentamente, deploramos e condenamos esse facto. Mas está fora de dúvida que esta reacção foi causada pelos sérvios, que violaram todos os direitos do povo croata durante 20 anos de vida comum"(3).
1943(25/6) Instalado num bunker de Jajce, Tito proclama a segunda Jugoslávia(6).
1944(2) Os conservadores croatas estabelecem um acordo com o governo ustacha para que na eventualidade de uma retirada militar alemã o poder seja delegado no líder conservador Vladimir Macek(14).
Da direita para a esquerda: o arcebispo Stepinac,
o General Roata (comandante
das forças fascistas em toda a
Jugoslávia), Slavio Kvaternik (dirigente ustachi),
e o Comandante das forças alemãs na Croácia (num comício ustachi).
1944(8/5) Stepinac informa Pio 12, num documento oficial, das 244 000 conversões de Sérvios ao catolicismo romano que já haviam sido efectuadas. Não é crível que o Papa ignorasse que estas conversões haviam sido obtidas pela força.
1944(29/8) O Rei jugoslavo no exílio reconhece Josip Broz Tito como comandante supremo das forças armadas jugoslavas(14).
1944(28/9) O Exército Vermelho entra em território jugoslavo (14).
1944(20/10) Com o apoio do Exército Vermelho, as forças titistas conquistam Belgrado (14).
1945(7/3) Tito estabelece o pimeiro governo provisório em Belgrado.
1945(24/3) Face ao regime comunista de Tito, Stepinac e outros quatro bispos protestam apenas contra as perseguições a padres e católicos, embora o regime perseguisse muitos outros (3).
1945(8/5) A Alemanha capitula. No mesmo dia, as guerrilhas titistas entram em Zagreb.
1945(17/5) Stepinac é detido.
1945(3/6) Stepinac é libertado.
1945(4/6) Tito encontra-se com Stepinac e pede-lhe que estabeleça uma ICAR croata separada de Roma.
1946 Stepinac ajuda ustachas a fugir, usando a Pax Romana e a Caritas Internationalis(3). Pavelic refugia-se num mosteiro.
1946(18/9) Stepinac é preso.
1946(11/10) Condenado a 16 anos de trabalhos forçados por colaboração com o nazismo (o Vaticano pressionara diplomaticamente para obter a redução da sua pena), Stepinac defendeu-se protestanto o seu patriotismo. Na sua declaração final, reconhece que é favorável à independência da Croácia, acusa o governo comunista de ter excluído a instrução religiosa das escolas, de ensinar o evolucionismo darwiniano (em que Stepinac não acredita), de ter introduzido o casamento civil, e alega que os croatas foram discriminados no acesso ao emprego durante os anos 20 e 30(8). Cumpriu apenas cinco anos de prisão, tendo depois ficado sob regime de residência vigiada até à sua morte. Pio 12 excomungou Tito e todos os juízes e jurados do tribunal.
1948 Ante Pavelic chega à Argentina.
1953(12/1) Pio 12 nomeia Stepinac cardeal. Em protesto, a Jugoslávia corta relações diplomáticas com o Vaticano.
1958(27/9) Stepinac afirma numa carta que tem a certeza de que o final do "comunismo satânico" se aproxima. Afirma que se seguirá a "era mariânica" (Stepinac é um devoto da "Virgem" de Fátima).
Stepinac em 1941 (à direita).
1958 Morte de Eugenio Pacelli (Pio 12).
1959(31/5) Stepinac coroa solenemente uma imagem da Nossa Senhora de Fátima que lhe fora enviada por Pio 12.
1960(10/2) Stepinac morre em Krasic.
1969 Estala uma polémica entre linguistas sérvios e croatas, os primeiros defendendo a unidade do sérvo-croata, e os segundos afirmando que o croata é uma língua separada.
1978(16/10) Karol Wojtyla torna-se Papa com o título de João Paulo 2.
1980(4/5) Morte de Josip Broz Tito.
1980(4/12) O processo para canonizar e beatificar Stepinac é secretamente iniciado em Roma(2).
1989 Franjo Tudjman publica "Wastelands -Historical Truth", onde nega que o número de judeus exterminados durante a guerra de 1939-45 haja sido da ordem de seis milhões, minimiza a importância do campo de Jasenovac, e afirma que as atrocidades dos ustachi foram "exageradas" pelos historiadores(13). Tudjman afirma também que a criação do Estado Croata Independente foi "a expressão da história de uma nação croata que sempre aspirou a um reconhecimento pelas instâncias internacionais"(6).
1990(4-5) Eleições livres na Croácia, ganhas pelo HDZ (União Democrática Croata), liderado por Franjo Tudjman. O HDZ obtém 41% dos votos, mas tem a maioria parlamentar graças a um sistema eleitoral não-proporcional. Tudjman é eleito Presidente pelo parlamento.
1990(4/10) O parlamento croata mostra-se favorável à independência da Croácia.
1990(10) Durante os primeiros seis meses do governo de Tudjman, muitos sérvios são saneados da função pública; cerca de 100 casas e lojas de sérvios são atacadas e destruídas(6).
1991(12/5) A Krajina (zona da Croácia de maioria sérvia) declara-se soberana.
1991(19/5) Num referendo boicotado pelo sérvios, os croatas pronunciam-se a favor da independência, numa percentagem de 94%.
1991(25/5) Franjo Tudjman é recebido por JP 2.
1991(28/5) Durante uma grande parada no estádio de futebol de Zagreb, as novas milícias paramilitares croatas são abençoadas pelo clero católico romano.
1991(25/6) Independência da Croácia, sob a presidência de Tudjman. A Croácia recupera alguma simbologia ustacha, e adopta uma atitude condescendente em relação ao negacionismo do genocídio de sérvios nos anos 40. Tudjman fala publicamente da sua "satisfação" por a sua esposa não ser "nem sérvia nem judia". A Constituição do novo Estado Independente define-o como o país dos Croatas, excluindo deliberadamente qualquer referência a Sérvios, Ciganos, Judeus ou Muçulmanos.
1991(27/6) Os bispos católicos expressam o seu apoio a Tudjman.
1991(1/8) Inicia-se a guerra na Croácia.
1991(20/11) Após uma das mais violentas batalhas da guerra croata, o Exército Jugoslavo entra em Vukovar.
1991(11/12) JP2 dá a sua benção apostólica a Leon Degrelle (nazi belga).
1991(15/12) O Relatório Badinter, patrocinado pela CEE, afirma que a Croácia não garante o respeito pelas minorias.
1991(23/12) Em Maastricht, a Alemanha impõe o seu reconhecimento da independência da Croácia (efectivo a partir de 15/1/1992), contra a opinião contrária de todos os outros países membros da CEE.
1992(13/1) O Vaticano reconhece a independência da Croácia. É o primeiro estado a nível mundial a fazê-lo.
1992(14/2) Stepinac é reabilitado pelo Parlamento croata.
1993(18/2) JP2 dá a sua benção apostólica a Pinochet.
1993(6) Tentativa de alterar o nome da praça Marechal Tito para praça Mile Budak (ministro ustacha), abortada por pressão da imprensa democrática croata.
1995(8) Aproveitando os ataques da OTAN contra alvos militares sérvios na Bósnia, a Croácia lança uma operação militar relâmpago sobre a Krajina. Cerca de 200 milhares de sérvios serão para sempre escorraçados da região, naquela que será a única "limpeza étnica" desta guerra que o "Ocidente" não tentará remediar(15). A fronteira do catolicismo romano nos Balcãs avança várias centenas de quilómetros.
1996(12/5) Beatificação do cardeal Schuster (apoiante de Mussolini nos anos 30).
1996(4/11) Treze antigos oficiais ustachi são condecorados pela nova Croácia de Tudjman, e integrados no novo exército.
1998(3/10) Beatificação de Stepinac por JP 2, na presença de Franjo Tudjman. Na sua homilia, Wojtyla afirma que Stepinac foi um mártir, "combateu o combate justo", e compara-o a "uma semente que caiu à terra e dará fruto".
Referências: