A construção do Mercado Único Europeu, traduzida politicamente na União Européia, deu origem a uma reação estratégica no continente americano traduzida na criação de duas zonas:
* a NAFTA que, como o nome indica, pretende ser uma zona de comércio livre englobando os EUA, o Canadá e o México;
* o MERCOSUL, Mercado Único da América Latina, englobando o Brasil, a Argentina, o Uruguai e o Paraguai. O Mercosul pretende ser mais que uma zona de comércio livre, quer ser uma zona de integração econômica, assemelhando-se mais à UE que à NAFTA.
Na Ásia, não podemos falar em Mercado Único, quando muito poderíamos falar em "FÁBRICA COMUM" tal o pendor do modelo asiático, liderado pelo Japão, em produzir e exportar. Por consequência, esse bloco asiático, assemelha-se mais a um imenso espaço comum de produção liderado pelas empresas nipônicas que ensaiam estratégias de localização para outros países da Ásia, incentivadas, aliás, pela apreciação do iene.
Com a constituição do Mercosul, o problema que se começa a pôr a países desta zona é o de seguirem o México aderindo ao NAFTA ou de se juntarem ao Mercosul.
O Chile, por exemplo, não tem condições técnicas para aderir ao Mercosul dado que a sua pauta aduaneira é consideravelmente inferior à pauta aduaneira comum do Mercosul. Com efeito, não faria sentido que um país, ao aderir a um bloco regional, tivesse que subir a sua pauta aduaneira aumentando a proteção tarifária à sua economia!
O problema que se irá pôr então no futuro será o de ver se o Mercosul continuará a existir ou se caminhará para uma "verticalização" econômica do continente feita a partir do núcleo inicial da NAFTA.
Veja o texto anexo de autoria de "Luís Mira Amaral".
Hoje em dia, com o desenvolvimento acelerado dos sistemas de comunicações e de transportes, com a proliferação das redes de informação entre as instituições internacionais e com o esbatimento das fronteiras econômicas nacionais - na sequência quer da criação de blocos regionais como a UNIÃO EUROPEIA, a NAFTA (North America Free Trade Association) e o MERCOSUL quer dos acordos do GATT - existe uma tendência para uma grande liberalização do comércio mundial e para a liberdade de circulação de pessoas, de bens, de serviços e de capitais à escala planetária. Estamos a caminho da economia global.
O homem que se habituou a viver há milênios em sociedade tem de se habituar agora a competir à escala planetária.
O novo paradigma de competitividade internacional põe em causa as teorias clássicas do comércio internacional assentes na dotação de recursos naturais de um país (TEORIA DAS VANTAGENS COMPARATIVAS - teorema de Hecksher-Ohlin).
Com efeito, quando não havia facilidades de comunicações e de transportes e havia barreiras alfandegárias entre os mercados nacionais, um país tinha tendência em se especializar em produções ligadas aos seus recursos naturais.
Nesse tempo, esses recursos não eram móveis e portanto não estavam "acessíveis" no mercado mundial. Assim, um dado país, pelo fato de possuir esses recursos, tinha vantagens comparativas em relação aos outros quando desenvolvia essas produções. É desse modelo a célebre afirmação de que a Inglaterra se especializaria no têxtil e Portugal na vinha.
Na economia global, as matérias primas, as tecnologias e os capitais, além de disponíveis no mercado internacional, têm uma acessibilidade extensiva a todos os que a esses recursos quiserem recorrer. Por isso, com a globalização das economias e com a mobilidade dos fatores, não podemos pensar somente em termos de existência de recursos, já que o que determina a competitividade a prazo é a forma como esses recursos são utilizados, através da valorização (obtenção de valor acrescentado), e da inovação ou seja da diferenciação relativamente a outros, avançando para novos produtos e novos processos.
Dentro deste conceito de economia global, o que está em causa é adicionar valor aos fatores de produção, quer sejam nacionais, quer sejam importados (TEORIA DAS VANTAGENS COMPETITIVAS).
Nesta economia, o negócio é global mas as vantagens competitivas geram-se localmente, sendo a localização importante pois que os ingredientes para a inovação são inerentemente locais. Com efeito, tradicionalmente, as vantagens competitivas vinham do acesso aos "inputs": baixo custo do capital e do trabalho, disponibilidade de matérias primas e existência de economias de escala.
A vantagem crítica hoje em dia nesta economia global reside na capacidade de ser muito inovador para fazer avançar o "estado de arte", para evoluir para novos produtos e novos processos, para ser muito rápido na resposta ao mercado através dos processos industriais flexíveis, jogando nas economias de gama e não nas economias de escala. A capacidade de inovar é então profundamente influenciada pela localização, dado que é necessária uma base doméstica (home base) onde existam clientes sofisticados, capacidade empresarial, empresas competitivas e "clusters" industriais dinâmicos por forma a que a competitividade possa ser aumentada através da investigação e desenvolvimento tecnológico, do avanço para novos produtos e processos, do desenvolvimento dos mercados e dos fornecedores bem como da capacidade de gestão e organização.