Introdução
A Igreja Católica Apostólica Romana foi a primeira forma de cristianismo a se estabelecer no Brasil. Desde então, tem sido a igreja majoritária; com o passar dos anos outros grupos cristãos aqui chegaram, e as Missões Católicas passaram a ter como desafio não somente as religiões tribais, como também outras formas de cristianismo. O nosso projeto objetiva verificar como ela continua fazendo Missões.
Consideraremos a hipótese de que após quinhentos anos de evangelização no Brasil, a Igreja Católica Apostólica Romana apresenta uma proposta de fazer Missões, que considera o homem e suas necessidades.
Para tanto estruturamos o trabalho em três capítulos: o primeiro deles faz referência aos 500 anos de evangelização no Brasil, partiremos da própria auto-análise da Igreja; no segundo analisaremos a visão católica contemporânea de missões, partindo de documentos produzidos pela própria Igreja; e o terceiro versará sobre a atualização da CNBB da visão católica, onde veremos os documentos produzidos pela CNBB para operacionalizar o trabalho missionário no Brasil.
1. Missões Católicas no Brasil - 500 Anos
Juntamente com os descobridores portugueses, aqui aportaram missionários católicos com o objetivo de cristianizar a agora colônia da Coroa Portuguesa.
Neste período é interessante mencionar que a forma como os nativos eram tratados pelo colonizador, não diferia muito do tratamento que lhes era dispensado pelo missionário, “...prevaleceu, de fato, a convicção de que, em primeiro lugar, era necessário e legítimo subjugar os indígenas com a força, para evangelizá-los depois de ‘pacificados”.
É digna de nota a expressão “...necessário e legítimo subjugar...” pois indica claramente não somente uma convicção da necessidade e legitimidade da ação colonizadora, como um entendimento de que a forma como eles agiam era correta, e necessária para a tarefa evangelizadora ser realizada. Mesmo que a forma de colonizar e cristianizar fosse altamente destruidora em relação a cultura dos dominados.
Naturalmente por trás do empreendimento colonizador e cristianizador no Brasil - e em toda a América Latina - existem vários aspectos que não abordaremos, todavia, destacamos apenas que a atitude de alguns daqueles primeiros missionários indica uma espécie de etnocentrismo cruel que impunha aos colonizados severas privações, o que é parcialmente reconhecido pelo Papa João Paulo II, no discurso de abertura da IV Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano, quando disse: “A denúncia das injustiças e das violações feita [sic] por Montesinos, Las Casas, Córdoba, Frei Juan del Valle e muitos outros, foi como um clamor que propiciou uma legislação inspirada no reconhecimento do valor sagrado da pessoa.”
Naturalmente, ao discursar, o Papa prefere destacar aqueles homens, verdadeiros heróis, que influenciados pela fé optaram por desenvolver uma atitude curadora de males causados por outros cristãos. Ao realçar este aspecto, o Papa coloca a Igreja no papel de defensora dos oprimidos, o que fica claro quando assegura: “Desde os primeiros passos (...) foi defensora infatigável dos índios, protetora dos valores que havia em sua cultura, promotora de humanidade diante dos abusos de colonizadores...”
Embora reconheçamos a existência desses cristãos exemplares, não podemos minimizar os resultados, e conseqüências dos atos daqueles que oprimiram não somente os indígenas como também os negros africanos.
Neste período, que se constitui um quarto de toda a história da Igreja, convém destacar alguns fatos significativos do ponto de vista antropológico e missionário.
O primeiro, e talvez o mais conhecido deles é o chamado sincretismo religioso. Onde observamos a capacidade do brasileiros em combinar elementos da fé católica com outros das culturas africana e ameríndia. Este fenômeno é claramente perceptível nas expressões religiosas populares, mui especialmente na correspondência existente entre os santos católicos e as entidades dos cultos africanos.
O segundo seria a chegada de expressões não católicas da fé cristã - o protestantismo - ao Brasil. O que gerou na igreja uma certa preocupação com a manutenção do seu rebanho, o que fica claro em Paulo VI... Um outro aspecto é a chegada dos grupos pentecostais e posteriormente neopentecostais, que também se constituíram em objeto de preocupação por parte da Igreja.

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