Untitled 2. A Visão Católica Contemporânea de Missões
Indubitavelmente, a Igreja como todas as demais instituições da sociedade está em constante mudança. E estas mudanças refletem a leitura que se faz da realidade, a forma como a cultura e seus elementos são percebidos.
A Visão Católica Contemporânea de Missões, será por nós abordada a partir da observação de alguns documentos produzidos pela Igreja, limitando-se àqueles que de certa forma influenciaram mais a postura da Igreja no Brasil, postura essa que será objeto de análise no capítulo três do nosso trabalho.
2.1 O Concílio Vaticano II
2.2 A Posição de Puebla 1979
A III Conferência Episcopal Latino Americana, realizada em Puebla de los Ángeles, marcou a Igreja pela reafirmação da “...clara e profética opção preferencial e solidária pelos pobres”
Uma outra afirmação que reflete bem o espírito desta conferência, é a de que “...Deus está presente, vivo, em Jesus Cristo libertador, no coração da América Latina.”
Esta afirmação reveste-se de um significado muito especial se considerarmos a história de colonização, e cristianização por vezes tão traumática, a que o continente foi submetido. E, por outro lado, o fato de em Puebla os Bispos estarem reafirmando e aprofundando as afirmações feitas na Conferência de Medellín, como a íntegra do texto acima citado retrata.
É claro que os posicionamentos em Puebla influenciaram a ação da Igreja Católica no Brasil, o que teremos oportunidade de observar mais adiante.
2.3 A Redemptoris Missio
A Carta Encíclica Redemptoris Missio sobre a validade permanente do mandato missionário, foi publicada pelo Papa João Paulo II “no dia 7 de dezembro de 1990, no XXV aniversário do Decreto conciliar AD Gentes, décimo terceiro do pontificado.” A Encíclica está dividida em oito capítulos, além da introdução e conclusão, e tem como propósito declarado “a renovação de fé e da vida cristã”
Logo na introdução o Papa reafirma a missão evangelizadora da Igreja, como sendo de responsabilidade de todos os cristãos. De profundo significado antropológico é a exortação que inicia o item três, quando diz: “Povos todos, abri as portas a Cristo! O Seu Evangelho não tira nada à liberdade do homem, ao devido respeito pelas culturas (grifo meu)...” É bastante positivo o fato de que o Sumo Pontífice afirme o respeito pelas culturas, em última análise ele está afirmando o respeito pelo homem em suas expressões, embora elas por vezes se revelem diferentes daquelas as quais o mundo cristão ocidental está acostumado. Um exemplo desse tipo de expressão no Brasil da atualidade pode ser observado em algumas tribos indígenas.
No primeiro capítulo é feita a afirmação de Jesus Cristo como único Salvador, bem como da urgência da atividade missionária, que deve ser desenvolvida em um clima de liberdade do homem, “O anúncio e o testemunho de Cristo, quando feitos no respeito das consciências, não violam a liberdade.”
No segundo capítulo a ênfase recai no Reino de Deus, e em vários pontos inclusive no da promoção dos valores do Reino por parte da Igreja.
No terceiro capítulo O Espírito Santo é apresentado como protagonista da missão, sendo portanto quem guia e impele a Igreja no cumprimento de sua tarefa.
No quarto capítulo são destacados os imensos horizontes da Missão “Ad gentes”, que vai desde as sociedades que não têm nenhuma influência cristã até aquelas que precisam ser reevangelizadas. É interessante a afirmação “A Igreja propõe, não impõe nada... e ainda o apelo feito aos que resistem à fé cristã “Abri as portas a Cristo” percebe-se no tom pastoral do Pontífice o respeito declarado pela pessoa humana.
O quinto capítulo expõe os caminhos da missão: o testemunho, o primeiro anúncio, conversão e batismo, formação de Igrejas Locais, comunidades eclesiais de base, a encarnação do evangelho nas culturas, o diálogo ecumênico, a educação das consciências, e a caridade.
O sexto capítulo apresenta os responsáveis e os agentes da Pastoral missionária, são eles: os Doze Apóstolos, as comunidades primitivas, o Colégio de Bispos sob a direção do Papa, os institutos missionários, Sacerdotes diocesanos, todos os leigos batizados, os catequistas, A Congregação para a Evangelização dos Povos.
O sétimo capítulo expõe sobre a cooperação na atividade missionária, que deve começar na Igreja local a quem compete formar o povo.
O oitavo capítulo versa sobre a espiritualidade missionária, onde se reafirma a ligação da vocação à santidade como diretamente ligada a vocação à missão.
E na breve conclusão destaca-se o fato de que a Igreja hoje tem mais recursos do que a Igreja no Passado.
A este documento foi dedicado maior espaço por tratar-se de uma Carta Encíclica, e por entendermos que todas as ações missionárias subsequentes da Igreja, no Brasil e no mundo, são de certa forma influenciadas por ele.
2.4 A Posição de Santo Domingo 1992
A IV Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano reuniu-se em Santo Domingo, sob o tema NOVA EVANGELIZAÇÃO PROMOÇÃO HUMANA CULTURA CRISTÃ “Jesus Cristo ontem, hoje e sempre (Hb 13.8).
Nesta Conferência foram reafirmadas algumas verdades, com referência aos métodos de evangelização e reevangelização como as comunidades eclesiais de base; a atuação dinâmica das paróquias; o papel que devem desempenhar as mulheres, os adolescentes e os jovens; o diálogo ecumênico. Destaca-se a promoção humana como poderoso instrumento de evangelização ao tempo que se invoca a RMi quando diz: “Com a mensagem evangélica, a Igreja oferece uma força libertadora e criadora de desenvolvimento, exatamente porque leva à conversão do coração e da mentalidade, faz reconhecer a dignidade de cada pessoa, (grifo meu) predispõe à solidariedade, ao compromisso e ao serviço dos irmãos...”
A promoção humana está intrisecamente ligada ao reconhecimento da dignidade de cada pessoa, e a mensagem cristã só é de fato comunicada e vivenciada, na medida em que é contextualizada na realidade de cada sociedade.
O DSD dedica um capítulo a cultura cristã, e é nele que o respeito pela dignidade humana é evidenciado pelas figuras usadas no tópico em que se trata da Inculturação do Evangelho, nele é feita a seguinte colocação: “É necessário inculturar o Evangelho à luz dos três grandes mistérios da salvação: a Natividade,... a Páscoa,... e Pentecostes... A inculturação do Evangelho é um processo que supõe reconhecimento dos valores evangélicos que se tem mantido mais ou menos puros na atual cultura; e o reconhecimento de novos valores que coincidem com a mensagem de Cristo.”
Percebamos a riqueza da afirmação quando considera a possibilidade de existirem valores evangélicos nas culturas, aonde a mensagem cristã será anunciada.
Um outro fator que precisa ser citado, não obstante ter sido a América Latina colonizada basicamente por povos oriundos da península ibérica, é o reconhecimento de que se vive em uma realidade pluricultural o que é decisivo na hora de comunicar o Evangelho.
O DSD é bastante prático quando sugere linhas e opções pastorais prioritárias para a Igreja na América latina.
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