II.OS DONS ESPIRITUAIS NAS CARTAS DE PAULO
Depois de termos tido uma visão mais geral a respeito do assunto no Novo Testamento, cabe-nos examiná-lo unicamente a partir de uma perspectiva paulina.
Na verdade, é o apóstolo Paulo quem mais discorre sobre a questão dos dons espirituais, e numa maneira mais extensa e específica na sua primeira carta à igreja problemática de Corinto. Analisaremos as referências de Paulo a respeito do tema em suas três epístolas: Romanos, I Coríntios e Efésios.
2.1 - DONS ESPIRITUAIS EM ROMANOS 12.6-8
6. ÉCHONTES DÈ CHARÍSMATA KATÀ TÈN CHÁRIN TÈN DOTHEÎSAN HEMÎN DIÁPHORA, EÍTE PROPHÊTEÍAN KATÀ TÈN ANALOGÍAN TÊS PÍSTEÔS, 7. EÍTE DIAKONÍAN EN TÊ DIAKONÍA , EÍTE HO DIDÁSKÔN EN TÊ DIDASKALÍA, 8. EÍTE HO PARAKALÔN EN TÊ PARAKLÊSEI HO METADIDOÙS EN HAPLÓTÊTI , HO PROISTÁMENOS EN SPOUDÊ , HO ELEÔN EN HILARÓTÊTI. Este texto é traduzido pela Edição Contemporânea da Bíblia como segue: 6.Temos diferentes dons, segundo a graça que nos é dada. Se é profecia, seja ela segundo a medida da fé. 7. Se é ministério, seja em ministrar; se é ensinar haja dedicação ao ensino; 8. ou o que exorta, use esse dom em exortar ; o que reparte, faça-o com liberalidade; o que preside, com cuidado; o que exerce misericórdia, com alegria. A Edição revista e Atualizada da Bíblia apresenta ligeiras alterações na tradução desse texto: 6.tendo, porém diferentes dons segundo a graça que nos foi dada; se profecia, seja segundo a proporção da fé; 7.se ministério, dediquemo-nos ao ministério; ou o que ensina, esmere-se em fazê-lo; 8.ou o que exorta, faça-o com dedicação; o que contribui, com liberalidade; o que preside, com diligência; quem exerce misericórdia, com alegria. A Bíblia de Jerusalém traduz assim: 6.Tendo, porém, dons diferentes, segundo a graça que nos foi dada, aquele que tem o dom de profecia, que o exerça segundo a proporção da nossa fé; 7.aquele que tem o dom de serviço, o exerça servindo; quem o do ensino, ensinando; 8. quem o da exortação, exortando. Aquele que distribui seus bens, que o faça com simplicidade; aquele que preside, com diligência; aquele que exerce misericórdia, com alegria. A Bíblia na Linguagem de Hoje apresenta a seguinte tradução: 6.Portanto, usemos os nossos diferentes dons, que nos foram dados pela graça de Deus. 7.Se é servir, então devemos servir; se é ensinar, então ensinemos; 8.se é animar os outros, então animemos. Quem reparte com os outros o que tem, que faça isso com generosidade. Quem tem autoridade, que a use com todo o cuidado. Quem ajuda os outros, que ajude com alegria.
No contexto que antecede estes versículos , Paulo discute o papel do cristão como alguém que apresenta-se a si mesmo em sacrifício a Deus através do culto não de animais mortos, mas de sua própria vida. Este é o culto que satisfaz a "boa, agradável e perfeita vontade de Deus" (12.1). Este culto vivo é o culto da não conformidade ( SYSCHÊMATÍZESTE) com o mundo (AÍÔNI), não o mundo KOSMOS, mas o mundo "era" ou "época" (20)
Um dos aspectos de não conformação com a presente era deveria ser a conservação de um conceito modesto a respeito de si mesmo(12.3), que deveria levar o crente a entender que Deus, dentro do Corpo, que é a igreja, repartiu a cada um de nós pelo livre exercício da sua graça soberana. No Corpo, cada um de nós somos membros (MÉLOS), tendo cada um de nós funções ou práticas (PRÂXIN) diferentes (12.4).
É nesse contexto que Paulo começa a falar a respeito dos dons (CHARÍSMATA) que Deus distribuiu entre os membros do Corpo, para que esse funcione.
2.1.1. PROFECIA
O primeiro dom espiritual a ser mencionado neste trecho é PROFECIA (PROPHÊTEÍAN). Este dom é um dos mais repetidos nas listas anteriormente descritas . A função do profeta era transmitir as revelações divinas de significação temporária que proclamavam à igreja o que ela deveria saber e fazer em cirscunstâncias especiais (21). Sua mensagem era de edificação, exortação e consolação (I Cor 14.3; Rom 12.8). Às vezes estas mensagens possuíam um caráter preditivo (Atos `11.28; 21.10). Os profetas têm o segundo lugar de importância nos escritos de Paulo, logo depois dos apóstolos( I Cor 12.28; Efés 2.20). Estes profetas da igreja primitiva frequentemente parecem ter sido pregadores itinerantes, indo de igreja em igreja, edificando os crentes na fé em Cristo,e instruindo as igrejas locais (22). Esses profetas do Novo Testamento exerciam o seu ofício exclusivamente através da escolha divina pelo exercício do dom carismático, o qual seria examinado e julgado pelos cristãos, conforme veremos posteriormente nas instruções de Paulo aos coríntios.
Neste trecho de Romanos, a profecia deveria ser exercida "segundo a proporção da fé"(12.6). A Bíblia Anotada identifica esta expressão com o sentido de que as revelações transmitidas pelo profeta deveriam estar de acordo com a verdade já revelada. Neste caso a palavra "fé"seria tomada no mesmo sentido que lhe dá JUDAS em seu verso 3, quando nos conclama a "batalhar pela fé, de uma vez por todas entregue aos santos". Aqui "fé" significaria o conjunto doutrinário elaborado a partir da pregação doutrinária dos apóstolos. Então a revelação profética deveria estar em conformidade com o ensino dos apóstolos.
Este é o mesmo caminho tomado pelo comentário da Bíblia de Jerusalém, a qual dá a variante "segundo a norma da fé", remetendo o leitor à I Coríntios 12.3, onde a "confissão de fé" constitui o sinal de autencidade dos carismas (24).
Outra interpretação é a que identifica "segundo a medida da fé",com o dever do profeta exercer o seu dom espiritual de conformidade com a sua proporção da fé, ou seja, de acordo com o seu desenvolvimento espiritual. (25).
2.1.2. MINISTÉRIO/ SERVIÇO
Este é o segundo dom alistado por Paulo neste texto de Romanos. CRANE diz que este termo "Ministério ou Serviço"é em certo sentido, aplicável a todos os demais dons, e que sua inclusão na lista de dons lembra-nos de que o objetivo primordial de todos os dons é equipar os crentes para prestarem serviço aos outros.(26)
Paulo para descrever este dom usa a palavra DIAKONÍA , que tem como sentido "prestar um serviço a outras pessoas", mas que também é aplicado à distribuição de comida, ao socorro e à administração (27), e à administração de esmolas visando atender às necessidades materiais de outros. (28)
Esse serviço geralmente no Novo Testamento aparece vinculado a alguma forma de ministração física, embora possa também referir-se à alguma forma de serviço espiritual. (29).
Segundo Paulo, aquele que possui esse dom, deve colocá-lo em prática, ou seja, é um dom exercido por meio da prática e não de meras palavras. A tendência mais natural para a compreensão quanto ao exercício desse dom aponta para o atendimento das necessidades materiais básicas dos outros cristãos, tais como alimento e vestuário. Parece relacionado àquela ação prática da qual nos fala TIAGO 2.15-17.
O caso da eleição dos sete homens em Atos 6.1-7 alude em especial ao emprego do verbo "servir" (DIAKONEÎN) como distribuir o alimento em socorro às viúvas pobres, estando talvez este sentido mais intimamente relacionado com a práxis inferida na recomendação paulina de 12.7.
2.1.3. ENSINO / MESTRE Em contraste com o profeta, o mestre não proferia revelações novas, mas expunha e aplicava a doutrina cristã confirmada, e seu ministério provavelmente se confinava à congregação local(Atos 13.1; Efésios 4.11) (30)
Há, portanto, uma íntima relação entre os dons de Profecia e Ensino (DIDASKALÍA) . O profeta era um pregador da Palavra; o mestre explicava aquilo que o profeta expunha, reduzia-o a declarações doutrinárias e aplicava-o a situação em que a igreja vivia.(31).
Parece correto deduzir-se que Paulo certamente possuía tal dom, pois ele frequentes vezes está envolvido no livro de Atos com este ministério do ensino(11.25,26; 15.35; 18.11; 20.20; 21.28; 28.31).
As traduções do texto grego de Romanos 12.7 acima apresentadas, com exceção da Bíblia de Jerusalém, acrescentam expressões para dar uma ênfase à exortação paulina para que aquele que possui o dom do ensino procure exercer o seu dom da melhor maneira possível: "Haja dedicação ao ensino" e "o que ensina esmere-se em fazê-lo". Explicando esses acréscimos CHAMPLIN diz que embora o original grego diga somente: "aquele que ensina, no seu ensino", deixa subentendida a idéia de diligência e dedicação.(32) .
Se é certo de que Paulo possuísse esse dom, seria ele a encarnação prática do mestre que procurava sempre melhorar em seu conhecimento,a fim de poder melhor instruir aos outros, conforme vemos por exemplo em suas recomendações a Timóteo ( I Tim 4.13-15) e em seus pedidos feitos na segunda carta a Timóteo onde solicita livros e pergaminhos(II Tim 4.13).
2.1.4. EXORTAÇÃO
O dom da exortação( PARÁKLÊSIS) tem o sentido literal de "apelar a alguém" ou "Chamar alguém ao lado "(33), tendo a conotação de persuadir, consolar e animar os outros com nossas palavras. Embora o grego traga uma apresentação bastante simples em Romanos 12.8 :"aquele que exorta, na exortação...", CHAMPLIN insiste que a idéia de diligência está subentendida, apesar de não ser especificamente declarada, e afirma que podemos entender EXORTAÇÃO como uma forma convincente de pregação ou ensino, ou então com o sentido de ENCORAJAMENTO. (34)
Este carisma , entretanto, pode denotar uma ação mais pessoal, como no caso de José ( Atos 4.36,37), a quem os apóstolos deram o apelido de BARNABÉ, que "quer dizer filho de exortação"; e que demonstrou na prática o porquê de tal apelido, animando o recém-convertido Saulo integrando-o entre os cristãos (Atos 9.26,27), ou então mais tarde, amparando o jovem João Marcos após ter sido rejeitado como missionário por Paulo(Atos 15.36-40).
Este era um ministério estreitamente ligado ao do profeta e mestre cristão.(35)
2.1.5. CONTRIBUIÇÃO / LIBERALIDADE
E um pouco difícil encontrar uma designação única para este dom registrado no verso 8. O verbo grego é METADÍDÔMI, o qual tem o sentido de dar compartilhando o que tem com outros . No texto paulino ele vem acompanhado de HAPLÓTÊTI, que pode significar "sinceridade, generosamente, liberalmente"(36). Indicando que aquele que possuía este dom precisaria exercê-lo em sua máxima amplitude, ou seja, exercendo-o com generosa liberalidade para com o necessitado.
É bastante interessante notar como os cristãos primitivos superabundavam na maneira como ajudavam os mais pobres, isto é bem evidente no registro do livro de Atos(2.45; 4.32-34). Entretanto podemos notar que alguns cristãos excediam a todos os demais em contribuição, dentre eles é registrado o nome de BARNABÉ, o qual tendo um terreno, vendeu-o e deu todo o dinheiro para ajudar neste comunitarismo cristão. Como o registro desta doação é destacada em meio ao relato de outras ofertas, podemos inferir que o valor deve ter sido bastante significativo para os apóstolos e para a igreja.
HAPLÓTÊTI também é traduzido por "simplicidade", neste caso o apóstolo ,em Romanos 12.8, poderia estar sugerindo que aquele que possuísse este dom deveria exercê-lo sem o desejo de receber glória ou destaque por parte das outras pessoas, mas ofertando na simplicidade de quem serve.
2.1.6. PRESIDÊNCIA / LIDERANÇA / GOVERNO
Para designar este dom, Paulo usa o verbo grego PROÍSTÊMI, o qual tem o significado de "estar no primeiro lugar, presidir"( 37), ou ainda "ser cuidadoso, ser atencioso, aplicar-se a, tomar posição em frente, assumir a direção"(38). Esta palavra diz respeito à aspectos administrativos da vida da igreja local.
Esta visão administrativa da vida eclesiástica é uma das preocupações de Paulo em suas cartas, onde há frequentes alusões à PRESBÝTEROS (presbíteros, ou presidente de uma igreja, anciãos ), EPÍSKOPOI (bispos ou superintendentes), além das designações mais comuns : POIMÉN (pastor) e DIÁKONOS (diácono), os quais também aludem à ofícios administrativos na igreja local.
Evidentemente, as pessoas com este dom aos poucos iriam se firmando na comunidade e ocupando funções de maior importância. Este dom evidentemente estava associado à liderança pastoral / episcopal / diaconal na igreja primitiva (Atos 20.28; I Timóteo 3.1,4,5, e 12). Nesta mesma carta de Paulo a Timóteo no capítulo 5.17 há um destaque interessante do apóstolo em relação aos presbíteros que " presidem bem "(KALÔS), os quais deveriam ser merecedores de dobrados honorários (TIMÊ') ou dobrada "honra".
Em nosso texto de Romanos, Paulo diz que aqueles que possuíam tal dom, deveriam exercê-lo com diligência (SPOUDÊ). Estes deveriam liderar com o maior cuidado e atenção, preocupando-se com os mínimos aspectos de sua função, ou em outras palavras, levando muito a sério tal responsabilidade dada por Deus.
2.1.7. MISERICÓRDIA / ATOS DE MISERICÓRDIA
O último dom mencionado pelo apóstolo Paulo neste trecho de Romanos 12 é o dom de Misericórdia ( ELEÔN), o qual traz o sentido de "praticar atos misericordiosos"(39), "ter compaixão de alguém, compadecer-se"(40).
Estes atos de misericórdia como dom espiritual deveria ser exercido com alegria, nunca com tristeza. É bem possível praticar tais atos com pesar no coração ou com o desejo de ser elogiado como no caso dos fariseus (Mateus 6.1-4), Paulo entretanto ,enfoca que aqueles que possuem tal dom devem ter o coração repleto de grande alegria em serem instrumentos de Deus para amenizarem a dor de alguém.
Tal impulso carismático de exercer misericórdia para com todos, mas especialmente para com os cristãos poderia também ser algo perigoso em Roma, pois semelhante identificação com outros cristãos necessitados estigmatizava quem os ajudasse como sendo um cristão também, podendo resultar no risco de ser perseguido também.(41)
2.2. DONS ESPIRITUAIS EM I CORÍNTIOS 7.7
7.THÉLÔ DÈ PÁNTAS ANTHRÔPOUS EÍNAI HÔS KAÌ EMAUTÓN ALLÀ HÉKASTOS ÍDION ÉCHEI CHÁRISMA EK THEOÛ, HO MÈN HOÚTÔS, HO DÈ HOÛTÔS. Edição Contemporânea: 7.Contudo, gostaria que todos os homens fossem como eu mesmo. Mas, cada um tem de Deus o seu próprio dom; um de uma maneira, e outro de outra. Edição Revista e Atualizada: 7.Quero que todos os homens sejam tais como também eu sou; no entanto cada um tem de Deus o seu próprio dom; um, na verdade, de um modo, outro de outro. Bíblia de Jerusalém: 7.Quisera que todos os homens fossem como sou; mas cada um recebe de Deus o seu dom particular; um, deste modo; outro, daquele modo. Bíblia na Linguagem de Hoje: 7.Pessoalmente gostaria que todos fossem como eu,. Porém cada um tem o dom que Deus lhe deu: um tem este dom, e outro, aquele.
Este assunto tratado por Paulo, surge dentro de sua exposição a respeito de alguns problemas da igreja em Corinto, já tratados nos capítulos anteriores. No capítulo em questão, Paulo começa a falar sobre o casamento cristão (7.1-24) , neste contexto Paulo apresenta uma conexão entre estar casado e servir ao Senhor, abordando algumas desvantagens da pessoa casada em relação à entrega total ao serviço do Senhor (7.25-38), falando finalmente sobre a possibilidade de um novo casamento(7.39,40). É dentro deste discurso que ele expõe a questão do Celibato como um dom dado por Deus.
2.2.1. CELIBATO
É bastante oportuno ao considerar este dom, analisar o contexto como fizemos acima, e entendermos as circunstâncias daquela fase do cristianismo, não devendo entretanto, limitar o escopo deste conselho apenas ao primeiro século da era cristã.
Inicialmente podemos ver Paulo como alguém que valorizava o casamento como um projeto de Deus, conforme ele expõe em Efésios 5.22-33. A relação conjugal é nas palavras do apóstolo um tipo da relação indissolúvel estabelecida entre Cristo e a igreja. Um bom e estável casamento era condição essencial para o exercício tanto do episcopado, quanto do diaconato ( I Timóteo 3.1-13). O que podemos inferir desta última afirmação de Paulo, é que ele optou não casar-se por amor à causa de Cristo(7.32-35), a fim de poder se dedicar inteiramente sem se preocupar com mais nada, e sem ter de prover o sustento de dependentes.
Mas, Paulo entende ser este um dom do Senhor(7.7), e que aquele que não puder permanecer sem relações sexuais, deve imediatamente procurar casar-se(7.9). Paulo também procura incentivar outros a abraçarem esta decisão de permanecerem solteiros(7.1), ficando assim, se nessa condição se encontravam quando foram chamados para servirem ao senhor (7.17-24)
2.3. OS DONS ESPIRITUAIS EM I CORÍNTIOS 12.8-10
8.HÔ MÈN GÁR DIÀ TOÛ PNEÚMATOS DÍDOTAI LÓGOS SOPHÍAS, ÁLLÔ DÈ LÓGOS GNÔSEÔS KATÀ TÒ AUTÒ PNEÛMA, 9.HETÉRÔ PÍSTIS EN TÔ AUTÔ PNEÚMATI, ÁLLÔ DÈ CHARÍSMATA IAMÁTÔN EN TÔ HENÌ PNEÚMATI, 10.ÁLLÔ DÈ ENERGÊMATA DYNÁMEÔN ÁLLÔ [ DÈ ] PROPHÊTEÍA, ÁLLÔ [ DÈ ] DIAKRÍSEIS PNEUMÁTÔN, HETÉRÔ GÉNÊ GLÔSSÔN, ÁLLÔ DÈ HERMÊNEÍA GLÔSSÔN Edição Contemporânea: 8.A um pelo Espírito é dada a palavra da sabedoria; a outro, pelo mesmo Espírito, a palavra da ciência; 9.a outro, pelo mesmo Espírito, fé; a outro, pelo mesmo Espírito, dons de curar; 10.a outro, a operação de milagres; a outro, profecia; a outro, discernimento de espíritos; a outro, variedades de línguas, e a outro, interpretação de línguas Edição Revista e Atualizada: 8.Porque a um é dada, mediante o Espírito, a palavra da sabedoria; e a outro, segundo o mesmo Espírito, a palavra do conhecimento; 9.a outro, no mesmo Espírito, fé; e a outro, no mesmo Espírito, dons de curar; 10.a outro, operações de milagres; a outro, profecia; a outro, discernimento de espíritos; a um, variedade de línguas; e a outro, capacidade de interpretá-las. A Bíblia de Jerusalém: 8.A um o Espírito dá a mensagem de sabedoria, a outro, a palavra de ciência segundo o mesmo Espírito; 9.a outro o mesmo Espírito dá a fé; a outro ainda o único e mesmo Espírito concede o dom de curas; 10.a outro, o poder de fazer milagres; a outro, a profecia; a outro, o discernimento dos espíritos; a outro, o dom de falar em línguas, a outro ainda, o dom de as interpretar. A Bíblia na Linguagem de Hoje: 8.A um o Espírito Santo dá a mensagem de sabedoria e a outro o mesmo Espírito dá a mensagem de conhecimento. 9.A um o mesmo Espírito dá fé e a outro dá poder para curar. 10.Um recebe do Espírito Santo poder para fazer milagres, e outro, o dom de anunciar a mensagem de Deus. Outro recebe a capacidade para saber a diferença entre os dons que vêm do Espírito e os que não vêm. A um ele dá a capacidade para falar em línguas estranhas e a outro, a capacidade de explicar o que essas línguas querem dizer. Nos capítulos 12-14 Paulo trata da questão dos dons espirituais, num discurso corretivo e pedagógico a fim de que aqueles cristãos enfatizassem corretamente o sentido primordial dos carismas do Espírito, cujo objetivo seria a edificação da igreja formada por judeus, gregos, escravos e livres (12.13), aos quais foi dado de beber de um mesmo Espírito, no qual também todos foram batizados. Nesta nova lista de dons espirituais não procuraremos analisar aqueles que já foram abordados nas listas anteriores.
2.3.1. PALAVRA DA SABEDORIA
Este dom encabeça esta nova lista, neste que é o segmento mais aprofundado no Novo Testamento quanto à exposição a respeito dos dons espirituais. Palavra de Sabedoria (LÓGOS SOPHÍAS) parece bastante interligado ao dom que Paulo enunciará logo a seguir : Palavra do Conhecimento (LÓGOS GNÔSEÔS). A idéia de Sabedoria (SOPHÍA) era algo bastante importante para a cultura grega desde os filósofos pré-socráticos. Sendo que especialmente a partir de Sócrates, a sabedoria assume um caráter mais prático aplicável às situações da vida, como capacidade de julgar aquilo que se nos apresenta a fim de descobrir sua essência e finalidade. Palavra da sabedoria envolvia a capacidade de conhecer de forma muito mais profunda e especial aquilo que dizia repeito a Deus e à sua vontade, transmitindo este conhecimento aos demais cristãos e aplicando-o às situações práticas da vida eclesiástica comunitária.
Este dom diz respeito à transmissão das coisas profundas de Deus e enfocava grande discernimento espiritual( I Coríntios 6-8)) em contraposição à mera sabedoria humana deste século, que consiste em linguagem persuasiva (I Coríntios 2.6).
2.3.2. PALAVRA DE CONHECIMENTO
Evidentemente este dom apresenta uma grande relação com o anterior, mas deveria estar ligado mais diretamente àquele que possuía o dom do ensino, pois para ensinar no poder do Espírito, necessita-se do conhecimento dado pelo mesmo Espírito. Palavra do Conhecimento (LÓGOS GNÔSEÔS) caracterizava aqueles cristãos que se sobressaíam aos demais dentro da comunidade na compreensão e transmissão da verdade divina.
Falando a respeito deste dom, CRANE afirma que alguns estudiosos associam este dom à revelação sobrenatural de fatos que anteriormente não eram conhecidos.(42)
Este conhecimento não teria apenas um caráter público, mas certamente seria exercido no trabalho individual com os demais cristãos (Romanos15.14), apesar de que a existência desse carisma na igreja, não significaria necessariamente que estaria sendo exercido satisfatoriamente pelos seus possuidores(I Coríntios 1.4,5). Na verdade, tal dom seria de todo inútil se estivesse destituído de amor( I Coríntios 13.2).
2.3.3. FÉ É bastante claro que Paulo não está fazendo referência à fé em seu aspecto soteriológico, pois esta todo crente necessita ter(Efésios 1.13; 2.8,9), mas à fé ( PÍSTIS) em uma concepção operacional e prática. Embora não haja necessária relação entre a ordem de apresentação dos dons neste trecho e a ordem da apresentação de dons que ocorre no capítulo 13, há ali uma referência à fé que é tão grande ao ponto de poder transportar montes(13.2). Esta referência nos ajuda a identificar este dom como uma capacidade extraordinária de confiar na ação sobrenatural de Deus. Esta fé está alicerçada na certeza de que Deus fará determinada coisa. Esta citação paulina aponta para uma citação anterior de Jesus (Mateus 17.20), onde a fé do "tamanho de um grão de mostarda" teria tanto poder ao ponto de mudar os montes do seu lugar.
Este dom está associado à realização de maravilhas e sinais sobrenaturais e não simplesmente à confiança em Deus. Talvez devamos também observar certa associação nesta lista de dons de I Coríntios: palavra de sabedoria junto com palavra de conhecimento, fé junto com curas e operação de milagres, profecia, e logo depois outro grupo composto por variedades de línguas e sua interpretação. Neste caso, se essa foi uma intenção de Paulo, o dom da FÉ estaria interligado à curas e operação de milagres.
2.3.4. CURAS
Segundo CRANE o plural aqui (12.9), indica possivelmente que cada diferente cura deve ser considerada como um dom específico (43). Dons de curas (CHARÍSMATA IAMÁTÔN) também visa enfocar os diversos tipos de doenças a serem curadas.(44).
Este dom estabelece a capacidade dada por Deus a um cristão de poder ser o instrumento para a cura de outra pessoa
É bem provável que o apóstolo Paulo propositadamente colocasse a dom de curas nesta lista juntamente com o dom de operar milagres. O dom de curas faz parte da categoria dos milagres operados pelo poder de Deus.
É bastante claro que este carisma envolve a cura por ação sobrenatural, embora muitos estudiosos busquem esvaziá-la de seu caráter sobrenatural associando-a exclusivamente à cura psico-somática ou à cura por meio dos médicos (45).
Tal dom de curar foi uma das marcas do ministério dos apóstolos já no convívio com Jesus (Lucas 10.8), e mais tarde (Atos 3.6-10; 14.8-10; 19.11,12; 28.8,9). Sendo algo bastante evidente inicialmente no ministério do próprio Senhor Jesus (p.ex.Mateus 4.23 e ss). Devemos fazer uma observação com relação à outra palavra grega (THERAPEÍA) que é traduzida como cura em outros trechos bíblicos (Mateus 4.23; Marcos 3.2,10 ; Lucas 9.11)e que nestes textos citados também significa cura de enfermidades de maneira sobrenatural. Embora em Lucas 4.23 e 8.43 possa indicar a cura por meio de médicos. No resto das passagens THERAPEUÔ é empregado para descrever curas milagrosas pela ação sobrenatural de Deus.
2.3.5. OPERAÇÃO DE MILAGRES
As palavras gregas que descrevem este dom são ENERGÊMATA DYNÁMEÔN, cuja tradução mais literal seria OPERAÇÃO/ATIVIDADE DE PODERES. Outros termos para designar milagres são SINAIS (SÊMEÎA) e PRODÍGIOS (TÉRATA). É interessante a forma tríplice como Pedro falando de Cristo diz : "Jesus, o nazareno, varão aprovado por Deus diante de vós, com milagres, prodígios e sinais, os quais o próprio Deus realizou por intermédio dele entre vós, como vós mesmos sabeis; "(Atos 2.22), neste mesmo texto em grego encontramos estas três designações para descrever a operação de maravilhas por intermédio de Cristo : DYNÁMESI, TÉRASI e SÊMEÍOIS.
Esta mesma operação de poderes/milagres foi repetida no ministério apostólico(Marcos 16.19,20; Atos 2.43; 4.30; 5.12), e extensivamente com Estêvão(Atos 6.8), Filipe (Atos 8.6), Barnabé (Atos 14.3) e Paulo (Atos 14.3; Romanos 15.18,19; e em especial II Coríntios 12.12, onde repetem-se os termos gregos SÊMEÍOIS, TÉRASIN e DYNÁMESIN )
2.3.6. PROFECIA
A respeito das implicações deste carisma em relação à vida da igreja, devem ser observadas as mesmas considerações anteriores na lista aos Romanos.
2.3.7. DISCERNIMENTO DOS ESPÍRITOS
Este dom, como a própria expressão parece naturalmente indicar (DIAKRÍSEIS PNEUMÁTÔN) , caracterizava-se pela capacidade dada por Deus a determinados cristãos a fim de poderem julgar (DIAKRÍNÔ) e identificar distinguindo entre aquilo que procedia de Deus e o que procedia do maligno. Tal carisma poderia ser de grande utilidade para os cristãos em relação ao grande número de falsos mestres e falsos profetas. Esta era uma grande preocupação do apóstolo Paulo (Atos 20.20,30; II Coríntios 11.3-5; 13-15; Gálatas 1.7, 9), as igrejas precisavam de pessoas capacitadas por Deus para discernirem entre o falso e o verdadeiro. Aquele que possuísse este dom, seria de grande importância para a saúde doutrinária do rebanho.
2.3.8. VARIEDADES DE LÍNGUAS / FALAR EM LÍNGUAS
Dentre todos os textos a respeito dos dons espirituais nas cartas paulinas , encontraremos maior desenvolvimento expositivo em torno da questão do exercício adequado do dom de variedades de línguas (GÉNÊ GLÔSSÔN).
A primeira menção a respeito a respeito do exercício deste dom está no evangelho de Marcos 16.17,18; onde encontra-se a frase GLÔSSAIS LALÊSOUSIN KAINAÎS ( falarão novas línguas). Neste caso o "falar novas línguas" está inserido dentro de uma série de sinais "que hão de acompanhar aqueles que crêem"(16.17). Estas línguas que "serão faladas" pelos que crêem, são NOVAS EM QUALIDADE ou NÃO PREVIAMENTE USADAS (46), indicando o aspecto inusitado deste fenômeno sobrenatural.
É oportuno lembrarmos de toda a disputa que gira em torno deste epílogo do evangelho de Marcos 16.9-20 , sendo na maioria das vezes reputado como um acréscimo posterior ao trabalho do evangelista (47), embora haja outros estudiosos que também defendam a autenticidade marcana (48) ou que não descartem totalmente esta possibilidade(49).
Mesmo assim, trabalhando com o cânon que temos em nossas mãos, podemos notar que estes "sinais", de acordo com este epílogo, foram acontecendo à medida em que "eles, tendo partido, pregaram em toda parte"(v.20).
A próxima menção a respeito do dom de línguas vai acontecer no livro de Atos. Neste livro encontramos três relatos a respeito da manifestação deste carisma: No dia de Pentecostes (2.4-11), na conversão de Cornélio (10.44-48) e no incidente com os doze discípulos de João, o batista em 19.5-7.
É bastante importante observarmos que em especial no relato de Atos 2 Lucas nos dá a nítida impressão de que estas línguas faladas eram idiomas ou dialetos. Primeiramente, pelo uso da palavra GLÔSSA cujo significado pode ser : LÍNGUA (órgão do corpo humano) ou LÍNGUA (idioma, linguagem, dialeto) (50). Em segundo lugar, pelo fato de terem sido perfeitamente entendidas por judeus vindos de outras nações em seus idiomas maternos (2.6-11). Em terceiro lugar, porque não eram um somatório apenas de palavras faladas em outras nações, mas palavras que transmitiam uma mensagem foneticamente articulada e compreensível àqueles estrangeiros: "como os ouvimos falar em nossas próprias línguas as grandezas de Deus ?" (2.11).
Em Atos 10.44-48 os convertidos da casa de Cornélio "falavam em línguas e engrandeciam a Deus"(10.46). Esta manifestação foi comparada por Pedro ao que havia acontecido no Pentecostes (11.15), se em Atos 2 foram faladas línguas estrangeiras, então não seria falso afirmar que o mesmo aconteceu na casa de Cornélio, já que ele era italiano, e naquela reunião havia parentes e amigos dele que certamente também eram estrangeiros(10.1, 24) . Ha uma nítida conexão entre 2.11 e 10.46: no Pentecostes as línguas transmitiam mensagens de engrandecimento a Deus e no caso de Cornélio os convertidos falavam em línguas e engrandeciam a Deus. Em Atos 19 não temos elementos suficientes para definir se as línguas faladas foram idiomas estrangeiros. Mas, se tivermos algo equivalente a um terceiro Pentecostes, por ter características bastante semelhantes com os relatos anteriores, seria sensato não entendermos tal manifestação como um falar extático sem significado inteligível; pois, simultaneamente os doze discípulos do batista também profetizavam (19.6), e a profecia, como já vimos, envolve transmissão de uma mensagem divinamente inspirada, portanto, inteligível.
A próxima referência ao dom de línguas será feita por Paulo em sua primeira carta aos coríntios. Nela, ele se aterá ao exercício do Dom na igreja local. Existem algumas observações importantes nos capítulos 12-14 de I Coríntios, no que diz respeito à prática do Dom de línguas: *Este carisma não era exercido por todos os crentes, pois o Espírito distribuía a cada um de acordo com a sua vontade soberana(12.11,28-30). *Não era sinal de espiritualidade ou consagração, pois a igreja em Corinto era bastante carnal(3.1), mas mesmo assim cheia de carismas (1.7). *Não era marca comprobatória do batismo no Espírito Santo, pois embora só alguns crentes em Corinto falassem em línguas(12.30), todos entretanto já haviam sido batizados no Espírito (12.13). *Este Dom não deveria levar à gritaria ou ao descontrole emocional durante os cultos(14.23,33,40). *De preferência , não deveria ser usado no culto nativo (14.19) *Nas orações em voz alta nos cultos da igreja, deixaria os demais irmãos impossibilitados até mesmo de dizerem “amém”, além do que eles não seriam edificados com a oração.(14.14-17). *Na oração individual do crente, só teria valor edificador se a pessoa também tivesse o Dom da interpretação(14.13,14). *Se ocorresse nos cultos deveria ser exercitado por no máximo 2 ou 3 crentes (14.26,27). *Não deveria ser exercido sem interpretação (14.27,28) Estas são algumas instruções de Paulo quanto ao exercício do Dom de línguas na igreja em Corinto, que deveriam também ser seguidas hoje por aqueles que alegam possuir tal carisma. Vemos que Paulo afirmava Ter recebido tal Dom (14.18), mas o exercia com simplicidade e no momento adequado, evitando exercê-lo nas reuniões cristãs onde a ênfase deveria recair na profecia (14.3-5,19). Tal Dom, de acordo com o apóstolo fôra dado como um sinal para os incrédulos (14.22), não sendo portanto distintivo de algum grau mais elevado de espiritualidade(14.37). Era o cumprimento de uma antiga profecia de Isaías 28.11,12, onde Deus através do profeta prenuncia que os judeus seriam cativos dos assírios, e aquele idioma estrangeiro seria a confirmação do julgamento de Deus contra Israel. Da mesma forma, o Dom de línguas seria um sinal de repreensão do Senhor contra a incredulidade do Israel neo-testamentário.(51).
2.3.9. INTERPRETAÇÃO DE LÍNGUAS
Este carisma, como é óbvio, está relacionado intimamente com o falar em línguas. Como Paulo deixa bastante claro, este Dom de interpretação (HERMÊNEÍA GLÔSSÔN) não está ligado à capacidade natural que vem do conhecimento humano de vários idiomas.
Era um carisma, e como tal, uma capacitação sobrenatural dada por Deus a determinados cristãos para comunicarem de forma inteligível aos outros cristãos, o significado de uma mensagem carismática proferida em línguas. HERMÊNEÍA tanto pode significar “tradução” como “interpretação”, de uma forma ou de outra a igreja saberia o conteúdo básico da mensagem em línguas.
A importância deste Dom é que não deixaria a manifestação das línguas como algo vão, pois segundo Paulo : “Assim vós, se, com a língua, não disserdes palavra compreensível, como se entenderá o que dizeis ? porque estareis como se falásseis ao ar.”(14.9). A oração individual e a coletiva perderiam o seu sentido sem a intelegibilidade do pensamento ou das palavras, neste caso àquele que falava em línguas deveria orar para poder interpretar também (14.13,14), e nas orações públicas falar palavras inteligíveis aos demais irmãos (14.16-19). Se não houvesse cristãos com o Dom da interpretação presentes no culto, aqueles que fossem falar em línguas naquele momento, deveriam permanecer calados, sem exercitarem o seu Dom (14.28).Isto nos leva a pensar na manifestação dos carismas como algo que não roubava do cristão o seu domínio próprio, nem colocava-o em transe incontrolável (14.32, 33,40).
2.4. DONS ESPIRITUAIS EM I CORÍNTIOS 12.28
28. KAÍ HOÚS MÈN ÉTHETO HO THEÒS EN TÊ EKKLÊSÍA PRÔTON APOSTÓLOUS, DEÚTERON PROPHÊTAS, TRÍTON DIDASKÁLOUS, ÉPEITA DYNÁMEIS, ÉPEITA CHARÍSMATA IAMÁTÔN, ANTILÊMPSEIS, KYBERNÊSEIS, GÉNÊ GLÔSSÔN. Edição Contemporânea: 28. A uns pôs Deus na igreja, primeiramente apóstolos, em segundo lugar profetas, em terceiro lugar mestres, depois operadores de milagres, depois dons de curar, socorros, governos, variedades de línguas. Edição Revista e Atualizada: 28. A uns estabeleceu Deus na igreja, primeiramente apóstolos, em segundo lugar profetas, em terceiro lugar mestres, depois operadores de milagres, depois dons de curar, socorros, governos, variedades de línguas. Bíblia de Jerusalém : 28. E aqueles que Deus estabeleceu na igreja são, em primeiro lugar, apóstolos; em segundo lugar, profetas; em terceiro lugar, doutores; vêm, a seguir, os dons de milagres, das curas, da assistência, do governo e o de falar diversas línguas. Bíblia na Linguagem de Hoje: Por isso, na igreja, Deus pôs tudo no lugar certo: em primeiro lugar, os apóstolos; em segundo, os profetas; e, em terceiro, os mestres da igreja. Em seguida pôs os que fazem milagres; depois os que têm o Dom de curar, ou de ajudar, ou de dirigir, ou de falar em línguas estranhas. Há bastante similaridade entre esta lista de dons e a lista tratada anteriormente em 12.8-10. Vários dons são repetidos como por exemplo : profecia, ensino (mestres, doutores), operação de milagres, curas, governos (liderança) e variedades de línguas. Todos estes dons já foram analisados anteriormente neste trabalho.
2.4.1. APOSTOLADO
Este Dom vai ser novamente citado por Paulo em Efésios 4.11. STOTT afirma que a palavra “apóstolo” provavelmente é usada no Novo Testamento em três sentidos diferentes: Todos os crentes enviados por Cristo ao mundo( João 13.16), alguns crentes que foram enviados como mensageiros especiais de uma igreja para outra (II Coríntios 8.23; Filipenses 2.25), e o pequeno e especial grupo de homens que incluía os doze, Paulo, provavelmente Tiago, irmão de Jesus (Gálatas 1.19) e possivelmente um ou dois outros.(52). Esta terceira acepção de apostolado é sem dúvida o sentido maior e primordial do termo no Novo Testamento. Refere-se àqueles que foram chamados para um ministério específico tendo sido testemunhas oculares do ministério de Jesus e de sua ressurreição, de acordo com o critério para o preenchimento do cargo exposto por Pedro em Atos 1.21-22. Paulo defende o seu apostolado com base na chamada posterior, mas específica da parte do Cristo ressurreto no caminho de Damasco (Gálatas 1.1).
Parece evidente que o Dom do apostolado em I Coríntios 12.28, refere-se exclusivamente ao grupo fechado dos apóstolos de Cristo, ou seja, os doze. Podemos deduzir isto, pela afirmação de que Deus colocou na igreja “primeiramente apóstolos”, depois os demais ofícios carismáticos. Em Efésios 2.20, Paulo vai chamar apóstolos e profetas de “fundamento” ou “alicerce” do edifício da igreja, onde Cristo é a “pedra angular”. Neste aspecto, este Dom é irrepetível no seio da igreja. Também podemos notar que havia uma nítida distinção entre este grupo e os demais cristãos (Atos 2.43; 4.35; 5.12; 8.1; 15.6; I Coríntios 9.5; Gálatas 1.17)
Não devemos , entretanto, ignorar os outros dois sentidos para o termo que se aplicam aos cristãos, muito embora não expresse o alcance essencial do trecho de Coríntios.
2.4.2. SOCORRO
Este Dom apresenta uma terminologia bastante interessante, pois é uma palavra grega formada pela preposição ANTI significando “oposto ou do outro lado” e um derivado verbal, que significa “apanhar “. Assim, diz CRANE “a idéia literal é “apanhar o outro lado”, segundo ele :” Esse Dom capacita os crentes a prestarem auxílio prático àqueles que estão levando uma carga muito pesada para carregar, neste caso apanhar ou pegar o outro lado, tornaria mais leve suportar o peso da carga “.(53)
A ação de ajudar , neste Dom, excederia os padrões humanos normais. Embora seja um daqueles dons que parecem estar ligados de forma mais íntima à uma tendência natural que notamos em algumas pessoas dentro e fora da igreja. Podemos ver com isso, que existem alguns dons que em si mesmos não aparentam possuir algo de sobrenatural, parecem tão naturais, entretanto, Deus os colocou dentro do Corpo de Cristo com uma intenção premeditada.
Em Gálatas 6.1-5, Paulo recomenda aos cristãos que carreguem as cargas (BÁRÊ) uns dos outros. BÄRÊ tem o sentido de uma carga muito pesada que oprime e que é bastante difícil de ser carregada (54). Esta carga aqui está relacionada com as debilidades de um irmão mais fraco (6.1). Este é também o sentido de Romanos 15.1, e vem depois do trecho onde Paulo afirma que não devemos escandalizar o irmão mais fraco. O Dom de socorro poderia envolver ajuda material, psicológica ou espiritual.
2.5. DONS ESPIRITUAIS EM EFÉSIOS 4.11
KAÌ AUTÒS ÉDÔKEN TOÙS MÈN APOSTÓLOUS, TOÙS DÈ PROPHÊTAS, TOÙS DÈ EUAGGELISTÁS, TOÙS DÈ POIMÉNAS KAI DIDASKÁLOUS.
Edição Contemporânea: 11.E ele mesmo deu uns para apóstolos, e outros para profetas, e outros para evangelistas, e Outros para pastores e doutores, Edição Revista e Atualizada: 11.E ele mesmo concedeu uns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas, e Outros para pastores e mestres. Bíblia na Linguagem de Hoje: 11.Foi ele quem deu dons às pessoas. Escolheu alguns para serem apóstolos, outros para Profetas, outros para evangelistas e ainda outros para pastores e mestres da igreja. Nesta nova lista de dons, Paulo enfoca o derramamento dos carismas a partir da exaltação do Cristo ressurreto: “Por isso diz : Quando ele subiu às alturas, levou cativo o cativeiro, e deu dons aos homens.”(Efésios 4.8). Esse é “também o mesmo que subiu acima de todos os céus, para encher todas as coisas”(4.10). Esses dons foram concedidos a cada um de nós “segundo a proporção do Dom de Cristo”(4.7), e tendo como objetivo “o aperfeiçoamento dos santos para o desempenho do seu serviço, para a edificação do Corpo de Cristo, até que todos cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, à perfeita varonilidade, à medida da estatura da plenitude de Cristo.”(4.12,13).
Dentre os dons alistados pelo apóstolo, temos a repetição de APÓSTOLOS, PROFETAS, e MESTRES. Surgindo, entretanto dois novos dons: Evangelistas e Pastores.
2.5.1. EVANGELISTAS
Os evangelistas (EUAGGELISTÁS) , obviamente, são cristãos efetivamente comprometidos com a obra da pregação do evangelho(EUAGGÉLION). (55). Jesus iniciou o seu ministério pregando o evangelho : “Depois de João Ter sido preso, foi Jesus para a Galiléia, pregando o evangelho de Deus (EUAGGÉLION TOÛ THEOÛ), dizendo: O tempo está cumprido e o reino de Deus está próximo; arrependei-vos e crede no evangelho (EUAGGELÍÔ)”(Marcos 1.14,15). Jesus também enviou seus doze apóstolos para pregarem “o reino de Deus”(Lucas 9.2)
A chegada ou proximidade do reino de Deus era o tema central da pregação de Jesus, sendo estas as Boas-Novas ou Evangelho : “Então saindo percorriam todas as aldeias, anunciando o evangelho (EUAGGELIZÓMENOI)...”(Lucas 9.6). Esta comissão também foi dada posteriormente aos setenta discípulos, embora ali não se mencione evangelizar, o teor da pregação seria o mesmo: a proximidade do reino de Deus.” (Lucas 10.9). Após a sua ressurreição, Jesus comissiona os seus discípulos a saírem pelo mundo pregando o evangelho(KÊRÝXATE TÒ EUAGGÉLION ser ministério)(Marcos16.15). No capítulo 8 de Atos temos a indicação de que Filipe evangelizava a respeito do reino de Deus e do nome de Jesus (8.12). Este mesmo Filipe, mais tarde vai chamado de “o evangelista”(Atos 21). Paulo também afirma , conforme sua própria análise em Atos 20 : “Porém em nada tenho a minha vida por preciosa para mim mesmo, contanto que complete a minha carreira e o ministério que recebi do Senhor Jesus para testemunhar o evangelho da graça de Deus” (Atos 20.24) . Mais tarde, ele mesmo vai recomendar a Timóteo que faça o “trabalho de evangelista “(II Timóteo 4.5).
2.5.2. PASTORES
Este é o último Dom que ainda não foi especificamente mencionado nas listas anteriores de Paulo. A construção grega neste versículo(4.11) parece indicar que o Dom seria de PASTOR-MESTRE ou seja PASTORES QUE ENSINAM (56). Talvez a ênfase de Paulo repouse no fato de que não é possível pastorear sem ensinar, ou, o Dom de pastor (POIMÉN) requer necessariamente a aptidão para o ensino individual e em grupo, Especialmente tendo em vista os falsos profetas que procurariam como lobos devorar o rebanho, os BISPOS (EPISKÓPOUS) deveriam pastorear (POIMAÍNEIN) a igreja de Deus (Atos 20.28).
A palavra BISPO também pode ser traduzida como “supervisor ou guardião”. É nítida a ausência de distinção entre o Bispo e o Pastor, já que o pastor é aquele que guarda o rebanho (POIMNÍOU) contra as investidas dos lobos devoradores.(Atos 20.29). Paulo vai empregar a palavra Presbítero para designar esses homens responsáveis para cuidar da igreja (Atos 14.23) .Ele vai usar os termos “ Bispos e Presbíteros “ como significando um mesmo ofício em Tito 1.5,7. RYRIE afirma que “o presbítero é o principal oficial de uma igreja local, era chamado pelo Espírito Santo (Atos 20.28)...Seus deveres incluíam dirigir, pastorear o rebanho, proteger a verdadeira doutrina, e de modo geral cuidar do rebanho...”(58).
Continuar
Voltar ao índice
Voltar ao homepage do Seminário