O MOVIMENTO ECUMÊNICO NA ATUALIDADE E A UNIDADE DA IGREJA EM EFÉSIOS 4:1-6

2. HISTÓRICO
2.1 O que é o Movimento Ecumênico
Se a igreja tivesse continuado a ser tal qual o retrato da recente comunidade cristã está exposto em At 2:44-47, nunca necessitaríamos falar de “movimento ecumênico”. Nestes quatro versos que narra a vida dos crentes logo após pentecostes a bíblia narra uma comunhão que parece estar verdadeiramente ligada à intenção de Jesus, ou o que Ele tinha em mente quando orou: “para que todos sejam um...” Mas logo nos capítulos seguintes vamos observar que o registro não se limitou às virtudes desta comunidade, mas logo podemos observar situações que tenderam a dividir e separar a comunidade já desde o início.
Talvez as forças que dividam a igreja hoje tenham suas raízes bem ligadas aos seus primeiros momentos. Diferenças teológicas, falta de compromisso, exclusivismo racial, personalismos, oposições externas e internas são as principais delas. O caso de Ananias e Safira, mostra a falta de compromisso At 6 mostra que houve conflitos étnicos entre Helenistas e Judaizantes por conta das suas viúvas, influencias externas dos líderes religiosos judeus que não estavam satisfeitos com o nível de comunhão que viviam os primeiros cristãos esta perseguição fez de Estevão o primeiro mártir da igreja. As questões internas se agravaram com as divergências a respeito do cerimonial judaico e até quando ele devia ser exigido dos não Judeus , sendo este talvez o primeiro entre os muitos conflitos teológicos que a igreja enfrentou e enfrenta até o dia de hoje. da mesma forma os conflitos de personalidade surgiram entre Paulo e Barnabé a respeito de João Marcos que os levou a tomar diferentes caminhos e mesmo entre Pedro e Paulo que ao que parece tinham posições diferentes quanto às práticas e costumes judaicos.
Em tempos mais recentes outras controvérsias aconteceram , algumas com destaque, como é o caso da questão levantada por Ário no século VI ( Arianismo) , por Nestor no século V (Nestorianismo), por Donato bispo de Cártago no século IV (Donatismo), os pais da igreja não viveram a harmonia teológica que se pretende, portanto, Não são recentes os conflitos da igreja, como muitos superficialmente afirmam, eles têm raízes profundas.
O movimento ecumênico Existe hoje em praticamente todos os países do globo e pretende ser uma comunhão de igrejas irmãs a nível conciliar. Procura dar expressão à unidade da cristandade, para que o testemunho do evangelho seja crido, da mesma forma que procura refletir a resposta cristã frente ao evangelho nas diferentes situações concretas, por esse motivo o movimento ecumênico não esta buscando alcançar a uniformidade em sua organização, na ordem do culto ou no estilo de vida das comunidades . O movimento ecumênico acredita que pode existir uma unidade em toda a diversidade de expressões da fé cristã, portanto ele Pretende na realidade estabelecer o diálogo entre as igrejas que se encontram desunidas e que esta unidade em Cristo se manifeste em seu testemunho e serviço, uma vez que onde a discórdia, as ambições a estreiteza sectária ou outras influências se tornam mais fortes que o vínculo com o Senhor , rompe-se a unidade do corpo de Cristo.
Enfrentando, ora a oposição ora o apoio de diferentes grupos, esse movimento tem diferentes faces de acordo com os grupos que nele se envolvem. Oficialmente o chamado movimento ecumênico esta relacionado às igrejas que estão em comunhão com o Conselho Mundial de Igrejas e às diferentes organizações nacionais ecumênicas que por sua vez, também estão ligadas ao CMI
Existem ainda outras expressões que procuram congregar igrejas dentro de um espectro mais fechado e normalmente de cunho fundamentalista tais quais a “World Evangelical Fellowship” ( WEF) e o movimento AD 2000.
Para muitos existem limites a serem definidos para que esta “unidade” possa acontecer mesmo dentro do espectro daqueles que confessam a Jesus como Senhor e Salvador . A maioria das igrejas protestantes tradicionais rejeita o dialogo ecumênico com a igreja de Roma enquanto outras expressões aceitam esse diálogo e convivência sem qualquer restrição .
Historicamente a Igreja Romana sempre olhou com reservas para o movimento ecumênico. Pela encíclica Mortalium animos (1928), emitida pelo papa Pio XI, ficou claro que a “única igreja verdadeira” era a igreja de Roma e a unidade seria portanto a volta dos outros ao seu redil. Cavalcanti, (1993: p. 66). Na convocação do Concílio Vaticano II o Papa João XXIII lhe atribuiu um caráter ecumênico, para ele este concílio deveria ser também para aqueles que embora tenham sido batizados , se encontram “separados” da Sé Apostólica. Não deveria ser um concílio de união, mas de alguma forma seria útil para os separados. É importante observar que sempre deveria estar claro que os irmãos separados assim estavam porque sua atitude foi herética com relação ao cisma negando obediência ao Pontífice de Roma.
Na época do Concílio Vaticano II a assembléia do Conselho Mundial de Igrejas reuniu-se em Nova Delhi e congregou 198 denominações cristãs e o secretário Geral do CMI afirmava naquela ocasião que estas duas reuniões não se congregavam uma contra a outra mas procuraram o serviço do Senhor Jesus Cristo. Agostinho ( 1964: p 134)
De alguma maneira pode-se observar que em relação ao movimento ecumênico, ligado ao CMI a atitude de maior abertura sempre esteve mais no lado dos protestantes que se mostram dispostos a ter a igreja de Roma como membro efetiva do CMI, o que não ocorre até os dias atuais quando sua participação se dá ainda como observadora. De qualquer forma , não podemos negar os avanços também por parte desta igreja. Desde 1960 quando o Papa João XXIII criou o secretariado para a unidade dos cristãos, talvez tenha sido este o primeiro passo da igreja de Roma no sentido de reconhecer oficialmente a existência do movimento ecumênico , em seguida (1964) Paulo VI promulgou o decreto sobre ecumenismo do Concílio Vaticano II, colocando claramente os limites da participação dos católicos neste movimento . Em 1969 quando de sua visita à sede do CMI em Genebra fez questão de destacar que era o sucessor de Pedro e que seu ato não significava a filiação da Igreja Romana no CMI. De uma maneira geral o movimento ecumênico tem crescido e talvez nunca em nenhum momento da história da igreja o desejo de unidade esteve tão presente como nos dias de hoje.
Mais recentemente os discursos sobre ecumenismo tem adquirido um caráter mais amplo que apenas a união de igrejas , tem se direcionado para a noção de um mundo mais habitável, na construção de relacionamentos entre pessoas e comunidades bem diversas e muitas vezes conflitantes, tem se trabalhado a relação com o mundo seu meio ambiente poluído e depredado, inadequado para se viver como seres humanos, co-participantes do projeto de vida em fraternidade e liberdade. (Takatsu, 1994: p.1)
2.2 As Raízes do ecumenismo na história
O movimento ecumênico tem suas raízes fundadas nos movimentos missionários do século XIX e do início deste século e também no esforço de líderes cristãos que se empenhavam por uma igreja mais unida. Na maioria das vezes estes esforços individuais foram oriundos do movimento pietista. Segundo Martin (1993.p:28) os líderes deste movimento pregavam contra a corrupção do cristianismo, por uma vida simples, piedosa e ênfase na santificação e não na justificação, para ele este estilo de vida favoreceu contatos com cristãos de várias denominações. Os grandes destaques deste período ficaram para os Pastores luteranos Philipp Jacob e Conde Zinzendorf .
O surgimento em 1847 da Aliança Evangélica Mundial fruto de um avivamento espiritual. e a criação em seguida da Associação Crista de Moços em 1878, já que sem ênfases em denominações pregava a unidade. Alguns anos mais tarde surgiu a Federação Universal das Associações Cristãs de Estudantes. Fundada por John Mott esta associação chegou a juntar 13.000 jovens cristãos de diversas denominações para se engajarem em missões na Índia.
Em um determinado momento da história, as missões cristãs passaram a encontrar dificuldades em termos de retorno aos seus esforços. Logo no início do século IXX o missionário Inglês batista William Carey escreveu de Calcutá para sua própria sociedade missionária em Londres propondo uma conferência global sobre missões. A idéia de Carey era de se encontrarem a cada dez anos na cidade do Cabo e a primeira se realizou em 1810 quando algumas entidades se reuniram com ceticismo, lá apenas compareceu cerca de meia dúzia de entidades protestantes de diferentes denominações que estavam envolvidas com missões.
Tempos depois missionários de diversas denominações resolveram se reunir para estudar a resistência à mensagem cristã. O resultado destes estudos revelou que as diversas agências missionárias estavam falando línguas diferentes, não havia unidade na missão, isso levou à realização da I Conferência Missionária Universal no ano de 1910 na cidade de Edinburg ,Escócia. Nesta ocasião um delegado da China chegou a exclamar “vocês mandaram missionários que nos deram a conhecer a Jesus Cristo e nós somos gratos por isso, mas também trouxeram suas destinções e divisões, pregando metodismo, episcopalismo, congregacionalismo, pedimos que preguem apenas o evangelho e deixem que o próprio Cristo suscite no seio de nossos povos, pela ação do espírito Santo a igreja conforme a suas exigências e liberada de todos os “ismos” da pregação entre nós. ( Martin, 1993:p.30). a inabilidade de trabalhar junto foi nitidamente um escândalo para a igreja. Edinburg foi diferente, especialmente porque a maioria dos presentes eram delegados oficiais e podiam falar por cada uma das missões e igrejas que representavam . Nesta conferência só estavam representadas as sociedades que trabalhavam em missões entre os povos não cristianizados e isso excluiu as igrejas dos EUA e sociedades missionárias que trabalhavam na Europa , oriente Médio e América Latina. Segundo Latourette, citado por Elderen ( 1990: p. 19) a intenção de não convidar essas igrejas e missões que de alguma forma incentivavam a saída de uma igreja para outra foi de promover um sentimento de “inclusividade” de convicções teológicas no movimento ecumênico.
A conferência de Edinburg é conhecida até hoje como sendo o marco do início do movimento ecumênico moderno, a partir dela se formou o Conselho Internacional Missionário em 1921 . este Conselho não somente promoveu conferências missionárias globais, mas construiu o que se pode chamar das estruturas de uma unidade cristã em todos os níveis. A busca pela unidade foi mais presente a partir de então, outras conferências foram então organizadas e aconteceram entre 1921 e 1939 a conferência “Vida e Atividade” organizada pelo bispo Luterano Nathan Soderblom na Suécia que trataria dos temas práticos do cristianismo, ou seja, os problemas sociais, e a outra conferência organizada pelo bispo anglicano Charles Brendt , dos EUA deveria tratar das diferenças doutrinárias entre os cristãos. Brendt foi um dos delegados anglicanos em Edinburg e sempre acreditou no sonho de uma igreja unida, ele persuadiu a sua própria igreja a convidar todas as comunhões cristãs em todo o mundo que confessavam Jesus como Senhor e Salvador, para essa conferência que findou por acontecer em Lousane após 17 anos com a presença de 400 pessoas, a maioria delegados oficiais vindo-se a chamar Conferência de “Fé e Ordem”.( Elderen, 1990:p.18) Essas três organizações ( Conselho Internacional de Missões, Conferência Vida e Atividade, e a conferência Fé e Ordem se reuniram entre 1921 e 1939. Na França em 1939, delegados dessas organizações juntamente com representantes da ACM e da Federação Universal dos Estudantes se reuniram para formar um futuro conselho de igrejas, mas a segunda grande guerra interrompeu estes planos.
Outros movimentos que colaboraram para uma consciência de unidade foram acontecendo, a assembléia da Sociedade Mundial de Estudantes Cristãos em 1911 em Constantinopla levou a participação de jovens Ortodoxos e abriu horizontes com o protestantismo além de levantar líderes como Hooft que veio a ser o primeiro secretário geral do Conselho Mundial de Igrejas. Poderíamos citar também como de igual importância a Associação mundial de Escola Dominical fundada em 1907 e reconhecida em 1924 passando a se chamar “Conselho mundial de Educação Cristã” em 1947 e que em 1971 se filiou ao Conselho Mundial de Igrejas
Além destas, surgiu dentro do espectro da maioria dos grupos denominacionais assembléias ou conferências mundiais que colaboraram com uma visão mais ampla de igreja. A exemplo da Conferência de Lambeth que surgiu em 1867 reunindo todos os bispos diocesanos da comunhão anglicana a cada dez anos e de outras como a conferência Geral Evangélico Luterana precursora da Federação Luterana Mundial, em 1875 criou-se a Federação Reformada Mundial e em 1881 a Conferência Ecumênica das Igrejas Metodistas, mais tarde chamada de Conferência Metodista Mundial . Os Vetero Católicos acenaram com contatos desde 1874/75 com os Anglicanos e Ortodoxos na Conferência de Unificação , realizada em Bonn e formaram em Utrecht, a Conferencia dos Bispos Vetero-Católicos. Também neste período foram formadas em caráter nacional várias entidades interconfessionais, como a comissão de Igrejas Evangélicas da Alemanha em 1903, a Federação das Igrejas Protestantes da França em 1905 e a Federação de Igrejas da América do Norte em 1908. Algumas igrejas mostraram reserva à esta tentativa de unidade em nível nacional e internacional. ( Kruger, 1987:p.13)
2.3 O Conselho Mundial de Igrejas e outras entidades Ecumênicas
Como fruto de todo o enfervecedor período de Conferências internacionais e já de caráter ecumênico, duas Conferências; a de Edinburg ( Missões) 1910 e a de Oxford ( Vida e Ação) 1937 se destacaram na criação do Movimento Ecumênico Moderno porque como resolução delas estava a preparação da formação de um “Conselho Mundial de Igrejas que promoveria a fusão dos movimentos de “Fé e Ordem” e “Vida e Ação”.
Já em 1938 a proposta de Constituição do Conselho estava pronta, costituiu-se um comitê provisório e um comitê executivo, nomeou o secretário geral e resolveu convocar a assembléia geral constituinte do novo Conselho no ano de 1941, mas a II grande guerra impediu esta reunião. O Conselho continuou em formação e sua primeira assembléia geral aconteceu no dia 22 de agosto de 1948 em Amsterdam reunindo 351 delegados de 147 igrejas de 44 países.
Formado o CMI a tarefa em busca da unidade apenas havia se iniciado. Enfrentou-se resistência de igrejas quanto à sua filiação, várias igrejas protestantes se recusaram a filiar-se criando-se outras instituições de caráter fundamentalista ao passo que a Igreja de Roma também negou a sua filiação trazendo para si o mérito de ser “a única Igreja de Jesus Cristo , e qualquer passo para unidade, necessariamente teria que contemplar a volta dos separados a igreja mãe. neste clima de aceitação por um lado e rejeição por outro o CMI realiza sua assembléia geral a cada 8 anos e no interregno de suas reuniões o comitê central composto de 145 delegados se reúne uma vez por ano, elegendo o comitê executivo composto de 14 a 16 delegados e que se reúne duas vezes por ano. Além de vários outros departamentos distribuídos em unidades incluindo a unidade I ( fé e testemunho) Unidade II (Justiça e Serviço) e Unidade III ( Educação e Renovação) além disso o CMI possui um Instituto Teológico em Bossey e outros departamentos.
O Conselho Mundial de Igrejas e definido como uma “comunhão de igrejas que aceitam a Jesus Cristo como Deus e Salvador, segundo as escrituras, e por isso buscam cumprir em conjunto sua vocação cristã para a Glória de Deus Pai, Filho e Espírito Santo” é competência do CMI conclamar as igrejas a buscarem a unidade, facilitar o testemunho comum das igrejas , apoiar as igrejas em sua missão de evangelização, prestar ajuda a pessoas necessitadas através do financiamento de projetos promovendo a justiça e a paz com a maior convivência entre os seres humanos. O CMI não possui nenhum caráter regimentar sobre as igrejas membros, o conselho tem caráter consultivo. Da mesma forma que não pretende ser uma “super igreja” e tampouco representa um “Vaticano protestante”.
O CMI tem hoje 324 igrejas filiadas em todo o mundo entre protestantes e católicos. O termo católico nesse sentido se expressa para aquelas igrejas que tem tradição anterior à reforma protestante, mas mesmo assim essa denominação não é feita a rigor porque muitas confissões protestantes se concebem como de tradição católica no sentido da plenitude e amplidão inerentes à igreja de Cristo. Às igrejas “católicas” no sentido mais restrito se caracterizam por afirmarem sua vinculação ao período apostólico, provado segundo elas , pelo fato de suas ordenações episcopais ocorrerem num ritual de imposição de mãos que atravessa o tempo em sucessão intinerante e sem interrupção desde os apóstolos ( sucessão apostólica).
As igrejas protestantes consideram-se igualmente vinculadas ao período da igreja do novo testamento, mas essencialmente pela ação do espírito Santo na Palavra de Deus e no poder do criador da fé individual. Existe ainda um terceiro tipo de igreja, a igreja independente que não se liga a estruturas tradicionais.
Além do CMI existem muitas outras agências ecumênicas em todo mundo, geralmente são organizações continentais ou nacionais que por sua vez , na maioria das vezes são também filiadas ao CMI a exemplo do Conselho Latino Americano de Igrejas , e dezenas de outras instituições, organizações não governamentais, Conselhos nacionais de igrejas entre outras.
2.4 O Movimento Ecumênico no Brasil de Hoje
Nos dias de hoje tem se convencionado praticamente que o movimento chamado de “ Ecumênico” é o movimento que está ligado ao CMI e suas ramificações em todo o mundo. Porém de alguma forma existem outros movimentos que objetivam a unidade da igreja de Cristo, mas que ainda colocam obstáculos quanto a participação de determinados grupos especialmente da Igreja Católica Romana , bem como a determinadas posturas e pensamentos do próprio CMI.
Talvez a primeira entidade de caráter ecumênico criada no Brasil tenha sido a Coordenadoria Ecumênica de serviços (CESE) no ano de 1973. Tinha como objetivo promover a justiça social sem discriminação de qualquer tipo inclusive religiosa. Assinaram este movimento as igrejas Metodista, Brasil para Cristo, Episcopal Anglicana, Presbiteriana Unida, Católica Romana, Evangélica de Confissão Luterana, Siriana Ortodoxa.
Em 1982 foi criado o Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (CONIC) sendo uma associação de igrejas fraternas que confessam o Senhor Jesus Cristo como Senhor e Salvador, segundo as escrituras... segundo o seu estatuto “o amor de Deus, a confissão de fé comum e o compromisso com a missão impulsionam as igrejas membros a uma comunhão mais profunda e a um testemunho comum do Evangelho no Brasil, no exercício do amor e do serviço ao povo. Respeitadas as diferenças eclesiológicas as igrejas membros se conhecem convocadas por Cristo à unidade de Sua Igreja, na certeza da atuação do mesmo Cristo e de Seu espírito nelas e através delas”
O CONIC promove anualmente a semana de oração pela unidade dos cristãos além de orientar algumas celebrações ecumênicas. Publica também algumas instruções para casamentos interconfissionais.
Como regionalização foi criado em 1977 em São Paulo um movimento denominado de MOFIC ( Movimento de Fraternidade de Igrejas Cristãs ) com o objetivo principal de promover a maior aproximação entre as várias igrejas cristãs existentes Seu estatuto estava assinado pelas igrejas ; Episcopal Anglicana, Metodista, Evangélica de Confissão Luterana, Presbiteriana Unida e Católica Romana e Armênia Oriental. Este movimento a nível regional se organizou também em Belo Horizonte, Brasília, Salvador e Rio de Janeiro. Mais recentemente ( 1995) foi criado em recife a Associação Fraterna de Igrejas Cristãs ( AFIC ) como sendo também um braço regional do CONIC.
Outras entidades ecumênicas existem no Brasil. O Centro Ecumênico de Documentação e Informação (CEDI) fundado em 1974, tem o objetivo de analisar a conjuntura brasileira, fundamentando-se em reflexão bíblica-teológica ; A Associação dos Seminários Teológicos Evangélicos ( ASTE), fundada em 1961 para formar futuros ministros de uma maneira contextualizada com a América Latina, menos dependente das teologias estrangeiras. além do Centro Ecumênico de Estudos Bíblicos (CEBI) e de outros centros e associações em caráter regional e nacional que buscam trabalhar a questão pastoral, racismo, juventude, união de mulheres, comunicação etc.
A nível mais prático existem algumas importantes comissões bilaterais de diálogo interconfessional. O CONAC é a Comissão Nacional Anglicana Católico Romana, existindo ainda a que é a Comissão de Diálogo entre Católicos e Judeus, a Comissão de dialogo Católico-Luterana . Mais recentemente foi firmada a comissão de dialogo entre anglicanos e Luteranos e a nível mundial os anglicanos estão também envolvidos em diálogo com Metodistas, Ortodoxos, Vetero Católicos e Reformados. Em São Paulo a Arquidiocese Católica criou em 1977 a Comissão de Ecumenismo e diálogo interreligioso (CEDRA)
No Brasil hoje estão filiadas ao CMI 5 igrejas a saber : A Igreja Episcopal Anglicana do Brasil; a Igreja Presbiteriana Unida, a Igreja Reformada na América latina; a Igreja Evangélica de Confissão Luterana do Brasil; e a Igreja Metodista do Brasil. No passado a igreja Pentecostal O Brasil para Cristo fez parte do CMI , mas após a morte do missionário Manuel de melo a nova liderança dessa igreja optou por se desfiliar do CMI.
Uma outra “face” do ecumenismo Existe desde maio de 1991 no Brasil. A criação da Associação Evangélica Brasileira (AEVB) presidida pelo Pastor Presbiteriano Caio Fábio de Araújo, que apesar de ser restrita à igreja evangélica tem se mostrado como unificada em torno do propósito de dar um rumo de unidade às igrejas evangélicas, tem falado em nome dos supostos “30 milhões” de evangélicos existentes no Brasil hoje. Este número parece ser contraditório no discurso da AEVB, uma vez que esta associação não considera a Igreja Universal do reino de Deus e o polêmico Bispo Macedo como membros ao passo que nas estatísticas oficiais os 30. milhões de evangélicos no Brasil considera todos os grupos ditos pentecostais, inclusive a IURD. A AEVB está representada em vários estados Brasileiros através de diretórios regionais e chegou a realizar um Congresso Nacional reunindo diversos segmentos da igreja cristã no Brasil.
A exclusão da Igreja Universal do reino de Deus da AEVB, levou o líder dessa igreja, Bispo Edir Macedo a criar a nível nacional o chamado “Conselho Nacional de Pastores, composto praticamente de pastores de sua igreja e de mais algumas poucas denominações pentecostais independentes.
O ecumenismo no Brasil como podemos observar tem algumas particularidades, ora por conta da exclusividade da maioria das igrejas protestantes históricas e ora por conta das dificuldades encontradas quando se trata com a igreja Católica Romana especialmente nas categorias hierárquicas mais abaixo se agravando quando se chaga ao laicato. Clérigos católicos não poucas vezes dificultam as relações o diálogo e a prática de celebrações inclusive com as igrejas que juntamente com ela estão filiadas ao CONIC e a outras associações.
As cinco igrejas brasileiras hoje filiadas ao CMI tem um diálogo entre si profícuo e que paulatinamente tem tomado um vulto mais relevante. Mesmo assim observa-se eventualmente uma atuação fechada e com uma prática as vezes sectária, em alguns casos não consideram o diálogo ecumênico senão com as igrejas membras do CMI. De alguma maneira estas posições favorecem a um ecumenismo de cúpula que também esta presente hoje.
Diante desta realidade o ecumenismo no Brasil ainda se constitui num desafio para os cristãos de todas as confissões. Porém não podemos deixar de considerar que muitos avanços já foram alcançados até aqui, e que a igreja cristã talvez nunca tenha falado e agido tanto em termos de busca de unidade quanto se faz no momento que vivenciamos. Durante muito tempo o ecumenismo parecia ser algo mais romântico do que prático, mas hoje os termos são diferentes existe uma prática, as vezes árdua e difícil mas que significa a busca de um projeto que liberte de uma vez por todas a igreja do estigma do sectarismo e das divisões.
Para o Bispo católico Dom Sinésio Bohn o CONIC é uma realidade que se impõe, sendo o único Conselho onde a Igreja Católica é maioria . segundo ele as igrejas evangélicas perderam o medo de serem engolidas pelos católicos , esta confiança mútua esta fundamentada em anos de convivência, diálogo e cooperação, existe hoje um “projeto ecumênico” comum. (CEBI, 1988: p.28)
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