O MOVIMENTO ECUMÊNICO NA ATUALIDADE E A UNIDADE DA IGREJA EM EFÉSIOS 4:1-6


3. A UNIDADE DA IGREJA NEOTESTAMENTÁRIA PRESSUPÒE A EXCLUSIVIDADE DE CRISTO
3.1 A exclusividade de Cristo nos Evangelhos
A mensagem bíblica em relação a Deus, é, em toda a sua extensão uma mensagem de exclusividade. O centro da fé de Israel era a confissão em um só Deus. A oração judaica “Shama” se inicia pela expressão “ouvi o Israel: O Senhor teu Deus é um Senhor..” (Dt 6:4) . Outras passagens relativas à história do povo de Israel tratam de situações onde o Deus de Israel tem sempre a supremacia e a exclusividade, qualquer desvio para outros deuses, sempre se constituía em grave pecado contra a Lei de Deus. A mensagem profética de Israel antecipa o dia em que Deus ira reunir todo o povo dividido de Israel. Na realidade a esperança profética inclui reunir todos os povos do mundo sobre o poder soberano do Senhor. (Zc 14:9).
Os evangelhos narram em diferentes passagem a idéia da exclusividade de Cristo, como o enviado de Deus para redimir o mundo de seus pecados. De diferentes formas e sob diferentes perspectivas à luz das diferentes narrativas nos é possível analisar como esta exclusividade esta exposta na narrativa dos quatro evangelhos canônicos.
Os evangelhos tratam de falar de Jesus como senhor e salvador, eles foram escritos com esse propósito. Já no preâmbulo podemos observar que existe um prólogo literário que só é narrado por Lucas 1: 1-4 , mas em seguida João abre o seu evangelho com um prólogo teológico, procurando de início mostrar a importância da obra de Cristo e que Ele era o próprio deus encarnado. “... E o verbo se fez carne e habitou entre nós e nó vimos a sua glória , glória que Ele tem junto ao Pai como Filho único cheio de graça e de verdade. A primeira preocupação do evangelho de João é portanto a de mostrar que Ele era o próprio Deus.
Até o início da vida pública os evangelhos se preocupam em narrar detalhes da vida de Cristo procurando justificar por essa narrativa a sua posição de messias esperado, a comprovação das profecias são uma ênfase nesse período , especialmente nos sinópticos, ao passo que João omite estes detalhes. O ponto marcante da vida de Jesus como o enviado se dá na narrativa de seu batismo por João o batista, a mensagem de seu precursor já adiantava que Ele era o escolhido de Deus, ele João não era digno de desatar Suas sandálias. no momento do batismo fica claro na narrativa de João que Jesus o cordeiro de Deus tiraria os pecados do mundo, Ele é o eleito de Deus.
Nos encontros de Jesus com pessoas incomuns para se encontrarem com um Rabi, o perfil de Salvador vai se cristalizando. João narra Seu encontro com Nicodemus e deixa muito claro nessa narrativa de que Jesus é o caminho para a salvação. Parece sugestivo o texto de João 3:18 “... Quem nele crê , não é julgado; quem não crê, já está julgado, porque não creu no nome do filho único de Deus.” Em seguida João Batista dá o seu testemunho que está registrado no versículo 36 deste mesmo capítulo: “... quem crê no filho tem a vida eterna. Quem recusa crer no filho não verá a vida. pelo contrário a ira de Deus permanece sobre ele.”
No diálogo com a mulher samaritana após várias interpolações e demonstrações de sabedoria e poder a mulher disse : “sei que vem um messias ( que se chama Cristo) . Quando Ele vier nos anunciará tudo.” Disse-lhe Jesus : “Sou eu que falo contigo” Jesus não poderia ser mais claro quanto à sua condição de messias escolhido de Deus, Salvador e Senhor, o messias era único, era exclusivo, nEle apenas, estavam depositadas todas as esperanças de Israel.
Na narrativa de João 10, o evangelista registra mais palavras de Cristo a respeito de sua missão. Após a apresentação de uma parábola e de a mesma não ter sido compreendida pelos discípulos, Jesus afirma categoricamente: “...Eu sou a porta . Se alguém entrar por mim será salvo; entrará e sairá e encontrará pastagem.” Em outra ocasião momentos antes de ressuscitar a Lázaro, Jesus afirmou ser Ele a ressurreição e a vida quem nEle crê ainda que morra viverá e quem vive e nEle crê jamais morrerá...
Outras passagens mostram a divindade da pessoa de Cristo como messias, aos fariseus Ele respondeu que não podia ser filho de Davi, pois o próprio Davi chamou ao messias de Senhor, Jesus não poupou se apresentar como o messias escolhido, Ele afirmou esta categoria que lhe foi imputada pelo Pai. Porém em nenhum momento talvez seja tão clara a posição de Cristo em relação à sua exclusividade como cristo quanto na narrativa de João 14 quando procura em seus últimos colóquios após a ceia esclarecer as dúvidas de seus discípulos. Para Tomé, que se apresenta com duvidas sobre o caminho, Jesus afirma decisivamente “ Eu sou o caminho , a verdade, e a vida, ninguém vem ao Pai a não ser por mim.” Esta expressão que se encontra com exclusividade no evangelho de João nos parece clara o suficiente para demonstrar que a intenção de Jesus era deixar claro a sua condição de único caminho de acesso ao Pai.
O caminho para o reino dos céus é expresso como sendo Jesus, a fé nEle derruba as barreiras do pecado e da morte e torna aberta a porta para o reino dos céus, é o caminho que leva à vida ( Mt 7:14). Ele é também a verdade e a vida. A realidade e a verdade de Deus estão encarnadas em Jesus Cristo. O audacioso apelo “ ninguém vem ao pai senão por mim se constitui um ato de coragem por parte de Jesus, e se não fosse de significancia , possivelmente Ele não teria dito. A exclusividade desta expressão não deve ser reduzida, num tempo aonde o pluralismo e sincretismo religioso chega a uma difusão acentuada este tipo de apelo nunca tende a ser popular. A exclusividade de cristo como salvador é a unidade de sua pessoa divina.
Dizer que Cristo é o único caminho para Cristo, não implica que todas as idéias das religiões não cristãs são de todo desprezíveis. Não cristãos podem chegar a conclusão que sua consciência estão aprovando seus atos, em termos de satisfação este ou aquele elemento da Lei de Deus encravado em seus corações, como Paulo reconhece em Rm 2:14. ( Milne, 1993 : p.212)
Após este episódio narrado por João, os outros evangelistas inclusive João registraram a trajetória de Jesus até a cruz e especialmente as entrevistas com Caifaz e Pilatos, nestes momentos Jesus ao ser inquirido a respeito de sua divindade e de enviado de Deus ( Messias) responde claramente segundo a narrativa de Marcos e de João que sim e segundo Lucas e Mateus devolve essa afirmação para seu inquiridor.
De uma maneira geral os evangelhos, e especialmente o evangelho de João procuram mostrar a Cristo como sendo o único caminho ao Pai. A exclusividade de Cristo é uma marca dos evangelhos que narram a vinda de um messias esperado, messias esse que era também de caráter exclusivo.
3.3 A Exclusividade de Cristo em João 14: 6
O argumento litarário mais forte nos evangelhos a respeito da exclusividade de Cristo parece ser o texto de Jo 14:6 Respondeu-lhe Jesus: “Eu sou o caminho e a verdade e a vida, ninguém vem ao Pai senão por mim...” A expressão foi uma resposta aos discípulos que pareciam atormentados com a possibilidade de o Senhor os deixar, mas foi mais direta a Tomé quando este lhe inquiriu “como podemos saber o caminho ? ”
Esta passagem traz consigo uma certeza para os discípulos de que eles não precisavam mais estar atormentados, porque ele mesmo era o caminho vivo e verdadeiro. Aqui são apresentadas duas razões para os discípulos , a primeira diz que Ele é o único caminho pelo qual se pode ir ao Pai. “ninguém vem ao Pai ...” o adv . oudeis , significa, nenhum, nada, ninguém e deixa claro que Ele é único caminho. Em seguida a conjunção ei , seguida da partícula de negação mn torna a expressão condicional . Esta condição se fortalece mais ainda quando a preposição usada di , traz consigo a idéia de através, usado como lugar ou meio em sentido condicional. A segunda é a afirmação de que conhecer Jesus significava conhecer também o Pai, eles eram portanto inseparáveis.
A passagem de Jo 14:6 poderia ter a seguinte tradução livre: legei : Vb Responder, responder de uma maneira positiva Respondeu autw : sing. masc. Ele mesmo Ihsouz : Jesus Egw : Pron. pessoal nominativo Eu eimi : Vb . imp. ser Sou h : art. fem. nom. a odoz : Adj. Caminho, estrada, sentido de acesso, entrada aproximação Kai : conj. e h : art. fem a aleteia : Subs. 1a declin. nom. Verdade, veracidade, em Jo 1:17 idéia de verdade Divina kai : conj. e h : art. fem a xwh: Vida, existência da vida, em Jo 5:39 fonte da vida espiritual. oudeiz : Adv. Ninguém , nada, nenhum ercetai : Vb 3a pes. sing. pres. ind. Vir, ir, passar. vem proz : Prep. para ton : art. masc. o patera : Acc. sing. Pai, usado para Deus como Pai ei : Conj. se mh : Part. de negação, não, que não di : prep. c/ gen. através, usado como lugar ou meio, idéia de condição emou : gen. sing. eu, mim
Desta maneira se torna mais claro que toda a sentença culmina com um afirmação condicional da forma: “ninguém vem para o Pai senão, a não ser que, venha através de mim”
Esta afirmação categórica de Cristo deixa claro que Ele mesmo, Jesus, tinha consciência de que era único e exclusivo, enquanto salvador da humanidade. Que fundou a sua igreja, que deveria ser uma em torrno desse pressuposto.
3. 2 A Exclusividade de Cristo nos Outros Escritos
O s outros escritos canônicos do novo testamento, a saber: as epístolas em geral, o livro dos Atos dos Apóstolos e o apocalipse não fazem diferente dos evangelho e procuram em todas as circunstâncias mostrar a Cristo como sendo o único caminho a Deus. Estas narrativas apesar de terem conotações diferentes do evangelho, seguem a linha dos mesmos e aparecem como sendo a continuidade da mensagem apostólica e mostra a preocupação dos mesmos com os ensinamentos que desde então já se começava a perceber, estava influenciando a igreja nascente.
Uma série sem fim de passagens ligadas aos outros escritos neotestamentários continuam portanto afirmando a exclusividade de cristo como mensageiro das boas novas de Deus e único caminho ao Pai. Seria difícil e desnecessário citar todas as passagens bíblicas que tratam desse assunto, mas podemos citar alguns textos que nos ajudaram a formar o nosso raciocínio. A primeira passagem mais importante a esse respeito, vejo registrada no livro dos Atos dos Apóstolos. No capítulo 4:12 está a narrativa de Pedro e João sendo levados ao sinédrio, quando são exaustivamente entrevistados a respeito de sua fé em Cristo. Sua resposta à insinuações de que Deus não estava em Cristo, são rebatidas pelos apóstolos Pedro e João com as seguintes palavras: “... não há salvação em nenhum outro, pois , debaixo do céu, não há nenhum outro nome dado aos homens pelo qual devamos ser salvos...”
O apóstolo Paulo e outros líderes escreveram através de suas epístolas diversos conselhos e admoestações a respeito de como não permitir que ensinamentos disvirtuados da centralidade e da exclusividade de Cristo impregnassem a igreja nascente que deveria permanecer una em torno dessa exclusividade . Paulo aos Corintios afirma que “ninguém pode colocar outro alicerce além do que já está posto, que é Jesus Cristo...” Aos de Éfeso ele afirmou “...Cristo Jesus nosso Senhor, por intermédio de quem temos livre acesso a Deus em confiança, pela fé nEle ...” Aos Romanos escreveu: “... Assim que como o pecado reinou na morte, também a graça reine na justiça para conceder vida eterna , mediante Jesus cristo nosso senhor...” O mesmo apostolo lembrou a Timóteo seu filho na fé que “há um só Deus e um só mediador entre Deus e os homens: o homem Jesus cristo, o qual se entregou a si mesmo como resgate de muitos...” I Tm 2:5. A mensagem dos apóstolos não é outra senão a de que Cristo é o único e exclusivo caminho para Deus e que Ele abriu a entrada ao santo dos santos pelo seu sacrifício expiatório e com isso concedeu a liberdade de também aí entrarem os que crêem em Sua obra. Esta ênfase no papel de Cristo como mediador esta patente em diversos trechos da epístola aos hebreus. ( Cf. 8:6 ; 9:15 ; 12:24 ).
Da mesma forma a mensagem do livro de Apocalipse, a revelação final, mostra a presença de Jesus o Cordeiro de Deus com toda a autoridade que lhe foi dada pelo Pai, aí também Jesus é a figura central e detentor da exclusividade do poder de ser chamado filho de Deus, Ele é quem salva, Ele é quem liberta, Ele é o messias de Deus.
Baseados nestas passagens, tanto do evangelho como de outros escritos canônicos, o argumento da exclusividade de Cristo como acesso ao Pai pode ser considerado como irrefutável, não há como negar, baseados nestes textos que esta não é a mensagem central tanto do evangelho, quanto da igreja primitiva e de suas lideranças mais expressivas.
Por outro lado a unidade da igreja neotestamentária presupunha a unidade em torno da doutrina e da tradição apostólica, concorria para a unidade da igreja a aceitação apenas de pessoas e documentos que tivessem o “crivo apostólico”. O ensino de doutrinas estranhas à fé evangélica levava a liderança da igreja a exigir a recomendação apostólica. O apostolo Paulo parece desabafar aos Corintios sua decepção quando estes lhe pedem uma carta dos apostolos ao que responde “vóz sois a nossa carta...” ( 2 Co 3:2) . O Didaquê , também chamado de o ensino dos doze apóstolos traz várias recomendações a respeito da aceitação de pregadores intinerantes como precaução a infiltração dos chamados Falsos mestres, especialmente do, chamado gnosticismo tão combatido pelo próprio Paulo e por outros lideres da igreja ( Cf 2 Pe 2:1-6 ; Ju 1:4 ) desta forma podemos observar que a unidade da igreja estava fundamentada na exclusividade de Cristo e de sua mensagem como elemento salvífico para toda a humanidade.
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