O MOVIMENTO ECUMÊNICO NA ATUALIDADE E A UNIDADE DA IGREJA EM EFÉSIOS 4:1-6


5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Não poderíamos deixar de tecer algumas considerações finais a respeito deste assunto que em si já nos parece bastante amplo e dificilmente seria esgotado em um trabalho desta envergadura. De qualquer forma é importante neste momento discutirmos as diversas faces do tema e compará-las, tanto entre si, quanto analisar as posições colhidas de pessoas de diferentes credos denominacionais.
Poderíamos levantar a seguinte questão : Ecumenismo existe ? Se existe, como interpretá-lo e em que está firmado este movimento. As reações em relação ao movimento ecumênico são das mais variadas. Para uns o problema mais sério é o que se relaciona com as ordens sacerdotais com a crença de seu grupo religioso na sagrada sucessão apostólica, para outro grupo o problema pode ser o das imagens e esculturas nos templos, para outros ainda pode ser as questões de usos e costumes como o que usar, o que comer, o que dizer etc. O povo de Deus vai se dividindo em questões , na maioria das vezes secundárias, formando pequenos grupos, reinos isolados e lamentavelmente na prática observamos que quando se reúnem podem discutir de tudo, com profundidade, mas não é conveniente que se vá muito afundo nas questões ligadas ao Reino de Deus porque as dissenções logo aparecem.
Por outro lado, observamos também que hoje em muitos casos se pratica um ecumenismo de cúpula, clericalista e que na realidade não tem qualquer implicação na vida dos fiéis dos diversos grupos envolvidos. Não são raras as notícias de hostilidades praticadas tanto por leigos quanto por clérigos de igrejas filiadas ao CONIC por exemplo. Celebrações são proibidas, sacramentos são rejeitados etc.
Se pudermos observar pelo exemplo das Sagradas Escrituras, vamos perceber que em todas as ocasiões em que o povo de Deus se dividiu em defesa de seus interesses pessoais enfraqueceu e perdeu a luta contra seus inimigos.
A necessidade de se buscar a unidade , como já pudemos observar vem dos ensinamentos do próprio Cristo, mas a resistência de muitos em aceitar estar em diálogo com pensamentos diversos tem feito do movimento ecumênico uma expressão muito inferior ao que ele poderia ser. O Conselho Mundial de Igrejas é hoje, mal ou bem, a maior expressão de unidade e tolerância dentro da cristandade. Muitas críticas têm sido feitas ao CMI, e talvez algumas dessas procedam, mas a grande verdade é que a intolerância tem marcado alguns segmentos da igreja cristã de tal modo que os impede de estender a mão para a busca de uma caminhada em comum.
O CMI tem sido criticado por posições teológicas, políticas, eclesiásticas e institucionais. Já durante sua formação e antes da assembléia inaugural em 1948, 58 igrejas protestantes (consideradas mais conservadoras) formaram o Conselho Internacional de Igrejas Cristãs para estarem em oposição ao CMI . A maior parte destas denominações se negam a participar do CMI pela flexibilização em relação à Igreja Romana. Outras denuncias foram feitas na década de 70 com relação ao financiamento de guerrilhas de esquerda em algumas áreas do mundo, sem o conhecimento das mesmas. Esta questão que passa pela interpretação de alguns críticos de que existe o perigo da radicalização Leste - Ocidente que estaria introduzindo um fator ideológico de divisão e, assim, deformando a verdadeira natureza religiosa do movimento ecumênico. Para Bonino (1982: p140) seria ingênuo negar o impacto do conflito ideológico e das tensões Leste - Ocidente sobre o movimento ecumênico - como em qualquer organização mundial- mas não seria difícil mostrar, simplesmente na base do atual andamento dos debates e votações que o mencionado confronto entre Leste e Ocidente não representa a principal linha de divisão presente . Aqui mesmo no Brasil, na década de 80 posseiros de terra acusaram o apoio do CMI aos direitos de posse dos indígenas como sendo uma conspiração com interesse dos americanos em violar a soberania nacional. da mesma forma criticas têm sido feitas quanto a natureza e ao entendimento do que seja evangelização, afirmam os críticos que a ênfase social do CMI obscurece a proclamação verbal do evangelho e em outros casos as críticas são em relação a abertura para o diálogo interreligioso existente no CMI. Muitos não aceitam o que eles chamam de tendência a catolicização , enquanto que muitos ortodoxos afirmam estarem insatisfeitos com as ênfases protestantes do CMI.
Estas e outras posições têm ocorrido e de alguma forma contribuído para a não aceitação do CMI por outras denominações. Na realidade a não aceitação do CMI vem de uma origem sectária e divisionista que marca a cristandade. A maior dificuldade quando falamos de unidade é que a grande maioria dos envolvidos entende unidade como sendo uniformidade. A proposta do CMI tem sido de uma unidade conciliar onde cada igreja membro preserva suas particularidades, que na grande maioria das vezes são aspectos secundários. Talvez o que mais contribua para estas posições seja a desinformação, além das questões regionais e culturais uma vez que em alguns casos igrejas irmãs, ou seja do mesmo grupo denominacional são membros ou não dependendo do seu país de origem .
Alguns teóricos e críticos falam de unidade, mas questionam que tipo de unidade servirá à igreja hoje? Tiel (1990: p 42) considera que existem alguns modelos de unidade, ele considera que alguns podem ser chamados de “ modelos de evasiva” esses são aqueles que vivem em reuniões, cafezinhos, jantares , religiosos e membros de comunidade se convidam mutuamente para estarem juntos, havendo no geral, um bom entendimento . podemos até reconhecer que isso é positivo de alguma forma, é melhor do que nada, mas nestes casos não vai ate as questões mas profundas e às contradições, é um ecumenismo da boa vizinhança.
O segundo modelo segundo Tiel, é o modelo da unidade meramente espiritual, é uma posição a-histórica e não corresponde à igreja como estrutura histórica completa, espera-se aí , uma unidade para o final dos tempos. Até lá , assim se supõe a unidade estará presente de forma invisível apenas como “laço espiritual” que congrega a todos os cristãos espiritualmente. Tiel considera que toma-se uma posição unilateral ao fator espiritual que acaba por inibir a realização visível da unidade através de uma forma eclesiológica concreta. Da mesma forma Tiel considera modelos de evasiva os “diálogos” a forma de diálogo não pode ser vista como meta ecumênica, por mais importante que sejam os diálogos bilaterais e multilaterais isso não pode representar o fim em si mesmo. Apesar de que o caminho da unidade não seja possível sem diálogo, este por si só, não representa a unidade. Normalmente estes diálogos são realizados por teólogos especialistas, com exclusão dos membros das comunidades, e tem como, consequência a não aceitação pelas bases.
Concluindo cita que existe ainda um modelo chamado “unidade na ação” aqui desiste-se de toda e qualquer questão doutrinária, a opinião é que a unidade se concretiza na forma de lutarem juntos por uma causa comum... a mera prática sócio-política sem consideração dos antagonismos eclesiológicos e doutrinários, não faz outra coisa senão omitir a pergunta pela unidade da igreja, desviando-se assim da tarefa essencial, mas nem por isso deixa de ser positivo, apenas não representa a unidade da igreja.
Existem ainda diversos modelos de unidade, utópicos ou alcançáveis. Para uns a unidade significa retorno à igreja mãe, para outros aceitação mútua de sacramentos e ministérios, enquanto que para outros a unidade ira sempre contemplar a grande diversidade de credos e posições , além de ritos, práticas e costumes. Posição que ganha mais adeptos hoje é a chamada unidade conciliar. Algumas de suas características são: A unidade deve surgir de baixo para cima, a partir das igrejas locais, a renovação ocorre por baixo e a unidade deve ser estabelecida em todos os níveis da vida eclesial. Não prima pela uniformidade, e ressalva as diferenças confessionais ainda que antagônicas e diversas.
Quando falamos de ecumenismo , para muitos estamos andando em um campo pantanoso, existe de alguma forma um determinado pré-conceito em relação a este assunto por parte de um grande número de cristãos.
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