Depois de alguns trabalhos variados, como Sea Hawks e Sheena, rainha da selva, Eisner teve a idéia de criar um personagem completamente novo para as séries de domingo, não apenas mais um super herói de uniforme colorido, mas alguém que nem mesmo usaria roupas especiais para lutar contra os criminosos. Ele se vestiria à paisana, usaria uma máscara (a qual, anos depois, Eisner confessaria odiar desenhar) para ocultar sua identidade, um chapéu, luvas e... nada mais que pudesse identificá-lo como um combatente do crime.
The
Spirit era uma história muito incomum. Denny Colt, sua
identidade secreta, vivia num cemitério, tendo por fiel assistente
um jovem negrinho, o pobre Ebony White. Ele não tinha poderes
especiais nem apetrechos para ajudá-lo; ele não tinha nem
mesmo um veículo próprio. Seu cartão de apresentação
era uma pequena lápide e ele não vencia sempre ao final das
histórias... The Spirit poderia ser definido como um cidadão
comum lutando por seus direitos; sua vida era um pouco mais animada apenas
porque... ele era um personagem de quadrinhos.
Formalmente, The Spirit era uma revolução na linguagem dos quadrinhos. Eisner explorou cada possibilidade e esgotou o uso de cada elemento das histórias em quadrinhos: o balão, as letras, a caricatura, os títulos, a perspectiva, o texto, a seqüência, a página de abertura, etc. Todos os episódios começavam com um logotipo novo e diferente para The Spirit, que se misturava com o cenário de fundo. E isso acontecia na infância dos quadrinhos, o que é mais relevante. Entre as influências de seu trabalho, alinham-se Milton Cannif (Terry e os Piratas), George Herriman (Krazy Kat), Hal Foster (Príncipe Valente), gênios que merecem hoje o mesmo reconhecimento que Eisner.
O
tema dos contos semanais evoluía do mero imbroglio de super-herói
aos mais sofisticados roteiros, até o limite em que The Spirit,
o personagem que dava nome à história, era apenas um figurante.
Eisner usava as 7 páginas para contar dramas humanos, ilusões
pessoais, pequenos romances, coisas que aconteciam na vida cotidiana de
qualquer cidadão da cidade grande, misturadas com situações
extraordinárias, típicas de gibi. O garoto que descobre que
pode voar. Um mensageiro que morre no meio de uma guerra de gangues.
Uma visita de alienígenas. Uma aventura no deserto, outra
no Pólo Norte, outra no Faroeste. Um assassino que
planeja seus assassinatos numa máquina de escrever. Anúncio
de rádio. Histórias de fantasmas. Tudo parecia caber naquelas
sete páginas, e cabia muito bem.
The
Spirit começou em 1941. Em 1943 Eisner foi convocado
para a guerra, e a história continuou com a ajuda de seus assistentes,
Jules Feiffer, Lou Fine, Andre LeBlanc, Jack Cole.
Em 1946 retomou seu trabalho, ainda com ajuda deles, e terminou em 1952,
quando passou a dedicar seu conhecimento sobre quadrinhos em outro meios:
publicidade, story board, educação. Nas décadas de
60 e 70, esteve ensinando em escolas de Arte, e no final dos anos 70, ele
decidiu voltar à sua mais famosa ocupação.
Quase um romance em quatro partes, mas graficamente narrada, , Um Contrato com Deus foi o que ele escolheu chamar graphic novel, um termo que seria muito famoso anos depois. Totalmente diferente de seus trabalhos anteriores, Um Contrato com Deus conta a vida de alguns habitantes em um cortiço no Bronx, próximo da vizinhança onde Eisner realmente viveu. Um cantor de becos; os feriados longe da cidade; o síndico; o tal contrato com Deus.
O Contrato é o marco do novo período na carreira de Eisner. Um monte de graphic novels vieram depois, primariamente centradas nas suas memórias do Bronx e da sua vizinhança. A Life Force, sobre o jeito que as pessoas deram para viver durante a depressão, nos anos 30; Um Sinal do Espaço, um conto de ficção científica sobre guerra fria, política, espiões e um suposto contato alienígena; O Edifício, a vida de 4 pessoas e como ela se ligava a um único prédio; ; The Dreamer, sobre seus anos como artista iniciante, com várias menções às pessoas que trabalharam com ele; Ao Coração da Tempestade, seu ensaio autobiográfico; Invisible People, sobre aquelas pessoas que se perdem na multidão; Dropsie Avenue, sobre a evolução dessa vizinhança ao longo desses anos, e muitos outros, publicados pela Kitchen Sink Press.
Obra mais maduras e densas, para serem lidas com cuidado. Eisner pode transmitir completamente os sentimentos da era da depressão, as dificuldades de ser um judeu nos EUA, as fofocas da vizinhança, nostagia, brincadeiras de crinças, vida urbana. Seus quadrinhos são tão informativos quanto qualquer bom livro, e a arte nada deve aos melhores artistas do campo. Eisner sempre trabalhou em branco e preto, exceto em Um Sinal, colorizado por Andre LeBlanc. Suas páginas não precisam de cor, embora ela já tenha experimentado com efeitos de aerógrafo e aquarela em... p/b.
Will Eisner nasceu em 1917, e já passou de seus 80.