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"Se o homem vive na ilusão de que pode fazer
o que lhe apetece sem que nunca venha a sofrer as conseqüências de seus atos, logo compreenderá que esses atos, quando não nobres e nem puros, só lhe poderão acarretar sofrimentos"

Buda

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Li hoje, 22/10/1998, este texto do Mário Prata, um cara gozador pra caralho e que descobri, nesta crônica, ser um humano de uma sensibilidade imensa.

A garota de Betim

     Foi em Betim, ali, perto de Belo Horizonte, que o fato se deu. Foi na sexta-feira e, no sábado, estava nos telejornais. Com destaque.
     Um bandido foge da polícia, a pé. Os policiais atiram. Uma bala acerta a barriga do fugitivo. Sangue, muito sangue. Reunindo suas últimas forças, ele invade uma casa. Estamos num bairro pobre da cidade industrial. Dentro, a mãe de quatro filhos, com os quatro. Todos pequenos. Um de colo, um de um ano e meio. A mais velha - a garota de Betim - tem 6, 7.
    Os policiais cercam a casa. Armas pesadas, helicópteros. Chega a imprensa, a televisão. Luzes, negociações. Negociações que iriam durar cinco horas. Cinco!
     O bandido libera a mãe e os filhos maiores. Mas fica, usando como refém e escudo, com o caçula de um ano e meio.
Pára o bairro, pára a cidade. Belo Horizonte acompanha, ao vivo, o desenrolar do filme brasileiro. Dentro da casa, longe das câmeras, o bandido está com uma arma encostada na barriga da criança. A criança a gritar "mamãe, mamãe". Fora, mamãe chora, prevendo o pior. Fora, mesmo na agonia, a mãe nota a ausência da filha mais velha, aquela de 6, 7 anos. Dentro, o sangue desliza pela cama e pinga no chão de cimento.
    O que ninguém sabia: a garota de Betim estava também dentro da casa.
     Mais precisamente debaixo da cama. Da mesma cama onde o bandido, apontando a arma para o irmãozinho, discutia com a polícia. A garota de Betim mal respirava, diria depois.
    O sangue jorra da barriga do bandido. Entra um policial disfarçado de enfermeiro e aplica uma injeção nele. Era um sonífero, o bandido cai, dormindo, na cama. A polícia entra, salva o pequeno refém. O bandido estaria morto, logo depois.
     E a garota de Betim entra em cena saindo do seu esconderijo. Durante cinco infindáveis horas, ela ficou lá quieta. Nem um pio, como se diz em Minas, uai.
     Luzes nela. É a heroína. Dá entrvistas. Conta as cinco horas de pavor imóvel. E diz: "Não fiz nenhum barulho porque tinha medo que ele me descobrisse e matasse o meu irmão."
     O medo não era dela ser morta. Mas o irmão.
     Essa garota, a garota de Betim, me emocionou. Sozinho em casa, sábado de noite, surpreendo-me com aquelas gotas paralelas a escorrer no meu rosto. O Brasil tem jeito, pensaria, logo depois, ouvindo a campanha do Duda Mendonça para governador.
     A garota de Betim, nesta semana que antecede o segundo turno, tenho certeza, não sabe quem são azeredos ou itamares ou itapiores, como diriam os irmãos Caruso. A garota de Betim não sabe quem são aquelas covas e muito menos quem é o novo governador de São Paulo, o Duda Mendonça.
     A garota de Betim não sabe nada do jogo da política. Ela só conhece o jogo da vida. E da morte.
     O que será que não se passou na cabeça dela durante aquelas cinco horas de horror? Imagine-se, você, no lugar dela. A gritaria que ela ouvia lá debaixo. O homem dizendo que ia matar o bebê. Ela, quieta. Não por ela, mas por alguém que ela ama.
É, parece que vem por aí uma nova geração de brasileiros, porque a atual não deu jeito mesmo. A atual está viciada. A atual acha normal a corrupção, o voto útil, a sonegação. Na atual, irmão entrega irmão para a capa de Veja. A atual suborna, trai, está vendida.
     Ali, debaixo daquela cama de Betim, pra mim, nasceu um novo Brasil. Um Brasil honesto, humano, solidário. Esperto, inteligente. Sem grana, mas com a maior dignidade.
     No momento que escrevo isso aqui, a garota de Betim deve estar na escola, no primeiro ano primário, contando a sua aventura para as colegas, pobres como ela. Mas virgens, puras, novas. Elas sabem que bem perto delas, está o bandido. E elas sabem enfrentar o bandido.
     Pena que ela não seja candidata a nada. Ou melhor, ela é candidata a ser uma brasileira maravilhosa. Pobre, corajosa e com um coração imenso. Como, aliás, a grande maioria das mineiras e brasileiras.
     Ali debaixo daquela cama, tinha uma pessoa extraordinária.
Choro por ela e pelo meu Brasil que, um dia vai sair debaixo da cama. Preocupado com seus irmãos e não com o próprio umbigo.

Fantástico, não? Mas não merece aqui uma (ou várias) perguntas: o que levou esse homem a ser um bandido? O que ele fez para estar sendo julgado como um bandido? Quais as circunstâncias que o tornaram um bandido? Culpa de quem?

A moeda sempre tem dois lados.

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