A MEDITACÃO
COM ICONE
1) O que é
um ícone?
Deriva da palavra
grega EIKÓN, ou seja - IMAGEM - não com sentido que se aplica
a qualquer imagem mais específica a um tipo de arte de conteúdo
Sacro, obedecendo a uma estrutura própria onde cada linha cor, forma,
composição, cada traço adquire um sentido.
Em geral é
feito:
. sobre pranchas
de madeira de lei, tamanho médio de um quadro para facilitar sua
transposição nas liturgias e procissões;
. em afrescos
e mosaicos de grandes dimensões nas Igrejas e Basílicas da
antigüidade cristã
. com uma técnica
particular segundo uma tradição transmitida através
dos séculos.
. a pátria
do ícone é o Oriente que, com desvelo, conservou obras-primas
artísticas de grande valor espiritual para nós.
2) Arquitetura
dos Ícones
A arquitetura
que aparece nos ícones surpreende - não considera as proporções.
- Portas e
janelas - se encontram em lugares estranhos com dimensões desusadas.
- Mundo vegetal
e animal - são representados por simples alusão, em formas
estranhas.
- Corpo humano
- suas proporções não preocupam o iconógrafo:
- rosto mais
bronzeado que o normal - quer exprimir a realidade espiritual do homem
transfigurado.
- faces - descrevem
a presença divina no humano.
- olhos grandes
- dilatados pela contemplação e para a contemplação
- fixam o além ou a humanidade
. fronte -
larga e alta - acentua também a predominância do pensamento
contemplativo.
. orelhas e
bocas minúsculas - lembram nada ouvir, nada dizer.
. olhar - é
sempre muito vivo - é nele que se descobre a imagem de Deus no homem.
. mãos
- abençoam, rezam, apontam para Deus.
. rosto adulto
do Menino-Deus simboliza o Eterno, o Emanuel.
3) Cores -
são simbólicas
Vermelho, púrpura
- a glória, amor-vida
Azul - santidade,
divindade
Verde - terra
humildade, esperança
Ouro - glória
da divindade
Branco - abertura
ao Espírito
Amarelo - realidade
divina
Marron - humanidade
4) Leis da
perspectiva
As leis da
perspectiva são inversas - as linhas não se encontram, num
ponto, no fundo da pintura, mas se encontram num ponto de frente. As linhas
de força saem do interior do ícone em direção
ao espectador. A cena ou figura representada, projeta seus raios em direção
daquele que a contempla. O importante não é a cena em si,
mas a comunhão com o observador.
5) Inscrição
Concluído
o ícone, ele deve ter inscrito o nome daquilo que representa. A
inscrição é feita em grego, eslavo, árabe,
etc.
Ex.;
Mãe de Deus: MPØy.
Jesus Cristo:
ICXC
Santo: AGIOS
6) O iconógrafo
- É aquele que pinta um ícone. O pintor do ícone,
deve ser:
. humilde, . dócil,
. piedoso, .
pouco falante,
. não zombador, . não
briguento, . não invejoso,
. não beberão, . não
gatuno.
Deve conservar:
a pureza da alma e do corpo.
O pintor se
preparava para pintar um ícone com verdadeiro processo ascético:
oração, silêncio, jejum, sacrifícios. Não
se preparava para expressar seu próprio ideal estético sobre
a imagem que havia de pintar, mas sim para ser fiel instrumento de expressão
do próprio Espírito de Deus. O artista tinha consciência
de ser instrumento e por isso rezava antes de pintar.
"Tu Senhor
e Dom divino do que existe, ilumina e dirige a alma, o coração
e o espírito deste teu servidor. Guia minhas mãos para que
possa representar digna e perfeitamente, tua imagem, e de tua Santa Mãe
e dos Santos. Para a glória, alegria e embelezamento da tua Santa
Igreja".
7) Fundamento
do Ícone: A Encarnação
O ícone
faz parte das mais antigas tradições da Igreja Católica
e remota aos primeiros séculos da fé cristã.
O ícone
não é apenas gravuras de temas ou relatos bíblicos.
Do mesmo modo que os teólogos que desenvolveram a interpretação
das Escrituras viram no texto escrito muitos níveis de verdades
diferentes, ao abordarmos os ícones precisamos estar conscientes
dos diferentes níveis de verdade presentes neles. Os temas dos ícones
são determinados por regras estabelecidas pela Igreja Ortodoxa -
o ícone revela a realidade espiritual que está além
de toda expressão verbal.
No Antigo Testamento
encontramos uma série de proibições de se fazer qualquer
imagem ou representação de Deus (Dt 4,12 e 15). Aos poucos
Deus vai preparando o seu povo para a revelação de seu Filho.
A hora do nascimento terreno do Filho de Deus é a hora do nascimento
do ícone: Jesus Cristo. Cristo é a imagem (eikon) do Deus
invisível.
São
João Damasceno, teólogo poeta, explica a superação
da proibição da Escritura de se representar o Deus invisível.
"Quando virmos aquele que não tem corpo toma-se homem por nossa
causa, então poderemos executar a representação de
seu aspecto humano. Quando o Invisível, revestido de carne, toma-se
visível, então representa a imagem daquele que apareceu...
Quando aquele que é Imagem Consubstancial do Pai despojou-se, assumindo
a imagem de escravo (Fìl 2,6-9), tomando-se assim limitado por se
ter revestido da imagem carnal, então pintamos... e expomos à
vista de todos aqueles que quis se manifestar. Pintemos o seu nascimento
da Virgem, o seu Batismo no Jordão, sua transfiguração
no monte Tabor, pintemos tudo com a palavra e com as cores, os livros e
na madeira". Doravante serão possíveis também os ícones
da Mãe de Deus - são chamados ícones da Encarnação.
Serão
possíveis os ícones dos Santos, porque assumindo a natureza
humana o Filho de Deus renova no homem a sua imagem. Cristo abre para o
homem o caminho da transfiguração pela graça.
Assim o ícone
transmite verdadeiramente a imagem do homem purificado, transfigurado,
de uma pessoa humana transformada em ícone vivente de Deus.
8) Condições
para meditar com o ícone
Meditar com
ícone:
. não
é um trabalho discursivo de considerações e reflexões.
. consiste em uma aplicação do espírito sobre o ícone,
de maneira a penetrá-lo e deixar-se penetrar por ele. A atenção
se concentra em uma única coisa suprimindo-se toda consideração
interior e agitação dos desejos. Esta meditação
que leva à profundidade supõe duas atitudes:
a) Aprender
a concentrar-se. - Reunir todas as forças em um ícone determinado.
Apaziguar o espírito. Não resistir as distrações.
Deixá-las ir e vir sem opor-se a sua existência.
b) Aprender
a olhar e fazer silêncio - Fixar o ícone evitando toda verbalização
interior. Silencie... elimine tudo que possa interpor-se entre você
e o ícone observado.
Fixar assim
o olhar, ver desta forma constitui um verdadeiro estilo de vida que pode
modificar suas relações com as coisas, as pessoas e os fatos. |