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Entrevista com Steve Jones
Entrevista com os Sex Pistols
Entrevista com Vivienne Albertoni (ex-namorada de Jones)
Entrevista com Glen Matlock
09/11/96
Autor: LÚCIO RIBEIRO
Copyright 1996 Empresa Folha da Manhã
O guitarrista Steve Jones, dos Sex Pistols, fala à Folha antes de vir ao Brasil para o Close Up Festival, no dia 29
Vinte anos depois de mudar a história da música, a banda punk Sex Pistols vem ao Brasil no final do mês para mudar a história dos megashows do país.
O grupo inglês chega como a grande atração do festival Close Up Planet (dia 29 no Rio e 30 em SP), que será realizado nos moldes dos principais eventos do rock mundial, como o Reading Festival (Inglaterra), o Lollapalooza (EUA) ou o de Roskilde (Dinamarca).
Dois palcos que abrigarão shows simultâneos, totens multimídia que conectarão o público à Internet e um shopping com lojas de roupa, CD, comida e games. Esse esquema, embalado ao som de bandas como Bad Religion, Silverchair, Cypress Hill e Spacehog, pode colocar o Brasil definitivamente na rota da música alternativa.
Isso se os Pistols não estragarem tudo. "Acho um saco tocar em grandes festivais. Prefiro dar show em lugares menores, para um público que está ali especialmente para nos ver. Mas estamos sendo bem pagos, afinal", disse à Folha o lendário guitarrista Steve Jones, da banda que teve Sid Vicious e tem Johnny Rotten, Paul Cook e Glen Matlock.
Em meio a shows no Japão, pela turnê assumidamente caça-níqueis "Filthy Lucre", Jones mostrou, durante a entrevista, que não tem muita coisa a dizer hoje em dia, assim como os Pistols não têm muito mais a dar ao rock.
Mas, quando a banda entoar ao vivo, no Rio e em SP, os hinos "Holiday in the Sun", "God Save the Queen" e "Anarchy in the UK", isso não vai ter a menor importância.
Folha - Você veio ao Brasil no verão de 1978, com o baterista Paul Cook, época em que os Pistols já estavam no fim. Ficou alguma lembrança do país?
Steve Jones - Não muita. Lembro que foi divertido. Ficamos apenas alguns dias no Rio. Era Carnaval, tinha a praia. Deve estar tudo mudado hoje, não?
Folha - Vocês vieram para visitar o Ronald Biggs (Ronnie Biggs, o famoso assaltante do trem pagador inglês, que fugiu para o Brasil e vive desde 1970 no Rio)?
Jones - Tínhamos um show marcado para o Rio, mas a banda estava acabando e não rolou. Aproveitamos as passagens de avião e viemos visitar o Ronnie Biggs. Era um sonho nosso.
Até compusemos uma música juntos (Biggs canta em "No One Is Innocent", do antológico álbum "The Great Rock'n'Roll Swindle", de 1979).
Folha - Vocês pretendem visitá-lo de novo?
Jones - Não, mas tenho certeza de que ele irá nos ver.
Folha - Aqui no Brasil vocês vão tocar em um festival com Silverchair, Bad Religion, Cypress Hill e Spacehog. É uma boa escolha de bandas, na sua opinião?
Jones - Acho um saco tocar em grandes festivais. Prefiro lugares menores, tocar para um público que esteja indo ver os Sex Pistols. Mas estamos sendo bem pagos.
Folha - Quais os planos dos Sex Pistols para depois da turnê "Filthy Lucre"? Vocês vão gravar algum disco com músicas inéditas?
Jones - Não. Quando a turnê acabar, os Sex Pistols não vai existir mais.
Folha - Como está sua banda fora dos Pistols, a "Neurotic Outsiders" - Jones, John Taylor (Duran Duran), Duff McKagan e Matt Sorum (ambos do Guns N'Roses)?
Jones - Meio parada. Estou ganhando mais dinheiro com os Pistols no momento. Lançamos um grande disco neste ano, mas não tenho tempo de divulgá-lo.
Folha - Quais as bandas que você ouve hoje em dia?
Jones - Gosto de grupos como o Stone Temple Pilots. Você conhece? Gosto também do Weezer.
Folha - Você cita só bandas norte-americanas. Como você vê atualmente a cena musical inglesa, o britpop?
Jones - Gosto muito do Oasis. É uma grande banda. Gosto também do Blur.
Folha - O que você acha do chamado "novo punk"? Na sua opinião, bandas como Offspring, Green Day e Rancid merecem carregar a bandeira do punk rock?
Jones - Não. Eles não são punks. São bandas pop. Não têm atitude. A atitude que eles mostram é cópia de bandas antigas, não é natural.
Folha - Por tudo o que a banda representou para o rock, você não se sente estranho em voltar para o palco agora, para tocar apenas velhas canções? Vocês ainda têm alguma coisa a passar para o rock ou são apenas uma espécie de Rolling Stones?
Jones - Não me sinto estranho. Não sinto nada. A única mensagem que temos para passar é a de que os Sex Pistols são a "coisa real". Somos a melhor banda punk... Esqueça o punk, isso não existe mais. Somos a melhor banda de rock de todos os tempos.
Folha - Então você concorda com o Johnny Rotten, que costuma dizer que os Sex Pistols são mais importante para a história da rock do que os Beatles?
Jones - Não. Ambos foram importante, mudaram os rumos da música cada um a seu jeito.
Folha - Joey Ramone disse que, embora goste da banda, a volta dos Sex Pistols é um acontecimento ridículo, absurdo. O que você tem a dizer sobre isso?
Jones - Joey Ramone é um idiota. A banda dele é "fucking" estúpida.
Folha - Você pode adiantar como vai ser o show no Brasil? Vocês têm mudado alguma coisa na turnê, desde o dia em que vocês começaram em Londres até agora?
Jones - Não. Vai ser a mesma merda de sempre. Mas, para vocês que nunca viram os Sex Pistols ao vivo no Brasil, não deixa de ser uma grande novidade.
26/08/96
Autor:MARCEL PLASSE
Copyright 1996 Empresa Folha da Manhã
O Brasil pode continuar sem temer terremotos. Nem Los Angeles tremeu. Os Sex Pistols, que tocam em São Paulo no dia 3 de dezembro, estão em fase de tempo bom.
Depois de um tratamento de estrela de Hollywood, no seu primeiro show na Califórnia desde janeiro de 1978, quando a banda acabou, os Pistols decidiram abrir os camarins para mais adulação.
Aos Pistols o que é dos Pistols. Fama, reverência, dinheiro. Até mulheres. Sim, o quarentão Steve Jones ainda faz pose de galã ao ser assediado por adolescentes.
Paul Cook tem sempre o que dizer a músicos de bandas iniciantes. Mas poucas palavras para a imprensa. "Escreva o que quiser", chegou a responder à Folha, fugindo da entrevista.
Glen Matlock não tem esse problema. Talvez por isso tenha sido expulso da banda, em 1977, e substituído pelo revoltado Sid Vicious. Sorridente, ele até posa para fotografias.
É o oposto de John Lydon. O homem das respostas ácidas, Johnny Rotten, nem saiu de seu camarim. Muitos boatos, que todos aumentam, sobre problemas de relacionamento entre a estrela e os outros integrantes.
Como a carreira individual de nenhum dos Pistols anda boa _a banda de Jones, Neurotic Outsiders, acaba de ser destroçada pela imprensa americana_, os Pistols continuam na estrada. Mas já circulam notícias sobre um disco solo de Lydon.
A Folha falou com os Sex Pistols nos camarins do Universal Amphitheatre.
Folha - Você credita à nostalgia o sucesso da turnê?
Glen Matlock- Nostalgia do quê? De uma época em que não ouviam o que tocávamos, diziam que éramos ruins e que nossos shows eram uma droga? Acho que você pode chamar isso de nostalgia, romantismo ou hipocrisia.
Folha - O fato de o show ter som perfeito e ser bem tocado não é uma traição à história?
Matlock - Você achou que a gente ia tocar mal, não é? Todos esperam. Está certo que a gente ensaiou, se preparou, mas, pelo menos no meu tempo, sempre fizemos isso. Punks eram as aparelhagens de som que nos davam para tocar e o público bêbado e idiota.
Folha - A turnê está servindo para reescrever a história dos Pistols?
Matlock - Talvez. Pelo menos, as perguntas sobre Sid Vicious têm diminuído consideravelmente.
Folha - E sobre Malcolm McLaren?
Paul Cook - Quem é Malcom McLaren?
Folha - Já existem planos sobre o que vai acontecer depois do fim da turnê?
Steve Jones - Bem, a gente ainda tem que tocar na Austrália, no Japão e na América do Sul. Isso vai nos manter ocupados até 97. Tem muita coisa para acontecer. E, com esta banda, tudo costuma acontecer.
Folha - As casas cheias não fazem vocês considerar a gravação de músicas novas? Já pensaram em virar uma banda permanente?
Jones - Tentamos não pensar. Não temos nenhum plano, realmente.
Folha - Vocês imaginavam que tinham tantos fãs?
Jones - Sempre fomos odiados. O que é uma ironia, porque também sempre recebemos propostas indecentes para reformar os Pistols e fazer um show. Isso nunca fez sentido. Agora, faz. Sabemos bem quem nos odeia _nos odiavam antes e nos odeiam agora.
Folha - Por que voltar agora, após recusar tantas propostas?
Jones - Pergunte isso para John e espere a resposta.
Folha - The Clash vai voltar depois do sucesso de vocês?
Paul Cook - Não seria surpresa. Eles sempre nos seguiram, fazendo tudo o que fazíamos.
Folha - Vocês vão tocar no Brasil "No One Is Innocent" (que gravaram com Ronald Biggs no Rio)?
Paul Cook - Não.
Folha - Por que não tocaram "No Fun", que estava prevista, no bis em Los Angeles?
Glen Matlock - Porque não gostamos do público dessa noite.
25/04/96
Autor: THALES DE MENEZES
Copyright 1996 Empresa Folha da Manhã
Garota acompanhou em 1976 a primeira turnê do punk rock
Ex-tiete dos Sex Pistols diz que volta do grupo é 'prostituição'
Os Sex Pistols já estão ensaiando para a turnê de retorno do grupo, que começa daqui a dois meses.
Maior banda do explosivo movimento punk, o quarteto retoma a formação original da primeira turnê que fez, em 1976. No entanto, os Sex Pistols mudaram muito.
Quem diz é Vivian Albertine, 43, montadora de documentários na BBC. Ex-guitarrista do grupo punk de garotas The Slits, ela acompanhou os Pistols em seus shows e namorou o guitarrista Steve Jones.
''É absurdo pensar que esses senhores de 40 anos estão ensaiando aquelas canções. São as canções mais simples do mundo'', disse Albertine em entrevista exclusiva à Folha, por telefone, de Londres.
Longe dos palcos (''nunca toquei grande coisa''), ela relutou um pouco mas concordou em falar sobre seus tempos de ''groupie'' (a fã enlouquecida, chamada no Brasil de tiete).
Folha - O que você acha da volta dos Sex Pistols?
Vivian Albertine - Um lixo. Qual a razão? Dinheiro? Cara, tem certas coisas que não se faz por dinheiro. A volta dos Pistols é, certamente, um ato de prostituição.
Folha - John Lydon (líder dos Pistols) diz que volta pelo dinheiro e para mostrar aos garotos que só conhecem Green Day o que é o verdadeiro punk rock.
Albertine - E eles são o verdadeiro punk rock? Dá um tempo. Pelo menos o Green Day está vivendo o seu momento. Não é um bando de velhos xingando a monarquia. Ridículo.
Folha - Você viajava com os Pistols, certo?
Albertine - Sempre fui amiga deles, antes de o Malcolm McLaren (empresário dos Pistols) criar o grupo. Primeiro viajei como amiga, depois participei das turnês dos Pistols e do Clash com minha banda, as Slits.
Folha - McLaren criou realmente os Pistols? Lydon nega essa versão.
Albertine - Tudo foi obra do Malcolm. Absolutamente tudo. Os caras nem teriam formado a banda se ele não tivesse cuidado de tudo.
Folha - A rebeldia punk era falsa?
Albertine - Não. Éramos um bando de moleques querendo quebrar tudo mesmo. Malcolm só percebeu que era possível ganhar dinheiro com isso. Mas a revolta estava lá, era uma coisa epidérmica.
Folha - Como era a reação do público naqueles shows há 20 anos?
Albertine - Nos shows, tudo bem. Soltávamos nossa energia, nossa revolta dançando como loucos. Nossa platéia era formada por nossos amigos, gente de outras bandas. Nas ruas era diferente.
Folha - Cabelo moicano, pintado de verde, botas, calça com alfinetes... As pessoas deviam olhar para vocês com reprovação.
Albertine - Olhar? Eles batiam na gente. Tomei várias surras. Nos shows que os Pistols fizeram fora de Londres em 1976, o passatempo dos malditos beberrões daquelas cidades era socar a gente.
Agora vai ser diferente. Os Sex Pistols vão excursionar de avião, dormir em hotéis de luxo e se divertir. Um grande bando de cínicos. Que sejam felizes.
Como repudiavam toda a pompa que envolvia os astros pop nos anos 70, os grupos punk gostavam de dizer que não recebiam favores sexuais das tietes, porque ''respeitavam as mulheres''.
Vivian Albertine revelou à Folha que a coisa não era bem assim.
Folha - Como foi a primeira turnê dos Pistols?
Vivian Albertine - Uma grande bagunça. Chegávamos nos lugares e a maioria não passava de pulgueiros. Todos os promotores sumiam antes de pagar o grupo. E brigas. Brigas o tempo todo. Cansei de ser espancada por bêbados.
Folha - Com quem você namorou nessa época?
Albertine - Steve (Jones), o guitarrista dos Sex Pistols.
Folha - Como era o assédio das fãs da banda?
Albertine - Escute, eu sei o que você quer saber. Não vivíamos noites de orgia como as bandas de rock daquela época, mas rolava sexo, sempre. Cara, todo mundo ali tinha 20 anos. Você só quer saber de transar e pronto. Steve sumia, eu ficava com outros caras.
Folha - Joe Strummer, do Clash, diz que vocês eram grandes amigas e eram respeitadas.
Albertine - Joe namorava uma garota chamada Palmolive, que era a baterista das Slits, minha banda. Não sei bem o que ele quer dizer com ''respeito''.
Folha - Como foi a carreira das Slits? Por que vocês nunca estouraram e fizeram sucesso?
Albertine - Não tínhamos chance, cara. A gente tocava mal e estava sempre maluca. No meu primeiro show, Don Letts (fotógrafo e DJ) e Joe Strummer me deram um baseado enorme para fumar antes de entrar no palco. Era para relaxar. Relaxei tanto que tudo saiu uma merda.
Folha - Você ainda tem amizade com essas pessoas?
Albertine - Não. Não vejo ninguém. Mas acho isso natural. O que a gente poderia fazer hoje em dia? Sentar, beber bastante e lembrar dos anos 70? Tenho mais o que fazer. Sem chance.
Folha - Você aceitaria ser fotografada para esta reportagem?
Albertine - De jeito nenhum. Fujo de fotografias. Há 20 anos, eu ser uma mulher feiosa era opção punk. Hoje é apenas uma crueldade da natureza.
Sex Pistols tocam sem histeria no Brasil
Glen Matlock diz que o grupo vai simplesmente mostrar seu som nos shows dos dias 29 e 30
MARCEL PLASSE
Especial para o Estado
Os Sex Pistols estão chegando. Dias 29 e 30 de novembro, na Praça
da Apoteose no Rio e no Sambódromo de São Paulo, eles finalmente
tocam para o público brasileiro como atração principal
do festival Close Up Planet. O festival, que teve o nome provisório
de Big Bang, promete ser o principal evento de rock da temporada. Mas acaba
de ter uma de suas principais atrações canceladas: Porno
for Pyros, devido à inesperada descoberta de câncer no guitarrista
do grupo. Foi substituído pelo grupo inglês Spacehog. As demais
bandas são Cypress Hill, Bad Relligion, Marky and The Intruders
e Silverchair.
A turnê de retorno dos Pistols, batizada de Filthy Lucre Tour,gerou
um disco ao vivo e lotações máximas na maioria dos
países por onde passou. O baixista Glen Matlock, membro fundador
dos Pistols, falou ao Estado por telefone, do Japão.
Estado - Tocar para estádios cheios, com o público
cantando junto, surpreendeu a banda?
Glen Matlock - Não na Inglaterra, onde a gente sempre foi
popular, apesar da imprensa. Por outro lado, na América, nosso relacionamento
com o público costumava ser agressivo. Mas a verdade é que
é difícil lembrar como eram nossos shows em 1976, quando
a gente tocava para 15 pessoas por noite. Agora, acho que poderíamos
ter tocado por mais tempo em nossa turnê americana.
Estado - Você foi chutado da banda em março de
1977. Como está hoje o relacionamento com os outros Pistols?
Matlock - Não somos os melhores amigos do mundo, mas é
uma boa relação profissional. Claro, tivemos algumas discussões,
mas foram todas superadas. Não precisamos ser coleguinhas ou inimigos
jurados, porque ninguém aqui tem 19 anos. Acho que o profissionalismo
é o que faz as bandas funcionarem. É estranho pensar assim,
mas nunca tivemos a chance de existir como uma banda de verdade antes.
Estado - Como você vê a acusação de
os Pistols estarem traindo o ideal punk com a Filthy Lucre Tour?
Matlock - O que é punk? A primeira vez que vi essa palavra
foi no (semanário musical) Melody Maker, e dizia respeito
aos Pistols. Se você quer entender o que é punk, não
procure em nenhum outro lugar que não seja nos Sex Pistols. A gente
não criou regras de comportamento, mas dissemos, isto sim, para
não ser igual à maioria. A maioria espera uma atitude da
gente e fazemos exatamente o contrário. Sempre foi e sempre vai
ser assim. Essa turnê é o oposto de tudo o que fizemos até
hoje, porque sempre fizemos o que quisemos - os outros até me chutaram
da banda! Outra coisa: da primeira vez, fizeram tanto barulho em cima da
gente que a música acabou ficando em segundo plano, esquecida. Agora
a gente pode, finalmente, mostrar nossa música sem a histeria sensacionalista.
E é uma boa música, bem tocada e totalmente diferente do
que diziam, não acha? Então, o que eles sabem?
Estado - Os Pistols eram o diabo nos anos 70. A que se deve
a beatificação do grupo, a ponto de a mídia
considerar uma blasfêmia os Pistols terem voltado e manchado
seu passado de mártires punks?
Matlock - As pessoas tentam mesmo transformar os Sex Pistols numa
religião, como algo sacrossanto e intocável. Há um
preciosismo absurdo com esta banda, como se as pessoas tivessem formado
o grupo e passado o que passamos. Todo mundo acha lindo os caras do Kiss
voltarem a se maquiar em 1996. Mas, quando é a volta dos Sex Pistols,
então é "Ooooh, horror!" É bom que digam que a gente
se vendeu. Por sinal, é o que dizemos! Voltamos pelo dinheiro. Seu
dinheiro! Porque nada, nada é sagrado.
Estado - E a nova geração punk? O que você
acha de Green Day, Rancid, Offspring e todas essas bandas?
Matlock - Não me importo com as roupas. Acho legal você
usar um moicano de meio metro na cabeça e ter de abaixar toda vez
que entra num elevador ou metrô, até ficar corcunda. Mas onde
está o conteúdo, meninos e meninas? Tudo bem, sua garota
o abandonou, o mundo é cruel, mas não chame isso de punk!
Green Day deve ser a maior banda teatral do mundo. Os caras fazem tantas
caretas! O fato é que basta uma dessas bandas assinar um contrato
e fazer três shows para o mundo inteiro ficar impressionado, porque
virou um modismo. Quando começamos, todos nos odiavam. Não
existia nada igual à gente, entende? Nós demos a esses caras
um público, clubes e uma cena. É bom que, ao menos, eles
nos citem como influência. Mas o fato é que fazíamos
isso há 20 anos! Onde está a novidade? Eles deveriam procurar
o seu próprio som, porque, desse modo, soam como imitações
de segunda categoria. Você acha que se eu fosse escutar Little
Red Rooster ia colocar a versão dos Rolling Stones? Ia era ouvir
Willie Dixon.
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