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The Beatles: uma Enciclopédia

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Atualizada em: 21/10/00
Esta seção destina-se à divulgação do livro "The Beatles: Uma Enciclopédia"  que encontra-se em fase de conclusão e está sendo escrito pelo amigo João Arnaldo. Os capítulos ou textos transcritos aqui deverão servir apenas como meio de consulta e informação, a cópia indevida ou uso de textos contidos aqui são proibidos por lei.

THE BEATLES: UMA ENCICLOPÉDIA
Autor:João Arnaldo

A declaração de John sobre Cristo

livro1.jpg (13882 bytes) A história toda teve início quando John deu uma entrevista a Maureen Cleave do Evening Standard de Londres, publicada em 4 de março de 1966. O artigo não provocou nenhum tipo de reação na Grã-Bretanha, porém, meses depois, em 29 de julho, uma revista mensal ameri-cana para adolescen-tes, Datebook, pinçou uma frase e desvirtuou por completo a tese defendida por John. O locutor Tommy Charles da rádio WAQY de Birmingham, Alabama, sentiu cheiro de audiência e deu início ao furor anti-Beatles. Vinte e uma outras rádios do meio-oeste americano seguiram o exemplo e também baniram as músicas do grupo de sua programação, além de promover as famosas fogueiras Beatle, onde se queimavam discos, livros e todo o badulaque que o merchandising americano tinha conseguido fabricar com o nome do grupo. No Alabama, na Geórgia e no Texas, essas manifestações aconteceram com participação de ativistas da Ku Klux Klan. Idiotices do fanatismo religioso com transmissão ao vivo por rádio e TV. É de doer o coração de qualquer fã dos Beatles a visão daquelas cenas de jovens americanos idiotas piso-teando discos do grupo ou atirando em fogueiras, souvenirs que seriam verdadeiras raridades nos dias de hoje; tudo queimado. Será que eles pensavam que Cristo não é capaz de se defender sozinho? livro3.jpg (10738 bytes)
A coisa foi tão séria que Nat Weiss, o advogado americano sócio de Brian Epstein, sugeriu-lhe por telefone que fosse à Nova Iorque para uma entrevista coletiva. Essa entrevista aconteceu em 6 de agosto, uma semana depois da publicação da tal revista juvenil e quando o número de rádios que se recusavam a tocar músicas do grupo já passava de 30. Brian argumentou que John foi mal interpretado por ter sido citado fora de contexto. O sucesso parcial da entrevista fez com que ele desistisse de sua idéia inicial que era o cancelamento de todos os shows da turnê americana, que se iniciaria em 12 de agosto de 1966 e seria a última: "Eu não queria arriscar qualquer possibilidade de os rapazes serem feridos. Não interessava o preço disso." O custo do cancelamento dos shows alcançaria a cifra de um milhão de dólares e Brian estava disposto a pagar essa quantia de seu próprio bolso.

Às 16h55 de 11 de agosto de 1966, os Beatles chegaram ao Aeroporto O’Hare, em Chicago, e se hospedaram no 27° andar do hotel Astor Towers. Naquela noite, deram uma entrevista coletiva na qual John foi praticamente obrigado pela imprensa a pedir desculpas pela declaração sobre Cristo.

Comentários:

"O cristianismo vai passar. Vai encolher e sumir. Não preciso discutir isso, pois estou certo, e será provado que estou certo. Somos mais populares que Jesus atualmente. Não sei qual vai sumir primeiro...o rock’n’roll ou o cristianismo. Jesus era legal, mas os seus discípulos eram comuns e incultos. É a distorção deles que estraga tudo para mim." (John na entrevista a Maureen Cleave)

"Não sei qual vai sumir primeiro...o rock’n’roll ou o Cristianismo" (Manchete de capa da revista Datebook)

"Se eu tivesse dito televisão é mais popular que Jesus, isso não teria acontecido, mas aconteceu de eu estar conversando com uma amiga e eu usei a palavra ‘Beatles’ como uma coisa abstrata, não como eu os vejo - como Beatles, como estes outros Beatles como outras pessoas nos vêem. Eu apenas disse ‘eles’ estão tendo mais influência sobre os garotos que qualquer outra coisa, incluindo Jesus. Mas eu disse daquele modo, que é o modo errado."

Repórter: "Alguns jovens têm repetido a sua declaração - ‘Eu gosto mais dos Beatles que de Jesus Cristo.’ O que você pensa disso ?

"Bem, originalmente eu apontei aquele fato em relação à Inglaterra. Que nós significamos mais para os jovens que Jesus significou, ou religião naquele tempo. Eu não estava criticando ou rebaixando. Eu só estava dizendo um fato e isso é mais verdade na Inglaterra que aqui. Eu não estou dizendo que nós somos melhores ou maiores, ou comparando-nos com Jesus Cristo como se fosse uma pessoa ou com Deus como uma coisa ou o que quer que seja. Eu apenas disse o que disse e estava errado. Ou fui entendido errado. E deu nisto tudo."

Repórter: "Mas você está preparado para se desculpar?"

livro4.jpg (5391 bytes)"Eu não disse o que eles estão dizendo que eu disse. Eu lamento ter dito aquilo, de verdade. Eu nunca pretendi ser sórdido e anti-religião. Eu me desculpo se isso te fizer feliz. Eu ainda não entendi bem o que foi que eu fiz. Eu tentei explicar o que eu quis dizer mas se você quer que eu me desculpe, se isso vai fazê-lo feliz, então OK, eu me desculpo." (John na entrevista em Chicago)

"...Minhas opiniões sobre cristianismo foram diretamente influenciadas por um livro de Hugh J. Schonfield, ‘The Passover Plot’. A idéia é que a mensagem de Jesus foi distorcida por seus apóstolos, e mais tarde foi alterada por uma série de motivos pessoais pelos que os sucederam, até o ponto de perder a validade para muitos atualmente." (John na mesma entrevista)

"Se eu estivesse no estágio em que estava há cinco anos, eu teria gritado que nunca mais iria sair em excursão, depois empacotava minhas coisas e pronto. Deus sabe que não preciso do dinheiro. Mas foi a queima de discos. Aquilo foi um verdadeiro choque para mim, o ato físico da queima. Não podia ir embora sabendo que tinha criado outro lugar de ódio no mundo. Especialmente com uma coisa tão simples quanto as pessoas escutarem os discos, dançarem e gostarem do que os Beatles são. Não quando eu podia fazer alguma coisa sobre o assunto. Se amanhã eu disser que não pretendo tocar mais, ainda assim não conseguirei viver num lugar com alguém que me detesta por motivos irracionais." (John explicando porque pediu desculpas)

"A citação que John Lennon fez a uma repórter de Londres tem sido citada e deturpada completamente fora do contexto do artigo, que era na verdade altamente elogioso a Lennon como personalidade" (Brian Epstein na entrevista em Nova Iorque)

"John certamente não estava comparando os Beatles com Cristo. Ele estava apenas observando que tal era o estado do Cristianismo que os Beatles eram, para muitas pessoas, mais conhecidos. Ele estava deplorando isso, e não aprovando" (Maureen Cleave)

"Certos assuntos não devem ser tratados com irreverência, mesmo no universo dos beatniks" (resposta do Papa no jornal L’Osservatore Romano)

"Há uma certa verdade na declaração dele de que a força de influência do Cristianismo sobre a humanidade está enfraquecida" (O mesmo L’Osservatore Romano)

Notas:

A estação KLUE de Longview, Texas, foi uma das que organizou fogueira pública, realizada na noite de sábado, 13 de agosto. No dia seguinte, um raio atingiu a torre de transmissão, deixando a rádio fora do ar por várias horas. Sabe qual é a probabilidade de um raio atingir uma torre de transmissão? uma em um milhão.

Análise:

A celeuma provocada pela declaração de John sobre Cristo teve várias consequências.

A primeira delas foi reforçar a idéia que já há algum tempo eles vinham acalentando de parar com os shows ao vivo. A reação dos americanos mostrou-lhes a insegurança existente nos estádios, onde qualquer um poderia disparar um tiro e matá-los. 18 dias após essa entrevista em Chicago, eles fizeram o último show ao vivo (Vide – O Fim Das Turnês)

Até hoje algumas pessoas se recusam a entender que, na verdade, John nunca disse que eles eram melhores ou superiores a Jesus; ele apenas disse que os Beatles eram mais populares. O padre Zézinho, scj, escreveu na revista Família Cristã de abril de 1981: "O que os cristãos e os crentes apegados não podiam nem queriam entender é que Jesus, com todos os seus valores e consciência de libertador, não pudesse ser mais popular que eles. Mas eram. Naqueles dias, Jesus não empolgava nem um décimo os jovens. Não lhes interessava o que Jesus dissera, fizera ou propusera. Mas o que John Lennon e Paul McCartney inventavam, isto sim era decorado, cantado, recitado, tocado, idolatrado pela juventude do mundo inteiro".

Lamentavelmente, entre essas pessoas que não entenderam a declaração de John se incluía uma de nome Mark David Chapman. Em 1966, aos 11 anos de idade, Chapman vivia em Atlanta, Geórgia, um dos estados em que foram promovidas fogueiras. Com o passar dos anos, tendo destruído seu equilíbrio emocional alternando fases de radicalismo religioso e uso continuado de drogas pesadas, ele atingiu o ponto mais baixo a que um homem pode chegar: matou, pelas costas, um sujeito desarmado que nada lhe tinha feito de mal. Era a noite de 8 de dezembro de 1980 e John Lennon tombava assassinado pela arma de alguém que nunca aceitou a forma com que ele havia comparado os Beatles a Jesus. Era, 14 anos depois, o ponto final trágico de uma declaração infeliz e mal-interpretada. (Vide – Tragédias: A Morte de John Lennon)

Os capítulos ou textos transcritos aqui deverão servir apenas como meio de consulta e informação, a cópia indevida ou uso de textos contidos aqui são proibidos por lei.

 

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