Carlos Eduardo Bleck


(resumido a partir da História da Força Aérea Portuguesa, por Edgar Pereira da Costa Cardoso)
Carlos Eduardo Bleck nasceu no Dafundo, "às portas de Lisboa" e frente ao Tejo, em 23 de Maio de 1903, filho de Charles Henry Bleck e de Helena Pedroso dos Santos Bleck. Viria a falecer em Dezembro de 1974.

Embora o seu pai fosse inglês Carlos Bleck optou pela nacionalidade portuguesa, no que sentia um sincero orgulho, sempre demonstrado nos seus actos de fervoroso patriotismo e como se verifica em várias afirmações do seu primoroso livro Rumo à Índia, publicado em 1962.

Apenas com 19 anos efectuou o seu baptismo de voo no Grupo de Esquadrilhas de Aviação da República, na Amadora, num curto voo de 15 minutos, no Bréguet nº 23, pilotado pelo tenente Pais de Ramos e de tal forma se entusiasmou que dias depois, a 21 de Novembro, foi admitido, na Escola Militar de Aviação, como candidato, a fim de obter o seu "brevet" de piloto aviador civil.

E nesse dia como aluno piloto deu a sua primeira volta de "duplo comando" num Caudron G-3, tendo como instrutor o tenente António Dias Leite.

Dias depois, por razões de ordem particular, teve que abandonar o curso. Mas não desistiria e voltaria a Sintra três anos depois, para a 9 de Junho de 1925, obter no "Caudron G-3" nº 26 o seu diploma de piloto aviador civil, o primeiro conseguido no nosso país, numa escola de Aviação Militar.

Logo no ano em que se brevetou, pensou com um aviador militar realizar a ligação Lisboa-Angola-Moçambique, com um Fairey III-D, mas não conseguiu deferimento para a sua pretensão.

Em 1927 adquiriu o seu primeiro avião, um "Moth-Cirrus" a que pôs o nome de Portugal - o primeiro avião que recebeu uma matrícula civil, o "CP-AAA", fazendo em Inglaterra um curso de aperfeiçoamento em apenas em 40 horas de voo, fez a viagem Londres - Tancos - Lisboa.

Em 1928 descolou de Alverca com destino à Índia, no dia 9 de Fevereiro, a bordo do seu de Havilland "Moth-Cirrus" de 90 CV, Portugal .

Infelizmente, uma avaria no motor obrigou-o a uma aterragem de emergência, em pleno deserto da Arábia, ficando o seu aparelho destruído e com ele o seu sonho ardente de chegar à Índia.

Carlos Eduardo Bleck tinha percorrido 7.300 km, ou seja, metade da distância que o separava do seu objectivo, tendo feito escala sucessivamente em Melilla, Oran, Alger, Bizerta, Tunis, Tripoli, Bengasi, Tobruk, Cairo e Gaza.

De carácter intemerato e fibra de herói, Carlos Bleck não era homem para desistir e assim logo nesse ano sonha realizar com um avião "Bellanc" a travessia do Atlântico Norte (de ocidente para oriente) em voo solitário, com partida de Nova Iorque. Todavia esbarrou com dificuldades materiais que superaram os seus recursos, e não encontrou o mínimo apoio de outrém para levar a cabo tão ousado empreendimento, verdadeira réplica à proeza de Lindbergh.

Em 1929, com Jorge Castilho, Pais Ramos e Manuel Gouveia preparou a ligação Leste-Oeste do Atlântico norte. O avião escolhido era um Dornier-Wal, motores Lorraine e as escalas seriam Açores e Bermudas. Dificuldades materiais e governamentais ainda, mais uma vez, o fizeram desistir.

Mas Carlos Eduardo Bleck não era homem para desanimar e, em 1930/1931 fez, com Humberto da Cruz, a ligação Lisboa-Angola-Lisboa com um "de Havilland" "Moth-Gipsy II" de 120 CV a que puseram o nome de "Jorge de Castilho".

Carlos Bleck não parou. Em 1923 esteve quase a realizar Lisboa-Rio de Janeiro sozinho, com um "de Havilland" "Leopard-Moth"

Em 1934 teimou e, agora sozinho, voa de Portugal a Goa vingando-se dos azares sofridos em 1928.

E para fecho da sua actuação de aviador de grandes raids ainda descolou, em 1935, com Costa Macedo, da pista de Sintra para tentar estabelecer o record Lisboa-Rio de Janeiro a bordo do bimotor "de Havilland" "Comet" mas uma avaria após alguns metros de rolagem, obrigou-os a desistir.

Fez Carlos Bleck parte da direcção do Aero Clube de Portugal que organizou a primeira escola de aviação (1930) e exerceu a sua actividade, durante largo tempo, em sectores ligados à aviação.

Assim, foi um dos fundadores da Companhia de Transportes Aéreos e fez parte do Conselho de Administração dos Transportes Aéreos Portugueses (TAP).

Carlos Bleck foi durante muitos anos o representante em Portugal da empresa "de Havilland" e o prestigiado editor inglês Putnam, no livro dedicado a este fabricante, faz referência à viagem a Goa, realizada a bordo de um DH 60 IIIG "Moth-Major", referindo ainda que Carlos Bleck possuíu, alternadamente, todos os diferentes modelos que a "de Havilland" ía concebendo.


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