Sonho e Progresso- o desabafo de um professor

Monografia apresentada ao Curso de Pós-Graduação em Leitura (Especialização), como requisito parcial para obtenção do título de Especialista.

Orientador: Professora Doutora Maria Afonsina Ferreira Matos —leia o parecer da orientadora



Este trabalho é dedicado a todos os contadores de estórias que habitam, habitaram, ou habitarão este nosso universo maravilhoso.

Quem conta um conto aumenta um ponto!





Tudo uma porcaria. Tolice reconhecer que a professora rural, doente e mulata, merecia ser trazida para a cidade e dirigir um grupo escolar: fazendo isso, dávamos um salto perigoso, descontentávamos incapacidades abundantes. Essas incapacidades deviam aproveitar-se de qualquer modo, cantando hinos idiotas, emburrando as crianças. O emburramento era necessário. Sem ele, como se poderiam agüentar políticos safados e generais analfabetos?

Graciliano Ramos, em: Memórias do Cárcere


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ALGUMAS PALAVRAS


Nos últimos anos, tendo passado o trauma dos anos de Ditadura Militar em nosso país, a maioria de nossas escolas vem tentando resgatar a tradição de ensinar e cantar o nosso Hino Nacional. No entanto, muitos se esquecem, ou não, que o nosso Hino é, em sua essência, um Hino ao Positivismo, sistema ideológico que preza pelo racionalismo, e, acima de tudo, não dá nenhum espaço à fantasia.

Ora, se pararmos para pensar, nada mais adequado ao nosso mundo pós-moderno, pós-industrial e neoliberal. Basta olharmos mais atentamente a Nova LDB e os PCN's, leis que defendem com todo o fervor a educação profissionalizante e tecnicista, desvirtuando totalmente a verdadeira formação do aluno para a vida. O mundo deste novo milênio que se inicia não quer cidadãos, ele precisa de engrenagens que movam esse nosso admirável mundo novo.

Todo aquele que se apossa de sua própria experiência é capaz de se apropriar de si mesmo e começar a ler o mundo e a sociedade em torno de si e além. O fundamental, então, é, como diz Paulo Freire, aprender como aprender.

A aprendizagem jamais se dará num ambiente no qual o professor apenas imponha coisas repetidas para que seu aluno decore. É uma pena, mas parece que Luís Fernando Veríssimo tem razão quando ele diz em sua crônica O gigolô das palavras que certamente o instrumento vital da pedagogia moderna é o gravador cassete. Ou seja, o que se espera dos alunos dentro de uma escola é que eles sejam espécies raras de papagaios, prontos a repetir toda a ladainha que lhes é empurrada goela abaixo. No entanto, o que se decora ou apenas se reproduz, desaparece com o passar do tempo. Para que o aluno realmente aprenda é necessário que dele parta um esforço reconstrutivo. Além disso, ele precisa pesquisar, elaborar e reconstruir um conhecimento condizente com a sua subjetividade. Somente com a orientação crítica de um professor dinâmico e que propicie um ambiente humano favorável isso será possível. A relação entre o professor e o aluno deve ser sempre uma relação ativa, emocionada, de troca, desse modo todo professor é sempre aluno e todo aluno, professor.

Acredito, portanto, que o elemento propulsor de toda relação ensino-aprendizagem seja, antes de tudo, o prazer e a fantasia. O aluno, dentro de um espaço lúdico, pode, brincando, conhecer melhor a Língua Portuguesa, a Literatura ou qualquer outra disciplina do currículo escolar, reinventá-las através de múltiplas experiências, inventar a sua maneira de se dizer, se colocar através de suas palavras sem medo de se expor e ser reprimido, enfim, compreender que existe a possibilidade de estudar, trabalhar e se divertir ao mesmo tempo - e que isso pode ser uma opção de vida.

Desde o princípio do curso de Especialização em Leitura, venho entrando em contato com diversas disciplinas que, acima de tudo, vêm fortalecendo as minhas convicções de que é fundamental para qualquer um que queira posicionar-se diante do mundo o conhecimento de suas origens, de suas memórias, deste modo, decidi dar um tom autobiográfico a minha monografia, contando minha história de leitor-educador, e minhas impressões acerca do sistema educacional brasileiro neste início do século XXI. Espero com isso fortalecer e comprovar as minhas convicções de que a fantasia é essencial para a formação de todo ser humano.

leia o texto da defesa


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