New Album "O Primeiro Canto"

São os sons que nos unem / The sounds that bind us
Dulce Pontes

DulceDulce


"Publico" newspaper, 24 of September 1999:

Novo álbum da cantora apresentado ontem em Sintra

Dulce Telúrica

Por PEDRO RIBEIRO


O disco foi apresentado num palácio neoclássico com o
ambiente de uma festa do "jet set", mas as suas canções
são acústicas e de raízes tradicionais. Os executivos da
editora de Dulce Pontes falaram de estratégias de mercado
e globalização, mas a cantora discorreu sobre a
espiritualidade e a "verdade" da sua música. O novo álbum
de Dulce Pontes chama-se "O Primeiro Canto", tem como
ponto de partida os quatro elementos, e foi ontem
apresentado em Sintra. Chega às lojas na segunda-feira.

"Estou aqui não como apresentador de televisão mas
sim como um admirador da Dulce Pontes. Pedia a
todos uma salva de palmas para ela, pela grande qualidade
do trabalho apresentado." Eládio Clímaco abriu assim a
conferência de imprensa de apresentação do novo álbum da
cantora, "O Primeiro Canto", que teve lugar ontem, no
Palácio de Seteais, em Sintra.

No cenário de um hotel de cinco estrelas, num ambiente
mais requintado do que o habitual no lançamento público de
um disco, os jornalistas presentes escutaram o quinto
álbum de Dulce Pontes. A cantora fez-se esperar, mas
respondeu a todas as perguntas de uma forma descontraída e
orgulhosa - afinal, "O Primeiro Canto" é a sua "melhor
experiência musical até agora".

O disco tem como ponto de partida os quatro elementos -
água, terra, fogo e ar -, utilizando quase exclusivamente
instrumentos acústicos. "Queria transmitir uma busca da
nudez, da essência tão simples destes instrumentos e
sonoridades." A busca de Dulce Pontes levou-a a recorrer a
músicos de várias partes do mundo, mas também a grupos
tradicionais como o coro alentejano Ganhões de Castro
Verde, as Adufeiras de Idanha-A-Nova ou o Rancho
Folclórico de Riachos, "forças telúricas, do povo, que não
se explicam, fazem parte do sangue".

Não é só das "forças telúricas" da música tradicional
portuguesa que "O Primeiro Canto" é feito. A cantora
contou com a ajuda de artistas como Kepa Junkera (País
Basco), Justin Vali (Madagascar), Wayne Shearer (Estados
Unidos), Leonardo Amuedo (Uruguai) ou Waldemar Bastos
(Angola), entre outros. E também com uma variadíssima gama
de instrumentos, do saxofone ao litófono cromático, da
gaita de foles sueca ao violoncelo, da "trikitixa" ao
contrabaixo.

O elo em comum entre todos é o facto de serem instrumentos
acústicos, com excepção de um baixo eléctrico. "O conceito
deste trabalho era explorar a pureza dos sons, que não
pode haver num sintetizador ou numa guitarra eléctrica -
não que eu tenha nada contra eles", contou Dulce.

A caminho do sucesso de Bocelli

"O Primeiro Canto" foi produzido por um "trio magnífico":
a própria Dulce Pontes, com o holandês Albert Boekholt e o
português António Pinheiro da Silva, que a acompanhou na
apresentação. Do outro lado de Dulce Pontes sentavam-se
dois executivos da sua editora, a Universal.

Rudy Steenhuisen, administrador da Universal portuguesa,
referiu que as lojas já compraram 30 mil cópias do álbum,
que assim, na próxima semana, "deverá chegar à platina".

A seguir, explicou o motivo porque o disco é editado pela
divisão holandesa da Universal: "Permitimos a esta
companhia assinar o contrato com a Dulce Pontes porque
eles têm mais experiência a lançar artistas deste calibre,
a nível mundial, como é o caso de Andrea Bocelli. Uma
artista como a Dulce merece esta equipa holandesa, porque
pode tornar-se num grande sucesso".

Steenhuisen disse ainda que o futuro da música passa pelo
"fim das fronteiras em todo o mundo", dando como exemplo o
actual sucesso da música latino-americana ou o facto de o
próximo álbum de Sting ser influenciado pela música de
Marrocos e da Argélia. "Estamos a ter agora um grande
sucesso [internacional] com artistas não anglo-saxónicos,
porque há uma abertura a novos sons. A língua é só um
elemento que dá cor à música, esta é global, transcende
fronteiras."

Para Dulce Pontes, há quatro anos, se calhar, isto não
acontecia. "Este movimento começou pelo público. É bom
haver música 'fast food', mas também é bom ouvir música de
qualidade, em qualquer língua, desde que seja verdadeira
[é interrompida pelo toque de um telemóvel; divertida,
comenta "já estava a sentir falta disto..."], porque a
função da música é transmitir paz e sentimento".

A ideia de uma música "verdadeira" foi repetida pela
cantora a propósito de "O Primeiro Canto". "Este é o
caminho que eu quero seguir", diz. "Quando comecei, tinha
uma grande identificação com o fado, apesar de quebrar
regras, usando sintetizadores, bateria ou guitarras
eléctricas. Antes de gravar, costumava ouvir a Amália na
minha cabeça, é uma coisa que está nos genes, a Amália ou
o Carlos do Carmo. Não é uma imitação consciente, mas é
uma influência. Agora encontrei-me como cantora, se calhar
por ter chegado aos 30 anos..."

Apesar da sua satisfação com a direcção que seguiu em "O
Primeiro Canto", Dulce não enjeita participar em projectos
diferentes - por exemplo, em bandas sonoras de Hollywood,
ou com o italiano Ennio Morricone, com quem canta em
inglês. Afinal, como contou Rudy Steenhuisen, um dos
objectivos pelo qual Dulce assinou pelo ramo holandês da
Universal é permitir a sua internacionalização.

E essa internacionalização prossegue já no início do
próximo mês, com uma longa "tournée" de Dulce Pontes pelas
principais cidades espanholas, a que se seguirão vários
concertos na Holanda. Uma digressão com problemas
logísticos difíceis de resolver, dado o grande número de
artistas convidados em "O Primeiro Canto". Apesar disso,
ficou prometido para Portugal "um grande concerto" no
norte do país, talvez ainda este ano.




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