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ENTREVISTAS
O SUPREMO ESCRITOR ALAN MOORE
por George Khoury
Publicada originalmente na revista The Jack Kirby Collector
Nota do entrevistador: Ultimamente estou achando que, não importa
quantas entrevistas faça, mais difícil fica escrever estas
introduções. Talvez seja porque você nunca queira
negligenciar os fatos sobre o tema, mas quando o tema é Alan
Moore, fica literalmente impossível e o animo desaparece. Não
importa em que dicionário você olhe, não há
palavras que possam descrever o que Alan Moore é ou representa
para os quadrinhos. Mas isso não significa que vamos impedir este
velho colega de tentar.
Alan Moore fez algo para os quadrinhos que foi maravilhoso, mágico
e belo. Ele trouxe um renascimento - uma revolução de uma
forma de arte, armado apenas com sua visão e sua caneta. Moore
trouxe um extremo cerebral aos quadrinhos, tendências das quais
nunca tínhamos visto, fazendo inovações e trazendo
de volta a imaginação. Ele ampliou os limites e demoliu
qualquer limitação com sua maneira de narrar histórias.
Seus trabalhos ganharam o amor dos fãs e o respeito do mainstream
porque ele é um grande escritor dentro de qualquer meio.
Esse grandalhão inglês de Northampton ganhou um bem merecido
lugar no folclore dos quadrinhos, ao lado de Jack Kirby e Harvey
Kurtzman. O seu trabalho em O Monstro do Pântano, Watchmen,
Do Inferno e outros clássicos ficarão para sempre como
um testemunho do tipo de grandeza que os quadrinhos podem alcançar.
E em todos os meses, toda uma nova geração de leitores continua
sendo maravilhada por seu trabalho em Americas Best comics.
Moore vê Kirby como um pioneiro e um cavalheiro.
E como O Rei, pois todos nós ficamos melhores por ter conhecido
o seu trabalho e o dele. Esta entrevista foi realizada em duas sessões
durante um chuvoso mês de novembro em 1999.
THE JACK KIRBY COLLECTOR: Quão poderosa a influência
de Jack Kirby foi para você?
ALAN MOORE: Bem, eu teria de voltar à minha mais tenra
infância para responder isso. Eu descobri os quadrinhos pela primeira
vez quando tinha quase sete anos; isto teria sido por volta de 1959 ou
1960. Quando digo quadrinhos, quero dizer quadrinhos americanos; eu tinha
lido os experimentais quadrinhos britânicos antes disso, mas quando
me encontrei pela primeira vez com os quadrinhos do Super-homem
e do Batman daquela época, as primeiras duas aparições
do Flash, coisas desse tipo, foi uma revelação. Eu
me tornei completamente viciado em quadrinhos americanos, ou especificamente
os quadrinhos da DC que estavam disponíveis na ocasião.
Posso me lembrar que vi seus quadrinhos peculiares, que eu sabia que não
eram da DC, pendurado na banca de jornal e eles pareciam muito
estranhos. Eu não queria arriscar em gastar meu dinheiro naquilo,
já que esse material não era um com o qual já estivesse
familiarizado. E então posso recordar que um dia, acho que eu estava
doente e prostrado na cama - eu tinha sete ou oito anos na época
- e minha mãe disse que ela iria comprar pra mim uma revista de
HQ para me animar enquanto eu estivesse limitado à cama. Eu sabia
que o único quadrinho do qual eu poderia pensar que não
tinha de fato comprado era um do Blackhawk, que tinha visto na
banca. Assim eu fiquei tentando em convencer minha mãe para que
escolhesse essa revista do Blackhawk, e tentei explicar a ela sobre
o que era, que era sobre um grupo de pessoas que usavam uniformes azuis.
Para minha enorme decepção inicial, ela trouxe a revista
do Quarteto Fantástico #3, mas mesmo assim eu a li. Ela
fez algo comigo. Era principalmente a arte. Era um tipo de textura e estilo
que eu simplesmente nunca tinha visto antes. Dos artistas da DC
na ocasião, eu realmente não conhecia os seus nomes, mas
seus estilos eram aqueles com os quais eu estava acostumado: Muito limpo,
corpos muito saudáveis, e aqui estava algo com pesadas sombras,
quase como um tipo de esboço. foi imediato; literalmente, daquele
momento em diante eu me tornei um fã dedicado do Quarteto Fantástico
e das outras revistas da Marvel quando eram, em particular, feitas
por Kirby. Quero dizer, era o trabalho de Kirby que eu seguia
mais que do que qualquer outra pessoa enquanto crescia. Seu trabalho em
Thor e Os contos de Asgard, o Quarteto Fantástico,
durante aquele seu clássico e extenso arco de histórias,
e então quando Kirby foi para a DC e fez seu Quarto
Mundo. Isso aconteceu durante a época que eu estava chegando
a meus psicodélicos anos adolescentes e a temática dessas
revistas parecia estar mudando junto comigo. Eu absorvi ativamente toda
a linha que ele desenhou por esses anos, ou pelo menos aquelas nas quais
eu pude pôr minhas mãos. Havia algo sobre o dinamismo da
maneira de contar histórias de Kirby. Pode-se pensar nisso
como uma influência. É algo com o que você cresceu,
um tipo de entendimento que é apenas a maneira pela qual os quadrinhos
foram feitos. Então posso dizer que sim, que posso contar com a
influência de Jack Kirby em meu próprio trabalho.
É quase como um cenário inicial para o meu próprio
storytelling. É como um tipo de exemplo a ser seguido: se
você puder contar uma história da mesma maneira que Kirby,
então pelo menos ela será uma HQ propriamente dita; você
estará fazendo seu trabalho de maneira adequada.
TJKC: Você leu os Desafiadores do Desconhecido antes
do Quarteto Fantástico?
ALAN: Eu tinha visto os Desafiadores do Desconhecido, mas
acho que não vi as edições de Kirby, só
vi umas duas depois. Se foram as edições de Kirby,
por alguma razão eles não mexeram comigo, mas particularmente
acho que eles eram uns de seus trabalhos mais leves. Mais tarde, eu vi
os Desafiadores de Kirby e gostei demais, mas acho que os
únicos Desafiadores do Desconhecido que tinha visto naquele
momento eram do artista que assumiu o título depois que Kirby
saiu da revista.
TJKC: O que exatamente fez dessas histórias clássicas
da Marvel tão revolucionárias? Será pelo fato
de a narração delas ser mais madura do que as da DC?
ALAN: Uma dimensão extra foi acrescentada à narração
e à arte. De certo modo os personagens da DC eram, na ocasião,
arquétipos em um certo grau. Arquétipo significa que são
unidimensionais. Stan Lee e seus colaboradores, em suas histórias,
revestiram os personagens com uma segunda dimensão. Eles lhes deram
alguns problemas humanos. Eles não eram personagens tridimensionais
mas tinham uma dimensão a mais com a qual não estávamos
acostumados, e algo naquele tipo de arte correspondeu com isso. Com Kirby,
havia um nível de atenção a detalhes e textura e
intensidade na arte que parecia dar outra dimensão aos super-heróis
- os quadrinhos - mais do que era comum na época. Apenas pareciam
ser muito mais viscerais, muito mais reais. O Tocha Humana encontra
Namor sofrendo de amnésia em uma vizinhança decadente;
aquilo tinha uma realidade visceral, tornando as HQs muito mais
atrativas.
TJKC: Parece que todo o mundo acha a arte de Kirby, a princípio,
um pouco desajeitada. Quanto tempo levou pra você se acostumar com
ela?
ALAN: Bem, durante algum tempo, provavelmente sete ou oito páginas,
mas sim, havia aquele tipo de choque de encarar algo pouco conhecido.
Mas então, como sempre ocorre em minha vida, isso geralmente tem
sido um sinal; algo com o qual quase sinto repulsa, mas que depois começa
a se tornar algo com o qual ficarei permanentemente fascinado. Alguns
artistas underground, na primeira vez eu vi seus trabalho, me deram
uma repulsa genuína, mas depois eu fui ficando viciado com eles
e o mesmo aconteceu, em um grau diferente, com Kirby. Sim, olhando
pela primeira vez para a arte dele, há aquele choque de algo que
é pouco conhecido, e a princípio, o choque pode ser desagradável,
mas logo se adquire um forte gosto e você tem que ter mais daquilo.
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