ENTREVISTAS

O SUPREMO ESCRITOR ALAN MOORE

por George Khoury

TJKC: Você desenhava com mais freqüência quando era mais jovem?

ALAN: Sim, eu meio que desenhava. Eu fiz minha quota de socos a la Kirby e exemplos de velhas revistas como exercício e esse tipo de coisa. Sim, tive ilusões de adequação como um bom artista até o início de minha carreira de revistas de HQ. Só então percebi que eu nunca poderia desenhar rápido o bastante ou bem mais rápido para, de fato, me sustentar com isso, assim joguei tudo para o alto e decidi ser um escritor.

TJKC: Você acha que seu estilo de escrever quadrinhos é uma progressão natural do que Lee e Kirby fizeram nos anos sessenta?

ALAN: Imagino que, de algum modo, deve ser. Aqueles foram alguns dos primeiros materiais que vi, então, como eu disse, é quase como um tipo de falta de ambientação.


TJKC: Especialmente com seu trabalho nos super-herói....

ALAN: Sim, mas novamente, esse foi o único tipo de quadrinhos que lia na ocasião: verdadeiramente quadrinhos de super-heróis. Até mesmo quadrinhos de guerra e faroeste eram quadrinhos de super-heróis, então, basicamente, isso é quase uma falta de estilo de storytelling. Lee e Kirby: é simplesmente básico. É algo onipresente - você nunca pensa sobre isso. Você nunca presta atenção. É como se houvesse apenas ar ali.


TJKC: Você alguma vez tentou escrever ao estilo Marvel? Escrever para um roteiro já esboçado e ilustrado?

ALAN: O mais próximo que cheguei a isso foi quando estávamos fazendo 1963; em parte isso era uma questão de conveniência. Nós precisávamos ser capazes de fazer estas coisas com rapidez, sem uma enorme quantidade de trabalho extra de datilografia para mim. Também era apropriado que nós os fizéssemos no estilo Marvel. Eu faria o layout de uma página com, digamos, seis quadrinhos. E fiz duas ou três páginas assim. Depois telefonei para Rick Veitch ou Steve Bissette. Assim o que aconteceu foi que eu lhes dei as descrições dos quadrinhos por telefone, descrevendo se havia alguém à esquerda do primeiro plano, ou se havia alguém bem ao fundo. Nós ficamos nesse tipo de compasso. É assim que os personagens são. Esta é a maneira áspera pela qual eles falavam uns com os outros. Um deles parece bravo. O outro parece impassível. Então eu ajo desse modo por um tempo e eles enviam a arte. Provavelmente antes eu daria uma olhada na arte, retocaria o diálogo e enviaria para eles. Assim eu pegaria o diálogo feito e eles teriam que trabalhar a partir disso, porque eu já sabia o que ia estar no quadrinho porque tinha descrevido cada quadrinho no lugar do que antes era um desarranjado enredo da página. Assim isso foi um pouco mais que uma versão taquigráfica do modo que normalmente escrevo. Isto não foi inteiramente o método Marvel.


TJKC: Me lembro de ouvir sobre as suas instruções, quando os desenhistas estavam ilustrando a revista 1963; você queria que as ilustrações ficassem com uma aparência de “desenho feito às pressas”, para pegar aquela sensação de anos sessenta.

ALAN: De certo modo, eu estava meio que escrevendo-as mais rápido também. Era uma tentativa de pegar aquela emoção, aquele ataque de criatividade que certamente devo ter tido, em parte, trabalhando nessa volta aos primeiros quadrinhos da Marvel.


TJKC: Você normalmente trabalha em todo roteiro?

ALAN: Eu sempre trabalho em todo roteiro - não apenas em todo roteiro, mas mais do que os roteiros normais. Meus roteiros são gigantescos. Elas são enormes quantidades de detalhes e descrições, onde o artista é bastante livre para ignorar, se ele quiser. É um tipo de duelo onde, se quiser, ele pode usá-lo. Dessa forma, sim, eles são roteiros bem extensos.


TJKC: Como diria que você irrompeu na indústria?

ALAN: Eu estava escrevendo e estava desenhando uma tira semanal para um jornal musical daqui, o Sounds. Então comecei fazendo uma tira semanal para um jornal musical em Northampton. Isso era suficiente o bastante para sustentar a mim, minha esposa e nosso bebê. Eu poderia, com dificuldade, somente me sustentar. Comecei a fazer trabalho de roteiros para os quadrinhos da Marvel britânica, para a Doctor Who e para a 2000 A.D., fazendo histórias curtas para eles, e lentamente começando a aperfeiçoar meu trabalho. Fiz trabalhos para a Warrior e então consegui ir para a América. Dali em diante teve o Monstro do Pântano e todo o resto.


TJKC: Você soube desde cedo que era isso o que queria fazer?

ALAN: Acho que sempre soube que queria estar envolvido, de algum modo, com os quadrinhos. Penso que, no princípio, eu achava que poderia acabar desenhando HQ’s; quando percebi que não conseguiria ser desenhista, rapidamente passei a escrever.


TJKC: Quão adiantado você costuma trabalhar?

ALAN: Depende. No momento, com os títulos da linha ABC, estou fazendo cinco deles, e realmente não estou tendo chance de trabalhar adiantadamente com qualquer um deles. Eu só estou um pouco à frente do desenhista. Se o tempo permitisse, eu gostaria de estar tão adiantado quanto possível.


TJKC: O que você achou do trabalho de Kirby como escritor? O trabalho dele tem algo de especial?

ALAN: Sim! Há um poder primitivo nele. O diálogo, a pontuação; estas coisas às vezes são um pouco estranhas, mas isso não leva só à energia e sentimento brutos nesses trabalhos e storylines. Ele foi alguém que sempre fazia com o coração. Acho que essa era uma qualidade que vinha dos trabalhos que escreveu.


TJKC: Você sentia alguma excitação quando o Quarto Mundo dele iria sair?

ALAN: Oh Sim! Me lembro que todos nós estávamos realmente emocionados por ele. Me lembro de uma convenção de quadrinhos onde realmente vi algumas cópias do trabalho em Jimmy Olsen, do mesmo modo que todo mundo se entusiasmou só em vê-los publicados - até o momento que o material do Quarto Mundo de Kirby foi lançado. Sim, posso me lembrar de que todos tinham ficado muito emocionados; ficamos todos absolutamente devastados quando a série pareceu ter terminado sem um final apropriado.


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