ENTREVISTAS

ALAN MOORE, PRATICANTE DE MAGIA

por Matt Brady - 01 de Outubro de 1999

 

O iconoclástico escritor fala sobre mágica verdadeira!

Quando você pensa em Alan Moore, inúmeras idéias vêm a sua mente rapidamente: escritor, lenda dos quadrinhos, Watchmen, America's Best Comics, Do Inferno. Mas há mais em Moore do que somente quadrinhos. Mais algumas poucas palavras que podem ser usadas para descrevê-lo incluem músico, ator e mago.

É isso mesmo. Mago. Não daqueles mágicos ao estilo de Las Vegas, do tipo mágico-que-serra-uma-mulher-ao-meio ou algo assim. As mágicas de Moore estão mais direcionadas com druidas, deuses e deusas.

Refletir sobre magia, e tentar entender o que ela é, tem ocupado meus pensamentos nos últimos cinco anos ou mais, e provavelmente tem dado o tom a muitos dos trabalhos que faço, Moore diz. Espero que não esteja afetando meu trabalho de maneira grosseira e óbvia, mas certamente está em grande parte de meu trabalho hoje em dia.

De acordo com Moore, seu interesse em magia apareceu vagarosamente graças ao que ele vê como uma enorme quantidade de evidências.

Há muito mais em jogo do que simplesmente liberação, Moore diz. Junto com as estimas de indivíduos respeitados e bem conhecidos com quem tenho levado adiante sérios estudos no que o mundo vê como conhecimento "oculto", comecei a imaginar que, como o escritor, o mago começou a se arrastar para dentro de minha vida cada vez mais.

Moore não está falando sobre o entusiasmado e latejante sentimento que um escritor ou escritora tem quando ele ou ela escreve uma boa história. Ele está falando de magia genuína. Se você acompanha os comentários e entrevistas de Moore ao longo dos anos, a conexão se torna evidente. Após Monstro do Pântano e Watchmen, Moore começou a expandir a teoria que ele alimentava de que a consciência é um espaço - o idéiaverso, onde os materiais crus de toda a criatividade estão localizados, o qual ele tentou mostrar em Judgment Day: Aftermath (Dia do Julgamento: Consequências) da Awesome. Quando uma idéia é criada, ela se torna real. O quão longe a idéia se move em nossa realidade, bem…

Eu percebi que você tem que ter cuidado com o que você diz. Há algo estranho no ato de escrever. Recentemente, li uma entrevista com a [cartunista] Carol Lay onde ela mencionava que tinha o cuidado de não desenhar nada muito negativo em seus roteiros porque provavelmente aconteceria. Robert Crumb concordava com ela nesse ponto. Ele disse que é realmente uma coisa de "mente sobre a matéria", você desenha algo e então ele acontece, e é por isso que Crumb sempre desenhava suas fantasias sexuais.

As revelações de Moore sobre a metafísica da escrita, iguais as de Grant Morrison, podem certamente ser imaginadas como estranhas. Você se encontraria escrevendo sobre eventos que ainda não aconteceram, e ao mesmo tempo, também encontraria todo o tipo de estranhos ecos entre seu texto e a vida real. Quando comecei a avistar que esse tipo de coisa estava se tornando predominante em meus trabalhos, percebi que tinha uma escolha - Eu poderia ou ignorar isso e admitir que era produto de minhas extremamente fatigadas percepções, ou poderia explorar isso e ver se há algo interessante nele.

Ao mesmo tempo, eu percebi que não poderia mais progredir em meus textos apenas por rígida racionalidade. Se eu quisesse ir mais adiante com meus textos, fazê-los mais intensos, mais poderosos, fazê-los dizer o que eu queria que dissessem, eu teria que dar um passo além das idéias racionais e técnicas de escrita, em algo que fosse trans-racional, se você preferir; isto seria magia.

Magia existe no início de qualquer forma de arte, assim acredita Moore. Para provar seu ponto de vista, ele aponta para as pinturas das cavernas do homem primitivo.

Os primeiros homens que escreveram uma representação visual de algo podem ser vistas como magos, Moore diz. Pense desse modo: um homem ou uma mulher conjura a imagem de um bisão na parede de uma caverna. A uma audiência que não tinha a idéia de representação visual, a criação daquela imagem seria vista como um incrível ato mágico. As primeiras pessoas a terem um idioma, num mundo onde a maioria das pessoas não possuia isso, seriam tão inexplicáveis quanto os telepatas seriam hoje. O fato de você realmente poder enviar seus pensamentos para uma outra pessoa, registrar seus pensamentos, e poder entender a passagem de tempo, tudo isso seria visto como magia.

Não coincidentemente, de acordo com Moore, os deuses de magia em muitos panteões antigos são também os deuses da escrita. Para o homem primitivo, escrever, ou criar idéias novas era a mesma coisa que magia. Tudo o mais que sobrou da conexão entre escrever e magia ainda existe - por exemplo, ao construir uma palavra, você tem que “enfeitiçá-la.”

Todos os estudos de Moore finalmente o conduziram a uma declaração no seu 40º aniversário em 1993.

Naquele aniversário declarei que havia me tornado um mago, Moore diz. Eu simplesmente fiz aquela resolução para que não pudesse voltar atrás. Me deixe advertí-lo, entretanto, que você não deve dizer estas coisas a menos que você saiba onde realmente está se metendo. Eu fiz este anúncio e voltei minhas atenções para leituras de magia durante os dois meses seguintes.

Menos de dois meses depois disso, tive o que considero ser minha primeira experiência mágica. Foi durante um ritual com um amigo meu. Algo aconteceu à nós dois ao mesmo tempo. Senti que uma extraordinária inteligência tinha nos atravessado. Não achei que fosse algo de minha imaginação. Eu estava absolutamente preparado em admitir que tudo poderia ter sido uma completa alucinação, com exceção do fato de que tive alguém ao meu lado que experimentou as mesmas coisas. Logicamente faz sentido em dizer que escolhi isso, escolhi ser envolvido pela magia, mas naquele momento, senti como se tivesse escolhido por alguma coisa mais profunda.


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