ENTREVISTAS

ALAN MOORE, PRATICANTE DE MAGIA

por Matt Brady - 01 de Outubro de 1999

Após a essa sua primeira experiência, Moore continuou estudando e praticando magia, dividindo seu tempo entre escrever e seus outros interesses. Porém, como ele explica , seus textos não pioraram com isso.

Explorar esse tipo de coisas ocupou muito de meu tempo, Moore diz. Certamente mudou minhas percepções sobre muitas coisas. Desde que abracei seriamente essa causa, tentei medir quanto bem está fazendo. Obviamente, se eu simplesmente tivesse enlouquecido, eu seria a última pessoa a notar e, assim, quando tive a intenção de fazer magia, estabeleci um padrão para mim: se estou sendo tão criativo e tão funcional quanto era antes de começar minha investigação e experimentação, então tudo bem. Mesmo se minhas idéias sobre magia estivessem completamente erradas, então ao menos eu não estaria machucando ninguém.

Para surpresa de Moore, ele até mesmo está ficado mais produtivo desde que antes de começar a experimentar a magia.

Não acho que o padrão do trabalho está necessariamente melhor, Moore diz. É um modo de entender sua criatividade. A pergunta que todo mundo faz para os escritores, "de onde você tira suas idéias?", pode parecer uma pergunta banal, mas essa é a única pergunta que importa: de onde as idéias vêm? Para mim, entrar na magia foi apenas um modo de responder a isso.

Primeiro, não há nada lá, e então há uma idéia vaga e sem forma na mente do artista ou do escritor. Então a idéia assume um pouco mais de forma, e então, de repente, se torna um manuscrito ou um desenho acabado. Algo que se formou do nada. É o coelho da cartola. O que, para mim, é a definição de magia. Tem muito mais fundamento do que tudo o que todos até agora já disseram sobre magia; é uma paisagem muito rica para se explorar e certamente tem, de algum modo, um efeito ou outro em tudo o que faço.

Para Moore, magia cerca não só seus textos, mas também todos seus empenhos criativos, incluindo sua música. Enquanto os fãs mais antigos de Moore sabem que ele tem participado ativamente de dois diferentes grupos musicais durante anos, inclusive The Emperors of Ice Cream (uma banda com um nome bastante exótico) que acabou a aproximadamente cinco anos atrás.

Estávamos escrevendo boas canções de quatro minutos, mas no final era tudo o que tinha sido feito, e o único modo de a banda poder continuar era esse, assim nós nos separamos, Moore diz. Eu fiquei em contato com Tim Perkins, um brilhante compositor e instrumentista que era um dos suportes da faixa. Tim e eu começamos a trabalhar junto com Dave Jay, de Love and Rockets. Isto foi durante a mesma época que realmente me interessei por magia, e comecei a ver que, de um certo modo, pode ser dito que toda a criatividade tem um certo aspecto mágico. Daí, argumentei que deveria ser possível combinar magia ritual com apresentação musical, e foi o que começamos a fazer.

A primeira performance de Moore, Perkins e Jay baseada em suas idéias aconteceu durante um evento de três dias perto da Fleet Street, em Londres. Havia todo o tipo de artistas, atores marginais e cantores lá, Moore diz. Nós a encerramos no domingo, com a leitura de um texto juntamente com um fundo musical gravado que tínhamos composto. No ano seguinte, Moore e companhia executaram The Birth Caul (que fascinou tanto o artista Eddie Campbell, que depois que escutou o CD, perguntou para Moore se poderia ilustrar o musical como uma HQ) e um pouco mais aqui e alí, nunca mais repetiram a apresentação musical após a terem completado.

Elas são muito singulares, Moore diz. Só as fazemos uma vez, na tentativa de evitar a habitual fórmula do rock and roll: escrever canções, fazer um álbum, promovê-lo e cantar as mesmas canções todas as noites - a cada instante esperando que você possa achar um tempo para escrever algumas novas canções para o próximo álbum e começar todo o processo novamente. De preferência, tentamos evitar uma política de claro desperdício, onde fazemos um brilhante exemplo de música, escrevemos palavras sinceras, fazemos uma maravilhosa apresentação e nunca mais a realizamos. Para nós, isso parece ser um modo mais poderoso de se trabalhar.

Moore diz que o grupo pode fazer outra apresentação antes do fim do ano, mas o que realmente está ocupando o tempo deles no momento é um álbum chamado Disco Cabala. É um projeto de longa data, mas ainda terei que me envolver mais com ele, um pouco mais do que estou no momento, Moore diz.

Não o entenda mal - Moore está sutilmente ciente de que alguns de seus fãs podem achar este lado de sua vida estranho e talvez um pouco assustador. Eu devo imaginar que, muito razoavelmente, a maioria deles poderá presumir que tudo o que falei há pouco nada mais é que os vacilos de um cérebro em decomposição, ou que é só um louvável modo new agede falar sobre o trabalho que faço, Moore diz, enquanto ri. É o que eu presumiria se tivesse ouvido isso. Gostaria de oferecer The Birth Caul como uma oportunidade para que pessoas possam vivenciar um trabalho mágico. O que posso dizer é que esse é um de meus trabalhos mágicos, e isto dá pelo menos uma oportunidade para as pessoas olharem para ele e tirarem suas próprias conclusões a respeito, se é mágico ou não, e é tudo o que realmente posso esperar.

Finalmente, Moore reconhece que enquanto falar de suas crenças sobre magia e sua música, poderá revelar mais sobre si do que outras pessoas seriam capazes de expor confortavelmente, e ele indica que está apenas arranhando a superfície. Oh, eu sou muito mais estranho do que o que já disse até agora, Moore diz. Estou só lhe dando um rápido, comercial e aceitável esboço. Ainda tenho meus segredos.


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