Se é que vai, quem vai?
Para a amiga Ralidjha Isabeli,
Mais um dia de universidade, mais um dia patético de movimento estudantil. Patético pelo poder que ele tem de sempre nos fazer esperar. Alguns amigos que participaram do 68[1] nestas terras me disseram que não fizeram a revolução, pois aquela não era a hora. 37 anos mais tarde ainda estamos acumulando força, aglutinando pessoas.
Dizem por ai que o movimento operário (o proletariado) para a burguesia é no máximo uma dor na consciência. Nada que umas duas seções de análises não resolva. E o movimento estudantil, o que é para a burguesia? Um piolho na cabeça, uma cera no ouvido, uma caquinha incomoda no nariz? Mesmo que fossemos otimistas, incomodo é pouco. O que não mata, fortalece o sistema. Mas quem disse em matar o capitalismo? Há muito tempo que não vejo um movimento estudantil com esta proposta! (Se é que já houve autenticamente esta proposta). Apesar da maior parte dos estudantes militantes se dizerem socialista – ou qualquer ista que não CAPITALISTA – o fato é que nunca se imbuem do dever de destruição de classes. (E é óbvio que não estou aqui dizendo que esses socialistas, caso implementasse seu socialismo, dissolveriam as classes, já que o proletário fica sempre no embrutecedor trabalho. Quem governa mesmo são os operários do poder[2]). Sobre “ser revolucionário”, os pobres-dos-estudantes concordam com os padres-da-política[3], que por sua vez descordam disfarçadamente e sistematicamente do “ser revolucionário” destes primeiros. Tudo bem! Voltemos ao otimismo, ao faz de contas[4]: os estudantes têm como proposta dissolver as classes. Mas, afinal de contas, quem vai começar esse processo? Ora, não me venhas aqui falar que o processo já começou, tudo que temos é a luta reformista (não radical) que só auxilia o capitalismo a se desenvolver. Destruir o reitor, construir uma zona revolucionária, acabar com o aparelho repressor, expulsar os cientistas capitalistas de merda, da merda universidade... Quem vai começar a fazer isso? Geralmente se escondem em esfarrapadas ideologias para dizerem: “vamos esperar as massas”, “aglutinar mais pessoas”, “o acumulo de força é necessário”, blá, blá, blá, etc e tal. Ninguém se propõe a iniciar o radicalismo. Acredito que o que queremos é ser eternos críticos do capitalismo, nunca seus destruidores.
Mais um dia na universidade, mais um dia patético de movimento estudantil. Patético porque somos simples operários-militantes[5] do indiscutível, do imóvel e do enteado do capitalismo, MOVIMENTO ESTUDANTIL. Não temos nada a perder com o radicalismo, e é só ele quem pode construir uma nova sociedade, no entanto temos muito a perder com o reformismo, e é ele quem nos aprisiona eternamente nesse sistema. Pois é Ralidjha Isabeli, a coisa ta feia pra nós, mas devia estar feia pra eles.
Gardencia Fimon, 11 de agosto de 2005
No Universo Esquecido do Ser de Consumo
[1] Ano de muitos movimentos “revolucionários” impulsionados pelo Maio de 68 na França.
[2] Burocratas que detém o controle estatal e fingem de operário.
[3] Os líderes de partidos políticos ou os antigos líderes ditos revolucionários de esquerda.
[4] Poder da boneca mutante Emilia na obra “Sítio do Pica-Pau Amarelo” de Lobato.
[5] Estudantes que trabalham para a manutenção, reprodução e produtividade do movimento estudantil.
Anti-Copyright: A cópia ou a publicação
desse material é permitida e incentivada. Copiem. Desviem. Melhorem.
Ver também: Dar adeus ao proibido