Introdução

 

A década de 60 representou, no início, a realização de projetos culturais e ideológicos alternativos lançados na década de 50. A segunda metade dos anos 50 já prenunciava os anos 60: a literatura beat de Jack Kerouac, o rock de garagem à margem dos grandes astros do rock (e que resultaria na surf music) e os movimentos de cinema e de teatro de vanguarda, inclusive no Brasil.

1960 a 1965: havia um sabor de inocência e até lirismo nas manifestações sócio-culturais, e no âmbito da política é evidente o idealismo e o entusiasmo no espírito de luta do povo. 1966 a 1968: as experiências com drogas, a perda da inocência, a revolução sexual e os protestos juvenis contra a ameaça de endurecimento dos governos. É ilustrativo que os Beatles tenha trocado as doces melodias de seus primeiros discos pela excentricidade psicodélica, incluindo orquestras, letras surreais e guitarras distorcidas. "I want to hold your hand" é o espírito da primeira metade dos anos 60. "A day in the life", o espírito da segunda metade.

Nesta época teve início uma grande revolução comportamental como o surgimento do feminismo e os movimentos civis em favor dos negros e homossexuais. O Papa João XXIII abre o Concílio Vaticano II e revoluciona a Igreja Católica. Surgem movimentos de comportamento como os hippies, com seus protestos contrários à Guerra Fria e à Guerra do Vietnã e o racionalismo. Esse movimento foi também a chamado de contracultura. Ocorre também a Revolução Cubana na América Latina, levando Fidel Castro ao poder. Tem início também a descolonização da África e do Caribe, com a gradual independência das antigas colônias.

Foi nesta década que foi inaugurada a cidade de Brasília, nova capital do país, por Juscelino Kubitschek.

Os anos 60 marcaram a Explosão Musical no Brasil, ainda sob o efeito dos “ANOS DOURADOS". Os ternos e os chapéus se foram, e uns após outros  surgiram os talentos musicais da MPB.

Roberto Carlos deu inicio ao ritmo alucinante do ie ie ie que preenchia as tardes de domingo dos nossos adolescentes . Ao mesmo tempo, os jovens brasileiros deliravam com os Festivais de MPB da TV Record, onde a cada dia apareciam  talentos  diferentes. Esta foi também a era " Vinicius de Morais " e todos os seus seguidores  que se uniram  para nos brindar.

Desde o final dos anos 50 vinha o Brasil lutando para se libertar do complexo de “país de segunda classe”; nossa cultura popular e musical, resultante de miscigenação das culturas européia, africana e indígena, carregava a síndrome de “vice” na maioria do povo: tínhamos sido vice-campeões no mundial de futebol de 1950 no Rio de Janeiro , Marta Rocha tinha sido vice campeã no concurso Miss Universo de 1954 e fomos desclassificados no mundial de futebol de 1954 na Suíça.

A vitória do futebol, na Copa do Mundo de 1958 na Suécia, marcava o início do sentimento de “ressurreição” do povo brasileiro como país importante no contexto mundial; o início da indústria automobilística brasileira, os momentos de glória de Pelé e Garrincha, a inauguração de Brasília em 1960, cidade projetada pelos arquitetos Lúcio Costa e Oscar Niemayer ajudaram o governo do Presidente Juscelino com o “slogan 50 anos em 5” a tirar proveito político desses fatos, aumentando o sentimento patriótico da população.

 O sucesso da bossa nova com aceitação internacional, a conquista do bicampeonato mundial de futebol em 1962 no Chile, a conquista da Palma de Ouro em 1962 pelo filme brasileiro dirigido por Anselmo Duarte “O Pagador de Promessas” em Cannes, as vitórias de Maria Esther Bueno no tênis e outras conquistas de afirmação nacional fizeram da década de 60 um período de grande exacerbação de nacionalismo. Além disso, também aumentou o grau de conscientização política dos problemas e carências do povo brasileiro acirrando as disputas ideológicas entre os vários segmentos da população. Após o desastre da administração do presidente Jânio Quadros e com a ascensão de Jango Goulart em 1961 aumentaram os conflitos sociais, resultando no golpe militar de 1964.

 A cultura musical brasileira acompanhou todas essas mudanças com a afirmação da bossa nova e o surgimento das músicas de cunho social apresentadas principalmente nos “Festivais de Música Brasileira”, principalmente os da TV Excelsior e TV Record; assim surgiram  composições sociais de Sérgio Ricardo, Gilberto Gil, Chico Buarque, Caetano Veloso, Geraldo Vandré, Teo de Barros, Torquato Neto, Heraldo do Monte, Airto Moreira, Hilton Acioli e muitos outros.

 A grande divulgação de cantores americanos de rock através do cinema e  gravadoras ajudou também o nascimento do rock brasileiro com ampla divulgação da mídia nos anos 60; um dos principais incentivadores foi o compositor e radialista Carlos Imperial que  fundou em 1958 o Clube do Rock, no Rio de Janeiro, onde se apresentavam e se reuniam os amantes do rock; nesse clube iniciaram suas carreiras Roberto Carlos e Erasmo Carlos.

A parcela de público que preferia músicas oriundas do rock passou a ter seu espaço musical com programas específicos na televisão cujo ápice foi o programa “Jovem Guarda” iniciado em 1965 com Roberto, Erasmo e Vanderléia permanecendo no ar pela TV Record durante vários anos.

 Sob influência da Jovem Guarda e dos Beatles nasceu em 1967 o Tropicalismo, movimento de vanguarda liderado por Caetano Veloso, Rogério Duprat, Gilberto Gil, Júlio Medaglia e outros; suas principais composições foram “Tropicália“,  "Domingo no Parque” e “Alegria, Alegria” onde era incentivada a universalização da música brasileira inclusive com utilização de guitarras elétricas e absorção de vários gêneros musicais: pop-rock, música de vanguarda, frevo, samba, bolero, etc.

 Assim na década de 60 três novas grandes vertentes musicais podem ser identificadas : bossa nova, músicas sociais de festivais e rock da jovem guarda; evidentemente músicas com ritmos tradicionais como samba, samba canção, músicas de carnaval e músicas regionais continuaram a ter seu espaço mas com menos divulgação e menor sucesso que as três citadas.

Os anos 60 trouxeram a inovação no campo da música. Grandes sucessos surgiram nessa época de revolução, como os Rolling Stones, The Yardbirds, The Byrds, The Animals, Bob Dylan, The Doors, Jimi Hendrix, The Who, Janis Joplin, Eric Clapton, Led Zeppelin e muitos outros. Mas um dos maiores sucessos da época e que influenciaram a história da música mundial a partir de então foram os Beatles.

 

Rebeldes e revolucionários, os anos 60 mudaram a vida da sociedade global

 

Década de 1960 - Tempos de Populismo e Agitação

Os anos 50 chegaram ao fim com uma geração de jovens, filhos do chamado "baby boom", que vivia no auge da prosperidade financeira, em um clima de euforia consumista gerada nos anos do pós-guerra nos EUA. A nova década que começava já prometia grandes mudanças no comportamento, iniciada com o sucesso do rock and roll e o rebolado frenético de Elvis Presley, seu maior símbolo.
A imagem do jovem de blusão de couro, topete e jeans, em motos ou lambretas, mostrava uma rebeldia ingênua sintonizada com ídolos do cinema como James Dean e Marlon Brando. As moças bem comportadas já
começavam a abandonar as saias rodadas de Dior e atacavam de calças cigarette, num prenúncio de liberdade.

Os anos 60, acima de tudo, viveram uma explosão de juventude em todos os aspectos. Era a vez dos jovens, que influenciados pelas idéias de liberdade "On the Road" [título do livro do beatnik Jack Keurouac, de 1957] da chamada geração beat, começavam a se opor à sociedade de consumo vigente. O movimento, que nos 50 vivia recluso em bares nos EUA, passou a caminhar pelas ruas nos anos 60 e influenciaria novas mudanças de comportamento jovem, como a contracultura e o pacifismo do final da década. Nesse cenário, a transformação da moda iria ser radical. Era o fim da moda única, que passou a ter várias propostas e a forma de se vestir se tornava cada vez  mais ligada ao comportamento. Conscientes desse novo mercado consumidor e de sua voracidade, as empresas criaram produtos específicos para os jovens, que, pela primeira vez, tiveram sua própria moda, não mais derivada dos mais velhos. Aliás, a moda era não seguir a moda, o que representava claramente um sinal de liberdade, o grande desejo da juventude da época.

Na moda, a grande vedete dos anos 60 foi, sem dúvida, a minissaia. A inglesa Mary Quant divide com o francês André Courrèges sua criação. Entretanto, nas palavras da própria Mary Quant: "A idéia da minissaia não é minha, nem de Courrèges. Foi a rua que a inventou".

Em 1965, na França, André Courrèges operou uma verdadeira revolução na moda, com sua coleção de roupas de linhas retas, minissaias, botas brancas e sua visão de futuro, em suas "moon girls", de roupas espaciais, metálicas e fluorescentes. Enquanto isso, Saint Laurent criou vestidos tubinho inspirados nos quadros neoplasticistas de Mondrian e o italiano Pucci virou mania com suas estampas psicodélicas.

Os tecidos apresentavam muita variedade, tanto nas estampas quanto nas fibras, com a popularização das sintéticas no mercado, além de todas as naturais, sempre muito usadas.

As mudanças no vestuário também alcançaram a lingerie, com a generalização do uso da calcinha e da meia-calça, que dava conforto e segurança, tanto para usar a minissaia, quanto para dançar o twist e o rock. O unissex ganhou força com os jeans e as camisas sem gola. Pela primeira vez, a mulher ousava se vestir com roupas tradicionalmente masculinas, como o smoking [lançado para mulheres por Yves Saint Laurent em 1966].

A alta-costura cada vez mais perdia terreno e, entre 1966 e 1967, o número de maisons inscritas na Câmara Sindical dos costureiros parisienses caiu de 39 para 17. Consciente dessa realidade, Saint Laurent saiu na frente e inaugurou uma nova estrutura com as butiques de prêt-à-porter de luxo, que se multiplicariam pelo mundo também através das franquias.

Com isso, a confecção ganhava cada vez mais terreno e necessitava de criatividade para suprir o desejo por novidades. O importante passaria a ser o estilo e o costureiro passou a ser chamado de estilista.

Nessa época, Londres havia se tornado o centro das atenções, a viagem dos sonhos de qualquer jovem, a cidade da moda. Afinal, estavam lá, o grande fenômeno musical de todos os tempos, os Beatles, e as inglesinhas emancipadas, que circulavam pelas lojas excêntricas.

Entretanto, os anos 60 sempre serão lembrados pelo estilo da modelo e atriz Twiggy, muito magra, com seus cabelos curtíssimos e cílios inferiores pintados com delineador.

 A maquiagem era essencial e feita especialmente para o público jovem. O foco estava nos olhos, sempre muito marcados. Os batons eram clarinhos ou mesmo brancos e os produtos preferidos deviam ser práticos e fáceis de usar. Nessa área, Mary Quant inovou ao criar novos modelos de embalagens, com caixas e estojos pretos, que vinham com lápis, pó, batom e pincel. Ela usou nomes divertidos para seus produtos, como o "Come Clean Cleanser", sempre com o logotipo de margarida, sua marca registrada. As perucas também estavam na moda e nunca venderam tanto. Mais baratas e em diversas tonalidades e modelos, elas eram produzidas com uma nova fibra sintética, o kanekalon.

A moda masculina, por sua vez, foi muito influenciada, nos início da década, pelas roupas que os quatro garotos de Liverpool usavam, especialmente os paletós sem colarinho de Pierre Cardin e o cabelo de franjão. A silhueta era mais ajustada ao corpo e a gola rolê se tornou um clássico do guarda-roupa masculino. Muitos adotaram também a japona do pescador e até mesmo o terno de Mao.
No Brasil, a Jovem Guarda fazia sucesso na televisão e ditava moda. Wanderléa de minissaia, Roberto Carlos, de roupas coloridas e como na música, usava botinha sem meia e cabelo na testa [como os Beatles]. A palavra de ordem era "quero que vá tudo pro inferno".

Os avanços na medicina, as viagens espaciais, o Concorde que viaja em velocidade superior à do som, são exemplos de uma era de grande desenvolvimento tecnológico que transmitia uma imagem de modernidade. Essa imagem influenciou não só a moda, mas também o design e a arte que passaria a ter um aspecto mais popular e fugaz.

No final dos anos 60, de Londres, o reduto jovem mundial se transferiu para São Francisco (EUA), região portuária que recebia pessoas de todas as partes do mundo e também por isso, berço do movimento hippie, que pregava a paz e o amor, através do poder da flor [flower power], do negro [black power], do gay [gay power] e da liberação da mulher [women's lib]. Manifestações e palavras de ordem mobilizaram jovens em diversas partes do mundo.

A esse conjunto de manifestações que surgiram em diversos países deu-se o nome de contracultura. Uma busca por um outro tipo de vida, underground, à margem do sistema oficial. Faziam parte desse novo comportamento, cabelos longos, roupas coloridas, misticismo oriental, música e drogas.
No Brasil, o grupo "Os Mutantes", formado por Rita Lee e os irmãos Arnaldo e Sérgio Batista, seguiam o caminho da contracultura e afastavam-se da ostentação do vestuário da jovem guarda, em busca de uma viagem psicodélica.

A moda passou a ser as roupas antes reservadas às classes operárias e camponesas, como os jeans americanos, o básico da moda de rua. Nas butiques chiques, a moda étnica estava presente nos casacos afegãos, fulares indianos, túnicas floridas e uma série de acessórios da nova moda, tudo kitsch, retrô e pop.

Toda a rebeldia dos anos 60 culminaram em 1968. O movimento estudantil explodiu e tomou conta das ruas em diversas partes do mundo e contestava a sociedade, seus sistemas de ensino e a cultura em diversos aspectos, como a sexualidade, os costumes, a moral e a estética.

No Brasil, lutava-se contra a ditadura militar, contra a reforma educacional, o que iria mais tarde resultar no fechamento do Congresso e na decretação do Ato Institucional nº 5.

Talvez o que mais tenha caracterizado a juventude dos anos 60 tenha sido o desejo de se rebelar, a busca por liberdade de expressão e liberdade sexual. Nesse sentido, para as mulheres, o surgimento da pílula anticoncepcional, no início da década, foi responsável por um comportamento sexual feminino mais liberal. Porém, elas também queriam igualdade de direitos, de salários, de decisão. Até o sutiã foi queimado em praça pública, num símbolo de libertação.

Os 60 chegaram ao fim, coroados com a chegada do homem à Lua, em julho de 1969, e com um grande show de rock, o "Woodstock Music & Art Fair", em agosto do mesmo ano, que reuniu cerca de 500 mil pessoas em três dias de amor, música, sexo e drogas.


Moda: 1960/1966

 Em 1960, os vestidos acinturados foram para o fundo do baú. Em seu lugar, chegaram os vestidos chemisiers, com saias relas ou evasées, decotes ousados e uma écharpe no pescoço. Desde então, a tendência de roupas com linhas alongadas não parou mais. Os "tubinhos" substituíram babados e enfeites de rendas por franjas, espirais e correntes douradas. A liberação atingia as praias, e, em 1963, as moças desfilavam, pela primeira vez, com maio de duas peças. Ainda não era o biquini, mas já provocava escândalos e desaprovação das famílias. Outro lançamento que causou sensação na época foi a calça Saint-Tropez, com cintura baixa e que deixava a mulher com o umbigo de fora, Paralelamente a essa corrida pela liberdade de movimentos, desencadeou-se uma ofensiva dos fabricantes de fibras sintéticas. Embora, a princípio, esses tecidos fossem importados, com o tempo passaram a ser produzidos pelas indústrias nacionais, popularizando-se
as confecções em ban-lon, tcrgal, nylon, acrílico, rayon e políéster. Em 1963, os costureiros desenhavam laiileurs e terninhos com japonas 7/8. As revistas anunciavam "a sobriedade que os homens tanto apreciam em tecidos e padronagens traduzida para a graça feminina". Mas essa sobriedade não era total. Em 1964, a Vil Fenit expunha, como curiosidade, o monoquini. Estava vestido num manequim de borracha e não obteve sucesso. Os homens comentavam que já não havia mais com que sonhar, diante de peça tão ousada. Mesmo assim, as mulheres ansiavam por mudanças, e estas começaram a acontecer em 1965: as saias tomaram-se mais curtas, numa moda rodopiante e alegre, suave e viva ao mesmo tempo. Nessa época, por influência da arte, os estampados também mudaram: os vestidos obedeciam à linha Qp (da Op Art), com motivos geométricos. 0$ temas gráficos substituíram as estampas de flores, frutas e listras dos anos anteriores, bem como a febre de bolinhas do início dos anos 60. Mas o maior sucesso foi a criação da moda jovem de 1965/66, por influência dos Beatles.

 

 

 

 

 

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