O Dote das Trevas
Capítulo 1
MISTÉRIOS EM VOLTA DE UMA PESSOA
Era primeiro de Setembro. A plataforma 9½ estava lotada de alunos e seus
pais, como acontecia todos os anos. Alguns conversavam com seus amigos sobre as
últimas novidades do Profeta Diário, outros procuravam algum vagão
vazio. Mas ninguém estava fazendo o mesmo que quatro jovens de 15 anos.
Harry Potter, um garoto magro, com joelhos ossudos, cabelos negros
completamente rebeldes, olhos vivamente verdes e uma fina cicatriz em forma de
raio na testa, estava entre outros dois jovens. Um deles, alto, com fumegantes
cabelos ruivos e jeito desengonçado estava postado à direita do primeiro. O
segundo era uma linda garota, com cabelos castanhos que lhe iam quase até a
cintura, e olhos da mesma cor, que estava à esquerda. O quarto era um garoto
com cabelos louro-platinados cuidadosamente penteados, no momento cobertos de
uma gosma verde mal-cheirosa. Os olhos claros comumente frios e zombeteiros
demonstravam estampada fúria.
- Potter, essa foi a última vez que você me faz isso! – rosnou Draco
Malfoy, tirando a varinha das vestes.
- Mas essa foi a primeira! – comentou Rony zombeteiro, segurando o
riso.
- Vamos correr! – gritou Hermione.
Mal começara o ano letivo e Draco Malfoy já começara com suas provocações.
Mas desta vez ele fora muito longe, Harry perdera o controle e lançara um feitiço,
e agora Malfoy estava furioso, querendo revanche.
Harry, Rony e Hermione correram pela plataforma até entrarem no Expresso
de Hogwarts, um enorme trem vermelho que levava os alunos até a Escola de Magia
e Bruxaria de Hogwarts. Os três correram até o fim do trem, e entraram no último
vagão, fechando a porta completamente ofegantes.
Uma garota com mais ou menos a idade dos três olhava assustada para
eles. Era alta e magra, e tinha o cabelo castanho escuro, ondulado nas pontas,
que ia até um pouco abaixo do ombro. Seu olhar era frio e calculista, e seus
olhos eram em um tom castanho-acizentado.
- Nós não sabíamos que o vagão estava ocupado... Estamos saindo...
– disse Harry ao mesmo tempo surpreso e sem graça.
Os três estavam quase saindo quando a garota falou, com a voz levemente
abafada e em um tom suave, porém letal, dependendo da situação.
- Podem ficar senhores! Não sabia que estava ocupado.
- Mas não está! – interrompeu Rony – Sem contar com você, é
claro.
- Ali – respondeu apontando para três malões. – Receio que sejam
dos senhores e da senhorita, não são?
Hermione abaixou-se e checou os malões, confirmando a hipótese da
garota. Ela deu um suspiro, pegou seu malão, passando pelos três. Mas quando
estava à porta foi interrompida por Rony.
- Pode ficar, nós não ligamos!
- Eu não quero incomodar... – começou a garota.
- Fique! Não tem problema! – insistiu Harry.
- E qual o seu nome? – perguntou Hermione desconfiada, lançando um
olhar analítico na garota.
- Oh, me desculpem senhores! Sou Catherine. Catherine
Stone – disse ela. – E os senhores?
- Harry Potter.
Catherine não soltou nenhuma exclamação de surpresa, muito menos olhou
para a cicatriz dele. Parecia indiferente, como se fosse uma pessoa normal.
- Rony Weasley.
- E eu sou Hermione Granger – disse Hermione finalizando as apresentações.
- Prazer – respondeu Catherine displicentemente.
- Você é nova? Nunca te vi antes... – disse Rony, curioso com o
uniforme dela, que tinha somente o emblema de Hogwarts.
- Sou – respondeu não querendo estender o assunto.
- Nunca vi nenhum aluno maior de 11 anos entrar em Hogwarts... –
comentou Harry intrigado.
- Tenho 15 anos e não sei em que ano vou estar – respondeu a garota, já
sabendo o que viria a seguir.
- Em que casa acha que vai estar? – perguntou Hermione astutamente.
- Não sei – respondeu levemente impaciente.
A viagem correu normalmente. O trio tentava a qualquer custo descobrir
mais sobre Catherine, mas ela se recusava a responder a qualquer pergunta
pessoal, além do estritamente necessário.
Chegaram à Estação de Hogmeade, já anoitecendo. Rúbeo Hagrid
esperava os alunos novos com uma enorme lanterna na mão, o que somente
aumentava o medo pelo meio-gigante. Mas ele era bom, e Harry pudera comprovar
isso em seu primeiro ano.
- Alunos do primeiro ano, me acompanhem! – falou Hagrid fazendo um
gesto para irem andando – Catherine Stone, venha também – completou, ao ver
a garota ao lado de Rony.
Hadrid levou os alunos para a costumeira travessia de barco. O tempo
estava bom, e não aconteceu nenhum imprevisto. Ao chegarem no saguão de
entrada, avistaram uma mulher de aparência severa, com vestes impecáveis e
cabelos presos firmemente em um coque, que os esperava. Seu nome era Minerva
McGonagall, e pelo que Catherine sabia ela era diretora da casa Grifinória. Ela
começou a explicar sobre os pontos e as casas, enquanto não chegava a hora da
seleção.
- Já podemos ir – disse, levando os alunos até o Salão Principal.
Os alunos olharam ansiosos para a decoração, tudo impecável e
chamativo. Muitos demoraram seus olhares no teto encantado, que mostrava o céu
azul coberto de nuvens, a lua escondida atrás delas.
A professora colocou um banquinho em um lugar visível a todos, e sobre
ele colocou um chapéu remendado e velho, que começou a cantar. Os novatos
ficaram surpresos, e os veteranos aplaudiram assim que ele acabou sua música.
McGonagall pegou um pergaminho e situou os alunos.
- Quando eu chamar seus nomes, dêem um passo à frente. Vocês serão
selecionados em seguida.
E assim começou a seleção. Tudo corria normalmente, com alunos indo
para Lufa-Lufa, Corvinal, Grifinória e Sonserina, mas somente até Minerva
chamar “Stone, Catherine!”. Os alunos apuraram a audição, levemente
curiosos. Até os professores pareciam mais interessados. Ela caminhou até o
banquinho, temerosa. Mas seus olhos diziam o contrário, continuavam frios como
gelo. A professora colocou o chapéu sobre sua cabeça, tampando-lhe os olhos.
O chapéu começou a murmurar, de modo que só ela pudesse ouvir.
- Hum... Vejo que está muito confusa, garota... Não sabe realmente o
que está fazendo no mundo... Teme decepcionar seus pais, ou pior, a si mesma.
Tem muita fibra e força de vontade, e está completamente indecisa sobre qual a
melhor casa. Realmente, você é difícil de classificar... Mas o sangue é
importante, e é preciso seguir a linhagem antiga... Então será... SONSERINA!
– a última palavra ele gritou, para todos os presentes ouvirem.
A mesa da Sonserina prorrompeu em aplausos. O professor Snape, que até
então estava desligado, analisou demoradamente a nova aluna. Catherine deu um
pequeno suspiro e caminhou lentamente até a mesa de sua nova casa, onde Draco
Malfoy, o novo monitor da casa, a esperava formalmente.
- Como poder ser Sonserina?! – exclamou Rony estupefato.
- Pensei que ia ficar na Grifinória... – comentou Harry desapontado.
- Seja bem vinda, senhorita Stone. Sou Draco Malfoy, monitor da Sonserina
– disse Draco todo pomposo, beijando a mão de Catherine.
- É um prazer, senhor Malfoy – respondeu Catherine polidamente.
- Então, o que acha dos tempos das trevas?
Catherine parou um momento antes de responder, mas quando o fez, balançou
os ombros, indiferente.
- Morsmordre.
- Hum... – fez Draco dando um sorrisinho de aprovação – É muito
bom tê-la na Sonserina, Catherine. Pode me chamar de Draco – disse com mais
empolgação.
“Garoto interesseiro e superficial”- pensou Catherine.
Harry e Rony, que tentavam a todo custo escutar a conversa do dois,
ouviram a última frase que Catherine disse, e ficaram alarmados.
- O que é Morsmordre? – perguntou Rony. Harry balançou os
ombros, e Hermione pareceu de repente muito brava.
- Como podem ser tão burros?
- Você sabe o que é? – perguntou Harry.
- Francamente! Achei que ao menos você, Harry, soubesse! –
exclamou impaciente – E não pensem que vou contar!
Rony ia responder alguma coisa, mas Dumbledore se levantou para dar os
avisos antes do jantar e após a seleção. Todos ficaram em silêncio.
- Mais um ano começa! Gostaria de reforçar que este ano a floresta está
mais do que proibida, e qualquer passeio pelos terrenos da escolha renderão
detenções. O campeonato de quadribol acontecerá normalmente este ano – vário
alunos comemoraram, e Fred e Jorge Weasley só faltavam esmurrar a mesa de tanta
alegria. – E os testes para entrar no time irmão acontecer daqui a duas
semanas, e os capitães devem comunicar com os diretores as vagas disponíveis.
- Agora, mudando um pouco de assunto, todos devem estar curiosos sobre a
aluna Catherine Stone, estou certo? – todos concordaram – Ela estudou em uma
escola particular em Londres, e por problemas pessoais, passará a estudar aqui
de agora em diante. Irá cursar o quinto, e peço que a ajudem-na a se enturmar.
Depois dos recados ele bateu palmas e as travessas se encheram dos mais
variados tipos de comida. Catherine começou a conversar com Draco.
- Detesto quando ficam olhando para mim – resmungou olhando para os
lados, irritada.
- Não se preocupe. Assim que conhecerem uma Stone eles vão parar –
comentou Draco divertindo.
- Não espere que eu mostre a que vim para um bando de curiosos – disse
rispidamente, cortando o sorriso de Draco.
- Quer dizer que vai ficar quietinha se passando por uma aluna assustada
com tudo? – perguntou Draco incrédulo.
- Essa é a intenção – respondeu Catherine com um sorrisinho.
- Não acredito! – exclamou inconformado.
- Pode acreditar – disse Catherine. – Ah, e quem são esses dois que
não param de olhar para nós? – perguntou apontando para os dois ao lado de
Draco.
- Ah! Esses são Crabbe e Goyle, sempre andam comigo – respondeu com um
sorriso cínico.
- Um triângulo... entendo... – disse pensativa – E não tem mais
ninguém? Suponho que dê para formar um pentágono, não?
- Não que eu saiba, mas precisamos arranjar mais alguém, o pentágono
é bem mais forte...
O resto do jantar correu com Draco e Catherine conversando absortos sobre
o tal triângulo. As travessas já estavam limpas do jantar, e voltaram a se
encher, mas com as mais diversas sobremesas. Os dois nem notaram a mudança,
continuaram a comer e a conversar.
Então uma voz gélida, letal e suave se manifestou atrás dos dois. Eles
se viraram para ver o autor da interrupção. Draco sorriu.
- Seja bem-vinda à Sonserina, srta. Stone. Espero que seja digna de
estar aqui e que nos ajude a ganhar a taça este ano.
E ele nem esperou resposta. Saiu sorrateiramente até a porta, suas
vestes esvoaçando à sua volta. Catherine observou a tudo confusa.
- Ele é...? – perguntou, incentivando Draco a terminar a frase.
- Severo Snape. É o diretor da Sonserina e professor de Poções. E ele
ensina a melhor das aulas, os grifinórios perdem muitos pontos...
Catherine ficou tão presa ao que Draco disse que nem ouviu a pergunta
que ele fez em seguida. Olhava para o lugar onde o professor saíra. Draco teve
que balançar a garota para ela voltar a prestar atenção nele.
- Está me ouvindo? – perguntou impaciente.
- Acho que já vi ele antes... – comentou Catherine sem respondeu à
pergunta de Draco. Em seguida se virou para ele e perguntou – Ele não é um,
ou é?
- Na verdade eu não sei... Meu pai disse que foi há muito tempo, mas
parece que se acovardou... Por quê?