O Dote das Trevas

Capítulo 2
VIRANDO UM CORREDOR

         O café da manhã no dia seguinte foi muito mais calmo para Catherine. Os alunos pararam de olhá-la ao vê-la em companhia de Draco Malfoy, que era temido por muitos alunos. Ela não gostava de ninguém a seguindo como se fosse um guarda-costas, mas teve que agradecer ao garoto.

         Harry e Rony não se intimidaram com a presença de Malfoy, mas pelo contrário, queriam dar uma lição nele por provavelmente estar falando mal dos dois para ela. Hermione nem queria saber, ainda estava furiosa pela falta de bom senso dos dois, principalmente de Harry.

         Foi mais ou menos no meio do café que centenas de corujas passaram a sobrevoar as cabeças dos alunos, entregando encomendas ou embrulhos das famílias. Catherine ficou impressionada, mas não recebeu nem sequer um simples bilhete.

         - Não se preocupe – consolou Draco abrindo uma caixa de bombons e doces -, mais cedo ou mais tarde você recebe.

         - Isso consola muito – retrucou irônica.

         - Eu já volto, vou entregar os horários dos alunos – disse fingindo não ouvir a resposta da garota, levantando-se em seguida.

         Draco não demorou muito, logo já estava sentado ao lado de Catherine, entregando-lhe um horário.

         - Ótimo! – exclamou satisfeito ao examinar seu horário – Temos Poções amanhã! Primeira aula! Ei, mas espera um pouco... – completou franzindo uma sobrancelha – Temos Defesa Contra as Artes das Trevas hoje! Quem vai ser o professor?

         A pergunta de Draco foi prontamente respondida. O professor Dumbledore levantou-se, e logo todos os burburinhos cessaram.

         - Só vou dar um breve aviso, não se preocupem, terão tempo para terminarem seus cafés antes das aulas – disse o diretor, em meio ao silêncio que todos faziam. - Eu gostaria que todos recebessem a nova professora de Defesa Contra as Artes das Trevas, Natalia Starfeel.

         De uma sala ao lado do Salão Principal – onde Harry recebera as primeiras instruções do Torneio Tribruxo no ano anterior – saiu uma mulher em vestes azul marinho. Seus cabelos encaracolados estavam quase totalmente soltos, somente a parte da frente estava presa, dando um ar jovial. Seus olhos eram castanho-claro, assim como seus cabelos. Vários alunos aplaudiram entusiasmados, mas mesmo assim foi uma recepção morna. A professora sentou-se entre Flitwick e Snape, que estava mais sério do que o costume, e uma expressão assassina no olhar.

         - Quando é que nós temos aulas de DCAT? – perguntou Rony esperançoso.

         - Só quarta-feira – respondeu Hermione checando o horário. – Por quê?

         - Ela é bem bonita, quero ver se é boa professora – respondeu Rony. Hermione corou furiosamente e fechou a cara. – Você não acha, Harry?

         - Quê? – perguntou Harry confuso, definitivamente não ouvindo uma palavra da conversa; já que estivera mais ocupado observando alguma coisa na mesa da Sonserina.

         - O que você está olhando lá? – perguntou Rony emburrado, provavelmente pelo amigo não ter prestado atenção no que dissera.

         - Eu estive olhando – “E bota olhando nisso!” interviu Rony – para Catherine, e percebi que os olhos dela são muito parecidos com os de uma outra pessoa que não consigo lembrar... – explicou Harry, disposto a descobrir a qualquer custo a informação.

         - Parecidos como? – perguntou Rony levemente interessado.

         - Não tenho certeza, mas acho que pela frieza e impassibilidade.

         Eles ouviram um muxoxo atrás deles. Era Hermione que arrumava os livros das aulas que teria pela manhã.

         - O que é? – perguntou Rony rispidamente – Pra quê fica fazendo muxoxos para a gente?

         - Eu não vou contar – retrucou com um ar de superioridade. – Até mais tarde.

         Ela pegou sua mochila e saiu do Salão Principal, mais emburrada com os dois do que nunca estivera antes. Harry e Rony se entreolharam, e só então perceberam que estavam atrasados para a primeira aula. Levantaram-se apressados e rumaram para as escadas, ao mesmo tempo que Catherine e Draco saíam de suas mesas sem a menor pressa.

         - Não acredito que a primeira aula é Adivinhação! – exclamou Rony amargurado, depois de subirem seis lances de escada.

         - É melhor corrermos – disse Harry olhando no relógio.

         Mas não adiantou eles correrem, chegaram com quase dez minutos de atraso. Isto deixou a professora Sibila Trelawney profundamente magoada. Eles sentaram em sua costumeira mesa bamba e suspiraram, preparados para o que prometia ser uma aula muito chata e cansativa.

* * * * *

         Os alunos da Sonserina do 5º ano saíam da aula de Defesa Contra as Artes das Trevas com a nova professora, Natalia Starfeel. Tinham tido uma aula relativamente boa; a professora era simpática e explicava bem, embora falasse muito superficialmente sobre os vários feitiços proibidos, incluindo as maldições.

         - Pra quê aprender as defesas se não podemos aprender as Artes propriamente ditas? – perguntou uma indignada Catherine Stone, após a professora pedir como dever uma lista com os feitiços proibidos que cada um conhecia.

         - Vai ver eles não querem que ninguém saia por aí enfeitiçando quem der na telha – respondeu Draco divertido, mas concordando com o que Catherine dissera.

         - Ou então eles temem que os alunos um pouco mais avançados fiquem causando confusões pelo colégio – disse uma voz atrás deles. Era a professora Starfeel.

         - Não vimos a senhora passando por aqui, desculpe professora – disse Draco fingindo arrependimento.

         - Vejo que os dois se interessam muito pelas Artes das Trevas – observou a professora. – Só espero que usem esse conhecimento para ajudar no combate contras as Trevas.

         Os dois concordaram e saíram de fininho, só voltando a conversar quando estavam fora do campo de visão da professora.

         - Francamente! – exclamou Draco – Ela realmente acha que vamos deter as Trevas – disse como se fosse uma coisa absurda. – Mal sabem eles que...

         - Cale a boca, Malfoy! – repreendeu Catherine rispidamente – Não é prudente ficar falando de seus segredos em pleno corredor do colégio! As paredes têm ouvidos, foi uma coisa que sempre aprendi.

         - É mesmo Catherine, você tem toda a razão. Meu pai me ensinou isso, mas vivo esquecendo isso! – comentou despreocupado.

         Os dois continuaram seguindo até sua próxima aula, que seria Trato com as Criaturas Mágicas, com Crabbe e Goyle seguindo os dois com um pouco de distância.

         - Os únicos problemas dessa aula, fora ela em si – explicava Draco com ar de impotente -, são aquele professor gigante e aqueles grifinórios, principalmente o precioso Potter – a última parte foi dita com um certo desprezo.

         - E cursa para quê essa matéria, então? – perguntou Catherine.

         - Na realidade só a curso pois meu pai ordenou. Se não fosse por isso, nem teria entrado!

         Os dois saíram do castelo, e chegaram à orla da floresta, onde Hagrid esperava pelos alunos sorrindo; sorriso que logo se desfez ao ver Draco Malfoy chegar, acompanhado de Crabbe, Goyle, e Catherine. Aquilo realmente era muito estranho, aquela aluna parecera ser tão inocente para Hagrid, e ficava andando com Malfoy... Isso realmente era algo estranho.

         Os grifinórios chegaram pouco tempo depois. Rony e Harry conversavam sobre alguma coisa muito interessante, enquanto Hermione discutia a aula de Estudo das Runas Antigas com Dino Thomas.

         - Sejam bem-vindos todos vocês! – comentou Hagrid contente – Este ano estudaremos muitas criaturas diferentes, e hoje começaremos com cinzais. Alguém sabe o que é um cinzal?

         Como era de costume, Hermione levantara a mão. Hagrid olhou para os alunos esperançoso, mas parecia que ninguém mais sabia. Hermione, então, pôde falar:

         - O cinzal é uma cobra fina, cinza-claro de olhos rutilantes, que surge quando há um fogo mágico que arde por muito tempo. São encontrados no mundo inteiro, e seus ovos, quando congelados, podem servir para o preparo de Poções do Amor e podem ser ingeridos como remédio para a malária.

         - Perfeito! Dez pontos para Grifinória – exclamou Hagrid feliz. – E alguém sabe o que se deve fazer quando encontrar um cinzal em casa?

         Hermione levantou a mão novamente, e para surpresa de todos, Catherine também. Não parecia tão confiante quanto Hermione, já que levantara a mão só um pouco. Hagrid ficou surpreso, e deixou que ela dissesse.

         - Localizamos o rastro de cinzas deixados por eles e, no prazo de uma hora, tempo que vive, tentamos achar seus ovos, usando um feitiço de congelamento. Se não for feito tal procedimento, os ovos podem destruir plantações inteiras.

         - Bem... é, está certo – disse Hagrid desconcertado. – Dez pontos para Sonserina.

         Hermione pareceu desapontada, mas não deixou de lançar um olhar de raiva para a garota. Já Draco estava mais curioso em saber como ela sabia.

         - Como você soube disso?

         - Uma vez tinham alguns desses em casa. Fui obrigada a acabar com todos eles – respondeu parecendo um pouco apreensiva. – Tive que aprender tudo sobre eles...

         - Nunca tive uma experiência dessas... Sorte a minha – comentou Draco aliviado.

         O restante da aula não teve mais nenhuma pergunta. Hagrid ensinou o básico sobre as criaturas, e avisou que na próxima aula eles teriam que encontrar os ovos e congelá-los, antes que alguma coisa pudesse acontecer.

         Depois daquela aula com Grifinória, os sonserinos não tiveram nenhuma aula conjunta. Tiveram aula de Transfiguração – onde nem Draco nem Catherine conseguiram resultados perfeitos -, Feitiços – Draco mostrou muito talento nessa aula, e Catherine parecia já saber de tudo -, e Herbologia – nenhum dos dois conseguiu concluir a tarefa, e isto causou grande aborrecimento no final da aula.

         - E para quê vamos precisar saber como se mexe nessas plantas? – perguntou Catherine indignada, quase derrubando um vaso.

         - As aulas em que precisamos agir com varinhas são muito mais construtivas – completou Draco, igualmente indignado.

         - Senhor Malfoy, senhorita Stone – disse uma voz emburrada atrás dos dois -, as aulas de Herbologia são úteis para se saber como, por exemplo, salvar alguém que foi envenenado por qualquer espécie venenosa.

         - Que seja... – disse Draco balançando as mãos, deixando a professora Sprout mais irritada ainda.

         - Não devia fazer pouco caso para com os professores – repreendeu Catherine séria, já longe do campo de audição da professora.

         - Como se eles tivessem alguma importância... – disse Draco fazendo pouco caso – Vamos para o Salão Principal, o jantar já será servido – desconversou, puxando a garota pela mão.

         Draco puxava Catherine com tanta força que ela quase não via por onde ia. Viraram em um corredor, e Draco fez um movimento evasivo, desviando-se de alguma coisa. Mas ela não teve tanta sorte. Se chocou com força em outra pessoa desatenta, e ela, por ser menos forte, caiu no chão, mas não deixou de notar a cara de fúria de Draco.

         - Potter, o que pensa que está fazendo? – perguntou entre dentes.

         - Eu estava andando pelos corredores, e não foi minha culpa vocês estarem correndo! – retrucou Harry com raiva, levantando-se do chão.

         - Senhor Potter, devia ao menos me pedir desculpas, ou estou errada? – perguntou Catherine emburrada, mas em uma voz letal, ao mesmo tempo que tentava se levantar, sendo ajudada por Draco.

         - Catherine! – exclamou Harry surpreso, notando somente agora que a garota estava ali – Me desculpe pelo esbarrão, mas você devia tomar mais cuidado com as amizades que faz, principalmente se ela é Draco Malfoy.

         - Obrigada pelo conselho, mas se estou na Sonserina devo ter amigos desta casa, não? – disse em tom superior, enquanto começava a caminhar, puxando Draco pelo braço, que estava perplexo.

         - Então você é que nem todos os sonserinos, metidos e arrogantes! – eles ainda ouviram Harry gritar, ainda parado na virada do corredor.

         - Esse Potter agiu como um idiota! – disse Catherine, emanando de seus olhos uma raiva enorme pelo grifinório.

         - Eu te disse, todos os grifinórios são idiotas, não há um que se salve! – concordou Draco, se livrando do choque – Mas eu nunca pensei que você fosse dizer uma coisa dessas para ele, não recebeu nenhuma ordem?

         - Sim, mas não consegui me segurar – respondeu entre dentes. – E se acostume, sou uma garota explosiva quando cutucada – alertou.

         - É, estou vendo! – comentou Draco dando uma risada – E vamos logo, não quero trombar com nenhum lixo antes de chegarmos ao Salão Principal!

         Os dois foram o mais rápido que puderam até o Salão Principal. Conseguiram chegar sem nenhum problema, e já haviam algumas pessoas no local, somente esperando os professores chegarem. Sentaram-se ao lado de Crabbe e Goyle, e estariam em paz se não fossem incomodados por uma outra pessoa da Sonserina.

         - Draco, o que está fazendo com essa garota?

         - Pansy, o que você quer? – perguntou Draco, em tom de voz que revelava tédio.

         - Não vai dizer que me trocou por essa... – disse Pansy com voz chorosa.

         - Não – respondeu Draco com veemência -, ela só está representando o papel de um sonserino, ao contrário de você, que só sabe ficar correndo atrás de mim.

         Ela se afastou, completamente ofendida, e segurando as lágrimas que cismavam em cair.

         - E esta é... – perguntou Catherine.

         - Pansy Parkinson – respondeu Draco dando de ombros. – Ela é, mas age como se não fosse – completou, vendo a nova pergunta se formar no rosto da garota.

         - Entendo...

         Começaram a conversar, mas logo foram interrompidos novamente, desta vez pelos professores, que sentaram-se em seus lugares, começando o jantar.

         Já se passara um tempo desde o começo do jantar, e Catherine não parava de se mexer incomodada em seu banco. Draco já tinha percebido, mas não falou nada. Mas só até ela dar uma cotovelada na barriga dele, fazendo-o engasgar.

         - O que pensa que está fazendo? – perguntou bravo.

         - Que droga! O diretor da Sonserina não pára de olhar para mim, e de um jeito estranho! Estou incomodada! – resmungou Catherine jogando um bacon com o garfo, voando até a mesa da Lufa-Lufa.

         - Snape? – perguntou Draco, querendo confirmar. Em seguida lançou um olhar naquela direção, confirmando por ele mesmo – Acho que você está enganada, ele te olha como olha todos os alunos...

         - Exceto você, não é? – interrompeu, provocando-o.

         - Ele não me olha com repugnância, ele não ousaria! – disse estufando o peito.

         - Isto não é um olhar de repugnância, Draco – discordou Catherine. – É um olhar analítico, conheço bem este tipo.

         - E o que acha que pode ser?

         - Não sei! – disse impaciente – Quem conhece o professor é você, não eu!

         Passaram quase o resto do jantar inteiro discutindo o assunto, mas sem chegarem em nenhuma conclusão. Depois foram até o Salão Comunal, para adiantarem o dever de DCAT. Mas uma coruja marrom-acizentada, parada no peitoril da janela, desviou a atenção deles, pelo menos de Catherine.

         Ela foi mais do que rapidamente até a coruja, tirando logo sua carga. Ela balançou as asas, deu uma bicadinha no dedo anular da garota e levantou vôo, sumindo de vista.

         - O que aconteceu, Catherine? Recebeu correspondência de casa? – perguntou Draco, tentando ver por cima do ombro dela.

         - É uma... uma... carta! De Sabrine! – exclamou, segurando a carta com os dedos trêmulos, assim que acabou de lê-la.

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