Capítulo 4 Tempos de Harmonia
Ainda era muito cedo, mas Rowena já se levantara e fizera a sua primeira refeição do dia. Agora caminhava em direção à orla da floresta, onde plantara diversas espécies de plantas mágicas. Colheu algumas folhagens que iria utilizar durante aquele dia, e enquanto as acomodava no cesto que trouxera, observava as próprias mãos, maltratadas pelo trabalho árduo. "Três anos..." pensou, contemplando o que eles chamavam de "castelo" na verdade, ainda faltava muito para aquela construção tosca de pedra virar um e as terras que aos poucos eram cultivadas.
Sorriu, satisfeita. Haviam conseguido transformar aquele lugar inóspito em uma escola de magia. Com muito trabalho, suor e paciência, convenceram os habitantes do vilarejo que aquela seria a única maneira de preservar a magia.
"São quatro crianças...o que podem saber? " dissera um homem rude, quando a notícia começou a se espalhar.
"Talvez não saibamos tanto... mas poderemos aprender ao mesmo tempo em que ensinaremos..." dissera Godric "Basta que confiem seus filhos a nós..."
Foram poucos no entanto que se arriscaram a permitir que seus filhos freqüentassem Hogwarts. Mas os resultados positivos com aquela primeira leva animou mais alguns moradores, e no verão seguinte, outros jovens juntaram-se aos pioneiros. E fora nessa época que decidiram construir o castelo...para servir de moradia e escola ao mesmo tempo. Agora, dentro de poucas semanas, a terceira turma de alunos começaria a ter aulas de magia. Seriam ao todo, quase trinta crianças divididas entre Rowena, Salazar , Helga e Godric, selecionadas de acordo com algumas características básicas, identificadas através de alguns testes simples.
Rowena terminou a coleta das ervas, e voltou para o castelo. Ainda não acostumara-se com aquela rotina de trabalhos manuais...plantar, cozinhar, tecer...embora tivesse aprendido tudo isso durante a infância, jamais precisara trabalhar efetivamente. Sempre tivera criados, pessoas prontas a servi-la. Por mais que detestasse o trabalho pesado, por mais que brigasse com Helga quando dividiam as tarefas, Rowena não podia reclamar. Aquele era o preço da sua liberdade.
Rowena colocou o cesto sobre a mesa da cozinha, e começou a separar as ervas. Helga também já estava acordada, preparando o desjejum. O castelo todo estava silencioso, pois os alunos haviam retornado para suas casas, e só voltariam quando no fim do verão.
- Godric e Salazar já deveriam estar de volta...- comentou Rowena, enquanto servia-se de pão afinal, já faz uma lua que partiram...
- Pois eu acredito que eles ainda se demoram em Londres...há muitas coisas que precisamos, e mesmo lá são difíceis de se achar...e eles ainda vão se encontrar com outros bruxos...não, provavelmente eles só estarão aqui quando as aulas recomeçarem...
- Eu gostaria de ter ido junto à Londres...ver pessoas diferentes...
- Mas nós temos muito trabalho a ser feito, Rowena...inclusive preparar poções disse Helga, indicando o cesto e não seria justo deixar Gawen sozinho no castelo, trabalhando...
"E não é justo sermos escravas enquanto os dois se divertem longe daqui..." pensou Rowena contrariada.
Desde que o castelo começara a ser construído, Gawen juntara-se aos homens que se propuseram a ajudar na construção, mas fora o único que não deixara o lugar quando os trabalhos foram finalizados. O rapaz tinha um gosto especial em ajudar na manutenção de Hogwarts. Não sentia vontade de ensinar e perguntava-se, nas raras vezes em que assistia à alguma aula de Salazar, como o irmão tinha paciência para passar àquelas crianças algum conhecimento.
Gawen não sabia ler nem escrever, mas isso jamais fizera alguma diferença em sua vida. Tudo o que lhe importava era que tinha boa saúde e força suficiente para trabalhar. Adorava cultivar e cuidar dos animais que, aos poucos, eram levados para Hogwarts. Desde criança estava acostumado à vida ao ar livre, ao contato com a terra....e sabia que jamais mudaria.
Agora que Godric e Salazar estavam viajando, sua missão era cuidar da manutenção do castelo e cuidar das duas moças, o que ele fazia de bom grado. Resolvera deixar sua casa e se mudara definitivamente para Hogwarts, deixando Ídris sozinha. A mulher não disse nada, porque sabia muito bem o motivo daquela mudança...não era simplesmente para fazer companhia às duas jovens. Ídris já desconfiava, mas numa tarde, quando ajudava Helga e Rowena a preparar a terra para o plantio de mandrágoras, viu a maneira como o filho corava na presença da ex-freira... sorriu discretamente, na esperança que Helga também correspondesse aos sentimentos de Gawen... a jovem seria uma perfeita esposa para o seu filho.
"Eu estou ficando velha...mas tive sorte que encontrei alguém com o mesmo dom que eu...espero que me seja permitido ver os meus filhos felizes...é tudo o que eu desejo..."
O tempo em Hogwarts parecia não passar. Por mais serviço que tivesse, Rowena sempre tinha a sensação de não ser suficiente para ocupar todo o seu dia. E quando se sentia cansada da rotina do castelo, refugiava-se na Floresta, tentando aprender sobre todas as ervas, sobre todas as criaturas ali existentes. Normalmente caminhava sozinha ( e era o que preferira ), aproveitando o momento para refletir sobre a sua vida.
Naquela tarde em específico, no entanto, estava acompanhada de Helga. Caminhavam despreocupadamente e sem perceber embrenhavam-se por uma região até então desconhecida de ambas. Viram, ao longe a sombra de centauros sabiam da existência daquelas criaturas na floresta, mas nunca haviam tido a oportunidade de vê-los de perto. E daquela vez não foi diferente. Quando viram as moças se aproximarem, os centauros afastaram-se.
- Vamos procurá-los? sugeriu Rowena, sorrindo marotamente.
- Ora, Rowena...por favor...
- Qual o problema, Helga? Vem, vai ser divertido a moça afastou-se rapidamente, procurando a pista dos centauros. O terreno era íngreme e acidentado, cheio de pedras. Por mais de uma vez tropeçou, e ouviu logo atrás Helga reclamando, pedindo para voltar.
- Pra mim...chega Helga parou, ofegante Rowena, seja sensata...logo irá escurecer...
- Você está com medo, Helga? Então volte para Hogwarts...eu quero encontrar um centauro...
- Eu não estou com medo...só não acho sensato estarmos sozinhas no meio da floresta, quase anoitecendo...nós poderíamos ao menos ter chamado o Gawen então...
- Ah sim...Gawen, querido me ajude por favor? Ah, Gawen...estou tão cansada, será que você poderia me carregar? zombou Rowena
- Ora cale a sua boca...! Isso não teve a menor graça...
- Bem...pelo menos não sou eu quem fica dando ordens para ele o dia todo, abusando da boa-vontade dele...
- E você quer saber, Rowena? É impossível ter uma conversa sensata com você...pra mim chega, estou voltando para o castelo e dizendo isso, deu as costas e voltou na direção de Hogwarts, deixando Rowena sozinha.
"Pode ir...eu não me importo..."
Andou somente mais alguns metros, quando enroscou a barra do vestido numa raiz particularmente grossa, e escorregou, descendo vários metros entre a vegetação, rasgando a roupa e arranhando todo o corpo. Por fim, parou ofegante e permaneceu alguns instantes parada, recuperando o fôlego e examinando o estrago. Não se machucara seriamente, mas sentia uma dorzinha incômoda no tornozelo direito. Enquanto procurava arrumar o vestido, seriamente danificado, viu uma entrada no meio de algumas árvores. Só então percebeu que nunca estivera naquele lugar.
Afastou a folhagem e entrou por aquele vão na terra. A abertura tinha a altura suficiente para um homem passar, mas era estreito, sendo quase impossível virar-se ali dentro. Desceu vários metros, até que ouviu o barulho de água corrente. Esfregou as duas mãos até surgir uma tênue luz, que iluminou todo o local. Estava no centro de uma caverna, com várias galerias espalhadas e a um canto escorria água pelas paredes em grandes jorros e vinha depositar-se num poço. Aproximou-se do ponto onde a água brotava, tentando entender de onde ela vinha... a escuridão atrapalhava, mas parecia-lhe que aquela água simplesmente surgia do nada... e escorria para o poço.
Percorreu com as mãos toda a parede e leu uma inscrição, numa língua totalmente estranha para ela... mas reconheceu uma palavra e de repente tudo fez sentido:
Avalon!
Saiu dali correndo, eufórica. Esquecera-se do pé dolorido...esquecera-se da briga com Helga...
- Mas eu preciso que vocês duas vejam isso...- Rowena praticamente arrastara Helga e Ídris para a caverna na manhã seguinte, ansiosa por lhes mostrar a estranha inscrição. E tinha quase certeza que a mãe de Salazar sabia o significado daquelas palavras.
Foi com um pouco de dificuldade que achou novamente o caminho para a caverna... mas uma vez diante da entrada, sentiu-se aliviada por saber que aquilo não era um sonho. Desceram em silêncio e quando finalmente chegaram ao centro da caverna, Rowena levou-as até ao poço.
- Ali, senhora...vê a inscrição? Ídris fizera surgir luz em suas mãos, e lia devagar aquelas palavras. Era um dialeto antigo, concluiu. Mas sabia o seu siginificado...
- Deusa...água...Poço Sagrado...Avalon... sentiu um arrepio pelo corpo e debruçou-se sobre a fonte, pegando um pouco da água...e a sensação que teve foi como se todo o seu poder estivesse à flor da pele... a sua percepção aumentou e a Visão lhe veio naturalmente Por Merlim... acho que estamos diante do último resquício do Poço Sagrado de Avalon...- Ídris ajoelhou-se e colheu mais água, que tomou como se fosse uma bebida divina... vamos, precisamos buscar vasilhas para recolher a água, e descobrir no que pode ser utilizada a mulher levantou-se decidida, os olhos brilhando quando olhou para Rowena eu sabia que vocês eram especiais... só não imaginava o quanto...
Enquanto voltavam para Hogwarts, Godric não pode deixar de admitir que aqueles foram os dias mais divertidos na companhia de Salazar. E mesmo com o passar dos anos, sorria toda vez que se lembrava da sua primeira viagem à Londres.
Aquela era a única cidade num raio de muitas léguas, e talvez um dos únicos lugares de toda a Inglaterra que não dependia da agricultura para sobreviver. Ali havia vida, concluiu Salazar, enquanto os dois rapazes atravessavam as ruas cheias, o mercado lotado de pessoas vendendo e comprando de tudo...
- Essa é a Londres dos trouxas comentou Salazar, torcendo o nariz suja e malcheirosa. Mas venha...vou lhe mostrar o nosso lugar...
Cavalgaram alguns minutos através de um bosque, e do outro lado, havia uma minúscula vila, mas com um intenso comércio. Os bruxos andavam livremente, ostentando objetos e materiais mágicos. Godric observou, espantado um bruxo miúdo, sentado à frente de uma banca com uma pilha de madeira à sua frente, produzindo...
- Varinhas mágicas? perguntou ao homem, apeando do cavalo.
- Sim, meu rapaz...da melhor qualidade...apenas alguns galeões...veja, experimente.
O jovem sentiu-se tentado. Aqueles objetos eram raros, e ele poucas vezes tivera a oportunidade de usá-lo.
- Você está pensando em comprar uma dessa? perguntou Salazar, receoso custam uma fortuna, nós não trouxemos dinheiro para isso...
- Eu sei...mas levar uma não vai fazer diferença. completou o outro rapaz vou levar a feita com pelo de unicórnio...
- Não vai testá-la antes? Ela pode não lhe servir...
- Não sou eu quem vai usá-la...é um presente...
- Tem certeza? E se não servir para a pessoa que irá presentear? insistiu o velho.
- Ele vai levar e pronto concluiu Salazar, jogando umas moedas sobre a banca Podemos ir?
Os dois afastaram-se lentamente, e Godric guardou a varinha na sacola de couro que carregava. Seria um bom presente para Rowena, pensou.
Apesar do pouco tempo de existência da escola, a notícia espalhou-se por algumas regiões através de viajantes e de alguns moradores da vila vizinha à Hogwarts, que vinham à Londres cuidar de seus negócios. E assim os bruxos londrinos descobriram a existência dos jovens fundadores da primeira escola de magia da Inglaterra. Godric e Salazar foram então chamados à Londres, para exporem o trabalho que estavam desenvolvendo em Hogwarts e o quanto isso poderia contribuir para o mundo da magia.
Os dois entraram numa casa feita de pedras, a única daquela vila, e já na sala encontraram uma dezena de bruxos, conversando em voz baixa. Ao verem os jovens, os homens pararam abruptamente de falar.
- Quem são vocês? O que querem? perguntou um bruxo baixo e gordo, com uma grande barba escura.
- Somos Godric Griffyndor e Salazar Slytherin... viemos de Hogwarts... e fomos convidados por... por Godric tirou de dentro de suas vestes um pedaço de pergaminho por Hengis Fahol...
Um homem alto e loiro destacou-se do grupo, e adiantou-se :
- Eu sou Hengis... é um prazer recebê-los em minha casa. o homem indicou duas cadeiras e pediu aos rapazes que se sentassem só faltavam vocês para darmos início à reunião...
Godric observou todos os homens ali presentes. Eram poucos e a maioria aparentava estar entrando na meia-idade, pelas expressões cansadas e envelhecidas. Mas mesmo assim, todos ouviam atentamente Hengis. E o jovem descobriu que aquele homem, de fala tranqüila e segura, era o chefe daquela vila, considerado quase um rei pelos habitantes dali.
- Eu os chamei aqui pois há muito tempo alimento uma idéia...um sonho, posso me arriscar a dizer...mas nunca me senti animado a torná-lo realidade...até descobrir a existência de Hogwarts...
Salazar sentiu o peito estufar-se de orgulho, ao ouvir o nome da sua escola ser citado por um homem como Hengis, cujo poder era facilmente percebido pela maneira como ele falava.
- Ainda temos muito trabalho para transformar Hogwarts numa grande escola...- comentou Godric, um pouco tímido.
- Mas pelo menos começamos...- completou Salazar por favor, senhor...continue.
Hengis sorriu discretamente e deu continuidade ao seu raciocínio:
- Como estava dizendo... ao descobrir Hogwarts, soube que há mais homens que se preocupam com a magia... e isso, senhores, é um fato: se não agirmos, em breve estaremos esmagados pelos não-mágicos, pelos cristãos que tanto nos odeiam...
- E o que o senhor nos propõe? perguntou um bruxo mirrado, sentado à um canto da sala acabarmos com os cristãos? Matá-los todos?
O chefe balançou a cabeça, negativamente.
- Isso seria uma loucura...primeiro, porque eles são em um número muito maior que nós... basta comparar as duas Londres... e segundo, porque não precisamos usar de violência... temos a magia para nos proteger. E podemos usá-la para nos isolar... fundar uma única comunidade apenas de bruxos, unindo todas as existentes... e acredito que poderemos contar com Hogwarts, para nos dar a educação necessária.
- É um plano ambicioso... com certeza traria benefícios para todos nós comentou um dos homens mas você já sabe como fazê-lo?
- Tenho uma teoria... em minha família, há um cristal com grandes poderes mágicos... e ele é passado, geração após geração, de mãe para filha... nunca precisamos fazer uso dele até hoje, mas eu acredito que chegou a hora. Ayrel, minha filha, é a atual portadora do cristal. E ela não se oporia ao seu uso.
- E quando poderíamos fundar a nossa comunidade, criar o nosso próprio mundo?
- O senhor tem pressa, Slytherin? Isso não é algo que podemos fazer da noite para o dia... exige preparação...
- Sim... vejo que o senhor já tem tudo preparado... então para que nos chamar até aqui, nos fazer viajar tantas léguas?
- Porque preciso da ajuda de tantos quanto forem possíveis, Slytherin... eu estou querendo, neste momento, fundar a Confederação dos Bruxos da Inglaterra... e quanto à utilização do cristal, teremos que esperar até o próximo Hallowen, quando nossas forças estiverem em seu auge... então, posso contar com todos? Nos unir para defender a magia?
Os homens levantaram-se e, automaticamente, formaram um círculo ao redor de Hengis. Godric e Salazar entreolharam-se e, num gesto de concordância, também ficaram em pé. Por mais estranha que poderia ter sido aquela reunião, pelo menos num ponto todos concordavam: precisavam se unir. E era isso que faziam agora, unindo a ponta de suas espadas, jurando defender a magia... até a morte, se fosse preciso.
Mas nem só de política viveram Godric e Salazar naqueles dias. Depois da reunião na casa de Hengis, os dois rapazes encontraram uma hospedaria que, embora fosse muito simples, pelo menos tinha camas limpas onde poderiam dormir sossegados. E nos dias que se seguiram, alternavam as compras de gêneros que geralmente faltavam em Hogwarts, com as festas frequentes que Hengis organizava em sua casa. Apenas para os homens, logicamente, regadas a muito vinho, música e mulheres. Nessas noites, Godric e Salazar voltavam cambaleantes para a hospedaria, um apoiado no outro e rindo muito, cada qual contando vantagens sobre o seu desempenho com as belas moças... eram jovens e livres, e estavam longe de Hogwarts.
Na última noite que passaram em Londres, Hengis ofereceu uma grande festa, desta vez para todos os moradores, e anunciou a formação da primeira organização de bruxos, a Confederação, como ele repetia constantemente. Lá pelas tantas, ele trouxe de casa uma menina miúda e tímida para o meio da festa, abraçando-a orgulhoso.
- Esta é minha filha Ayrel, a portadora do Cristal... e no próximo Hallowen, ela o levará até Stonehenge... e posso dizer que tenho quase certeza que em menos de doze luas estaremos a salvo de qualquer perseguição... então, vamos comemorar...- Hengis começou a distribuir vinho, enquanto Ayrel apenas observava... e por alguns segundos seus olhos se cruzaram com os de Salazar... fora apenas um instante, mas a menina não se esqueceria jamais do que sentira naquele momento...
O dia amanhecia quando a festa terminara, mas Godric e Salazar já estavam na estrada, rumo a Hogwarts. Já era hora de voltarem para casa. E contar as novidades para Helga e Rowena.
Da janela do seu quarto, Rowena viu quando os dois rapazes se aproximavam do castelo. Sentiu seu coração disparar e desceu as escadas ofegante, chamando por Helga. As duas moças correram para a porta, a fim de recebê-los. Gawen também adiantou-se e ajudou Godric e Salazar a apearem e a retirar todos os pacotes que traziam.
- Fizeram boa viagem? perguntou Helga ansiosa enquanto os dois rapazes entravam no castelo o que têm de novo para nos contar?
- Há muita coisa, Helga... mas acho que primeiro precisamos de um bom banho e um farto almoço Salazar sentou-se folgadamente numa poltrona, aspirando com prazer o delicioso aroma que vinha da cozinha essa viagem foi muito cansativa...
- E por aqui? Tiveram algum problema? Godric acomodou-se na poltrona em frente à Salazar estávamos preocupados em deixá-las sozinhas..
- Não tivemos qualquer problema, Godric , pelo contrário. Também temos novidades para lhes contar. E Gawen cuidou muito bem de nós...- Rowena sentou-se ao lado do rapaz, e já estava a ponto de narrar-lhes a descoberta da caverna, quando ouviu a voz de Helga chamando-a para ajudar com o almoço. A moça levantou-se preguiçosamente... trabalhar, trabalhar... detestava a cozinha... detestava limpar... e principalmente, detestava quando Helga a intimava a fazer qualquer atividade doméstica...
Pouco depois, os quatro estavam sentados à mesa e enquanto comiam Godric e Salazar contavam às duas moças tudo o que havia sido dito durante a reunião em Londres. Por vários minutos, elas permaneceram em silêncio, apenas ouvindo-os.
- Mas afinal, o que este Cristal poderá fazer?
- A teoria de Hengis é que o poder concentrado em no círculo de pedras de Stonehenge aliado à força que o Hallowen exerce sobre nós possa criar um..um...
- ...um espaço só para nós, Bruxos...- completou Salazar.
- Então fizemos uma aliança...
- E todas as vilas se uniram numa confederação...todos os bruxos da Inglaterra agora estão unidos...
- E Hengis nos prometeu uma verba na época das colheitas, e em troca a partir do próximo verão nos comprometemos a aceitar alunos vindos de outras regiões.
- Este ponto nós precisamos discutir melhor, Godric... a respeito dos nascidos trouxas...
Helga pousou o pedaço de pão que levava à boca no prato ao ouvir aquelas últimas palavras de Salazar, e o encarou seriamente.
- Pois ainda continua a insistir nesse assunto?
- Não é insistência, Helga... só acho que não é seguro, nos expor aos trouxas ao mesmo tempo que estamos tentando nos afastar.
- Nós já conversamos sobre esse assunto, Salazar... nós não chegamos à um acordo durante a viagem?
Salazar concordou.
- E qual é este acordo? perguntou Rowena.
- Se vocês quiserem alunos nascido trouxas em suas turmas, eu aceito. Só não vou querê-los entre os meus... disse, sem emoção.
Com um sorriso irônico no rosto, Helga olhou-o novamente, dessa vez com a intenção de desafiá-lo.
- Então Salazar, se eu fosse uma aluna prestes a entrar em Hogwarts, você não me escolheria para fazer parte do seu grupo de alunos?
- Exatamente... concluiu Salazar agora, vamos mudar o rumo dessa conversa inútil?
Já havia anoitecido e Rowena preparava-se para dormir, quando pegou mais uma vez a varinha que ganhara de Godric. Não funcionava muito bem, mas talvez fosse apenas questão de tempo e um pouco de jeito para manejá-la. Helga ficara visivelmente incomodada com aquele presente. Afinal uma varinha poderia ser bem mais valiosa que o xale de lã que a moça recebera de Godric. Colocou a varinha sobre a mesa-de-cabeceira, pegou um pequeno espelho e começou a pentear os cabelos. Estava nisso quando ouviu uma batida leve na porta.
- Entre disse, e pelo espelho viu o rosto de Salazar surgir pela porta.
- Se você me der licença....
- E eu posso saber o que faz a uma hora dessas em meu quarto? Rowena fingiu-se indignada, ao mesmo tempo que corava.
- Eu só vim lhe trazer uma lembrança que comprei em Londres...mas se preferir que eu saia...- o rapaz fez menção de sair, mas Rowena o deteve.
- Salazar entregou-lhe então um pequeno saco de couro e de dentro Rowena tirou um colar. Era uma fita muito delicada e na ponta pendia um pingente azul escuro preso por uma argola de ouro.
- Uma varinha pode ser muito útil...mas não há nada que presenteie melhor uma mulher do que uma jóia.
Segurando o colar, Rowena encarou Salazar por alguns instantes sem conseguir lhe agradecer. Aquela jóia não era quase nada se comparada com o valor das que ganhara de seu pai. Mas era o gesto de Salazar que a tocara.
- Coloque-o para mim...
Salazar afastou-lhe os longos cabelos, e aproveitou o momento em que colocou a jóia em torno do pescoço de Rowena para afagar-lhe levemente a pele com a ponta dos dedos. A moça pegou o espelho novamente e mirou o seu reflexo satisfeita.
- É lindo...obrigada, Salazar disse-lhe, sorrindo.
- Eu gosto de vê-la assim...com um sorriso no rosto.
- Mas você sabe que isso nem sempre é possível...
- Mas faça um esforço...por mim...e boa noite.
O rapaz saiu do quarto e Rowena tirou o colar, guardando-o com suas outras jóias. Só o usaria numa ocasião especial, pensou. Pela última vez antes de dormir olhou-se no espelho e sorriu. Talvez Salazar tivesse razão...ficava quase bonita daquele jeito.