Capítulo 6 A Guerra
Desde as primeiras horas da manhã Godric já se achava acordado. Na verdade mal dormira, tal havia sido a expectativa desde a noite passada. Ninguém ainda sabia ao certo se o feitiço funcionara, mas ele começava a recear. Era uma empreitada muito complexa e, pensou desanimado, se não havia sido ingênuo a ponto de apoiar Hengis a enviar sua filha, praticamente uma criança, para tão longe.
Desceu para a cozinha e não se surpreendeu quando viu Helga já acordada, assando os pães para a primeira refeição do dia. Ela mantinha a expressão séria, mas sorriu-lhe docemente.
- Então? Não conseguiu mais dormir?
- Não...- Godric sentou-se num dos bancos toscos de madeira, e apanhou uma maçã de cima da mesa eu continuo preocupado.
Helga olhou-o com atenção e, por alguns minutos, deixou os seus afazares para poder falar-lhe melhor. Estimava muito Godric, pois era o único, salvo os seus alunos, que não a tratava como uma criança boba. Ele, pelo menos, sempre a ouvia.
- Você acredita na possibilidade do feitiço ter falhado? ele perguntou, humildemente.
- Talvez sim... mas não encontro motivos para que não desse certo... bem, esse feitiço nunca foi executado antes... você acredita que isso possa ter acontecido?
- Se eu fosse uma mulher, diria que estou tendo um pressentimento... mas não tenho esse luxo, sentir coisas que não posso ver... esse é um privilégio de vocês...
- E porque você não pode se dar a esse luxo, Godric? Ao contrário do que você pensa, pressentir não é um luxo... em alguns casos pode ser a sua salvação... numa batalha por exemplo...
- Na guerra usamos a lógica e a estratégia, Helga o rapaz respondeu, levemente aborrecido não temos espaço para os sentimentos...
"E talvez por isso você esteja perdendo a Rowena..." Helga apenas pensou, sem coragem de manifestar sua opinião para Godric. Deixou-o sozinho à mesa, e voltou para o fogão. Se ao menos Rowena acordasse mais cedo...
***
Na planície de Salisbury, a poucas léguas de Stonehenge um estranho fenômeno surgiu poucas noites após o Hallowen. Uma luz azulada apareceu no céu, e encobriu todo um pequeno vilarejo cristão. As pessoas olharam apavoradas para o ponto de onde parecia estar vindo aquela maldição... sim, ninguém duvidava que aquilo não fosse extremamente maligno. Os poucos que se encontravam fora de seus casebres ajoelharam-se e murmuravam preces. A luz baixava lentamente sobre aquelas pessoas... desesperadas, sabiam que o fim do mundo chegava... um frio congelante tomou conta do ar e os pobres infelizes não tiveram sequer tempo de pedir perdão para os seus pecados...
Naquela noite chegou a Londres um cavalo, extenuado da longa viagem que empreendera. O animal, agonizante caiu morto diante da casa de Hengis... e trazia no lombo o corpo do próprio, os olhos abertos, como se a morte lhe houvesse sido uma grande surpresa...
Quando a notícia da morte de Hengis Fayol chegou a Hogwarts, muitas semanas já haviam se passado desde a noite de Hallowen. O frio aumentara de intensidade, e os primeiros indícios do inverno já apareciam na Floresta. Informações desencontradas surgiam de diversas regiões... trouxas que desapareciam misteriosamente... criaturas horrendas que surgiam nas vilas, invadindo as casas e igrejas... padres que em sua fúria contra todas aquelas ações do Demônio, promoviam uma verdadeira caçada nas florestas, procurando feiticeiras...
Godric viajou às pressas para Londres, a fim de averiguar qual era a situação real. Encontrou a cidade em pânico, as pessoas assustadas. Ali os boatos pareciam mais verdadeiros, e quando finalmente encontrou Erwin , o filho mais velho de Hengis, confirmou as suspeitas que vinha alimentando nos últimos dias, mas que não eram compartilhadas nem por Gawen, muito menos por Salazar.
- Meu pai foi assassinado... e seja lá quem tenha feito isso, queria que nós o soubéssemos...enfeitiçou o cavalo para que ele chegasse até aqui... e minha irmã está desaparecida... e o cristal também...
- Então acha que há ligação entre a morte de seu pai e o sumiço do cristal?
- Absoluta certeza, Gryffindor... aquele cristal é poderoso... tanto para o bem, como para o mal... alguém matou meu pai, raptou a minha irmã e está fazendo uso do cristal... devem estar mantendo Ayrel viva, porque somente ela poderia manipulá-lo... precisamos encontrá-la... e a pessoa que está cometendo toda essa barbárie... os trouxas estão sendo transformados em monstros... estão destruindo plantações... daqui a pouco, até mesmo a nossa gente estará morrendo... Erwin olhou bem para Godric precisamos montar um exército... e encontrá-los, custe o que custar.
Godric sentiu o corpo tremer diante da expectativa de estar novamente em uma guerra. Havia sido criado para guerrear, lutar por uma causa em que acreditava. Desde o dia em que fora encarregado por Romulus Ravenclaw para cuidar de Rowena, que não participava de uma batalha. Naquela hora percebeu que aqueles anos em Hogwarts o haviam deixado pacato demais.
- Vou ajudá-lo a montar um exército, Erwin...
Guerra. A simples menção daquela palavra provocava em Rowena um arrepio de medo, e não conseguia esquecer a imagem de seu pai, partindo para a sua última batalha. E agora era Godric quem convocara todos os rapazes de Hogwarts e Hogsmeade, para uma guerra na qual não conheciam sequer o inimigo.
Estavam os quatro na sala de refeições. Era fim de tarde, e haviam acabado de jantar. Na manhã seguinte, os rapazes partiriam, e Hogwarts ficaria aos cuidados de Helga e Rowena. Ídris se comprometera também a ajudar as moças no que fosse preciso. "São irresponsáveis" pensou Rowena "Vão nos largar aqui, sozinhas... provavelmente a guerra é apenas um pretexto..." e sentiu o seu coração roer-se de ciúmes, imaginando Salazar num campo de batalha, solitário, servindo-se de uma mulher qualquer para aplacar o seu desejo... podia ver a imagem claramente e isso a deixava com mais raiva ainda... raiva de Godric, por ter ajudado na convocação do exército, raiva de Salazar por ter se deixado levar...
- ...e então passei a noite imaginando que o chapéu seria a melhor solução...Rowena, você está ouvindo o que estou dizendo? Godric interrompeu a fala, ao ver que a moça não lhe prestava atenção? Algum problema?
- Hã? Você falava sobre um chapéu... e?
- Godric respirou lentamente, tentando se acalmar.
- Eu estava dizendo a Helga e Salazar que podemos enfeitiçar um chapéu o rapaz tirou o próprio da cabeça para que ele possa selecionar os alunos... enquanto Salazar e eu estivermos fora... um chapéu pensante, com as características que mais primamos para nossos alunos... ele faria a seleção em nosso lugar... até o fim...
- Então você acredita que estarão fora até o próximo verão?
- Não sei... mas se estivermos fora... e depois, nós não sabemos se realmente vamos voltar...- Godric sorriu maldosamente, e as feições de Salazar endureceram. Não achara graça alguma naquelas palavras. Helga, discretamente fez o sinal da cruz "mas é lógico que vocês irão voltar..." disse, a meia voz
- Vamos voltar... depois de combatermos os demônios que afligem a paz dos cristãos... vamos voltar...- sussurrou Salazar, venenosamente.
Godric não respondeu. Estava mais preocupado em resolver definitivamente o problema da seleção. Para isso, segurava o seu chapéu nas mãos e esperava um consenso entre os seus companheiros.
- Vocês querem enfeitiçar o chapéu, ou não?
Como resposta, Salazar tomou o chapéu das mãos de Godric.
- Eu faço questão de deixar minhas características nesse chapéu...não quero voltar e encontrar sangue-ruins entre os meus alunos e lançou um olhar desconfiado para Helga.
- Se você está insinuando algo... começou Helga, mas foi impedida por Godric.
- Já basta e pegando o chapéu novamente, segurou-o firmemente vamos tocá-lo e trazer a tona tudo o que julgamos mais importante num aluno... e infiltrar essas qualidades... quando um dos novatos colocá-lo na cabeça, o chapéu dirá qual o melhor mestre para esse aluno...
Os quatro posicionaram-se em torno da mesa, sobre a qual o chapéu fora colocado. Nunca haviam imaginado um feitiço daquela ordem. Ficaram, durante minutos a fio segurando o chapéu, procurando concentrar toda a magia possível. Godric murmurava palavras quase incompreensíveis, mas que Rowena identificara como Latim. "Cerebrum"... Estavam dotando o chapéu com um cérebro, para que pudesse escolher por eles. O objeto então mexeu-se sobre a mesa e, pareceu aos quatro jovens que aquele pedaço de pano agora realmente possuía algum tipo de inteligência. E o chapéu começou a declamar...
Nasço agora
Para que a Hogwarts sempre possa servir
Guardo suas qualidades,
Nobre Gryffindor
Esperta Ravenclaw
Bondosa Hufflepuff
Astuto Slytherin,
E assim permanecerão por todos os tempos,
Para que todos se lembrem
Quem foram os fundadores
Que das terras-de-ninguém tomaram posse
E delas fizeram a primeira escola de magia...
Para Godric, o que mais lhe preocupava diante da perspectiva de uma guerra, era deixar Hogwarts protegida enquanto praticamente todos os homens dali estivessem fora. Convocara todos os alunos com idade suficiente para manejar uma espada para aquela luta. E foram poucos os que recusaram. Em Hogsmeade, os rapazes pareciam ansiosos por pegar em armas. E Ídris invocou a proteção de todos os Deuses para que os seus filhos voltassem vivos à Hogwarts.
Nenhuma das mulheres daquela região parecia satisfeita em ver seus homens, maridos, filhos, amantes e irmãos partirem para o desconhecido, por um motivo quase banal. Não atinavam que em pouco tempo, os trouxas seriam capazes de invadir cada vila bruxa de que tivessem conhecimento para vingar a morte dos seus. Helga procurava manter a calma, e até altas horas da noite providenciara tudo o que os rapazes iriam precisar durante a campanha: víveres e roupas quentes para enfrentar o inverno. Admirava Godric pela sua presença de espírito naqueles últimos dias, convencendo a todos que teriam que procurar o raptor de Ayrel e o que isso significava para os bruxos. A maneira pela qual resolvera o problema da seleção, enquanto estivessem fora... ou não voltassem jamais. Mas isso ela procurava evitar pensar. Todos voltariam, disso ela estava quase certa.
Rowena caminhou pelo corredor sem pensar ao certo o que faria. Trazia nas mãos um grosso manto de lã verde, que tecera especialmente para Salazar. Não pretendia entregá-lo tão cedo, ainda mais faltando alguns ajustes à bela peça. Mas agora, com a partida iminente dele na manhã seguinte, teria que lhe entregar a roupa do jeito que estava.
Encontrou a porta do quarto do rapaz entreaberta e hesitou antes de entrar. Ele estava sentado à beira da cama, luzindo a sua espada. Em momento algum, ela percebeu em seu rosto algum sinal de euforia ou empolgação. Nada. Apenas desprezo. Mas quando a viu, sua feição tornou-se mais terna, e Rowena surpreendeu-se ao notar que apenas à ela era dedicado aquele sorriso e o brilho do seu olhar. A moça fechou a porta do quarto atrás de si, temendo que alguém a visse, àquela hora, no quarto de um homem.
- Eu vim trazer-lhe isso...- disse, entregando-lhe o manto- ...para que você não passe frio...
- Não diga mais nada...- Salazar tocou-lhe os lábios com a mão, e com a outra segurou firmemente a que Rowena lhe estendia o presente não quero, absolutamente que você fale nisso...- roçou-lhe os lábios, e a enlaçou pela cintura, querendo mantê-la ali, para sempre.
- Ela entregou-se quase sem emoção àquele beijo. Precisava falar, descarregar a angústia daquelas últimas horas. Afastou-o com delicadeza, e procurou fixar o seu olhar.
- Não quero que você vá. Diga a Godric que... que não pode ir... que algum homem precisa permanecer em Hogwarts...
- Você não sabe o que está dizendo, Rowena... por menos que eu queira partir, eu devo ir... para manter a minha moral diante de todos...
- E desde quando você se importa com o que os outros irão dizer? respondeu-lhe asperamente.
- Desde que eu percebi que não posso simplesmente dispensar tudo o que representa poder, Rowena... ele fez uma pausa, e ela percebeu um brilho fanático nos olhos ainda há muito a ser feito em Hogwarts... "e por mais que isso me incomode, eu ainda preciso do apoio do Godric..." pensou, sem no entanto dizê-lo.
- Eu não sei se acredito em você...- disse, num sussurro mas você não compartilha do entusiasmo dos outros... e isso eu posso ver expresso no seu rosto...
- Você está certa... mas não diga nada a ninguém... você me promete?
- Só se você... se você prometer que vai voltar...
Salazar sorriu, e aproximou-se dela novamente. Tocou-lhe os cabelos levemente, e segurou na ponta de seu queixo, obrigando-a a encará-lo.
- E você acha que eu deixaria alguém me matar para nunca mais voltar a vê-la? abraçou-a mais uma vez, e beijaram-se. Daquela vez, Rowena não procurou afastá-lo como fazia nas raras vezes em que se beijavam, às escondidas, por mais prazer que sentisse. Nada mais lhe importava, como se tudo o que tivesse aprendido como sujo e pecaminoso não lhe significasse nada.
Deixou que ele a tocasse, e não protestou quando o rapaz soltou o laço que prendia o seu vestido. Com os ombros nus, deixou que ele a acariciasse, lhe beijasse o pescoço. Ela, passiva, apenas recebia os seus carinhos. Salazar a conduziu gentilmente para a cama, e ao debruçar-se sobre Rowena, tocou-lhe os olhos, a fronte e a boca com o seus lábios. As suas mão deslizavam pelas pernas dela, o que lhe provocou cócegas. Rowena riu, e o seu sorriso o animou. Ela o puxou para mais perto de si, e olhando-o profundamente apenas sussurrou: "eu lhe quero..." .
Helga foi a primeira a levantar-se naquela manhã, o que não era novidade alguma em Hogwarts. A própria moça já acostumara-se a tomar para si a maior parte das tarefas domésticas do castelo. Principalmente preparar o desjejum.
Olhou desanimada para a cozinha, e para os pacotes que preparara na véspera. Era tudo o que os rapazes levariam para a campanha. Certificou-se de que não faltava nada, e deixou-os a um canto. Sentia uma opressão muito forte no peito, e procurou não chorar. Era medo do que podia acontecer. Pela primeira vez na vida, ficaria sozinha sem a companhia protetora de um homem. Mesmo no convento, os padres estavam sempre presentes.
- Helga?
Distraída em seus pensamentos, não percebera que Gawen entrara silenciosamente na cozinha. Trazia o semblante sombrio, mas procurava sorrir. Com os primeiros raios de sol a entrar pela janela, seus negros cabelos brilhavam e pela primeira vez ela lhe admirou a rústica beleza.
- Já tão cedo? respondeu-lhe, timidamente.
- Sim...eu...eu...queria conversar com você a sós... bem, talvez o certo seria falar com algum homem responsável por você... mas como você... bem, acho que você não iria se importar...
- A moça segurou a respiração por alguns instantes. Se fosse em outra ocasião, teria rido intimamente da timidez e nervosismo de Gawen. Sempre fora assim, em sua presença.
- Eu queria lhe pedir... para que espere por mim, Helga... porque assim eu terei um motivo para voltar para casa... e então me casar com você...
Por um instante ela não soube o que responder. Seu coração batia apressadamente. Casar-se? Sempre tivera medo dos homens. Naqueles últimos anos conseguira dominar-se o suficiente para conviver com Godric e Salazar. Mas Gawen... este sempre a incomodara com seus olhares furtivos, a timidez em sua presença, os boatos que corriam soltos sobre a paixão do rapaz... no entanto ele era filho de Ídris, a quem devotava grande respeito. E o rapaz lhe estendia um anel "....foi presente do meu pai para minha mãe... e gostaria que fosse seu..."
- Eu aceito, Gawen sorriu-lhe, e estendeu a mão para que ele colocasse a jóia em seu dedo.
Era a primeira jóia que ganhava em toda a sua vida, pensou ao ver o ouro brilhar na sua mão. E naquele momento selara definitivamente o seu destino, aceitando o compromisso de Gawen.
O sol já havia nascido completamente quando todos os rapazes reuniram-se defronte de Hogwarts. Do alto da escada, Helga e Rowena observavam o grupo partir, ladeadas por Ídris. Cada uma das três com um pensamento diferente, mas voltados para a mesma dúvida: eles voltariam? Ídris temia pela vida dos filhos, o que nascera de seu ventre e o que aprendera a amar; Rowena ainda podia sentir a aconchego dos braços de Salazar, e temia que nunca mais o sentisse novamente. E Helga sentia o contato do metal frio em sua mão, o símbolo do amor que Gawen lhe devotara tanto tempo e que em breve - sim, acreditava que em poucas luas eles estariam de volta seria finalmente concretizado.
O grupo partiu, com Godric à frente. Não havia muito o que aquelas três mulheres pudessem fazer, além de esperar. Ao menos, era isso o que pensavam naquele momento...
Rowena fala:
"Naquela manhã fria e nublada, os meus sentimentos eram os mais confusos. Meu corpo ainda latejava, e eu lembrava constantemente da noite passada com Salazar, dos seus toques em minha pele e minha honra levada para sempre. Não que isso, naquela ocasião tenha me causado algum tipo de constrangimento. Ninguém ficara sabendo do que ocorreu entre as paredes do quarto de Salazar. Pelo menos não daquela vez... Mas no fundo, eu aguardava que ao fim da guerra, ele reparasse o mal e se casasse comigo. Essa seria a atitude de um homem nobre. E eu me consolava com essa idéia, mesmo que não estivesse portando um anel de noivado como o de Helga.
Quase não havia o que fazer em Hogwarts, a não ser esperar. As notícias demoravam a chegar, e quando ficávamos sabendo de alguma novidade, lotávamos o mercado de Hogsmeade, procurando saber dos mortos e feridos, das batalhas ganhas e perdidas. Muitas mulheres me procuravam segurando pergaminhos, pedindo desesperadamente que eu as lesse. E assim eu me inteirava de tudo o que acontecia nos campos de Salisbury e de todo o sul da Inglaterra. Godric também escrevia, e dele vinham as notícias mais sensatas.
Quem imaginou que isso aqui seria fácil enganou-se dizia ele em uma de suas cartas desde o princípio sabíamos que o inimigo é desconhecido, mas o que temos visto por aqui são monstros. Criaturas pútridas, viscosas. Eles aparecem em bandos, às dezenas. Embora estejam em número inferior, têm o poder de nos deixar muito melancólicos, como se sugassem toda a nossa energia. Muitos homens têm caído por conta disso. Essas criaturas são dotadas de armas como nós flechas e espadas enfeitiçadas. Mas quando conseguem um prisioneiro, o transformam em um ser igual. Ao que parece, foi o poder do cristal que deu início a esses seres. Nossa função é eliminarmos todos eles, embora isso pareça uma tarefa digna de Hércules. Quanto aos trouxas, nós procuramos protegê-los o máximo possível, mas isso está começando a se tornar complicado. Os padres não querem nossa presença em suas paróquias, pois dizem que fomos nós, pagãos , que espalhamos o mal que os estão afligindo. Mas não desistiremos. Enquanto for viável, quero manter a convivência pacífica com os que não são bruxos. Até breve, GG.
Hogwarts estava protegida por uma série de feitiços contra uma possível batalha nos campos de Hogsmeade. Mesmo assim, muitos pais preocupados vieram buscar suas filhas para levá-las de volta para casa. Tentávamos convencê-los que ali seria mais segura para as jovens. Numa dessas ocasiões, já em meados do verão, um homem corpulento veio pessoalmente buscar sua filha. A menina, que deveria ter por volta de treze ou catorze anos, se descabelara de tanto chorar, querendo ficar. O pai, estúpido já lhe dera uma bofetada para fazê-la se calar. Olhei para Helga, e percebi que seu rosto ficara vermelho de raiva. Aquela foi uma das poucas vezes que a vi perder sua habitual serenidade e enfrentar um homem como um igual.
- O senhor não tem o direito de fazer isso com sua filha disse, numa voz trêmula, porém perfeitamente audível deixe-a ficar.
- E quem é a senhora, e porque pensa que eu deixaria minha filha aqui? Já fui condescendente o suficiente em deixá-la estudar.
- Ninguém obrigou o senhor a trazer sua filha para ser ensinada. Ela gosta daqui e é muito inteligente. O senhor deveria ter orgulho.
- Só vou me orgulhar dela quando se casar com o homem que eu escolhi para noivo. E pode ter certeza, senhora, de que ela jamais voltará a esse castelo. Passem bem.
O homem levou a filha. Na realidade não havia o que pudéssemos fazer. Somente nos indignar. Quando ele se afastou, Helga desabafou:
- Ele não podia levá-la, Rowena...era uma das minhas melhores alunas, e elas estão a salvo aqui.
- Você sabe que ele podia, Helga...- eu respondi, com certo pesar na voz. Também não gostara daquela atitude mas é pai dela... e você sabe que os pais têm poder sobre suas filhas...
- Mas isso não é justo... não é, absolutamente. ela se virou para mim eu nunca me revoltei contra isso, antes de assumir o que sou... mas tenho aprendido tanto, Rowena... nós somos iguais aos homens... porque nos deixamos dominar?
Eu nunca havia imaginado que Helga tivesse aquelas idéias, mas supunha que ela alimentasse esse sentimento há muito tempo, desde o seu tempo de convento. E então percebi o quanto eu era submissa, e não ela: eu só deixara Glastonbury por que não tive opção, do contrário, teria me casado com o Duque da Cornualha ; deixara que Salazar me tomasse por amante sem estar bem certa de que queria aquilo. A partir daquele dia, comecei a ter mais respeito por Helga. Ela, no entanto não tocou mais naquele assunto. Passou a ocupar suas tardes ociosas preparando o seu enxoval. E eu e a senhora Ídris a ajudávamos, fiando e tecendo. Assim, o tempo transcorreu. E mal notamos quando o outono chegou mais uma vez, e o Hallowen se aproximava. E foi naqueles dias que Salazar caiu prisioneiro de guerra..."
Sempre que entravam em uma vila trouxa, o desprezo de Salazar por aquelas pessoas apenas aumentava. Parecia ouvir a voz distante de sua mãe "fique longe dessas pessoas... um dia eles te temerão, mas por enquanto você é apenas um garotinho..." . Ele sabia que já havia agüentado por tempo suficiente aquelas batalhas. A cada dia, sentia mais nojo e repugnância por aquelas criaturas que sempre encontravam. Mas o pior era sempre entrar naquelas vilas miseráveis, e convencer os padres que estavam ali para protegê-los. "Estas pessoas não conhecem a magia e nos acusam de termos parte com o demônio... não merecem o nosso empenho em tentar ajudá-las..."
Agora estavam muito próximos de Stonehenge, de onde supunham estar vindo a força do cristal. Se conseguissem uma vitória ali, seria muito mais fácil conseguirem localizar a pessoa que estava causando todo aquele estrago. Avistaram mais uma vila miserável, e Salazar lamentou-se mais uma vez travar conhecimento com aqueles trouxas. Já estava arrependido de ter acompanhado Godric. Se estivesse em Hogwarts, agora estaria nos braços de Rowena, limpo e bem alimentado. Enquanto entravam na vila, sob os olhares desconfiados dos trouxas foi que passou pela primeira vez a idéia de desertar.
No entanto, a estadia do exército de Erwin Fahol, naquela vila, com Godric Griffyndor como seu primeiro capitão, fora talvez a mais prazerosa de todas que aqueles homens haviam experimentado durante a guerra. Um dos rapazes descobrira uma taverna, retirada uma légua da vila, repleta de belas mulheres e vinho barato. E o exército se encaminhou para lá.
Nenhuma das prostitutas havia alguma vez atendido um exército de jovens bruxos. A curiosidade daquelas mulheres superou a desconfiança em relação àqueles estranhos. O capitão foi cercado por duas jovens ruivas, que ele supôs serem irmãs. E durante horas, beberam o vinho de quinta categoria que era servido ali. Godric, acompanhado das duas moças, foi um dos que mais beberam. Salazar, que escolhera para si uma pequena loura, apenas observava o capitão se embebedar cada vez mais. Procurou se concentrar nos agrados que a meretriz lhe fazia, incitando-o para o quarto "onde eu posso lhe mostrar tudo o que sei fazer...", mas a conversa em tom pastoso de Godric lhe chamou a atenção.
- Vocês estão vendo, meus amores... sou o capitão de todos... todos esses.... bruxos! as meninas riram, acompanhadas dos outros soldados. Era raro verem o homem sério e compenetrado que Godric era, daquela forma mas...- e levantou-se, segurando a taça de vinho vocês estão vendo o filho do duque da Cornualha, que morreu defendendo Somerset ele fez uma reverência a si mesmo um bastardo! ele riu e as mulheres o acompanharam mais uma vez. Salazar no entanto não ria mais. O que Godric estava fazendo era a revelação de um segredo. - E o mais engraçado foi... eu... ter mme apaixonado pela noiva de papai...- a gargalhada estridente dele ecoou pelo salão, e os seus olhos percorreram todo o recinto até encontrar o olhar atento de Salazar um brinde a Lady Rowena Ravenclaw, Duquesa de Glastonbury...
Na manhã seguinte já não estavam mais naquela vila. Acamparam num bosque ali próximo, onde passaram o final da madrugada. O sol já estava alto quando Godric finalmente levantou-se, a cabeça rodando e o eco da sua voz na noite anterior. Saiu da sua barraca e cambaleou até um riacho próximo. A água gelada o reanimou e serviu para molhar um pouco a garganta seca. Ainda não havia pensado como iria encarar os soldados, quando viu o reflexo de Salazar na água.
- Você se excedeu ontem à noite...- Salazar sorriu maliciosamente você deveria tomar mais cuidado com a quantidade de vinho que costuma tomar... e com as coisas que fala...
Godric sacudiu a cabeça, fazendo com que a água de seus cabelos se espalhassem pelo ar. Percebendo a ironia no comentário de Salazar, retrucou:
- Não costumo desdizer as coisas que falo, Salazar... mesmo quando estou embriagado. Não tenho do que me envergonhar.
- Mas acredito que a Rowena não iria gostar de saber que seu nome foi citado daquela forma... e o seu discurso, francamente... me comoveu! Foi muita nobreza da sua parte assumir-se como um bastardo do duque... isso não o faz muito diferente de mim...
- Eu sou um bastardo sim...- respondeu, em voz baixa mas pelo menos eu sei quem era o meu pai... minha mãe foi a preferida do duque durante anos... teve vários filhos, mas infelizmente nenhum, além de mim conseguiu sobreviver a infância... minha mãe não se vendia por dinheiro, Salazar. Agora eu não entendo porque você me ataca... por acaso sente ciúmes?
- Ciúmes? Eu? Salazar riu desdenhosamente esse é um sentimento que não me atormenta, Godric... sou mais forte que isso... mas você sim tem todos os motivos para ter ciúmes... se atormentar por querer o que nunca irá te pertencer... por não conseguir o que eu já consegui...
Ao ouvir aquelas últimas palavras foi como se um soco o tivesse atingisse. No entanto, Godric manteve a voz controlada, embora por dentro a raiva, o ciúme e o despeito o torturassem.
- Você me enoja referindo-se à ela de maneira tão vulgar... eu não sei quais mentiras você usou...
- E essa sua nobreza de espírito também me enjoa, Godric Salazar o interrompeu, ainda com o mesmo sorriso desdenhoso, agora carregado de malícia - Você pode ser um ótimo soldado numa batalha, mas como homem não passa de um fraco.
Por alguns instantes, Salazar teve a impressão de que Godric não iria reagir. Era divertido ver em seu rosto pálido a derrota estampada. Salazar não dormira a noite inteira esperando a hora em que iria lhe dizer que não adiantavam brindes à Rowena. Ele já a possuíra, e do que dependesse a sua vontade, ela seria sua para sempre. Mas não chegou a lhe dizer isso. Um soco violento quase o derrubou, enquanto o sangue escorria pelo canto dos seus lábios.
- Desde o início eu percebi que você não merecia confiança, Slytherin... Godric gritou, deixando que a raiva tomasse conta - agora eu tenho a prova. Eu nunca lhe fiz nada. Tenho mantido silêncio sobre a sua atitude para com os nossos alunos nascidos trouxas...mas agora você me enoja com seu egoísmo. Por que você está aqui? encarou Salazar que, atônito limpava a boca com a mão Você não acredita em nada disso, não é mesmo?
Salazar aproximou-se de Godric, os olhos crispando de raiva. Mas um barulho atrás das árvores chamou-lhes a atenção, e eles viram a sombra daquelas horrendas criaturas.
- Corra! Godric gritou, e Salazar o acompanhou. O terreno porém era íngreme e pedregoso, o que fez com que os dois rapazes escorregassem. Godric conseguiu levantar-se, mas viu com nitidez o momento em que duas criaturas agarraram Salazar, e o espancaram até o rapaz perder os sentindos.
Outros seres se aproximaram e começaram a disparar flechas, enquanto o ar se enchia daquela estranha agonia que aquelas criaturas traziam consigo. Godric sentiu quando uma flecha atravessou o seu braço, e só teve tempo de gritar para alertar os outros antes de cair desmaiado.
Às vésperas do Hallowen, as poucas alunas que ainda permaneciam em Hogwarts eram aquelas que haviam perdido suas famílias durante a guerra. O clima no castelo andava carregado, e pouco se ouviam as vozes juvenis que costumavam ecoar pelos corredores. Em Hogsmeade, era crescente o número de órfãos e viúvas. Até então, as mulheres de Hogwarts como ficaram conhecidas Helga, Rowena e Ídris - não haviam sido afetadas diretamente pela guerra. Sentiam a perda dos conhecidos, mas até a chegada numa manhã chuvosa de um mensageiro, não sabiam o que era exatamente o medo da morte.
O homem chegou encharcado, e trazia envolto em um pedaço de couro um pergaminho amassado. Ao pegar a carta, Rowena sentiu um estranho calafrio. Reconheceu de relance a letra de Godric, e abriu. Porém, sentiu o seu sangue gelar ao ler as breves linhas que o rapaz escrevera:
"Fomos rechaçados quando nos aproximávamos de Stonehenge. Salazar foi capturado e até agora não temos notícias dele. Fui ferido, mas passo bem. Envio notícias quando as tiver. GG."
Rowena mordeu os lábios e esforçou-se para não chorar. Entregou uma moeda ao homem e encaminhou-se para dentro do castelo. Helga a aguardava no salão de refeições, e quando viu a expressão assustada de Rowena, também empalideceu.
- Más notícias?
- Salazar foi capturado...
- Deus...e como foi isso?
- Eu não sei...- Rowena sentou-se e abriu mais uma vez o pergaminho o Godric não entra em detalhes... e agora?
Helga sentou-se ao lado de Rowena, e a observou atentamente. Tentava descobrir, por detrás de toda aquela tristeza, se havia apenas pesar ou algum sentimento mais profundo da amiga pelo rapaz. Há tempos desconfiava que por detrás dos modos gentis com que os dois se tratavam havia outros sentimentos...mas não disse nada, preferindo guardar para si as suas desconfianças.
- Nós precisamos avisar a Ídris...Godric mandou notícias de Gawen?
Rowena balançou a cabeça negativamente.
- Então ele deve estar bem... vamos, pegue uma capa, está frio lá fora...
- Eu não vou a lugar algum, Helga...- Rowena levantou-se e limpou as lágrimas que começaram a escorrer pelo seu rosto vá você...
Ao receber a notícia, Ídris não se desesperou como a maioria das mães fazia quando recebia uma notícia daquela natureza. Seu rosto permaneceu sereno e não fez muitas perguntas a Helga.
- Essa guerra está se estendendo por demais...e eles nem sabem ao menos o que estão combatendo...
- Eu tentei, senhora, ver quem está manipulando o cristal... mas não consegui... porque?
- Nem sempre os nossos desejos acontecem, Helga... e pelos nossos métodos tradicionais jamais descobriremos a verdade...- Ídris silenciou, pensativa amanhã será Hallowen novamente... teremos uma grande força mágica novamente... acredito que poderemos nos aproveitar disso...
- Como?
- Um ritual...vou precisar da sua ajuda, Helga, pois já não tenho a força necessária... e vamos precisar do máximo de mulheres para nos auxiliar... peça a Rowena para fazer isso, avisar a todas... e quanto a você encarou firmemente a noiva do filho vai fazer exatamente o que eu lhe pedir...
O frio intenso e uma terrível dor de cabeça fizeram com que Salazar despertasse. Durante muitos minutos, permaneceu deitado no chão duro e gelado, até reunir forças suficientes para se levantar. Tentou reconhecer, no escuro, o local onde se encontrava. Conseguiu reconhecer um cubículo, sem janela nem qualquer outra abertura por onde pudesse entrar um pouco de ar. Apenas o que parecia ser uma pesada porta de madeira.
Imaginou como poderia ter chegado até ali. Lembrou-se vagamente da briga com Godric, o soco que levara, até o instante em que foi carregado e espancado por algumas daquelas criaturas que tanto combatera. Depois, apenas escuridão. Não tinha a menor noção de quanto tempo estava ali. Sentou-se num canto e encolheu-se, tentando fazer com que o seu manto cobrisse todo o seu corpo. Sentia frio, e pelo tremor que tomara conta de si, tinha quase certeza de que estava com febre. Procurou não entrar em pânico ao mesmo tempo em que imaginava se haveria uma forma de fugir dali.
Muito tempo passou desde que despertara, até ouvir vozes abafadas, e passos próximos a porta. Levantou-se, cambaleando e se encostou na parede, enquanto uma tênue claridade entrava pela pesada porta, que se abria lentamente. E quando os seus olhos se habituaram à súbita luz , viu a figura miúda e pálida de Ayrel Fahol, cercada por dois homens que ele conhecera em Londres, antes da guerra.
- Então foi aqui que te esconderam? perguntou, a voz trêmula estão todos procurando por você...
Ayrel esboçou um sorriso, e aproximou-se de Salazar, examinando-o.
- Eu disse para que não ferissem você... mas parece que não atenderam às minhas ordens... então continuam a minha procura?
Agora era Salazar quem a examinava. Não entendia absolutamente o que aquela menina queria dizer. Mas antes que pudesse dizer qualquer coisa, Ayrel sorriu-lhe, e recomeçou a falar.
- Surpreso? Não me esperava encontrar por aqui?
- Já lhe disse que estão todos a sua procura...
- Hum...imagino. Todos quem? Meu irmão Erwin e toda a corja dos aliados de meu pai?
- Desculpe, milady agora havia ironia nas palavras de Salazar será que poderia me explicar o que está acontecendo?
- É tão óbvio... será que ainda não percebeu? a menina sorriu mais uma vez não houve rapto... o Cristal está comigo, e muito bem guardado... surpreso?
Salazar não disse nada, mas começou a sentir ao mesmo tempo asco e admiração por Ayrel. Agora queria saber mais, como ela havia conseguido o estrago feito entre os trouxas, e a guerra decorrente disso.
- Eu vou lhe explicar tudo... mas antes vou pedir aos meus guardas que levem você para tomar um banho... e não se esqueça que você continua a ser meu prisioneiro. Não tente fugir, ou você morrerá dolorosamente ela já não sorria mais, e afastou-se deixando Salazar perdido em seus pensamentos...
- "Tudo começou com a morte da minha mãe, pouco antes daquela reunião que você e o Griffyndor estiveram presentes. Como é tradição na minha família, desde tempos imemoráveis, o Cristal é passado de mãe para a filha mais velha. Nenhum homem pode manipulá-lo. Esse Cristal foi parte do dote que meu pai recebeu ao se casar com a minha mãe. Você não o conheceu perfeitamente, Salazar... não sabe do que ele era capaz para ter o que queria...a ambição dele não tinha limites. Ele queria isolar o mundo bruxo dos trouxas não porque tivesse medo, mas porque isso lhe traria grande notoriedade entre toda a nossa comunidade e ele poderia ser aclamado rei... Londres não era suficiente para ele..." Ayrel contava sua história tranqüilamente, sentada entre almofadas. Estavam num lugar escuro, iluminado apenas por archotes. Pela umidade das paredes de terra batida, Salazar desconfiou que aquele lugar fosse subterrâneo. A garota serviu uma sopa saborosa e um pouco de vinho para o rapaz "Meu pai, antes do meu nascimento tentou manipular o Cristal, e quase morreu por conta disso. Somente minha mãe poderia salvá-lo, e ela só o fez por amor... mas ele jurou a ela que jamais tentaria usá-lo novamente. Até então eles haviam tido apenas filhos homens... Erwin é o mais velho de todos... e quando eles pensaram que minha mãe estava velha para conceber, eu nasci. Meu pai exultou, mas teve que esperar muitos anos para poder colocar o seu plano em prática. Então, minha mãe morreu e eu estava de posse do Cristal."
- E como ele te convenceu a usar o Cristal? perguntou Salazar, interessado.
- Ele não me convenceu...logo que minha mãe morreu, eu disse a ele que não seria um instrumento de manipulação dele... bem, ele ficou furioso. Nessa altura, ele já tinha convocado vocês para aquela reunião. Mas eu tinha um aliado: Ulrich, filho de um antigo aliado do meu pai. Nós nos amávamos e pretendíamos nos casar, mas meu pai nos impediu. Era uma represália pelo fato de eu não querer colaborar com o seu plano. Meu pai proibiu que nós nos víssemos, mas eu o encontrava escondida. E foi assim que nos tornamos amantes. E ele me aconselhou a fingir que colaborava com meu pai. Por isso você me viu na festa em sua última noite em Londres...
- E onde está esse Ulrich?
- Morto...- Ayrel não demonstrou emoção alguma ao dizer isso - duas noites antes de partirmos meu pai descobriu o nosso caso. Ele me manteve presa em casa, e ordenou a Erwin que matasse o Ulrich. A única coisa com que eles não contavam é que nós dois já tínhamos um plano formado. Conseguimos convencer grande parte da guarda do meu pai a seguir nossas ordens... que meu pai estava insano... em grande parte, eram homens rudes e ávidos por dinheiro. Ulrich sabia se impor e eu tinha muito ouro para dispor. Um dos irmãos de Ulrich também se aliou a nós... não demonstrei a meu pai em momento algum como estava sofrendo com a morte do meu amante. Tudo o que conseguia pensar era em me vingar do meu pai. E uma vez em Stonehenge, Anakin, o irmão de Ulrich, matou o meu pai. Os poucos homens que não se aliaram a nós foram mortos também.
- Então não era sua intenção desde o início em criar aquelas criaturas?
- Não... isso eu descobri ao acaso, ao manipular o Cristal... é simples: ele capta o sentimento mais íntimo da pessoa e dá forma a ele... eu estava com raiva, muita raiva... e ela recaiu sobre os trouxas, seres inúteis que habitam a terra... então resolvi desafiar todos os que estavam contra mim. E com o Cristal, suguei a alma que esses cristãos se esforçam tanto para salvar.
- E por que você me trouxe para cá? Eu já percebi que não sou um prisioneiro comum...
- E não é mesmo... acontece que descobri que, sendo filha do meu pai, tenho muitas coisas em comum com ele... inclusive a ambição desmedida. E quando essa guerra acabar, quero algo que só você poderá me proporcionar...
- O que você quer?
- Hogwarts, Salazar.
- E por que Hogwarts? ele perguntou.
- Imagine...um lugar para ensinarmos magia...apenas para os que são como nós...educar toda uma geração para então conseguirmos a nossa soberania sobre os trouxas. Essa guerra toda irá logo acabar, e quando eu triunfar vou precisar de algo mais...para garantir o meu poder...e o seu, se você me ajudar.
Salazar permaneceu em silêncio, pensando sobre todas as coisas que Ayrel dissera.
- Pense bem... ela continuou - será muito fácil tomarmos conta... principalmente se o Griffyndor morrer em batalha... tirar aquelas duas de lá não será difícil, estou certa?
- Não, não está Salazar subitamente sentiu a raiva tomar conta de si não posso simplesmente entregar Hogwarts a você, como se o castelo pertencesse somente a mim... não posso...
- Por que não pode? O que lhe impede? Ayrel fixou o olhar em Salazar eu consigo perceber em você o mesmo desprezo pelos fracos que eu tenho... pelos cristãos nojentos... nós somos iguais, você não percebeu? Então... o que há?
- Helga e Rowena não são as tolas que você imagina...
- E você também não é tolo, e sabe que sua vida depende de mim... você já sabe tudo o que eu sou capaz de fazer, e lhe matar não seria difícil... então você vai voltar para a sua cela, e vai pensar com calma na proposta que eu lhe fiz. Tenho certeza que pela manhã, você terá mudado de idéia...- a menina virou-se para os dois homens que faziam guarda à porta levem-no de volta, e dêem a ele um tratamento especial.
Quando Salazar deixou a sala, ladeado pelos dois homens, Ayrel deixou-se cair sentada novamente. Havia arriscado tudo contando a verdade a Salazar. Mas se conseguisse Hogwarts... sorriu, satisfeita. Olhou ao seu redor, sempre sorrindo. O Cristal estava bem protegido, coberto por uma redoma. E ao lado, sobre uma mesinha havia um pequeno globo, também feito de cristal puro. Tocou a sua superfície, e a imagem sombreada de Hogwarts apareceu. A única coisa que não havia contado a Salazar era que, assim como Helga e Ídris, ela também possuía a visão.
"E agora só me resta descobrir qual das duas Salazar ama..."
Seguindo as instruções de Ídris, Rowena traçara um grande círculo defronte o castelo, e dentro deste um pentagrama. Logo que a mulher começara a lhe ditar tudo o que iria precisar naquela noite de Hallowen, a moça percebeu que executariam um daqueles grandes rituais mágicos dos tempos antigos, relacionados à visão. Selecionou ervas próprias, que ampliavam a sensibilidade das videntes, e buscou a água da Caverna, que era utilizada apenas em ocasiões especiais como aquela. Pelo menos uma das inscrições que constavam junto à fonte dizia que o uso indiscriminado e egoísta daquela água traria sérias conseqüências. No centro do pentagrama, a base de uma fogueira já estava pronta e um caldeirão preparado para a infusão.
Helga passara o dia inteiro se preparando para aquela noite. Tinha a exata consciência de que grande parte do sucesso daquele ritual se deveria ao seu desempenho. Ídris já não tinha o vigor necessário, e dissera isso diversas vezes durante o dia. Primeiro, desprenderiam toda a energia de seus corpos. Depois, a propriedade das ervas que iriam ingerir poderiam ser mortais se não soubessem dosar a quantidade correta. Tudo isso a jovem tinha em mente, e quando finalmente a noite chegou, Helga soltou as tranças, deixando o seu cabelo solto e vestiu uma túnica simples de lã branca. Inspirou profundamente e saiu do castelo.
Distribuídas ao redor do círculo, estavam todas as mulheres que Rowena conseguira convencer a participar do ritual. Eram, em sua maioria as esposas e mães dos homens que acompanharam Godric à guerra. Na opinião de Rowena, não passavam de pobres ignorantes, que serviriam apenas para concentrar a magia naquele local, sem no entanto compreender a importância do ritual. Porém não compartilhara sua opinião nem com Helga, nem com Ídris. Apenas cumpriu o que lhe fora ordenado, sem discutir. Quando Ídris e Helga chegaram e se posicionaram no centro do pentagrama, Rowena acendeu a fogueira com a varinha e colocou o caldeirão, cheio de água e ervas para ferver. Depois colocou-se entre as outras mulheres no círculo. Era chegada a hora.
Ídris foi a primeira a encher o cálice com o chá e bebê-lo todo de uma só vez, apesar do gosto amargo e da tontura provocada pelas ervas. Permaneceu alguns instantes de olhos fechados, com a mente concentrada na única coisa que realmente lhe importava: descobrir onde estava Salazar, e consequentemente poder guiar os homens à este local. Depois de alguns minutos ainda não tinha a menor noção de onde ele pudesse estar. E foi só neste instante que Ídris percebeu que lutava com algo muito maior do que ela pudesse ter imaginado. Captou raiva e revolta, desejo de vingança e ódio vindos da pessoa que ordenara o rapto de seu filho. Concentrou-se ainda mais, mesmo sabendo que já estava próxima do limite da fadiga.
Abriu os olhos e sentiu que todas a observavam.
- Concentrem-se também... precisamos de toda a força possível....- murmurou, enquanto enchia novo cálice de chá. Entregou-o a Helga, que o bebeu sem protestar. Ídris também bebeu outro cálice, e segurou firmemente as mãos de Helga Feche os seus olhos e apenas concentre-se...
Desta vez foi como se um turbilhão de sensações tomassem conta das duas mulheres, e ambas sentiram que viajavam pelo vácuo numa velocidade impensável para um ser humano, ao mesmo tempo que tinham consciência de que seus corpos permaneciam em Hogwarts. De repente pararam numa espécie de limbo, um local enevoado e silencioso. Não havia ninguém ali, e Ídris temeu não conseguir voltar. Tornou a fechar seus olhos, e mais uma vez captou os sentimentos do raptor de Salazar, desta vez com maior intensidade... "estou tão próxima...tão próxima..."
Finalmente viu surgir na névoa uma sombra humana... e conforme ia se aproximando, tomava a forma de uma mulher... uma mulher pequena e magra, com cabelos longos e um sorriso cândido no rosto...
"Quem é você?" Ídris sentiu-se perguntar, sem no entanto articular qualquer palavra.
"Sou Aquela a quem têm procurado... meu nome é Ayrel Fahol..."
"Se todos julgam que você foi raptada, como está aqui?
"Todos julgaram errado, como a senhora pode comprovar... ninguém pode me deter... seu filho é meu refém, e a vida dele depende apenas da minha vontade..".
"Pela manhã todos saberão a verdade, e não serão piedosos com você..."
"E quem iria me delatar? A senhora? Tem certeza de que vai arriscar assim a vida do seu filho?"
Ídris então calou-se. Sentiu Ayrel crescer diante de si, ao mesmo tempo em que suas pernas fraquejavam. Ídris ajoelhou-se, tentando conter a tontura e a fraqueza que tomavam conta do seu organismo, até que caiu ao chão, desmaiada. Ayrel a observava com um arrogante olhar de superioridade, enquanto o sorriso cândido esmaecia, dando lugar ao escárnio e ao deboche.
"Você não seria capaz de tentar nada que ameaçasse a vida dele, não? Talvez fosse o caso de ter o seu outro filho como refém também...e se eu a obrigasse a escolher um deles, qual seria? A criança que você deu à luz, ou aquela que criou? "
"Ela não terá que escolher nenhum dos dois, pois ambos voltarão para Hogwarts, Ayrel..." a menina voltou-se assustada, e viu Helga diante de si, transbordando poder e magia você conseguiu minar a energia de uma mulher idosa, Ayrel... agora quero ver o que é capaz de fazer comigo..."
"Você não se atreveria a medir forças comigo... eu ainda tenho o refém...- sua voz tremeu pela primeira vez você também caíra aos meus pés..."
"Será? Helga sorriu, ao mesmo tempo em que cerrou os punhos, sempre olhando fixamente para Ayrel. Então, Helga abriu as mãos e uma imensa bola de luz surgiu entre as duas. Ayrel não ousou se mexer... uma forma difusa surgiu entre a luz, conforme a intensidade do calor e da claridade ia aumentando, até que o Cristal apareceu entre as duas, flutuando. "Você sabe agora o que eu posso fazer, não? "
"Você não se atreveria...- Ayrel repetiu, tentando tocá-lo, mas o simples contato com a luz fez com que queimasse a ponta dos dedos este Cristal me pertence..."
"O grande mal do homem é usar o poder e a inteligência dados por Deus para destruir os semelhantes... você poderia tê-lo usado para o bem, e não para a destruição que você praticou... temos que aprender a amar o nosso próximo, e não odiá-lo, Ayrel..."
"Não me venha com seu discurso cristão, trouxa..."
"Trouxa? Tenho tanto poder quanto você, Ayrel... tanto poder que vou destruir o Cristal, para que ele nunca mais caia em mãos erradas..."
"Você estará assinando a sentença de morte de Salazar Slytherin..."
"A responsabilidade pela morte dele será sempre sua, Ayrel... não minha. Eu estou fazendo o que é certo..."
A luz concentrou-se com maior intensidade entre as mãos de Helga, até o limite de sua força. E quando ela não suportou mais o calor, bateu palma contra palma, provocando uma grande explosão. Minúsculos fragmentos do Cristal espalharam-se em grande velocidade. Ayrel, enfraquecida , ainda tentou recolhê-los, mas logo sua sombra esmaeceu até desaparecer.
Como num vendaval, Helga deixou sua sombra seguir pela noite em busca do acampamento de Godric. Precisava alertá-lo que o Cristal estava destruído, o que garantiria vitória fácil. Ainda tinha plena consciência de que seu corpo permanecia em Hogwarts, aguardando. Não poderia, de forma alguma esquecer-se disso, ou ficaria perdida para sempre naquela espécie de limbo, nem vida nem morte, nem sonho nem consciência.
Alcançou o acampamento e localizou a barraca onde Godric , Gawen e Erwin dormiam sono profundo.
"Vocês precisam partir imediatamente.. .Godric, me ouça... parta enquanto for noite..."
- Quem está aí? o rapaz murmurou, sonolento, porém já com a mão na bainha da espada Apareça...
"Sou eu, Godric... Helga... a sombra adquiriu maior nitidez vocês devem partir..."
- O que está acontecendo? Gawen despertou e ao ver a sombra da noiva flutuando dentro da barraca e soltou um grito, que por sua vez acordou Erwin, o irmão de Ayrel. Helga, o que você... mas... o que é isso...
"Ayrel estava com o Cristal... ele está destruído agora... se vocês partirem já para Stonehenge, poderão encontrá-la... ela está muito fraca... vão.. .e... acabem.. .logo... sua voz esmaeceu até parecer um sussurro com... a guerra...."
A sombra de Helga desapareceu, deixando os homens atônitos.
Por detrás de uma das grandes pedras de Stonehenge havia uma abertura de tamanho suficiente para um homem passar, que levava a um longo túnel subterrâneo, onde Ayrel encontrava-se escondida desde o começo da guerra. Naquela madrugada, os homens que se encontravam de guarda viram ao longe um grande clarão vindo em direção ao Círculo. Um deles desceu pelo túnel, e encontrou uma Ayrel cansada e cambaleante.
- Eles estão vindo, Ayrel... e são muitos...
- Já não podemos fazer muita coisa, Anakin...- ela murmurou, encostando-se na parede, tentando controlar-se eles conseguiram... destruíram o Cristal....
- Nós fomos longe demais com tudo isso... acreditamos que você nos levaria à vitória... e agora... agora você vem se lamentar, Ayrel? o homem esbravejou, segurando-a com força pelos punhos - o que você pensava sobre tudo isso? Que era mais um capricho seu? Fazer todos se renderem à sua vontade?
- Me larga... Ayrel puxou a mão, libertando-se quantos homens nós temos?
- Uns cinqüenta... mas quando descobrirem que não temos mais o Cristal, não hesitarão em fugir... ou pior, nos entregar.
- E quantas criaturas temos presas?
- Muitas. Mas o que adianta se não pudermos transformar mais trouxas?
- Então vamos embora...- Ayrel sussurrou, aproximando-se de Anakin... fugiremos, eu e você.... soltamos as criaturas que tivermos sobre o exército de Erwin...
- E o que vamos fazer com o seu prisioneiro?
- Salazar? Deixe-o ir...ele já não tem mais utilidade alguma...
- Eu deveria ter sabido... nunca confiar numa mulher!! Se ele não tem mais utilidade, mate-o, como fez ao seu pai!! segurando o pulso da garota, ele jogou-a contra a parede.
Ayrel não disse nada. Sentiu o sangue escorrer pela sua testa, mas não emitiu nenhuma palavra. Simplesmente puxou de dentro das suas vestes uma varinha e a apontou para Anakin:
- Avada Kedavra! o corpo dele desabou no chão, com uma expressão surpresa no rosto a maldição mais antiga, meu caro... você não foi nem metade do homem que seu irmão era...
A porta da cela de Salazar abriu-se abruptamente e ele acordou, atônito. Viu diante de si Ayrel empunhando a varinha, ainda com sangue escorrendo pelo seu rosto.
- Você pode ir embora...
- Acha mesmo que acredito em você? Aposto que vai me matar quando eu lhe der as costas...
- Você é a única pessoa que eu não mataria essa noite... apenas quero que jure que não irá se juntar novamente ao exército de Erwin.
- Nem em mil anos...
- E eu continuo querendo Hogwarts, Salazar...e não vou descansar enquanto não consegui-la...e eu sei que é através de você...
- Eu já lhe disse...
- O que você pensa? Que essas pessoas estão preocupadas com você? A sua amiga Helga não hesitou em destruir o Cristal, mesmo sabendo que você era meu refém...
A expressão de Salazar continuava impassível diante de Ayrel.
- Como foi isso?
- Quando voltar a Hogwarts, pergunte a Helga... mas não se esqueça que você me deve Hogwarts, e um dia vou cobrar essa dívida.
- Não lhe devo nada...
- Deve sim... deve sua vida, Salazar... e eu sei que um dia você vai precisar de mim...- Ayrel tirou do seu pescoço uma fina corrente de ouro, e a entregou a Salazar tome-a, Salazar, Língua-de-Cobra... você irá me procurar um dia, portanto guarde essa corrente... ela lhe guiará até mim...
Salazar nada disse, mas aceitou a corrente. Seguiu Ayrel por longos corredores até uma escada, que levou-os para a superfície.
- Vê o clarão? É meu irmão Erwin e o seu exército... quando eles chegarem aqui, estarei longe... vão encontrar apenas as minhas criaturas... vá, pegue um de meus cavalos... e vá embora...
- Você é muito generosa, Ayrel... então, acho que é adeus...
- Até breve, Salazar...
Ayrel observou-o cavalgar pela planície, em direção ao clarão. Pouco se importou com o que ele faria agora. Voltou para o túnel e deu ordens para soltarem as criaturas. Após isso, recolheu todo o ouro que tinha consigo, voltou para a superfície e partiu. Para o sul, para além da Cornualha...
Por um instante fugaz, ao ver Salazar voltando para o exército, a salvo, Godric sentiu um grande alívio. Mas a sensação não durou muito tempo, pois no rosto do ex-refém permanecia o desprezo e o escárnio.
- Vejo que está a salvo...
- Estou... pensou que estivesse morto?
- Talvez....- Godric deu ordens para os homens interromperem a marcha ela está lá?
- Ela quem? escarneceu Salazar.
- Ayrel Fahol...
- Não sei... se estiver, deve estar presa também...- sorriu, debochado.
- Fomos informados, Salazar... de que foi ela quem armou tudo isso... não sabemos com qual propósito...
- E quem poderia ter lhes dito isso, irmão?
- Helga nos informou...
- Helga? debochou mais uma vez e como ela poderia ter vindo de Hogwarts até aqui? A pé ou a cavalo? alguns homens riram, o que irritou profundamente Godric.
- Isso não lhe interessa, Salazar... e não precisamos da sua ajuda... não precisamos de você...
- Ótimo, porque eu não tinha a intenção de participar desse suicídio coletivo...- virou-se para todos os soldados vão... sigam um homem que sofre de alucinações... ou vocês também viram a jovem Helga por aqui? sorriu divertido quando alguns homens novamente riram .
Godric desembainhou sua espada e a apontou na direção de Salazar.
- Só mais uma palavra, Slytherin e eu juro que faço...- o ódio transbordava em cada palavra eu juro que faço...
- A sua nobreza o impedirá, Gryffindor...
Com apenas um golpe, Godric rasgou o braço de Salazar na altura do ombro, fazendo com que o outro se desequilibrasse sobre a cela. Com um certo custo, Salazar conseguiu manter-se sobre a cela, enquanto o sangue brotava sob suas vestes.
- Isso foi só uma amostra... agora vá embora antes que eu o mate...
- Eu vou...vou voltar para casa... para os braços de Rowena... e não vou lamentar quando chegar a notícia que você morreu em batalha... pois será a minha grande chance de governar Hogwarts à minha maneira....
Antes que Godric pudesse atacar novamente Salazar, Erwin e Gawen seguraram-no com força, impedindo-o.
- Vá embora, Salazar...- gritou-lhe o irmão vá e suma...
Salazar cuspiu no chão, antes de partir.
- Você já não é mais meu irmão, Gawen... esporou o cavalo e partiu, esforçando-se para não desmaiar de dor.
A batalha que se seguiu foi a mais intensa de todas que já haviam participado até então. As horríveis criaturas, agora soltas sem nenhum comando, avançavam sobre os soldados. Poucas traziam armas, mas a sua simples presença fazia com que os homens caíssem de seus cavalos, direto para as mãos daqueles seres. E então presenciaram algo terrível, que até então não tinham visto: naquele último grupo, as criaturas estavam dotadas de uma espécie de boca, pela qual sugavam a alma dos soldados que caíam pelo chão.
E foram criaturas desse tipo que conseguiram encurralar Gawen, que segurava a cabeça entre as mãos, gritando desesperado. Godric correu ao seu encontro, mas parecia que apenas os golpes de espada não eram suficientes para afastá-los. Porém garantiu tempo suficiente para que Gawen fugisse. E quando finalmente conseguiu matá-las, Godric não viu detrás de si um dos últimos soldados de Ayrel, que defendiam com sua vida a mulher que eles ainda julgavam estar escondida nos subterrâneos, brandindo uma espada. E antes que pudesse reagir, sentiu o metal frio cortar-lhe a pele e o sangue aflorar rapidamente. Como num sonho, viu seu braço erguer a própria espada e degolar o seu atacante, antes de cair ao chão, vendo tudo ao seu redor embaçado, a dor entorpecendo-o... aquele não poderia ser o fim, pensou...não poderia...