Dois pontinhos brilhantes na escuridão
 

Naquela noite, quando tudo parecia caminhar para o mesmo fim de jornada de todos os dias, dois pontinhos brilhantes brilharam em minha direção, mudando tudo, desde o mais profundo sentimento até coisas que até então não tinham sentido, trazendo à tona emoções que pareciam perdidas.

Quando esses dois pontinhos de luz encontraram os meus olhos, dentro de mim tudo se iluminou, trazendo também picadas e feridas que jamais cicatrizarão.

Aquele momento será marcado como uma divisão entre dois tempos: o adormecido e o da chama que jamais se apagará. O tempo adormecido morreu, deixando viver o da chama, que será aquele que me conduzirá de hoje em diante.

Vieram tempestades, trovões, tormentas e outros infortúnios que me arrasaram, levando-me a conhecer a escuridão sem pontinhos que brilham. Também vieram luzes que me lembravam os pontinhos brilhantes e me conduziam à cidade das luzes.

Tentei conhecer essa cidade, mas as luzes me ofuscaram e acabei, novamente, indo parar no mundo da escuridão, dominado pela ventania. Nesse mundo, dei de frente com uma cobra, que me atacou sorrateiramente, sem nenhuma chance.

E todos os dias, onde quer que eu estivesse, eu encontrava os dois pontinhos brilhantes. Eu já não sabia mais se eles eram reais ou apenas faziam parte do meu pequeno mundo de fantasia.

 Fui dominado pelos pontinhos brilhantes, que consumiam a minha energia, os meus pensamentos, a minha lucidez. Já não sabia mais onde pisar, pois tudo parecia ser a mesma coisa.

 Quando resolvi encarar os dois pontinhos brilhantes, conheci um mundo incrível, cheio de vida, de força, de iniciativas e de amor. Jamais imaginava que um mundo assim pudesse existir, ainda mais nessa civilização tão perdida.

Hoje, depois de conhecer os dois mundos, já não tenho mais vontade de pertencer a outro que não seja o dos pontinhos brilhantes, um mundo que tenho visto todos os dias, mas que desaparecerá da minha frente.

 Jamais imaginava que num mundinho assim, tão grande, dentro de um ônibus para a faculdade, dois pontinhos brilhantes, vindos dos seus olhos, pudessem me fazer acreditar que o mundo fosse formado por pontinhos brilhantes.
 

09/11/2001 – 22:35 na Biblioteca da UNICASTELO – Descalvado (SP)