Data: Seg Dez 18, 18:45 am
Assunto: Para Papai Noel (off-topic)
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O Natal está chegando. É a época de enfeitar a árvore de Natal, percorrer lojas e shopping centers com listas de presentes, comer peru e panetones. Também é o tempo de nos reunirmos em família, isso depois de discutir muito para decidir em qual família (“no ano passado passamos o Natal com a sua mãe, agora tem que ser com a minha”) e ter que levar presentes até para aquele parente que você quase não viu durante o ano todo.
Já para não poucas pessoas, esta é uma época de vazio, de depressão e amargura. São aquelas que sofreram alguma grande tristeza; as que estão sós no mundo; as tão necessitadas que só vêem Natal pela TV; ou aquelas para quem o Natal simplesmente perdeu o encanto, transformando-se em mero pretexto comercial.
A verdade é que estamos nos esquecendo do verdadeiro sentido do Natal. Que é a maior festa da cristandade, em que deveríamos festejar o nascimento de Jesus Cristo, e agir como Ele, distribuindo alegria, solidariedade e esperança ao Próximo.
Sempre que começo a me esquecer do que é realmente o Natal, trato de me lembrar de um poema que ouvi há muitos anos (declamado por Rolando Boldrin, no extinto programa Som Brasil) e me impressionou extremamente. Escrito pelo poeta nordestino Aldemar Paiva, o poema é um verdadeiro tapa na cara, uma sacudida para que nos lembremos do que estamos fazendo com o Natal. Não consigo lê-lo sem ficar com os olhos marejados.
Que tal mudarmos nosso comportamento este ano, mesmo que seja só um pouco? Ninguém precisa se vestir de Papai Noel e sair por aí distribuindo presentes. Por exemplo, vá visitar um amigo que você não vê há muito tempo e que sabe que teve um ano ruim. Ou doe uma cesta básica a uma família carente, ou brinquedos a um orfanato. Ou vá a uma agência do Correio e atenda a uma cartinha para Papai Noel (eles recebem milhares nesta época). Tudo isso custa pouco ou nada e faz um bem enorme para o espírito. Mas só não se esqueça, depois, da advertência de Cristo: “Não faças tocar trombeta diante de ti.”
Feliz Natal para todos, e deixo-lhes como presente e reflexão o poema de Aldemar Paiva.
PARA PAPAI NOEL
Não gosto de você, Papai Noel.
Também não gosto desse seu papel
de vender ilusões à burguesia.
Se os garotos humildes da cidade
soubessem do seu ódio à humildade,
jogavam pedras nessa fantasia!
Você talvez nem se recorde mais.
Cresci depressa e me tornei rapaz,
sem esquecer no entanto o que passou.
Fiz-lhe bilhete pedindo um presente,
a noite inteira eu esperei contente,
chegou o sol e você não chegou.
Dias depois, meu pobre pai cansado
trouxe um trenzinho velho, empoeirado,
que me entregou com certa hesitação.
Fechou os olhos e balbuciou:
"É pra você... Papai Noel mandou..."
E se esquivou contendo a emoção.
Alegre e inocente nesse caso,
pensei que meu bilhete com atraso
chegara às suas mãos no fim do mês.
Limpei o trem, dei corda, ele partiu,
deu muitas voltas, meu pai sorriu
e me abraçou pela última vez.
O resto só eu pude compreender
quando cresci e comecei a ver
todas as coisas com realidade.
Meu pai chegou um dia e disse, a medo:
"Onde é que está aquele seu brinquedo?
Eu vou trocar por outro na cidade".
Dei-lhe o trenzinho quase a soluçar,
e como quem não quer abandonar
um mimo que lhe deu quem lhe quer bem,
disse medroso: "Eu só queria ele...
Não quero outro brinquedo, quero aquele
E por favor, não vá levar meu trem".
Meu pai calou-se e pelo rosto veio
descendo um pranto que eu ainda creio,
tão puro e santo, só Jesus chorou.
Bateu a porta com muito ruído,
mamãe gritou, ele não deu ouvidos,
saiu correndo e nunca mais voltou.
Você, Papai Noel, me transformou
num homem que a infância arruinou,
Sem pai e sem brinquedos. Afinal,
dos seus presentes, não há um que sobre
para a riqueza do menino pobre
que sonha o ano inteiro com o Natal!
Meu pobre pai doente, mal vestido,
pra não me ver assim desiludido,
comprou por qualquer preço uma ilusão:
num gesto nobre, humano, decisivo,
foi longe pra trazer-me um lenitivo,
roubando o trem do filho do patrão.
Pensei que viajara, no entanto
depois de grande, minha mãe, em pranto,
contou que fora preso. E como réu,
ninguém a absolvê-lo se atrevia.
Foi definhando, até que Deus um dia
entrou na cela e o libertou pro céu!
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