Data: Qui Ago 7, 2003 11:27 am
Assunto: Mudança no calendário
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A realização do campeonato brasileiro de 8 meses evidenciou um dos problemas crônicos do futebol brasileiro, que é o desencontro entre seu calendário e o europeu, resultando em revoada de craques brasileiros para equipes européias (que vivem a pré-temporada) enquanto o Brasileirão ainda está na metade.
Para resolver o problema e evitar que os clubes fiquem sem seu $$$ ou desfalcados, o presidente da CBF pensa em mexer novamente no calendário brasileiro (se é que de fato temos um), adequando-o ao da Europa. Com isso o campeonato brasileiro, já a partir de 2004, iniciaria em agosto e terminaria em março de 2005, sendo disputado em pontos corridos como se faz no velho continente. A seguir viriam as férias dos jogadores, e o período de maio a julho seria reservado para torneios de pré-temporada, aí incluídos os campeonatos estaduais. A idéia conta com o apoio dos setores de sempre da Mídia, mas para implantá-la Ricardo Teixeira terá que superar vários obstáculos, a saber:
- A Geografia. Como se sabe, o Brasil fica em sua maior parte no Hemisfério Sul, o que significa que as estações do ano, aqui, são invertidas em relação à metade norte do planeta. Ora, aqui, lá ou em qualquer lugar, o período preferido de férias da maior parte da população é o verão. Pago para ver a CBF convencer jogadores e técnicos a trocarem suas férias em dezembro e janeiro por abril, mês tradicional de chuvaradas no centro-sul, e jogarem no Maracanã em pleno verão, sob um calor de 40º... Além disso, abril é período de aulas, o que impossibilitaria férias em família.
- A Libertadores. O principal torneio sul-americano ocorre tradicionalmente de fevereiro a junho, de modo que cada país deverá conhecer seus representantes até o final do ano anterior. Como fazer isso se o Brasileiro só terminar em março?
- As Federações. Teixeira foi reeleito presidente da CBF, com os votos das Federações, pelo compromisso de aumentar o espaço no calendário para os campeonatos estaduais. A idéia vai totalmente de encontro a essa promessa de campanha.
- O inchaço da série A. Em qualquer época do ano que se faça o campeonato, não há como fazê-lo em pontos corridos com 24 times, como está evidente. Reduzi-los a 20 ou 18 seria recomendável, mas o clube dos 13 nem quer ouvir falar no assunto. Com isso, a necessidade de usar 8 meses para o campeonato nacional dificulta seu encaixe no ano civil. Reduzí-lo para 6 meses parece uma medida lógica.
Enquanto tentarmos copiar o modelo estrangeiro sem levarmos em conta as particularidades nacionais, não teremos resultado que preste. Lembro-me que, quando a Sears encerrou atividades no Brasil, li uma matéria que explicava o fracasso da grande rede americana, entre outras coisas, por usar fórmulas e regulamentos que vinham prontos da matriz: por exemplo, as roupas seguiam o modelo e o gosto americanos e não vestiam bem nos brasileiros (e principalmente nas brasileiras); as prateleiras ficavam a 1,70 m do chão, à altura dos olhos de um americano típico mas altas demais para o brasileiro médio, e por aí vai...
Por que não se adotar, como fórmula bem mais simples e viável, uma inversão no calendário, disputando-se o campeonato brasileiro no 1º semestre, e os estaduais e a Copa do Brasil simultaneamente no segundo?
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