Data: Seg Out 11, 2004 1:40 pm
Assunto: Retrospectiva do ano, já??
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Retrospectiva do ano, já? Em outubro??
Realmente, quando se trata de futebol o calendário não tem muito a ver com a passagem dos meses: conforme o clube, o ano pode acabar em dezembro, outubro ou até mesmo em junho, dependendo de quais campeonatos a equipe em questão participe.
O Ramalhão tradicionalmente conquista seus melhores resultados em anos ímpares, e 2003 foi um dos mais proveitosos da história do clube. Por isso, a torcida começou 2004 com esperanças, mas também dúvidas quanto às estréias da equipe na Série B e na Copa do Brasil. Assim, a eliminação da equipe sub-20 na Copinha, em janeiro, pareceu um mau presságio. Em seguida veio o Paulistão, com uma fórmula de disputa ainda mais confusa do que de costume, com um número ímpar de equipes dividido em dois grupos numérica e tecnicamente desiguais. Além da eliminação do Ramalhão, ainda tivemos que engolir o São Caetano levar o título e deixar um pouco para trás a fama de amarelão. Um começo pouco promissor.
Mas chegou enfim a aguardada estréia na Copa do Brasil, e o Ramalhão mostrou logo força ao golear fora de casa o vice-campeão goiano, o Novo Horizonte de Ipameri. O adversário seguinte seria o Atlético Mineiro, que havia sofrido mas vencera a Catuense na primeira fase. A idéia do Galo era vencer logo o desconhecido Santo André por goleada e dispensar o jogo de volta, e com esse espírito o time pisou no péssimo gramado do Brunão. Resultado: 3 x 0 para o Ramalhão, para espanto da imprensa mineira (e da paulista também).
A fanática torcida atleticana exigiu vingança pela humilhação sofrida e lotou o Mineirão para o jogo de volta. Mas o técnico ramalhino Luiz Carlos Ferreira armou um 4-5-1 e amarrou o Galo em campo. Ao final, uma vitória inútil do Atlético por 2 x 0. E o Brasil foi apresentado ao Ramalhão.
Mas, se começaram aí as alegrias da torcida ramalhina, também começaram os problemas. Com o término do campeonato paulista, o elenco sofreu um desmanche num momento crucial, pois teria de encarar o Guarani pela fase seguinte da Copa do Brasil, sem falar na proximidade do início da série B. Apesar disso, o time avançou na Copa, com dois empates contra o Bugre (1 x 1 fora e 0 x 0 em casa), e entre eles a esperada estréia na Segundona, nada convincente: empate em casa com o Paulista, e logo em seguida derrota para o Avaí na casa do adversário.
Nesse momento começou uma série de eventos extra-campo envolvendo o Ramalhão. O primeiro deles foi a inusitada pressão do Sport para aliciar o técnico Ferreira e levá-lo para Recife. Foi uma seqüência de cenas que beiraram o patético, terminando com um quase "seqüestro" do ex-técnico nos vestiários do Bruno Daniel por representantes do time pernambucano. A diretoria ramalhina agiu rápido e trouxe Péricles Chamusca para comandar o time.
O novo técnico alterou o esquema tático para 3-5-2 e a equipe subiu de produção. Bem a tempo, pois o adversário seguinte pela Copa do Brasil seria o Palmeiras, favoritíssimo da mídia. Mas outra bomba caía sobre o clube: a CBF denunciou o Santo André por suposta escalação de jogadores de forma irregular nos dois primeiros jogos da Série B, e o time corria o risco de perder 12 pontos no campeonato.
Mas coube ao elenco abstrair-se de tudo isso e ir a campo encarar o Palmeiras. O empolgante jogo de ida, no Bruno Daniel, terminou empatado por 3 x 3, com o goleiro pentacampeão Marcos deixando o campo muito criticado por sofrer um gol "do meio da rua" do atacante ramalhino Osmar — que meses depois estaria no Palmeiras... Por sinal, Osmar era um dos jogadores que teriam jogado na Série B sem que sua inscrição tivesse sido publicada no BID da CBF. E, ao mesmo tempo que o esbulho dos 12 pontos se confirmava no STJD, o Santo André voltava a encarar o Palmeiras, desta vez no campo inimigo: ao final de uma das partidas mais dramáticas da História, o placar registrava 4 x 4 e os jogadores ramalhinos festejavam em campo, diante da torcida palmeirense muda de espanto e de uma imprensa paulistana estarrecida.
Enquanto os jogadores venciam em campo, fora dele o Ramalhão continuava sendo surrado no tapetão. O STJD, em decisão inesperada, suspendeu a eficácia do BID ao perceber que clubes da primeira divisão (especificamente, Coritiba e Atlético/PR, mas vários outros também estavam prestes a ser denunciados) também iriam perder pontos, mas manteve a "punição" ao Santo André. Restava, mais uma vez, ao elenco ir buscar em campo, na Série B, os pontos que lhe permitissem sair da zona de rebaixamento, missão muito difícil uma vez que, a essa altura, o Ramalhão era o lanterna, com pontuação negativa.
Mas era preciso vencer uma batalha por vez, e a seguinte era a semifinal da Copa do Brasil contra o surpreendente 15 de Novembro gaúcho. E após um susto (3 x 4) no jogo de ida no Pacaembu, o Ramalhão venceu por 3 x 1 no Olímpico e garantiu vaga na decisão. A cidade espantada “descobriu”, pelas chamadas na TV, que o clube que leva seu nome enfrentaria o Flamengo na finalíssima do segundo campeonato mais importante do país. (O alheamento da cidade é algo tão grave que merece uma investigação severa, mas falarei disso mais adiante).
Chegou, por fim, a grande final. O Flamengo não era considerado favorito, e sim já campeão, pela mídia que não podia imaginar dificuldades para o rubro-negro contra um "obscuro" clube da segunda divisão. No jogo de ida, no Parque Antártica (mais uma vez, numa incrível coincidência, o sorteio da CBF determinou que o Santo André decidiria fora de casa), empate por 2 gois e o locutor global cometendo a gafe do ano ao chamar o Ramalhão de “São Caetano”... A imprensa carioca comemorou o empate como título antecipado, e durante uma semana armou-se a festa para o Maracanã. Tudo preparado: estádio lotado, chope geladinho e show de Ivete Sangalo para festejar a volta do Flamengo à Libertadores. Só se esqueceram de avisar o adversário. O resto da história, todos conhecem. No final, a volta olímpica dos heróis ramalhinos, conscientes de que haviam vencido muito mais que uma simples partida de futebol, aconteceu no Maracanã já meio deserto, pois a incrédula torcida flamenguista começou a deixar o estádio muito antes do final da partida.
O ano poderia muito bem terminar aí, mas ainda havia o segundo semestre pela frente, e a difícil missão de sair da zona de rebaixamento na Segundona. Para variar, mais problemas extra-campo: a hesitação da CBF em reconhecer o direito do Santo André em disputar a Libertadores, enfim contornada; a inesperada ida do treinador Chamusca para o maior rival (“traidor” foi o termo mais leve com que a torcida ramalhina passou a designar o ex-técnico), e nova derrota, unânime, no tapetão marcaram esse período. Para conter o ímpeto de torcedores que ameaçavam ir à Justiça comum pelos 12 pontos, a diretoria ingressou com um novo recurso no STJD, prolongando o assunto por mais algumas semanas.
Enquanto isso, em campo, o time não só conseguia sair da zona de risco mas também já fazia contas para a classificação à segunda fase, contando com a possível devolução de 6 pontos, que, no final, acabou não acontecendo. Mas a classificação final do Ramalhão na primeira fase da Série B (14ª posição, com 29 pontos) pode ser considerada uma vitória, pois sem o confisco dos 12 pontos o time teria conseguido com folga a classificação para a fase seguinte.
Neste momento, o Santo André apenas cumpre tabela na Copa FPF, por isso podemos dar o ano por encerrado. E o lançamento da pedra fundamental do futuro Centro de Treinamentos pode ser considerado o marco de encerramento de uma das temporadas mais vitoriosas de toda a História do E. C. Santo André. Mas não há somente o que comemorar. Os fatos alarmantes ocorridos fora das 4 linhas exigem uma análise mais profunda, bem como a adoção de providências imediatas:
- O Ramalhão terá muitas dificuldades se continuar com uma média de público inferior a 1.500 pessoas nos jogos no Bruno Daniel. Uma ação planejada para atrair o público de volta ao estádio, combinando publicidade eficaz, abertura de espaços na mídia (especialmente rádio e TV) e distribuição de ingressos, é uma providência mais que urgente. Felizmente o Poder Público está fazendo, meio que “na marra”, a sua parte, reformando o Estádio Municipal, mesmo que ainda não seja aquela ampliação e modernização que todos desejamos.
- No mesmo sentido, não é mais possível que a cidade continue simplesmente ignorando o clube que a representa. É preciso uma campanha de fundo cívico que crie uma identificação do andreense com o Ramalhão.
- O Santo André sofreu derrotas sérias em assuntos de alçada da diretoria, e a torcida espera uma satisfação. É moralmente necessário, por exemplo, apurar a responsabilidade pelo erro que resultou na perda dos 12 pontos, e que o responsável seja demitido (se for funcionário do clube) ou processado por perdas e danos, pois o prejuízo sofrido pelo Ramalhão é incalculável. Se essa satisfação não for dada, ficará muito difícil pedir qualquer apoio da torcida daqui para a frente.
- Por fim, está muito clara a necessidade de novos parceiros capazes de injetar mais recursos e de se envolverem mais com o clube, pois os atuais já atingiram seu limite de investimento. Se não for possível aproveitar a situação atual, extremamente favorável, para negociar novos patrocínios, nunca mais haverá uma oportunidade como esta.
E que venha 2005.
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