Sexo oral. Como reduzir os riscos de infecção.
Historicamente, tem sido muito difícil estabelecer qual a participação do sexo oral na transmissão do HIV, uma vez que poucas pessoas praticam somente o sexo oral. A maioria das pessoas também pratica sexo vaginal e anal, que são reconhecidamente formas de infecção quando há relação sexual desprotegida. Mesmo com o relato de vários casos nos quais a transmissão do HIV tenha sido aparentemente por via oral, sempre houve uma tendência de se priorizar, nas campanhas e materiais de prevenção, as outras áreas de maior risco. Essa estratégia tem deixado as pessoas confusas sobre a necessidade e as opções de redução do risco do sexo oral.
RISCO DE INFECÇÃO
A probabilidade de transmissão do HIV depende do tipo de contato envolvido. O vírus,
geralmente, é transmitido por meio de sexo anal e sexo vaginal sem proteção
(penetração sem camisinha); por meio do compartilhamento de seringas e agulhas
infectadas entre usuários de drogas injetáveis; da mãe infectada para o filho
na gestação ou na hora do parto; por meio de transfusão de sangue não
testado. O sexo oral sempre foi tido como uma atividade de menor risco, mas
nunca foi considerada sem risco algum. Vale lembrar que outras doenças
sexualmente transmissíveis, como sífilis, herpes e gonorréia, podem ser
facilmente transmitidas via sexo oral.
ESTUDOS CONTROVERSOS
O risco de um homem com práticas homossexuais se infectar pelo HIV por meio do
sexo oral é extremamente baixo, de acordo com um estudo americano realizado em
São Francisco, publicado na revista AIDS, em 2002. De um total de 10.000 homens
que se apresentaram para a realização de teste de HIV o estudo selecionou 239,
que informaram ter feito exclusivamente sexo oral. Os indivíduos pesquisados
praticaram, em média, sexo oral com três pessoas diferentes num intervalo de
seis meses.
A maioria absoluta (98%) fez sexo oral sem camisinha; 35% afirmaram ter recebido
sêmen na boca, 70% dos quais engoliram o sêmen. Nenhum dos homens da pesquisa
apresentou resultados positivos ao HIV, significando que o risco de ser
infectado pelo HIV via sexo oral nesta população foi zero. Como a amostragem
do estudo foi relativamente pequena, não é possível dafirmar que a
probabilidade de infecção é realmente zero.
Já um estudo espanhol, recentemente publicado, envolvendo casais heterossexuais
em que um dos parceiros estava infectado pelo HIV e o outro não, concluiu que
nenhum caso de transmissão de HIV poderia ser atribuído ao sexo oral em um período
de 10 anos.
Este estudo contradiz drasticamente uma outra pesquisa também conduzida em São
Francisco, em 2000, com 122 homossexuais masculinos que haviam sido recentemente
infectados pelo HIV. A pesquisa, até hoje bastante contestada, informou que até
8% dessas infecções eram atribuídas ao sexo oral.
Dentre os homens, participantes dessa pesquisa americana, que informaram que o
único fator de risco teria sido sexo oral, a maioria - embora não todos -
relatou que tinha algum problema na boca, como úlceras e aftas, quando praticou
sexo oral. A maioria dos homens infectados dessa maneira disse ter recebido sêmen
em suas bocas.
QUANDO É MAIS PERIGOSO
O risco de transmissão do HIV por sexo oral é maior quando você ou seu
parceiro (a) tem uma doença sexualmente transmissível (DST) não tratada, como
gonorréia ou sífilis. Também é mais perigoso se você tiver cortes abertos,
úlceras ou machucados em sua boca, garganta infeccionada, amigdalite ou alguma
doença na gengiva.
Os exames de carga viral quase sempre encontram rastros do HIV no sêmen. A
presença de alta carga viral no sangue também significa que a carga viral do sêmen
é alta. O contrário não é necessariamente verdadeiro: mesmo que a carga
viral no sangue seja indetectável, o vírus pode estar presente no sêmen.
Portanto, é errado acreditar que a terapia anti-HIV (o coquetel) reduz o
potencial de infecção do sêmen ou que evita a infecção em relações
sexuais desprotegidas.
Os níveis de HIV no fluido vaginal também variam, aumentando durante a
menstruação, período em que o sexo oral é mais perigoso.
COMO REDUZIR OS RISCOS
Há várias maneiras de reduzir os riscos de infecção pelo sexo oral. Depende
da opção de cada um, de aceitar e decidir sobre o que é mais ou menos
arriscado. O ideal é que, antes de optar por alguma conduta, você passe por
uma consulta médica ou aconselhamento com profissionais de saúde. Os COAS
(atualmente chamados de CTAs) são serviços públicos que fazem a testagem
anti-HIV e devem estar preparados para prestar esse tipo de informação. A
seguir, algumas estratégias que também podem proteger contra outras doenças
sexualmente transmissíveis, lembrando que, na maioria delas, o risco continua
existindo:
- você pode decidir que os riscos do sexo oral são baixos o suficiente para não
mudar seu comportamento habitual;
- você pode optar pela abstinência de sexo oral, deixar de praticá-lo porque
não quer correr nenhum risco de transmissão de HIV, por menor que ele seja;
- você pode decidir reduzir o número de parceiros com os quais vai fazer sexo
oral;
- você pode decidir praticar sexo oral com barreiras de proteção. É o caso
da camisinha no sexo oral com homens ou “proteção dentária” (um tipo de
borracha usada pelos dentistas) no sexo oral com mulheres;
- você pode decidir que prefere “receber sexo oral” (ser chupado) já que
isso parece ser mais seguro do que “fazer sexo oral” (chupar);
- você pode decidir não gozar na boca do seu parceiro ou não deixar que gozem
na sua boca; caso goze na boca, igualmente pode decidir engolir ou não ou
esperma;
- você pode decidir evitar sexo oral com mulheres se elas estiverem em seus períodos
de menstruação.
PARA CONCLUIR, DUAS DICAS
- Seja você HIV-positivo ou negativo, cuide bem da saúde de sua boca. A chance
de transmissão do HIV por sexo oral aumenta se a pessoa tiver gengivas que
sangram, aftas, cortes, machucados e cáries nos dentes. Nunca escove seus
dentes ou passe fio dental antes do sexo oral.
- Visite seu médico periodicamente. Procure logo um serviço de saúde se
aparecer ferida, verruga, corrimento, ardência ou coceira no pênis, na vagina
ou no ânus. Pode ser o sinal de uma DST, que além do desconforto e da dor,
pode aumentar em muitas vezes o risco de transmissão do HIV.
![]() |