Amor e Ódio
(começo)

Fanfic por Sanae





Ten-Ou estava sentado na beira de sua fonte, apreciava os pássaros que voavam e cantarolavam felizes por estarem simplesmente ao contato dos raios do sol matinal.

Seus cabelos quase que avermelhados desciam pelas suas costas, e um sereno sorriso estampava-lhe a face.

"Como o mundo é belo..." - suspirou em voz alta.

"Se não fosse por seu passífico reinado, meu senhor, hoje não teríamos as belezas que resplandecem em nossa terra querida".

Ten-Ou desviou o olhar em direção da voz, avistando Ashura-Ou, um tanto que distante. Estava como de costume, usando sua armadura dourada, que realçava com os ombros largos e os cabelos num corte uniforme e extremamente negro como a noite profunda.

"Aproxime-se Ashura..." - sorriu o rei, percebendo que o outro se mantinha respeitosamente longe. "Não há necessidade de ser formal. Gosto que me trate como uma pessoa comum, sem a grandeza do nome".

O rei viu seu fiel protetor aproximar-se, suspirou com a beleza que aquele cavalheiro possuía, e sabia que ele era extremamente poderoso, sendo o deus da guerra. Sem querer, seus olhos percorreram o corpo a sua frente, vendo cada detalhe, chegando a pousar na face deste. Ruborizou-se ao perceber que os belos olhos do guerreiro o fitavam.

"Estava reparando que sempre você usou armadura..." - sorriu meio que confuso, tentando achar uma desculpa qualquer. "Mas não há guerras, nem conflitos. Não vejo por que usá-la".

Com muito custo, Ten-Ou voltou a fitar os olhos de Ashura-Ou, vendo neles a certeza de que entendera perfeitamente o motivo com que o olhava hora atrás. O jovem rei voltou a desviar o olhar ainda mais vermelho do que antes.

"Eu a uso, pois não se sabe quando uma ameaça pode surgir... Mas se desejar, não a usarei até que uma real guerra venha a abalar o reinado, coisa que não desejo, nunca...".

O jovem rei olhou surpreso para o guerreiro, mas este havia voltado a face para o céu azul, como que querendo distrair-se para Ten-Ou não ficar muito constrangido e poder se recobrar do embaraço.

O olhar do rei encheu-se de compaixão assim como seu coração inundou de amor. Nunca conheceu alguém que se importasse tanto com as pessoas, como esse jovem que o guardava, zelando dia e noite por sua segurança, sua vida e seu reino. Sim. O amava muito, por tudo que ele representava, por seu espírito, seu corpo, seu caráter... Amava por ser perfeito...

Ashura-Ou notou que Ten-Ou baixara levemente a cabeça, com os olhos serrados, tinha um sorriso nos lábios, cheio de gratidão e carinho.

Não pensando duas vezes, o deus da guerra pôs-se de joelhos bem à frente de seu rei, para desespero deste, que quase ferveu com a atitude inesperada.

"Ten-Ou... Se não fosse por teu bom coração e teu amor pelo povo, não poderia se ver a alegria que este mundo possui. E é por isso e pelo imenso respeito que tenho por ti, digo agora, mas perdurará até a morte, que te protegerei com minha vida, assim, protegerei o mundo..." - suas mãos entrelaçaram as mãos trêmulas do outro.

"O mundo é realmente belo, as pessoas não tem com que se preocupar e tudo a volta reluz a paz e prosperidade. E o meu coração vai explodir se continuarmos assim..." - pensou Ten-Ou, se soltando das mãos do guerreiro.

Remexeu-se um pouco, ainda sentindo o calor que lhe subia pela face.

"Ashura, vamos dar uma volta pelo jardim?" - convidou, sem saber o que dizer, pois sua cabeça parecia não querer raciocinar. "Espero que não aceite ou eu vou morrer por sua causa..." - pensou logo em seguida, ensaiando um sorriso descontraído.

"Adoraria" - o jovem afirmou, retribuindo o sorriso.

De descontraído, o rei passou a assustado, logo apavorado, mas voltou a tentar ser calmo e simpático.

Quando foi se levantar, quase vacilou em cair, pois o tremor que lhe fazia nas pernas e o arrepio que vez ou outra corria sua espinha eram de abalar, chegou à conclusão que estava totalmente atrapalhado.

O vento fresco amenizava o calor daquela manhã, e balançava os negros fios dos cabelos de Ashura-Ou, soltando deles o perfume que exalava de seu corpo, envolvendo ambos naquele inocente passeio. Aquilo estava matando o jovem rei que nem mais tinha noção de onde estava.

Passava perto de um rio, onde as águas cristalinas corriam terminando por despencar cachoeira a baixo. Ten-Ou tropeçou sabe-se lá no quê, desabando sobre o outro. Como Ashura-Ou não estava esperando por isso, acabou por perder o equilíbrio indo os dois ao chão, perto da margem do rio.

Riram ambos achando graça no ocorrido e na situação ridícula que se encontravam. Aliviados por não ter ninguém ali, àquela hora da manhã.

Mas estavam enganados. Desde que começaram a conversar na fonte, olhos frios os observavam a distância, sem demonstrar sua presença, acompanhava cada passo, cada gesto, como uma fera oculta, esperando o exato momento para lançar-se raivosamente sobre a vítima e estraçalhar por inteiro.



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O sol baixava comunicando o fim de mais um dia, Ashura-Ou entrou exausto em seu aposento após um treinamento mental e espiritual que tivera. Um banho o faria relaxar para poder se entregar ao cansaço e ao sono.

Entrou na sala dos banhos, após pegar uma roupa branca de algodão, mas parou na soleira da porta, com o olhar fito no jovem que descansava a cabeça num dos braços apoiado na beira do recinto de pedra. Os olhos fechados, a respiração calma, os cabelos longos num tom branco cobria-lhe o corpo nu molhado, e flutuava espalhados por toda a superfície da água.

"Taishaku-Ten..." - soletrou baixo.

O outro permaneceu imóvel, parecia não ter ouvido continuando a descansar.

Ashura-Ou despiu-se e com cuidado entrou na água, deslizando até os ombros ficarem encobertos. Olhou novamente ao jovem, agora ao seu lado, para ter certeza de que não o incomodou.

Taishaku-Ten permanecia sereno, seu rosto era totalmente visível com apenas alguns fios de seus cabelos manchando-lhe a perfeição da face. Era nítida a malícia das feições, assim como era em seus gestos. De todos os deuses, Ashura-Ou tinha certeza de que era aquele que repousava a seu lado, o mais atrevido e sensual, esbanjando luxúria para a frustração de quem o olhasse.

Nunca tivera a oportunidade de conversar com ele, pois sempre estava à companhia de Ten-Ou, se não fosse em treinamento constante.

"Seria uma boa conhece-lo" - pensou enquanto reparava nas mechas claras que grudavam em seu corpo e o envolvia na água, misturando aos seus cabelos negros.

"Taishaku-Ten..." - chamou um pouco mais alto do que a primeira vez.

O jovem de cabelos claros abriu lentamente as pálpebras deixando os lábios levemente abertos enquanto os umedecia com a ponta da língua. Fitou seu interlocutor, para mostrar que ouviu o chamado.

"Conheço quase que todos que cercam nosso rei" - começou tentando interter o outro. "Mas não o conheço ainda".

"Ashura-Ou, o deus da guerra..." - disse levantando o corpo para se ajeitar melhor e voltou a fitar o guerreiro nos olhos. "Você gosta muito do rei Ten-Ou, não é?".

"Tenho uma grande devoção por ele..." - um sorriso carinhoso surgiu-lhe. "Assim como todos que o protegem".

Um estranho silêncio se fez ao mesmo tempo em que um incômodo perturbou o deus da guerra. Taishaku-Ten o olhava como uma serpente encantadora, tentando seduzir a vítima antes de lançar o veneno fatal. Para quebrar o clima tenso que se fez, Ashura-Ou tentou algo.

"Gosto de treinar..." - começou, mas foi interrompido.

"Na cachoeira que fica aqui perto..." - continuou o outro. "Eu sei, te vejo treinar. Sei também que seu local de descanso é em uma montanha, longe das pessoas e das preocupações. Mas você passa a maior parte do tempo ao lado de Ten-Ou...".

Ashura-Ou demorou a recobrar a razão, estava pasmo com o que ouvira. Aquele homem sabia mais coisas dele do que ele sabia sobre o outro.

"Você anda me espionando?" - foi a única coisa que lhe saiu.

"Gosto de te olhar... Por isso eu sei que no final da tarde, você vem ao banho... Queria te conhecer também..." - essa última frase soou suave, quase que num sopro.

O guerreiro de cabelos negros não disse nada, pensou por um instante, mas logo sorriu para a surpresa do outro jovem.

"Te convido a vir até a cachoeira, para treinarmos juntos e nos conhecermos melhor".

Sendo esse o começo de uma amizade.



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Ashura-Ou passava a manhã na companhia de Ten-Ou, e o resto da tarde junto a Taishaku-Ten. Treinavam, conversavam, brincavam como já se conheciam há anos.

Certa tarde, Ashura-Ou descansava deitado na relva, quando algo lhe agarrou pelos braços, fazendo-o sobressaltar de susto. Taishaku-Ten estava sobre si, prendendo-o entre as pernas e agarrado em seus braços junto ao chão, na altura da cabeça.

"Ora seu... Me solta!" - gritou se debatendo para livrar os braços.

"Está muito distraído, Ashura!" - debochou o outro.

"Culpa sua!" - retrucou já irritado.

"Minha?".

"É sua mesmo. Depois que te conheci, fiquei folgado como você" - afirmou num ar zombeteiro, mostrando os dentes brancos entre o sorriso brincalhão. "Agora me larga!".

"Não, não..." - balançou a cabeça num sorriso malicioso, que só o jovem de cabelos claros sabia dar. "Você me chamou de folgado. Agora vai sofrer!".

O olhar sensual avaliaram a vítima sob si procurando um modo de faze-lo sofrer. O deus da guerra não usava mais a armadura, estava apenas em trajes de algodão leve sobre o corpo, com a expressão interrogativa, pois não sabia o que estava por vir.

Taishaku-Ten deslizou o corpo mais para baixo, sentando sobre as pernas do outro, ainda agarrado aos braços que tentavam se soltar.

"O que vai fazer?".

"Espere e verá...".

Com os lábios, segurou a parte da roupa que cobria a barriga e a puxou para cima, desvendando a pele clara do deus guerreiro. O ventre se contraiu ao sentir a boca úmida forçando perto do umbigo, acelerando a respiração que parecia faltar. Mas logo, o som das risadas de Ashura-Ou ecoou pelo bosque, enquanto Taishaku-Ten soprava contra a pele sensível fazendo barulhinhos e tremores.

A tortura só parou quando lágrimas deslizavam pelos olhos fechados de tanto rir. Soltando a vítima e se sentando do lado deste, parou para admirar a beleza do jovem guerreiro de cabelos negros, que ainda se recuperava da crise de risos.

"Seu louco!" - gritou dando um tapinha ao braço que o prendera, já recuperado o fôlego.

Riram por mais algum tempo.

"Ashura...".

"O que foi?".

"Eu gosto de você".

"Eu sei... Também gosto de você".

"Só que... Eu te am...".

Um som fez o bosque silenciar, assim como a voz de Taishaku-Ten. Ashura-Ou levantou-se preocupado, mas acalmou-se ao avistar Ten-Ou, que andava ali perto.

"O que você acha dele?" - a voz era suave, mas um pouco fria.

Ashura-Ou olhou para Taishaku-Ten notando que ele mudara com a aproximação do rei. Para falar a verdade, ele havia notado que seu amigo mudava completamente ante os outros, não parecia Ter qualquer tipo de emoção, o que com ele era muito diferente. Via-se até um certo desdém em seus olhos.

"Acho que ele é uma ótima pessoa, um rei bom com um ideal próspero e honesto..." - silenciou um instante, vendo que seu amigo abaixara ainda mais a cabeça. "E você?".

"Sei que não posso dizer isso, mas quero ser sincero com você... Acho que Ten-Ou é um pouco, um pouquinho... Boboca" - olharam-se novamente e riram.

"Não devia pensar assim! Ele é nosso rei, temos que protege-lo e amá-lo no fundo de nossos corações".

Taishaku-Ten parou de rir, fitou a face encantadora de seu único amigo, memorizando cada curva, cada forma. A imagem juntou com o som que ecoava em sua mente.

"Você o ama do fundo de seu coração, dando sua vida por ele, vivendo apenas para ele... Porque ele é o rei?".

Ashura-Ou não entendeu muito bem, mas confirmou com a cabeça.

"E se você gostar de outra pessoa?".

"Não quero que isso aconteça. Sei que Ten-Ou gosta de mim, e vê-lo triste, me deixaria muito triste".

Taishaku-Ten apertou a mão na grama. Seu peito palpitava uma dor aguda e silenciosa, que só ele podia ouvir.

"E se ele pedisse... Para você e ele..." - abaixou novamente a cabeça tentando esconder a face.

"Eu ficaria com ele, se fosse o que ele mais desejasse" - Ashura-Ou sorriu distraído, olhando na direção de Ten-Ou. "Gosto muito dele, acho que não seria difícil amá-lo".

Não! Não! Não podia estar ouvindo aquilo! O jovem de cabelos claros apertou os olhos tentando conter as malditas lágrimas, nunca chorou, porque choraria agora? Mas aquilo o feria pior que uma espada, o agredia mais que uma luta. Nunca gostou de Ten-Ou, mas agora o odiava, queria matá-lo. Conquistaria o amor de Ashura-Ou, mesmo que para isso tenha que passar por cima do rei, dos deuses, do povo...

O deus guerreiro assustou-se quando Taishaku-Ten levantou-se e começou a afastar.

"Taishaku, o que aconteceu?".

"Eu vou me recolher, estou cansado...".

Aquela noite foi a pior em sua vida, jogado entre os lençóis, soluçando, as lágrimas que vertiam abundantes em seus olhos, manchando sua face, seu coração apertado, dolorido e magoado. Pela primeira vez se rendia às emoções, e era apunhalado pela pessoa amada tão fatalmente, mas jurou a si mesmo que seria a última, não sofreria nunca mais.

Os dias decorrentes foram tensos entre ele e Ashura-Ou. Não conversavam quase, Taishaku-Ten ficava desaparecido e só aparecia no fim da noite, calado e sinistro.

O deus guerreiro sentia a cada ignoração e desprezo do amigo. Sabia que algo aconteceu, e tinha quase certeza de que foi sobre o assunto que conversavam naquela última tarde juntos. Queria e muito falar com ele, e teria a oportunidade logo mais à noite, onde se realizaria uma festa para agradar o rei Ten-Ou.



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Risos, falas, cantos e danças tomavam conta do salão principal, deuses e humanos se misturavam harmoniosamente para festejar mais um ano do reinado de Ten-Ou, este, por sua vez estava cercado e bajulado por todos, que ofereciam grados de todos os tipos. Mas o jovem rei não soltava a mão de seu fiel guerreiro, fazendo-o acompanhar cada passo que dava. Seus sorrisos de felicidade sempre eram dirigidos a Ashura-Ou, junto com um olhar carinhoso.

Ten-Ou aproveitou a distração de seus admiradores, e aproximou a face ao pescoço do deus da guerra, corando as bochechas, disse em seu ouvido:

"A felicidade das pessoas é a minha maior felicidade...".

Ambos os olhares se cruzaram, o sorriso e a respiração. O jovem Ten-Ou apertou levemente a mão atada à de Ashura-Ou, logo a soltou.

"Vá se divertir! Ainda tenho que cumprimentar um monte de gente, e não quero que ninguém fique sem falar comigo...".

Vendo-se sozinho, Ashura-Ou percorreu o olhar ao redor da festa, mas não encontrou quem mais queria conversar.

Após procurar por todos os cantos, estava preste a desistir, andou até o jardim, onde não havia ninguém. Trazendo em uma das mãos uma garrafa de bebida. Mas ao se aproximar mais de um rochedo, viu uma pessoa sentada sobre as pedras, com uma roupa longa que lhe cobria até os pés, mas aberta ao peito, dando para ver nitidamente a pele alva sob a luz da lua.

Ashura-Ou estancou no mesmo lugar reconhecendo quem era. O cabelo de Taishaku-Ten cobria as pedras e pendia quase ao chão.

O jovem de cabelos claros estava fitando o horizonte, totalmente perdido em pensamentos. Seus olhos levemente serrados expressavam uma dor horrível, que o deus guerreiro pôde perceber claramente.

Caminhou lentamente para mais perto do outro, fazendo com que este se assustasse ao sentar bem ao lado, seus corpos colados, tentando dividir o pequeno espaço da pedra.

Após ingerir um gole da bebida, Ashura-Ou mostrou a garrafa para o amigo, que pegou mecanicamente levando à boca, mas quando seus lábios tocaram na fria garrafa, bem onde os lábios do jovem de cabelos negros bebera, seus pensamentos e sensações se misturaram, trazendo mais uma vez o arrepio e o friozinho na barriga.

Ao invés de beber, passou a língua ao redor do gargalo suprindo as gotas alcóolicas e o pouco da saliva de Ashura-Ou, mas desejando que fossem os lábios quentes ao redor de sua boca insana.

"Ainda está com raiva?".

Taishaku-Ten parou o que fazia e seus olhos arregalados fitaram a face de Ashura-Ou, que repousou a cabeça em seu ombro, fazendo com que o calor de sua face varasse a fina roupa do deus de cabelos claros, que sentiu o hálito roçar seu pescoço, com um leve odor de álcool.

"Você está bêbado...".

"Desculpe... Minha cabeça está girando..." - afirmou o deus da guerra, ainda de olhos fechados.

Ashura-Ou nunca foi de beber, não gostava do álcool e do fumo. Isso era mais para a personalidade de Taishaku-Ten, mas mesmo sendo forte na bebida, não ingeria mais que duas taças, pois sempre era repreendido pelo amigo. E olha agora o estado lamentável que o deus certinho se encontrava!

"Devia estar passando por algo muito horrível..." - pensou, balançando a garrafa e constatando que havia um líquido ralo no fundo.

Taishaku-Ten poderia ficar horas admirando aquele deus encantador, totalmente indefeso, largado em seus braços com a cabeça encostada em seu peito. Seus dedos longos infiltravam pelos fios negros e se enroscavam sentindo a maciez e o perfume, e com a outra mão, tocou a face adormecida e muito quente, deslizando pelas pálpebras até tocar os lábios. Com o dedo indicador, adentrou a ponta num gesto malicioso, e sentiu a quentura da língua esbarrar de leve, ao deslizar de um canto ao outro da boca tentadora.

"Você é meu... Apenas meu..." - murmurou sorrindo, apertando o corpo em seus braços.



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Já era noite extensa quando Taishaku-Ten entrou no aposento de Ashura-Ou, trazendo-o jogado de bruços em seu ombro.

Com cuidado, o deitou entre as almofadas e os lençóis. Seu olhar percorreu o quarto enquanto sentia o aroma do deus guerreiro em todo o ambiente, parou fitando o corpo largado, de braços abertos, parecendo que o convidava a deitar-se sobre si e o abraçasse.

Com as mãos, o jovem deus afastou as pernas do amigo, se sentando entre elas, tocou os tornozelos e pôs-se a subir deslizando a palma na pele macia, entrando por debaixo da longa túnica branca, que como a sua, cobria-lhe até os pés. Sorriu ao descobrir ambos os joelhos, e seus dedos deslizaram ainda mais, parando nas coxas firmes, não resistiu, apalpando-as forte, e vendo a cabeça do outro virar num resmungo baixo. Não parando por aí, sua mão subiu ansiosa pelo quadril, mas sentiu o pano que cobria provavelmente os dois belos segredos de seu amado amigo. Num instante de raiva e ânsia, com um puxão agressivo rasgou o tecido, jogando para o lado. A roupa ainda encobria aquela parte, assim como o torso do guerreiro adormecido. Voltou a tocar no quadril, não sentindo mais nenhuma barreira para sua tarefa excitante, com cuidado sentiu a cintura e o tórax, acariciou com vontade o peito, achando os mamilos, brincou com eles enquanto olhava para o baixo ventre descoberto, admirando o sexo tentador.

Não querendo mais perder tempo, arrancou-lhe a túnica por cima da cabeça, ficando cara a cara com o deus da guerra.

"Sabia que você é lindo?" - disse encostando os lábios ao do outro.

Forçou um pouco mais e penetrou a língua naquela boca vermelha, sentindo cada canto, saboreando a saliva e enroscando suas línguas. Enquanto o beijava, seus dedos apertaram um dos mamilos sensivelmente já ereto, ouvindo maravilhado o gemido abafado que morreu entre seus lábios colados, o corpo de Ashura-Ou tremeu.

Devorou com a boca, beijos e língua cada parte daquele corpo, deixando traços e marcas em toda pele, agora trêmula, Ashura-Ou parecia reagir com os toques, remexendo o corpo e a cabeça, onde seus cabelos negros se espalhavam e dançavam ao redor dos travesseiros, reluzindo ao brilho fulgáz laranja-avermelhado das velas acesas no quarto, ao redor dos dois, iluminando ambos para satisfazer a visão translúcida de Taishaku-Ten.

O acolchoado que sustinha ambos os amantes tinha formato arredondado, pouco a cima do chão coberto por tecidos harmoniosamente sobrepostos um nos outros, mesclando as cores claras e pendendo do teto como cortinas semitransparentes, de seda e renda. Logo à cabeceira, um grande espelho flagrava os dois seres de corpo inteiro, das cabeças aos pés dando uma forma tridimensional aos reflexos, causando uma ilusão de ótica fabulosa.

Taishaku-Ten livrou-se do incômodo da roupa, queria roçar o corpo nu ao outro que já não tinha mais controle de si mesmo, suava e tremia com a respiração entrecortada.

"Quero fazer amor com você... Só com você... Porque te amo... Te amo muito..." - murmurou ao ouvido do deus guerreiro enquanto se debruçava sobre ele, fazendo seus membros se tocarem. "Quero você por inteiro, seu corpo, sua alma, seu amor... Me ame Ashura... Me ame com todo o seu coração... Por favor...".

"AH!..." - gemeu baixo.

Taishaku-Ten sorriu, como queria ouvi-lo gemer. Voltou a atacar o pescoço e os ombros, tirando novos tremores, mas agora, acompanhados de alguns gemidos.

Porém, algo não estava certo. Como um choque, o deus de cabelos claros sentou-se assustado consigo mesmo. Fitou o amigo que ainda se remexia tamanha as sensações que sentira. Como o desejava... Mas um pensamento tardio o fez parar antes que concretizasse seu sonho mais secreto, antes que invadisse o pudor certamente virgem que se ocultava entre a carne gostosa e úmida no meio daquelas pernas.

"Não posso violentá-lo, estuprá-lo..." - com a ponta dos dedos, segurou o rosto amado. "Ashura. Pode me ouvir?".

"Hum..." - seus olhos abriram para logo em seguida fechar.

"Diz que me ama..." - chamou insistente ao ouvido do outro. "Se me ama, diz por favor!".

Ashura-Ou abriu levemente os lábios pondo a cabeça um pouco para trás, buscando ar.

"Diz..." - voltou a insistir. "Quero te amar, com todo o meu amor...".

"Te... A-amo..." - sussurrou por fim ao pescoço de Taishaku-Ten, a face corada, parecendo ferver.

O jovem ouviu maravilhado, sorrindo maliciosamente, seus olhos se estreitaram ansiosos, cheios de luxúria. Não perdeu mais tempo, segurou os ombros do outro, lambendo e mordendo os mamilos, não deixando que o corpo que se contorcia novamente o impedisse de atacá-los. Primeiro um, depois o outro, até que achou que já estava bom, deslizou deixando uma trilha molhada de saliva até o umbigo, parou para fitar a expressão de Ashura-Ou, tomado pelas emoções. Satisfeito, mordeu ao redor da barriga, marcando a pele em rastros vermelhos deixados por seus dentes. Ouviu mais gemidos baixinhos, o que o incentivou a fazer o melhor trabalho que estava por vir.

Sem demora, abocanhou o membro quase despertado do deus guerreiro, e começou longos movimentos de vai e vem, pressionando com os lábios toda a extensão. Ashura-Ou gemeu mais alto, ainda mais sem ar, seu peito subia e descia em desespero. Bastou mais algumas chupadas vigorosas para sentir o membro duro, com a cabeça inchada e vermelha, gotas começavam a sair pelo buraquinho. Com uma chupada bem na ponta, Taishaku-Ten parou, pois já conseguira despertá-lo por completo. Sua boca agora envolveu mais a baixo, o buraquinho tímido, afastando bem as pernas que insistiam em escondê-lo.

"Não..." - tentou fechar as pernas virando a cabeça de um lado a outro, agarrado aos cabelos claros que lhe cobria parte do corpo e da cama.

Mas seu pedido foi negado, e seu corpo forçado mais brutalmente a ficar na mesma posição expondo-o à língua que circulava em volta da entrada, a ponta penetrou abrindo a resistência e afundando para dentro. Ashura-Ou contraiu-se todo num longo arrepio que o sacudiu por inteiro.

"Preciso... Preciso de você...".

Taishaku-Tem parou o que estava fazendo e se posicionou melhor, colocando as belas pernas do jovem de cabelos negros sobre os ombros, roçou a cabeça do pênis na entrada úmida pela saliva escorregadia. Suspirou longamente com o olhar fito na face contraída do outro, forçou-se para frente rompendo a passagem apertada, alargando a cada investida.

Ashura-Ou arregalou os olhos, arqueando o corpo para trás enquanto suas mãos crispadas apertavam o lençol com força, soltando um grito doloroso. Taishaku-Ten também gritou, sentindo que seu amante se contraía fortemente tentando fechar o caminho que seu falo invasor rompia a cada centímetro.

Com cuidado, sua mão envolveu o membro pulsante, deslizando os dedos e roçando o polegar na ponta sensível, e com a outra mão, acariciava a barriga e o peito palpitante e suado, circulando os mamilos. Ficou assim por alguns minutos, até sentir que a contração do reto diminuíra concideravelmente, só então, terminou a penetração de uma só vez. Mais um grito, agora rouco, saiu dos lábios do deus guerreiro, seguido de gemidos dolorosos.

As estocadas começaram lentas e demoradas, mas aos poucos se faziam mais rápidas e urgentes. Enquanto entrava e saia freneticamente naquele ânus gostoso e apertado, masturbava-o com a mesma intensidade, querendo arrancar dele o mesmo prazer que sentia. O que não demorou a conseguir, Ashura-Ou gemia alto, e prazerosamente rebolava para intensificar o ato sexual. As mãos antes agarradas ao lençol foram envolver o pescoço suado, por baixo da cabeleira branca de seu amante, trazendo-o ainda mais perto de si, e forçando-o mais para dentro de sua passagem.

Um novo beijo, mais quente, mais apaixonado, agora buscado pelos lábios de Ashura-Ou, terminou por deixá-los ainda mais loucos, fazendo as estocadas tornarem violentas em busca do orgasmo.

Os lábios se separaram sem fôlego, e o membro de Taishaku-Ten entrou mais fundo, tocando o ponto sensível de Ashura-Ou, que gritou extasiado, gozando na mão que o massageava. O jovem de cabelos claros também gozou, com um suspiro entrecortado ao sentir o túnel se contrair o puxando para dentro.

Exausto, deixou o corpo cair sobre o do deus da guerra, deslizou cuidadosamente para fora da passagem cheia do fluido leitoso, aconchegando ao lado de seu amado e trazendo sua cabeça para cima de seu peito. Abraçados, entorpecidos, sentindo os corações um do outro arfar do imenso prazer. Passaram a primeira noite juntos, dormindo como amantes e não como amigos.



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Ashura-Ou abriu os olhos lentamente, vendo as linhas amareladas do sol matinal vararem os tecidos que encobriam o quarto, escondendo toda a privacidade dos dois amantes. Relou a face ao peito macio que sua cabeça repousava, aspirando o cheiro da pele, enquanto sua mão percorreu o resto do corpo parando em cima do abdômen, com as pontas dos dedos relava aos pêlos pubianos. Era tão bom sentir o corpo quente junto ao seu, o deixando com uma sensação única, completa...

O deus de cabelos negros refletiu por um instante. Julgava-se feliz, protegendo o rei e treinando para se aperfeiçoar. Depois que terminou seu relacionamento conturbado com sua ex-esposa, nunca mais quis se aproximar de alguém, e se achava feito, estando praticamente só. Mas agora...

Apoiando no braço, levantou a cabeça, a contra gosto pois estava tão bom ficar daquele jeito, e fitou o rosto de Taishaku-Ten.

Suspirou maravilhado, vendo tanta beleza. Como podia se apaixonar por um deus como aquele? Sabia que no fundo, ele possuía um lado cruel, sádico e possessivo, pois não era à toa que sua personalidade instável o fizesse sofrer tanto, como já havia presenciado tantas vezes. O jovem de cabelos claros ficava totalmente perdido entre o sarcasmo e a honra, mas quando estavam juntos, nunca deixou que seu lado sinistro atrapalhasse a amizade que cultivavam um com o outro.

Fitou por mais um tempo, chegando a ficar com o rosto bem próximo ao do outro.

"Talvez seja por isso que me apaixonei por você..." - murmurou docemente.

Relou no rosto adormecido com carinho, afastando as mechas claras que encobriam a testa perto dos olhos, mas ficou estático ao reparar num fino e quase imperceptível risco que aparecia no meio da testa, cortando de cima para baixo. Aproximou mais, para ver melhor e constatou assustado que se tratava de um jagan, o terceiro olho considerado demoníaco. O coração de Ashura-Ou falhou naquele instante, seu amado sofria muito mais que imaginava, era como se ele lutasse uma batalha eterna com seu próprio ser, uma tortura pesarosa para não deixar que nenhum dos dois lados - o bom e o mau - prevalecessem mais que o outro, no caso, o mal tinha de ser bem menos dominador. Agora tinha a certeza que ele possuía uma tendência mórbida à crueldade.

Com o pensamento firme de que o amaria até o fim, mesmo que para isso tivesse que sofrer para não deixar que o lado escuro matasse seu querido parceiro, jurou a si mesmo que traria consigo, guardado em seu coração, a verdadeira alma do jovem deus, para viverem juntos por toda a eternidade.

"Te amo" - sorriu antes de sua boca envolver os lábios semi-abertos. "Mesmo tonto pela bebida, eu estava ciente de tudo que acontecia... E gostei muito, agora sei que me ama...".

Taishaku-Ten abriu os olhos que brilhavam de paixão. Seu braço envolveu mais forte a cintura de seu amado, possessivo, enquanto a outra mão agarrou a cabeleira negra, o forçando para mais perto, retribuiu o beijo devorando os lábios já vermelhos de Ashura-Ou. Virou o corpo por cima do outro, deixando-o totalmente submisso a seu peso. O deus guerreiro abraçou ainda mais o corpo forte sobre o seu, se entregando completamente.

O beijo só foi interrompido pela falta de ar.

"Diz..." - pediu num sorriso encantador.

"Te amo... Te amo... Te amo..." - murmurava o jovem de cabelos negros, enquanto corava perante os olhos famintos de desejos.

"Ah!... Ashura... Como desejei ouvir isso dos teus lábios...".

Ashura-Ou arregalou os olhos sentindo a mão ágil o masturbar, e o pior, estava gostando.

"Tai... Não podemos" - tentou em vão empurrá-lo.

"Shiii... Eu sei que você quer..." - sorriu o outro cheio de ansiedade.

"Eu quero, mas não podemos... Ah... Mais tarde... Por... Hum...".

Ten-Ou mexia na coroa de flores campestre que ganhara na véspera, pelas crianças do reino. A franja de seu cabelo estava caída sobre a face, tampando parcialmente, deixando somente os lábios a mostra.

Sua roupa espalhava-se pelo gramado verde, ao qual estava sentado de frente ao rio que enchia a paisagem na mais completa calmaria de um dia ameno. O sol já se fazia alto, mas a sombra de uma árvore protegia o jovem rei.

Num suspiro ruidoso, levantou o olhar para o jardim, avistando Ashura-Ou. Este ajeitava os cabelos úmidos, provavelmente do banho apressado que tivera de tomar, estava longe, mas Ten-Ou pôde perceber claramente que sua fisionomia estava diferente. Seu semblante era iluminado por uma felicidade que jamais vira no rosto de seu querido protetor, e que o deixava ainda mais belo.

"Ah! Ashura..." - disse baixo, com a voz triste. "Sei que ama outra pessoa, pois eu não me importo. Meu amor por você continua intacto como da primeira vez... Mas o que me entristece, é que você foi amar a pessoa errada, que te fará sofrer" - enxugou com a ponta dos dedos a lágrima que lhe escapava dos olhos. "Eu desejo que você seja feliz com a pessoa amada, não importando quem seja, mas... De Taishaku-Ten, você só encontrará a tristeza e o sofrimento...".

Ten-Ou abraçou o estômago derrubando o ornamento das mãos, curvou-se chorando. Nutria dia e noite esse amor, que mesmo não correspondido o aquecia por dentro, de uma forma ou de outra o deixava feliz. Sabia que provavelmente não conseguiria a retribuição de seu amor, mas não importava, não precisava de mais nada, a não ser vê-lo sorrir, saber que ele estava alegre e feliz... Feliz com outra pessoa.

"A felicidade das pessoas é a minha maior felicidade..." - murmurou com dificuldade. "A sua felicidade é a minha maior felicidade...".

O amor não pode ser imposto, e sim conquistado. Quando se encontra a pessoa que preenche a vida, dando um motivo para estar vivo, para sorrir...O amor verdadeiro não se sente quando chega, apenas sabe que está lá, e que lhe faz bem...




CONTINUA







NOTA DA AUTORA: esta fic é baseada num dos meus mangás favoritos, e se passa antes do reinado de Taishaku-ten. Espero que você goste ~ __ ^ !!
PS: não tenho certeza do significado das palavras TEN e OU no final dos nomes, portanto não poderei dizer, caso alguém saiba, favor me mandar um email, ficarei muito grata. Esta fic é em relação ao pai de Ashura, ou seja, Ashura-Ou.

Maio/2002
kimsanae@hotmail.com


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