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          Pastor Nils e Pastora Fernanda

   

O Espírito Santo, o culpado de tudo?

Observe essas descrições, todas reais: Um irmão anuncia as horas em Feira de Santana, em plena rádio, dizendo “Nesta cidade são precisamente... decôvias névias...”. O pastor cheio da unção conversa e argüi “Qual teu nome?”, ao que ouve a resposta: “tranca-rua”. A “arca da aliança” entra e o povo começa a cair no chão, “tomado” pelo poder. O professor-pastor entra em sala de aula e chacoteia veementemente as manifestações do “Espírito (?)”. O culto de libertação prossegue com pessoas vomitando coisas, um correndo e fazendo um “aviãozinho”. O pastor da Igreja próxima abre o culto com o piano e pede reverência, pois “estamos na presença de Deus”.
Esse quadro contraditório pode parecer o que quiser, mas é parte da rotina constante e real da Igreja local. Nunca se viu tanta mistura, tanta confusão, tantas “opções” espirituais. Até mesmo no movimento carismático católico a opção se ampliou!.. com cura interior, aeróbica de Jesus, louvor congregacional e tantas adições da espiritualidade popular.
Fico a perguntar se o Espírito Santo está “bem da cabeça”... e respondo sem vacilar: Claro, claro, Ele sabe o que faz, Ele opera como quer. É? Opera como quer? De qualquer jeito assim? Faz o que quer?
Não, senhores, o Espírito Santo não pode fazer e nem “faz o que quer”. Quem faz o que quer é o diabo - este ser independente, entregue a si mesmo, assim como qualquer tolo (Pv 29.15; Os 4.17). Deus só faz as coisas para Sua glória!!! O fato de Deus ter todo poder não faz Dele um gênio da lâmpada, nem muito menos um resolvedor de problemas, um fabricador de Ferrari’s para servos especiais.
A confusão instalada, em nome do “mover do Espírito”, brincando-brincando acho que confunde até mesmo o próprio Deus. Daí abrimos as nossas Bíblias no Novo Testamento e procuramos a famosa frase dos cristãos, “o culto foi uma benção” , e nem isso achamos. Nem sequer sombra disso.
Um dado instante, saindo da prisão, os discípulos “dão uma paradinha” pra uma rápida oração, e , sem mais nem menos, treme o lugar e eles são cheios do Espírito, e ANUNCIAM A PALAVRA COM OUSADIA – este foi o sinal (At 4.31). Outro momento Paulo segue com um cantor, de Igreja em Igreja, recolhendo donativos para suprir necessidades dos pobres em Jerusalém (2Cor 8.18). Muito pouco que nos dê pistas da semelhança daquela igreja para a desses dias hodiernos. Pergunta fatídica: somos da mesma Igreja de Paulo e Silas? De João e André?

O Espírito Santo tem levado a responsabilidade de muita coisa que é feito hoje. Cada comunidade interpreta a fenomenologia do Espírito como quer, e ancora sua linha ministerial nisso. A diferença entre a maioria das comunidades cristãs termina nem sendo a doutrina, mas sim a liturgia, ou a manifestação visível e pública do “poder” de Deus.
Aliás, na televisão hoje, até muitos cristãos duvidam dos “milagres” alardeados, não por descrerem em Deus ou não experimentarem, mas pela propaganda feita em cima de Deus. Vendendo o poder de Deus seria algo semelhante ao que pediu Simão (At 8)? É pra pensar!...
O público tem sido exposto por demais ao espetaculoso movimento supostamente do Espírito. Me coloco então, claramente: Não creio, de hipótese alguma, que todo esse milk-shake evangélico seja receita do Espírito Santo. Duvido que o Espírito faz as coisas e se torna refém delas! Duvido que o Espírito Santo seja manipulado, e fique a serviço de um crente mais consagrado! Duvido que o Espírito Santo faça coisas que não saibamos como e de que maneira Deus está levando a glória! Duvido que o Espírito Santo esteja escandalizando pessoas que não o conhecem ainda só por conta de um culto mais caloroso ou melhorzinho.
Deus deseja que sejamos semelhantes a Jesus (Rom 8.29). Enviou Jesus para ser o modelo (1Jo 2.6). O modelo não é um culto assim, ou assado, mas uma vida, um caráter, um estilo de vida. O Espírito está aqui como “amigo do noivo”, o Hegai (Et 2.3,8), visando apresentar a Jesus uma noiva gloriosa (Ef 5.27). O Espírito está aqui para glorificar Jesus, engrandecê-Lo, não para engrandecer ministério algum. Falar isso é chover no molhado, sei, mas vou insistir de forma um pouco mais efetiva e contundente, para ver se conseguimos banir do nosso meio o misticismo, o espiritismo evangélico travestido de unção.

Deus não chamou ninguém para ser inédito. Jesus era cópia fiel do Pai, e nem falava o que bem entendia. Os discípulos de Antioquia (At 11) foram identificados com Cristo, embora que antes (At 4), a postura de Pedro e os outros 11 levou o povo a perceber que eles haviam estado com Cristo. A influência de Cristo não é para tirar de nós “o melhor de nós” simplesmente, mas para manifestar o melhor DELE, de Jesus, em nós.
Paulo também expressa em Filipenses sobre o Evangelho que havia sido passado pelos seguintes meios: O que também aprendestes, e recebestes, e ouvistes, e vistes em mim, isso fazei; e o Deus de paz será convosco (4.9). O Evangelho, que em Rom 2.16, 16.25 e 2Tim2.8 chama de “meu evangelho”, era obviamente mais um composto de ações e comportamentos, posturas, atos e ensinos, que um conjunto de dogmas ou doutrinas.
Não consigo ver Paulo jogando paletó em ninguém, nem soprando, nem pregando efusivamente em culto algum onde a metade da igreja está no chão. Aliás, em 2Cor 10.10 assusta o que lemos sobre Paulo: “a presença do corpo é fraca, e a palavra desprezível”. Eu queria ser Paulo, irmãos, mas não ser parte desse movimento confuso atribuído ao Espírito Santo.
Imaginemos o pior: alguém “ungido” atacando manifestações do “espírito” em outra igreja, dizendo que lá é tudo falso, e que “Deus opera é aqui”!!! Já pensou nisso? É, mas... já viu isso? Já, infelizmente!

Amados, está na hora de começarmos a respeitar o Espírito Santo!!! Está na hora de vermos o que é invencionice de gente compulsiva pelo sobrenatural!!! O sobrenatural fascina porque “nos dá” poderes divinos, nos faz semelhantes a Deus. Está na hora de colocarmos o Evangelho no chão da realidade das pessoas, e dar respostas simples para os problemas reais, cotidianos. O Espírito é, em primazia, santo. Santo é que não se mistura com o humano. Ou, quando o faz, como na natureza de Cristo, santifica o humano, conferindo-lhe caráter semelhante ao de Deus. O Espírito Santo não autentica nem tem que autenticar, nem tem que se justificar de nada. Deus é Deus, Deus é “maior de idade”, responde por si. Chega de desviar a atenção do mundo real através de movimento espetaculoso. Não creio que o dente de ouro ajudou Jesus nem a Igreja!!! Não creio que “unção de emagrecer” acrescente uma grama sequer de glória ao amado Salvador. Não creio que ministério de “sentir a presença de Deus” (coisa que nem na Bíblia tem) pode ser ministério capitaneado pelo Espírito Santo de Deus.

A Igreja trabalha para formar discípulos que saibam ter cartão de crédito e não se enrolar em dívidas; trabalha para ensinar esposas a serem submissas mesmo a maridos descrentes; trabalha para os empregados serem os melhores em seus postos de trabalho por estarem na verdade servindo a Deus; trabalha para os jovens serem santos sem serem “caretas”, e para se casarem virgens no Senhor, tenham tido a vida passada que tiverem tido; trabalha para o marido ser um sacerdote e ministro em sua casa, orientando e ministrando sobre a vida de cada membro do lar, e isso com mansidão e autoridade. A Igreja trabalha ensinando a cada membro do Corpo para que multiplique esta vida, e não simplesmente suas convicções. De que adianta saber quando Jesus vai voltar, ou mesmo onde a Besta vai aplicar o sinal sob os infiéis?
Cito aqui uma frase de Lutero: "Fiz uma aliança com Deus: que Ele não me mande visões, nem sonhos, nem mesmo anjos. Estou satisfeito com o dom das Escrituras Sagradas, que me dão instrução abundante e tudo o que preciso conhecer tanto para esta vida quanto para o que há de vir." (Martinho Lutero)

A Igreja exerce seu discipulado para estabelecer o estilo de vida de Cristo, andando como ele andou, como diz João. Faz isso a partir de corações novos e submissos interior e incondicionalmente ao Reino. Deus nos quer espelhos seus, e não médiuns seus. Espelhos no caráter, singelos no poder, posicionados em autoridade, seguros em toda vondade de Deus. Recentemente conhecido pastor estava envolvido em uma denúncia de administração fraudulenta. Outro pastor inventa uma tal Unção de Nobreza, onde quem dá R$ 10.000 pra construir o templo ganha esse título de Nobre. E aí Caio Fábio entra e se posiciona, e voltamos às briguinhas. E assim vamos nós, de um pólo a outro, de uma crise a outra crise, de estilo pra estilo, sempre fugindo do cerne da questão: uma vida como a de Jesus, simples, santa e focada em vida. Perguntei recentemente quem tinha fundado o Cristianismo, e muitos “crentes” responderam na hora: “Jesus”. Corrigi-los dizendo que não foi Jesus, mas seus discípulos posteriores. O Espírito Santo continuou a obra de Jesus, mas os homens a fermentaram, e continuaram a falsificar a assinatura do “Espírito”, como se Ele fosse o responsável gestor do que temos hoje. Não!
Deus nos deu a Sua Palavra, para que dela venhamos a extrair a conduta padrão dos Seus filhos, enquanto ainda aqui na Terra. As nossas experiências espirituais, sejam elas quais forem, estarão presentes – todos cremos nisso, claro –, mas jamais serão o alvo, o foco ou o termômetro de nossa vida espiritual. Pelos frutos os conhecereis, diz Jesus. Deus virá à figueira buscar os frutos, no tempo certo. Cuidemos nós para que não tragamos fogo estranho, fermento no meio do povo de Deus. Se o Evangelho da Igreja Primitiva tivesse começado como nós estamos hoje, o gnosticismo e o espiritismo seriam apenas mais uma de nossas denominações.

Termino citando meu texto predileto, que sempre rearruma meu foco ministerial: Para que possais andar dignamente diante do Senhor, agradando-lhe em tudo, frutificando em toda a boa obra, e crescendo no conhecimento de Deus (Col 1.10).
 

Pr. Nils
 

Extraído do site www.jte.com.br com consentimento do Pr. Nils Bergsten