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Pastor Nils e Pastora Fernanda |
Dependência e Morte Jesus inicia seu ministério
anunciando o Reino: Mat 4.17. Seu Reino encontra já presentes muitas respostas
para o homem. Platão já havia passado por aqui, Aristóteles, e todos os
remanescentes do pensamento grego clássico. Roma incorporava e absorvia a
coluna vertebral de boa parte da filosofia grega. O judaísmo era uma religião
pequena e localista, embora profundamente enraizada e misturada à cultura
particular do povo hebreu. O anúncio do Reino não parece contemplar tanta profundidade e amplitude, mas é simplesmente a base fundamental de tudo isso: ninguém pode aderir a uma religião e assim “adquirir” vida. Somente a entrada no Reino mediante o arrependimento (que é sua porta) possibilita uma nova vivência “que salta para a vida eterna”. Os elementos religiosos não foram incorporados por Jesus. Aliás, seu primeiro discurso, em Nazaré, foi também palco de sua expulsão na sinagoga. A religião vigente nunca aceitou o discurso penetrante de Jesus. Sua proposta de reforma simplesmente excluía o status quo, que deveria – se quisesse – entrar pela mesma porta comum a toda e qualquer pessoa. É simples mas objetivo: Jesus não veio trabalhar com sistemas religiosos, mas com o ser humano, individualmente. Ao não falar a linguagem das classes dominantes, ao atacá-las e confrontar sua irrelevância e hipocrisia, Jesus mostrou o valor esquecido do ser humano. As muitas parábolas, particularmente a do bom samaritano, expõe vergonhosamente a cegueira dos religiosos “piedosos”. Quando Jesus se foi, o Espírito Santo veio
para gerar a vida de Cristo dentro de cada um que recebe o Reino de Deus. Esse
Reino não respeitou reino humano algum. Confrontou o Império Romano com a
tática de guerrilha, penetrando em pessoas e se espalhando nas mais diversas
camadas sociais. Até mesmo nos julgamentos e martírios dos cristãos
primitivos, documentos antigos mostram a intensa participação popular,
presenciando o maravilhoso testemunho, impactando a todos com mortes terríveis
mas fantasticamente contundentes. Ver cristãos sendo comidos por leões mas
louvando a Deus provou que até mesmo as mais terríveis armas dos impérios
humanos foram “contaminadas” e destroçadas pelo poder da Vida de Cristo, pelo
poder do Reino de Deus!!! Glória a Deus, louvado seja o O Reino de Deus sempre é confrontado pelas realidades presentes. Sempre vai vencer, se pensarmos como Reino Universal, num Jesus que está assentado aguardando que todos inimigos sejam colocados por escabelo de seus pés. Contudo, cada pessoa na sua dimensão cotidiana, nos seus desafios existenciais, é confrontada a viver como se nunca houvesse conhecido esse maravilhoso Reino de Deus. É muito mais fácil para cada um de nós seguir as tendências existentes, seguir a opinião dos outros. Andar no “caminho da roça” é inclusive uma tendência neuro-biológica, uma vez que mudanças são, inclusive neurologicamente, incomodativas. Submeter-se, louvar, agradecer sempre, falar bem, ser injustiçado, aceitar afronta, controlar seus impulsos... tudo isso é possível, é proposto e é prometido dentro do Reino. Fora dele teremos adaptações, sempre, dos ensinos de Jesus. Fico imaginando se realmente a Igreja, constituída como representante desse Reino, sabe o que ele de fato significa e implica. Assisti ao bom filme LUTERO, que inclusive recomendo. Um composto dual de pensamentos povoou minha mente, quando vi a sua revolta e suas proposições coerentes, sua fé e sua defesa humilde e segura. O status quo estava apodrecido, realmente. Contudo o conhecido massacre da contra-reforma, e os subseqüentes nos séculos seguintes, me levam a pensar como a igreja evangélica tomou um caminho que embaça cada vez mais a visão do Reino tal qual anunciada por Cristo. Sem contar as influências meramente políticas da cisão da Reforma Protestante, a proposta evangélica de vida espiritual adentra novamente num judaísmo ao qual Jesus encontrou quando iniciou seu ministério: ‘quer salvação? Vá a uma igreja!’. A Igreja não é uma sinagoga reformada, nem muito menos uma catedral que mudou de mãos. Não, senhores! A nossa “independência” protestante pode ser nossa morte. Observe o caos das religiões, andando pelas nossas cidades: cada igreja tem um estilo, cada uma propõe um tipo de liturgia, cada uma dá ênfase doutrinária diferente. No alto do monte, um clérigo católico joga pedra em todas elas, chamando-as todas de “seitas”. Que quadro, hein ??? A questão é objetiva, mas difícil de ser digerida: nós hoje somos mais judaísmo ou mais Jesus? Será que tudo que a Igreja incorporou como forma filosófica existencial é compatível com as Escrituras? Pense nas estruturas; pense na forma de disciplinar pessoas; pense na forma de coletar finanças; pense nos critérios de administração do sistema eclesiástico; pense na padronização da santidade por denominação; pense na forma de comprar bênçãos espirituais; pense na aceitação da incoerência entre a vida e o discurso. Estamos no mês das comemorações da
independência do Brasil. Fazendo um paralelo, podemos pensar no peso dessa
palavra, independência. Chamados a viver uma vida de dependência no Reino e do
Reino, de um modo muito geral cada um segue seu caminho denominacional, com
total independência. Sejam mesmo as grandes e históricas denominações, elas
mesmas sacralizaram o sistema independente eclesiástico. As chamadas igrejas
livres idem, pois a visão particular mais parece um caminho caricaturado de
Lutero que propriamente uma visão de restauração da Igreja do Senhor. As mais
“místicas”, igrejas que no linguajar popular são chamadas de “ igrejas do
mistério” ou de revelação, mais independentes por “controlarem o poder de
Deus”, igualmente vêem-se desprovidas de continuidade e conexão com a
simplicidade da vida cristã, da vida cotidiana de um cidadão do Reino. Talvez
por isso tenhamos um perfil tão deshumano do chamado “crente”, estereotipado
como alguém que não tem conexão com a realidade presente normal de todo o ser
humano. Daí cabe aqui a pergunta que vez por outra é feita: Como seria a vida
de Jesus, Amados, somos todos parte dessa realidade.
Nem por acharmos desagradável nos faz livres dela. Nem por discordarmos de
muita coisa elas vão ser alteradas pela simples opinião. Nem porque não
queremos que seja assim podemos simplesmente discordar só pra evitarmos pensar
que possa ser assim como é. A morte se avizinha de todos aqueles que vivem na prática de delitos e pecados, conf. Ef 2.1. Viver em submissão, debaixo da autoridade do Reino, é submeter tudo à luz, é abandonar a independência e assumir a vida de Cristo, a vida prática do Cristo simples. Especialmente no serviço e nas relações curadas e edificativas com todos. Deixemos a independência somente para o
Brasil. Somos cativos do Reino, escravos voluntários. Temos vida porque somos
dependentes do Senhor e de suas conduções e determinações. Deixamos a morte
exatamente porque nos submetemos. A Ele, o Rei, toda a Glória ! Não, senhores! A nossa independência pode ser morte, sim!!! O grito de um “pastor auxiliar”, que não aceita mais trabalhar com seu “pastor presidente”, rompe uma aliança e introduz mais uma nova forma de implantar a religião evangélica... o que vem a ser isso, mesmo? Reino de Deus? Reino? Não, senhores, Reino não é. Como talvez tampouco seja Reino o que estava acontecendo onde não foi mais possível suportar permanecer.
Pr. Nils |
Extraído do site www.jte.com.br com consentimento do Pr. Nils Bergsten |