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          Pastor Nils e Pastora Fernanda

Chega de Maledicência II

Muita gente pensa que a mesmice é sinônimo de Cristianismo. A tradição tem muito mais aparência de teia de aranha e mofo que alguma coluna ou estrutura sólida e protetora. Parece-nos que estamos numa verdadeira guerra de controle. E certamente o pior de todos é o controle religioso.
 

O radicalismo religioso polarizado tem sido verdadeiro fragmentador da tolerância, compreensão e aceitação interpessoal. Mais recentemente muita gente utilizou uma convicção metodológica – G12 – para julgar e definir como descrentes e proscritos todos os que não são “G12”. Este é apenas um dos exemplos que como nós, cristãos, acabamos nos tornando intolerantes e até irracionais, muitas vezes.
 

Jesus foi muito contundente e explícito ao tratar da Unidade da Igreja, em João 17. Ele foi categórico: “Para que todos sejam Um, a fim de que o mundo creia que tu me enviaste”. Na sua oração, conhecida como sacerdotal, Jesus segue um caminho muito bonito para culminar no seu desejo de revelar-se plenamente.
 

Os passos desta maravilhosa oração de Jesus podem ser elencados como se segue:
 

- Glorifica o Filho
- Eu te glorifiquei cumprindo minha parte
- Revelei-te aos homens que me deste
- Conhecem a Tua Palavra, e agora Te conhecem
- Abençoa e guarda esses que me deste
- Guarda para que sejam Um
- Livra-os do Maligno
- Santifica-os
- Rogo que eles sejam Um
- Quero estar com eles onde eu estiver
- Eles conheceram que Tu me enviaste
- Quero que conheçam o Teu nome e tenham o Teu amor

Jesus ora pela Unidade. Será que o Pai sempre o ouvia ? Sim, diz João 11.42. Ele estava tão focado na Unidade do Seu povo que
1. Santificou-se (v.19-21) para “produzir” Unidade
2. Repartiu a glória recebida do Pai (v.22) para “produzir” Unidade
3. Uniu-se plenamente ao Pai e aos seus discípulos para “ligar ambos” e produzir Unidade (v.23).
Jesus não brincou de fazer discípulos, mas foi intensamente pleno em cada detalhe de sua espiritualidade, tudo isso visando a Unidade do Povo que agora era também Seu Povo – não somente de Seu Pai.

O propósito da Unidade é
a. Possibilitar o mundo crer que Deus enviou Jesus
b. Revelar que o amor de Deus por Seus filhos é o mesmo que Seu amor por Jesus

Obviamente que a teoria sobre Unidade não é tão simples, mas também não é complexa assim. Paulo diz que a inimizade foi “banida” na cruz (Ef 2.15,16), unindo todas as pessoas em um só Corpo, no Corpo de Cristo. A Unidade é obra e propriedade do Espírito Santo (Ef 4.3). Contudo, o texto nos convoca a uma ação objetiva: DILIGENTEMENTE GUARDAR A UNIDADE.
A Unidade é para ser guardada, não para ser buscada. A Unidade foi feita na Cruz, não nos bancos de seminário ou em qualquer culto ou vigília. Ninguém tem a posse da Unidade – somente o Espírito Santo.

O entrave terrível e o abismo existente dentro desse mundo da cristandade tem levado a generalizações filosóficas inconseqüentes como as do ateu-filósofo Michel Onfray, que culpa a religião sempre que pragmaticamente deduz que ela não obteve os melhores resultados.
Nestes dias em que um teólogo assume o pontificado na Igreja Romana, vemos declarações surpreendentes, novas até. Bento XVI chama o povo católico para voltar-se à espiritualidade e à pessoa de Jesus, aos Evangelhos. Fala uma linguagem bem próxima da Era Patrística, e se assemelha bastante a discursos e pregações mais bíblicas do povo evangélico. Contudo, nunca jamais um evangélico conseguirá enxergar isso positivamente, dada a interpretação uníssona de ser a Igreja Romana a base para a vinda do reinado do Anticristo, bem como a besta do apocalipse...
O mundo católico nunca aceitou Lutero pegar o boné e caminhar independente. Enquadram todos os evangélicos como seita, a ponto de se ressaltar o posicionamento do outrora cardeal Ratzinger sobre “encampar” todas as igrejas ecumenicamente, dentro do manto católico.
De outro lado, algo curioso: O Papa João Paulo II, em meio à degradação da família hodierna, posicionou-se com firmeza notável em defesa da mesma. Um dos maiores beneficiários desse discurso foi o povo evangélico, que só fez afirmar ou confirmar tudo que o Papa afirmava, sem levar a pecha de conservador ou retrógrado – esta coube ao pontífice. Nas questões biogenéticas, certamente o povo evangélico mais olha à distância a fala católica, do que afirma-se com sólida e consistente argumentação ética e científica.
Muitas denominações circunspetas e herméticas tem preferido manter-se fora da cristandade evangélica, como se isso não fosse exatamente uma marca do próprio sistema evangélico. Naturalmente que não dar ouvidos a nada pode prejudicar o contato com o mundo exterior e a própria reflexão positiva, mas sem dúvida fortalece a teologia de gueto, a teologia controladora.
E assim continuamos sempre na mesma ladainha: católicos olham de cima pra baixo os evangélicos, taxando-os todos de seita, argüindo que não serão salvos se não voltarem para a única igreja. Evangélicos por sua vez “batem” pesadamente na idolatria católica, e rejeitam quase que a totalidade do que se vê e se produz no mundo cristão católico. Sem falar que dentro da própria realidade evangélica atua o “espírito contestador e rompedor” de Lutero, pai de toda essa eterna divergência entre nós evangélicos.
Levanto agora uma questão talvez nevrálgica, quiçá contundente: Não seria essa divisão toda uma questão de conflito de controle? Não seria essa uma eterna briga por controlar Deus? Ou as pessoas?
Os sistemas religiosos institucionais não conseguem nem conseguirão jamais manter-se focados e dirigidos para a necessidade individual pessoal, humana. Vão-se inchando e crescendo, e adquirindo missão institucional de crescimento. Aí o que dá trabalho e é complexo é deixado de lado – cuidar de vidas, fazer discípulos. Pode-se até mesmo montar uma estrutura institucional de fazer discípulos que dará no mesmo resultado – divisão. Por que? Porque tenta exercer o controle sobre pessoas, consegue, e depois usa o poder de controlar para esmagar.
Rev. Ricardo Reis (FTCR) lembrou importante conceito da onipotência de Deus: Ele é Deus porque tem todo o poder e sabe controlar todo o poder que tem. Sim, amados, as instituições e os sistemas religiosos adquirem muito poder e depois não sabem lidar com esse poder. Então começam as divisões, de dentro para dentro – tal qual as correntes ideológicas do PT, ou as linhas ideológicas católicas –, ou de dentro pra fora – tal qual o surgimento frenético de novas igrejas.
Urge a cada um de nós pensar que é nosso próprio orgulho racional religioso o principal impedimento para um diálogo humilde e construtivo. Uma vez que não produzimos Unidade, ao menos fica mais fácil a missão – em sabendo que ela terá necessariamente êxito, por ser um pedido de Jesus ao Pai.
A mim e a você cabe sermos humildes e não nos aferrarmos à arma que temos – nossos conhecimentos, nossas convicções. Uma coisa é pastorear o rebanho com convicção dentro da luz que temos. Outra coisa é sentar para verificar se esta luz que temos não é trevas. Se for, mesmo que tenhamos uma Igreja grande ou tradicional, estamos com os dois pés no Inferno – um porque estarmos errados, e o outro pé por não querermos ouvir e reavaliar nada!
Há um futuro diferente do presente, para todos nós! Independente do que eu e você vejamos, Deus fará porque tem poder para isso. Não desejo ser empecilho nem asfalto para “A Patrola de Deus”, nem creio que você deseje. Por isso, eu e você, façamos um esforço por preservar a Unidade que existe, abandonando urgente e imediatamente o maligno hábito da maledicência e da crítica ao alheio. Que Deus nos ajude a enxergar a diferença como um chamado simples: as coisas podem não ser como eu acho que são !!!
 

Pastor Nils Bergsten

 

Extraído do site www.jte.com.br com consentimento do Pr. Nils Bergsten