

(1765-1805)
BIOGRAFIAS
Poeta português. Árcade e pré-romântico, sonetista notável, um dos precursores da modernidade em
seu país.
Árcade e pré-romântico, Bocage foi um dos primeiros a anunciar a modernidade em Portugal, pelos conflitos que dão força e contundência a seu
estilo poético.
Manuel Maria Barbosa du Bocage nasceu em Setúbal em 15 de setembro de 1765. Filho de um advogado sem recursos e de mãe francesa, em 1783
alistou-se na marinha de guerra, embarcando para a Índia três anos depois. Viveu em Goa, Damão e Macau. No regresso a Lisboa (1790),
apaixonou-se pela mulher do irmão e se entregou à boêmia, escrevendo versos sobre a desilusão amorosa e as dificuldades materiais. Aderindo
à Nova Arcádia com o nome de Elmano Sadino, logo satirizou os confrades a afastou-se do grupo, continuando rebelde, dissoluto, e obsedado
pelo paralelismo biográfico com Camões.
Em 1797 foi preso ao divulgar o poema "Carta a Marília", que começa com "Pavorosa ilusão de eternidade". Acusado de impiedade e
antimonarquismo, passou meses nas masmorras da Inquisição, de onde saiu para o convento dos oratorianos. Aí se conformou às convenções
religiosas e morais da época. Ao voltar à liberdade, Bocage levou vida regrada mas melancólica e de privações, traduzindo autores latinos e
franceses.
Maior poeta da língua no século XVIII, Bocage é vítima até hoje de sua própria fama e dos preconceitos que despertou. Sonetista admirável e
freqüentemente à altura de seu ídolo Camões, excede-o aqui e ali no arrojo e no niilismo dos motivos: "Louca, cega, iludida humanidade" é
algo já distante da atitude clássica e tem um último verso que chega a parecer existencialista: "Pasto da Morte, vítima do Nada!" Assim é
também seu individualismo, seu conflito entre o amor físico e a morte, sua morbidez e atração pelo horror, em meio a versos, às vezes, quase
coloquiais. Bocage publicou apenas as Rimas (1791-1804), em três volumes. Seus versos eróticos e burlescos circulam até hoje em edições
clandestinas. Morreu em Lisboa, em 21 de dezembro de 1805.
©Encyclopaedia Britannica do Brasil Publicações Ltda.
Biografia
Poeta lírico neoclássico português, que tinha pretensão a vir a ser um segundo Camões, mas que dissipou suas energias numa vida agitada.
Nasceu em Setúbal, em 15/09/1765 e morreu em Lisboa (21/12/1805), aos 40 anos de idade, vítima de um aneurisma. Nos últimos anos o poeta
vivia com uma irmã e uma sobrinha, sustentando-as com traduções de livros didáticos. Para viver seus últimos dias, inclusive, teve de
valer-se de um amigo (José Pedro da Silva) que vendia, nas ruas de Lisboa, suas derradeiras composições: Improvisos de Bocage na Sua Mui
Perigosa Enfermidade e Coleção dos Novos Improvisos de Bocage na Sua Moléstia.
Filho de um advogado, fugiu de casa aos 14 anos para juntar-se ao exército. Foi transferido para a Armada dois anos depois. Como
integrante da Academia da Armada Real, em Lisboa, dedicou seu tempo a casos amorosos, poesia e boêmia.
Em 1786 foi enviado, tal qual seu herói Camões, para a Índia (Goa e Damão) e, também como Camões, desiludiu-se com o Oriente. Depois,
por vontade própria e à revelia de seus superiores, dirigiu-se a Macau, voltando a Portugal em 1790. Ingressou então na Nova Arcádia — uma
academia literária com vagas vocações igualitárias e libertárias —, usando o pseudônimo de Elmano Sadino. Contudo, de temperamento forte e
violento, desentendeu-se com seus pares, e suas sátiras a respeito deles levou à sua expulsão do grupo. Seguiu-se uma longa guerra de versos
que envolveu a maior parte dos poetas lisboetas.
Em 1797, acusado de heresia, dissolução dos costumes e idéias republicanas, foi implacavelmente perseguido, julgado e condenado, sendo
sucessivamente encarcerado em várias prisões portuguesas. Ali realizou traduções de Virgílio, Ovídio, Tasso, Rousseau, Racine e Voltaire,
que o ajudaram a sobreviver seus anos seguintes, como homem livre. Ao recuperar a liberdade, graças à influência de amigos, e com a promessa
de criar juízo, o poeta, envelhecido, parece ter abandonado a boêmia e zelado até seus últimos momentos por impor aos seus contemporâneos
uma imagem nova: a de homem arrependido, digno e chefe de família exemplar. Sua passagem pelo Convento dos Oratorianos (onde é doutrinado,
logo após sua saída da cadeia) parece ter contribuído para tal.
Portugal, na época de Bocage, era um império em ruínas, imerso no atraso, na decadência econômica e na libertinagem cortesã, feita às
custas da miséria de servos e operários, perpetuando o pantanal cinzento do absolutismo e das atitudes inquisitoriais, da Real Mesa Censória
e dos calabouços destinados aos maçons e descontentes.
Ninguém encarnou melhor o espírito da classe dirigente lusitana do fim do século XVIII do que Pina Manique. Ex-policial e ex-juiz,
conquistou a confiança dos poderosos, tornando-se o grande senhor do reinado de D. Maria I (só oficialmente reconhecida como louca em 1795),
reprimindo com grande ferocidade tudo o que pudesse lembrar as "abomináveis idéias francesas". Graças a ele, inúmeros sábios, cientistas e
artistas conheceram o caminho do exílio.
Bocage usou vários tipos de versos, mas fez o melhor no soneto. Não obstante a estrutura neoclássica de sua obra poética, seu intenso
tom pessoal, a freqüente violência na expressão e a auto-dramatizada obsessão face ao destino e à morte, anteciparam o Romantismo.
Suas poesias, Rimas, foram publicadas em três volumes (1791, 1799 e 1804). O último deles foi dedicado à Marquesa de Alorna, que passou
a protegê-lo.
Os poemas não censurados do autor são geralmente convencionais e bajulatórios, copiando a lição dos mestres neoclássicos e abusando da
mitologia, uma espécie de poesia acadêmica feita por e para iniciados. Outra parcela de sua obra é considerada pré-romântica, trazendo para
poesia o mundo pessoal e subjetivo da paixão amorosa, do sofrimento e da morte.
Já sua poesia censurada surgiu da necessidade de agradar ao público que pagava: com admirável precisão, o poeta punha o dedo acusador
nas chagas sociais de um país de aristocracia decadente, aliada a um clero corrupto, comprometidos ambos com uma política interna e externa
anacrônica para aquele momento. Também está presente ali a exaltação do amor físico que, inspirado no modelo natural, varre longe todo o
platonismo fictício de uma sociedade que via pecado e imoralidade em tudo o que não fosse convenientemente escondido.
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