oxigênio se combina com a hemoglobina e é levado ao coração, onde
é bombeado para todos os tecidos. O oxigênio é metabolizado para a
produção de energia e o CO2, produto desse metabolismo, passa das células
para o sangue, encontrado, na sua maior parte, sobre a forma de íon
bicarbonato, retornando em seguida para o pulmão, para ser eliminado.
Muitas pessoas ainda se surpreendem quando descobrem que o principal
estímulo respiratório não é a falta de O2 e sim o excesso de CO2,
pois os íons de bicarbonato ativam quimiosensores, que comandam os
impulsos nervosos no bulbo raquiano.
O ar
atmosférico e o ar alveolar
O ar
atmosférico é composto de 78,62% de nitrogênio, 20,84% de oxigênio,
0,04% de dióxido de carbono e 0,5% de vapor d’água; sendo que, o
importante são as quantidades à nível alveolar, onde realmente é
feita a troca gasosa, ou seja, 74,9% de nitrogênio, 13,6% de oxigênio,
5,35% de dióxido de carbono e 6,2% de vapor d’água. Como vimos,
existem diferenças substanciais, pois o ar quando pa
O ato de respirar é tão comum ao
ser humano, que raramente pensamos sobre isso. Somente atletas e
adeptos de yoga e de outros métodos de relaxamento dão a devida
importância à esse processo. Respirar parece tão simples e tão
comum. O pior é que a maioria esmagadora dos mergulhadores não dá a
devida atenção à esse processo. A respiração correta é a
habilidade mais importante que um mergulhador pode desenvolver, pois
nada que você possa fazer, vai ter maior impacto no conforto e na
segurança do seu mergulho. A respiração correta faz com que você
fique calmo, relaxado, evita o aumento de consumo, aumenta a
habilidade de lidar com situações de estresse e diminui a
necessidade de lastro.
O que
acontece quando respiramos ?
O ciclo
respiratório se inicia quando inalamos. O ar inalado passa através da
boca ou nariz, traquéia, brônquios, bronquíolos até chegar aos
alvéolos, que são milhões de microscópicos sacos de ar revestidos por
capilares, onde é executada a troca gasosa. Uma vez no sangue, o
ssa pelas
passagens aéreas é imediatamente umedecido pelo vapor d’água,
oriundo dos revestimentos dessas passagens. Esse vapor d’água tem o
efeito de diluir o ar atmosférico, que faz com que as pressões de
outros gases diminuam um pouco. O ar alveolar perde continuamente oxigênio
para o sangue e esse oxigênio é substituído pelo gás carbônico,
que se difunde do sangue para os alvéolos. Isso explica, porque a
pressão parcial do oxigênio nos alvéolos é menor que no ar atmosférico,
como também, o fato da haver maior pressão de CO2 que no ar atmosférico,
onde é quase inexistente.
Espaço
morto
Muito
do ar que é respirado a cada respiração nunca atinge os alvéolos,
pois apenas preenchem as passagens, como: nariz, faringe, traquéia e
brônquios. Sendo que, em seguida, esse ar é expirado sem nunca ter
entrado nos alvéolos. Do ponto de vista da oxigenação do sangue,
esse ar é completamente inútil, pois as vias aéreas formam um espaço
morto. Fica óbvio então que, nenhuma respiração troca todo o velho
ar alveolar por um novo, pois, apenas, um sétimo de ar é trocado. São
necessárias, em média, 16 expirações para ventilar totalmente os
alvéolos.
A
respiração na água
A
respiração durante o mergulho é afetada por vários fatores. Sendo
assim, mesmo em situações de descanso, a respiração na água
envolve muito mais esforço. O aumento da pressão por si só causa
compressão do tórax, além de uma redução, em torno de 20%, na
capacidade vital e um aumento do esforço feito pelos músculos
abdominais e intercostais internos. Isso é facilmente percebido
quando respiramos com snorkel na posição horizontal e depois
passamos para vertical com a cabeça submersa - o esforço muscular
aumenta muito mais. Isso acontece também com o mergulhador autônomo
que por problemas de usar muito lastro tende para uma posição mais
vertical, com as pernas baixas; o que aumenta a resistência da água
aos movimentos, bem como o diferencial de pressão entre o ar que é
respirado e o pulmão. Isso causa um esforço respiratório maior,
bastando notar que o esforço respiratório da maioria dos segundo estágios
não passa ao equivalente à 1,3cm da coluna d’água. Em outras
palavras, a natação em posição horizontal pode aumentar muito esse
esforço. Devemos levar em consideração que o regulador e o snorkel
aumentam em muito os espaços mortos; diminuindo ainda mais a eficiência
da troca gasosa. Com o aumento de pressão temos um aumento
proporcional na densidade do gás respirado, causando conseqüentemente
um aumento da resistência respiratória. Somando a isso tudo, a
compressão do tórax e do abdome pela roupa de mergulho, pelo colete
equilibrador e pelo cinto de lastro temos a somatória dos efeitos no
mergulho autônomo.
A
expiração é o segredo
A
maioria dos mergulhadores ou por ignorar as circunstâncias acima ou
por não ter sido treinada com a ênfase necessária a respiração,
durante os cursos, ou ainda por ter aprendido técnicas erradas freqüentemente
é acometida da sensação de desconforto, de mal estar e até de enjôos
causados pelo acúmulo de CO2. Esses mergulhadores não entendem
porque é necessário usar tanto lastro e porque o consumo de ar é tão
elevado. Na maioria das vezes, esses mergulhadores fazem respirações
rasas, o chamado "cachorrinho", ou pausas prolongadas depois
da inspiração. Esses procedimentos, ao contrário do que se pensa, não
economizam ar, pois causam o aumento da concentração de CO2, fazendo
com que o sistema nervoso reaja aumentando o número de ventilações
necessárias. Sendo assim, o mergulhador fica exposto aos sintomas de
intoxicação por CO2, que pode causar desconforto e enjôo na maioria
das vezes e, em casos raros, ventilações extremamente precárias em
profundidades maiores, onde a pressão parcial de CO2 será muito
maior. Teríamos então, uma concentração muito alta, que poderia
trazer como resultado uma parada de praticamente todas as reações
metabólicas do corpo; visto que, o CO2 é praticamente o produto
final dessas reações. Esse fenômeno é conhecido como black-out de
CO2.
O
mergulhador deve desenvolver, desde o primeiro contato com o
equipamento, a técnica correta de respiração, que é a ênfase na
expiração, que faz com que a troca gasosa seja a maior possível.
Isso diminui a concentração de CO2 e, conseqüentemente, as chances
de desconforto, hiperdistensão pulmonar e consumo desnecessário.
Com a
ênfase na expiração, o ar nunca fica preso durante as ventilações.
A expiração deve ser lenta e profunda. Já a inspiração deve ser
lenta e trabalhada pelos músculos abdominais, para que seja mais
relaxada. Não existe a necessidade de se inflar completamente os pulmões,
muito pelo contrário, pois esse procedimento aumenta a chance de
hiperdistensão pulmonar, (de maneira desnecessária) o consumo e o
esforço respiratório; já que basta um pouco mais da metade da
intensidade normal de ventilação para que a hemoglobina no sangue
fique quase completamente saturada de oxigênio.
Ou
seja, o segredo é uma expiração longa e profunda, seguida de uma
inspiração mais breve sem encher o pulmão completamente; pois isso
facilita a ventilação dos espaços mortos, diminuindo a chance de
intoxicação por CO2, bem como, o consumo, já que a ênfase dessa técnica
é a expiração.
Aprendendo
a respirar
A
maioria dos mergulhadores tem dificuldade em ter conforto durante o
mergulho, por usar técnicas ineficientes de respiração. As técnicas
corretas precisam ser ensinadas com ênfase desde o primeiro contato
com o equipamento. A ênfase é extremamente importante, pois a reação
natural dos mamíferos na água é respirar e prender a respiração,
quando seu rosto toca a água. Esse reflexo é conhecido como
"reflexo mamário", que faz com que os novos mergulhadores
inspirem rápido e só expirem em função de poder fazer uma nova
respiração; ou seja, apresentam a tendência de desenvolver o pior
padrão possível de respiração: inspiração curta e expiração
curta, seguida de parada - a pior "receita" possível !!!
Costumo
lançar mão num curso básico do sistema do "boizinho",
onde o aluno, desde o primeiro contato com o regulador, mesmo fora
d’água, emite um som como o mugido de um boi, para que possa
treinar e assimilar a necessidade da expiração lenta e profunda. Uma
outra técnica que ajuda muito é repetir o "boizinho" com o
rosto na água sem máscara; alternando as expirações pela boca e
pelo nariz, para que o aluno possa mostrar que superou de vez o
reflexo mamário. Assim que essa respiração se tornar um hábito, a
troca gasosa será mais efetiva, mesmo em situações de maior esforço
ou estresse. Bem como, será mais fácil evitar que o mergulhador
solte normalmente o ar pelo nariz; geralmente a causa mais comum do
dito: "nenhuma máscara fica boa em min".
Obtendo
resultados
Para
que você possa realmente obter resultados no trabalho com a sua
respiração, tente nos próximos mergulhos aprender a respirar.
Concentre todo tempo necessário na expiração, acelere a natação,
aumentando o esforço físico, você deverá conseguir manter quase o
mesmo ritmo respiratório, Lembre-se: quanto mais você tiver vontade
de inspirar, expire …devagar e profundamente. E quanto mais esforço
fizer, expire …longa e profundamente. Concentre-se nos movimentos
abdominais.
Quando
tiver certeza que, aconteça o que acontecer, seu parâmetro respiratório
não se altera, passe a praticar sem máscara. Você sentindo que seu
padrão respiratório também não se altera sem máscara, garanto que
você poderá tirar uns quilinhos de chumbo, bem como gastar menos ar.
Treinando, você irá fazer com que o seu subconsciente mantenha esse
padrão respiratório e, até mesmo, se necessário, venha a alterá-lo
ligeiramente, em função de um ajuste fino do equilíbrio hidrostático.
Tenha certeza que esse é o melhor investimento que você poderá
fazer em suas habilidades como mergulhador, pois essa, sem dúvida, é
a habilidade mais importante.
O CO2
e suas alterações fisiológicas
Como
vimos, a técnica correta de respiração visa evitar o acúmulo de
CO2. No próximo artigo, iremos abordar de que maneira o CO2 pode
influenciar no aparecimento de outros problemas relativos ao mergulho,
tais como: doença descompressiva, narcose, intoxicação por O2,
entre outros.